CAPÍTULO - 18
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A situação era tragicômica, eu sentado ao lado de Afonso, meus pais nos olhando como se não fizesse sentido aquela cena e Flávio sentado no outro sofá nos olhando. Logo que entramos em casa, minha mãe voou em meu pescoço me enchendo de beijos e olhe que só tinham alguns dias que não nos víamos, assim que viu Flávio ela fez o mesmo, mas dele a saudade era mais justificada, afinal de contas tinha muito tempo que os dois não se viam. Meu pai também abraçou a nós dois e apertou a mão de Afonso que entendeu que a simpatia de meus pais por Flávio não o colocava em uma posição privilegiada.
- Mas Flávio, quando você chegou menino? – Minha mãe quebrou o silêncio.
- Ontem à noite! – Ele respondeu sorrindo. – Voltei pra ficar, quero resolver o que deixei em aberto por aqui! – Falou olhando diretamente para mim.
- Olha que bom, cheio de projetos! – Minha mãe sorriu sem graça e eu cada vez mais afundava no encosto do sofá, senti vergonha por estar ali frente aos dois e nem saber o que fazer, claro que eu sabia exatamente o que queria fazer, sabia demais como proceder, mas eu seria um escroto se o fizesse.
- Não gostou de Nova York? – Afonso falou ajeitando-se um pouco no sofá, ele tinha um ar desafiador o tempo inteiro e vi meu pai se armando, ele estava em alerta.
- Gostei, gostei muito, mas eu AMO o Brasil – Falou encarando Afonso – AMO as pessoas daqui e o meu AMOR mora aqui! – Me olhou direto nos olhos, e eu quase morri com a intensidade de seu olhar.
- Entendo... – Afonso estava com raiva, não dava para negar, me olhou como se buscasse uma cumplicidade, algo que justificasse a sua presença ali e eu mais por pena do que qualquer outra coisa, segurei em sua mão. Flávio engoliu aquela afronta em seco, me olhou de uma maneira decepcionada.
- Bom, acho que vou indo. Sempre nos veremos agora, não é? – Ele falou para todos ali na sala.
- O Samuel está morando no interior – Meu pai falou rápido demais e adicionou mais uma camada de desconforto àquela situação que já era terrível. Flávio que estava de pé, sentou imediatamente no sofá e me olhou como se não compreendesse aquelas palavras ditas por meu pai.
Fiquei calado esperando o próximo movimento e ele foi até a porta com uma feição derrotada, meu coração se comprimia e foi como se ele estivesse me abandonando mais uma vez, meus olhos marejaram e eu corri ao banheiro, chorei lá dentro sentindo a dor de estar tão perto dele e sem poder sequer tocá-lo, meu deus como eu queria tocar em sua pele, sentir o seu cheiro, beijar a sua boca, entregar a ele todo o meu amor, mas Afonso estava ali e não merecia que eu fizesse esta desfeita com ele. Saí do banheiro quase cambaleando, o rosto vermelho e minha mãe me pegou no caminho para a sala.
- Meu bebê, que situação hein? – Ela me abraçou apertado.
- Ai mãe! – Gemi.
- Eu pensei que tendo um menino eu me livraria desses dramas com os rapazes, redondamente enganado... – Meu pai se achegou sorrindo.
- Pai... – O repreendi.
- Pobre do Flávio, filho... – Meu pai falou, não dá para negar por quem os dois torciam, passei por eles e quando cheguei na sala o Afonso não estava mais por lá.
- Cadê o Afonso? – Perguntei confuso.
- Disse que vinha lhe ver depois, mas teve que sair! – Minha mãe já ia até a cozinha.
- Mas ele não me avisou nada... – Falei confuso e ainda com medo do que aquela "fuga" poderia significar.
- Mas também filho, você só esperou o Flávio sair e foi chorar no banheiro, o que o rapaz podia fazer? – Meu pai estava muito saidinho, o encarei com raiva, mas sabia que ele estava coberto de razão.
Fiquei sentado tentando digerir os últimos acontecimentos, ver Flávio novamente e tão diferente do que eu lembrava reacendeu a vontade de estar perto dele, vontade essa que só foi possível de se manter mais apagada por conta de sua distância, porém ele estava a um andar de mim, bastava pegar a escada ou o elevador, bater em sua porta e ele me receberia, pelo menos foi isso que ele deu a entender agora há pouco.
- Meu filho, ligue para o rapaz. – Minha mãe me passou o telefone fixo e eu tentei ligar mais de quatro vezes para o celular de Afonso, mas o mesmo não atendeu.
- Ele não atende mