CAPÍTULO - 21

CAPÍTULO – 21

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Saí na manhã de uma sexta-feira para encontrar o Afonso em seu apartamento, sentia a necessidade de conversar com ele, quem sabe para explicar melhor essa situação toda entre mim e o Flávio, dessa maneira ele entenderia que o que aconteceu não foi uma traição e sim uma coincidência, para ele uma infeliz coincidência. O ônibus quebrou no meio do caminho e lembrei de minha mãe: "Talvez seja Deus avisando que você não deve ir", não dei importância e subi em outro ônibus que me levaria ao meu destino. Demorou cerca de meia hora e eu estava frente ao prédio em que ele ficava. O porteiro interfonou e ele permitiu a minha entrada, o tempo todo eu fiquei com uma sensação ruim, no elevador eu quis voltar, mas achei que seria muita afronta de minha parte.

Toquei a campainha e Afonso veio atender de imediato, ele parecia feliz.

- Bom dia Afonso! – Falei um pouco envergonhado.

- Bom dia Samuelzinho! – Havia algo em seu tom de voz que era um tanto assustador.

- Podemos conversar um pouco? – Ele assentiu e nos sentamos frente a frente no mesmo sofá, ele bem esparramado e eu um pouco mais encolhido próximo ao braço do sofá.

- Sobre o que você falar? – Estranhei aquela atitude de: "Não sei ou vou fingir que não sei o que acontece"

- Sobre a nossa situação... – Falei fracamente.

- O que tem isso? Nós estamos namorando, não é? – Ele fechou a cara de imediato e não entendi bem o que ele queria dizer com aquilo.

- Afonso, nós não estamos namorando – Falei com todo o cuidado – A gente estava caminhando pra isso, mas...

- Mas o narigudo apareceu, né? – Ele cortou o meu discurso.

- Afonso ele tem nome! – Falei chateado pela forma que ele se dirigiu ao Flávio.

- Bom, se você diz... – Ele quis fazer uma piada, mas nada naquela situação tinha graça de verdade.

- Bom Afonso, eu só queria esclarecer essa situação, por que eu te respeito muito e não queria que ficasse nada mal resolvido entre nós. - Passei então a narrar toda a minha situação com o Flávio, do início ao fim e ele me olhava com atenção, mas mesmo assim não parecia ouvir nada do que eu falava, ao fim eu estava até melhor por ter explicado tudo, se ele iria entender já é outra coisa. - Será que a gente pode ser amigos? – Perguntei já esperando uma resposta negativa.

- Claro, claro que sim! – Seu tom de voz era estranho.

- Bom, então está tudo bem? – Falei lhe olhando.

- Sim! – Ele falou – Mas quero te convidar para voltar a fazenda no meu carro, não gosto de viajar sozinho e isso te pouparia de pagar uma passagem, não é?

- Eu não vou voltar essa semana... – Tentei me desculpar.

- Mas eu só vou segunda pela manhã – Ele insistiu.

- Afonso, eu não acho uma boa ideia, nós acabamos de terminar tudo e...

- Pelo que você falou, nós não tivemos nada! – Falou acusador.

- Eu não disse que não foi nada, só não foi um namoro!

- Então o que é que foi aquela porra? – Ele explodiu. - Você me usou Samuel! – Gritou e eu quase afundei no sofá – Você só queria mesmo um passatempo enquanto aquele cara não voltava. E eu sendo um burro achei que você estivesse apaixonado, mas não, é claro que não! Você nunca iria ficar comigo, por livre e espontânea vontade, não é?

- Afonso, tenta se acalmar cara...

- Que me acalmar que nada! Olha Samuel, eu tento não sentir raiva de você, mas tu consegue me tirar do sério toda vez! – Ele falou como se eu já o tivesse magoado outras vezes.

- Afonso, eu vim me explicar, mas se você vai ficar me gritando aqui é melhor eu ir embora! – Falei com raiva, pois apesar de entender o lado dele, eu não tinha culpa de como as coisas caminham, poderia até ter tentado ficar com ele para não magoá-lo, mas isso só faria com que ele se magoasse mais a frente.

- Então você não volta comigo? – Ele perguntou mais calmo e eu não conseguia sequer entende-lo.

- Não, não volto! – Falei seguro.

- Tudo bem! – Ele se calou de imediato, havia algo pairando por ali e aquele cheiro de algo apodrecendo tomou por completo o ambiente.

- Vou indo! – Avisei depois de alguns minutos de um silêncio constrangedor.

-Ok! – Ele nem me olhou e eu fui até a porta – Ainda não acabou! – Ele falou com raiva e eu decidi que sairia dali mesmo com ele magoado, afinal de contas não tenho o que fazer. Pedi desculpas, fiz minha parte e se ele não as queria, aí é processo dele. Desci no elevador com uma sensação de leveza, quer queira quer não eu tinha conseguido resolver uma situação que tinha potência para se complicar mais a frente e agora me sentia livre para ficar com Flávio. Cheguei em casa e meus pais conversavam com Flávio, fui até eles e os abracei a cada um.

- Como foi lá? – Flávio perguntou assim que entramos em meu quarto.

- Ele não aceitou bem, depois pareceu aceitar... Na verdade não entendi muita coisa do seu comportamento – Falei sentando na cama e ele fez o mesmo.

- Mas você disse que estamos juntos? – Ele quis saber.

- Nem precisei falar muito, ele mesmo entendeu tudo. – Lembrei de suas palavras e me senti mal por ele.

- Então estamos livres? – Ele sorriu e me beijou na bochecha.

- Estamos! – Falei sorrindo e ele veio em minha direção, nos beijamos e não sei quando vou cansar do beijo dele, era algo totalmente viciante. Ficamos deitados por um tempo até que minha mãe nos chamou para almoçar, logo depois meu pai saiu e eu lavei a louça junto com Flávio, assistimos um filme e eu acabei cochilando em seus braços, quando acordei ele me olhava. – Ai que coisa mais macabra! – Falei rindo dele.

- O que? – Me olhou curioso.

- Você aí me olhando dormir! – Sorri pra ele.

- Não me canso de te olhar, Sam! – Ele falou e me beijou, ficamos nos amassando por toda a tarde, mas não rolou nada além disso. O dia correu normalmente assim como os dias que se seguiram, não tive mais notícias de Afonso e por vezes até esquecia dele, liguei para a minha avó e depois para Isabel avisando que estenderia a minha estadia por alguns dias.

Flávio ficou super animado quando lhe falei sobre o projeto da cooperativa e me deu a maior força para dar continuidade ao projeto, quem sabe ampliá-lo para Fortaleza.

- Você quer é que eu volte a morar aqui. – Disse numa noite em que nos agarrávamos em sua cama.

- Claro que eu quero meu amor! – Ele beijou o meu pescoço.

- Já tinha um tempinho que eu queria voltar, tentar o curso de Moda, mas não ia aguentar morar aqui nesse prédio sem você! – Falei lhe olhando e ele sorriu.

- Então volta, eu também estou querendo tentar Música na UFC.

- Tenho que ir até a fazenda e deixar tudo organizado com as meninas.

- Posso ir com você? – Ele perguntou.

- Deve! – Sorri pra ele. Ficamos juntos o dia todo.

Começamos a planejar nossa ida a fazenda logo depois dessa conversa e decidimos que iríamos juntos dali a uma semana, ao menos houve uma semana de paz...

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Tentei me aproximar do protetor de Afonso quando Samuel foi conversar com ele, vi em seus pensamentos o que ele pretendia fazer para ter o meu protegido ao seu lado.

- Meu irmão, tente dissuadir o seu protegido desta ideia absurda. Você sabe o quanto isso vai prejudica-lo futuramente. – Falei enquanto os dois conversavam.

- Sei bem, mas ele está fixado nesta ideia... Não sei mais o que posso fazer... – Amaro falou para mim. – Maria, seria muito mais interessante que Samuel não retornasse tão cedo à fazenda, dessa forma eu posso aproximar Afonso do Diógenes.

- Eles já se conheceram, não é? – Perguntei aflita.

- Sim, ele veio para substituir o outro administrador da fazenda que sumiu no mundo depois de ser abandonado pela mulher. – Falou triste – Achei que com essa proximidade, mesmo que ele se apaixonasse por Samuel o Afonso poderia se livrar desta dívida, perdoar finalmente e ser feliz ao lado deste outro rapaz.

- Pelo jeito ele não vem pensando nisso...

- Na verdade ele pensa bastante em Diógenes, mas os preconceitos que ele mantém por conta de sua criação ainda estão falando mais alto.

- Como assim?

- Ora, Diógenes é pobre e negro, Afonso luta para se livrar da influencia do pai, mas nem sempre consegue e teme se apaixonar por alguém com estas características. – falou com pesar.

- Pois ajude-o, o preconceito é algo tão baixo que não combina com uma alma em período de evolução como o Afonso.

- Mas ele não sente dessa forma, só que tem medo do que a sua família vai dizer...

- Ora, se aceitaram o fato do garoto ser homossexual, por que implicariam com quem ele escolhesse.

- Você há de convir que para as pessoas encarnadas existem certas barreiras de preconceitos que para nós já não existem. Seria muito mais fácil de seu pai aceitar que ele se relacionasse com um garoto que tem uma boa posição social do que com um rapaz que trabalha para sustentar a família...

- Eu compreendo, mas tente mais meu amigo. Sei que nós não podemos interferir em tudo, mas Afonso precisa perdoar. Ele nem sabe o por que se sente tão preso a Samuel, não é verdade?

- Isso é... Mas vou tentar sim, tente manter o seu protegido um pouco mais tempo por aqui que quando retornamos a fazenda vou dar uma ajudinha para que ele se aproxime do Diogenes.

- Tudo bem! Paz e luz! – Disse me despedindo e acompanhando Samuel que se dirigia a porta.

- Paz e luz! – Disse o Amaro. Foi quando notei um parasita querendo se colar ao Afonso, reconheci imediatamente. Era Genaro que não conseguindo se grudar ao Flávio, buscou alguém mais próximo para levar a frente o seu plano adiante.

Pelo jeito precisarei tomar mais cuidado com o meu protegido e papai com o dele!

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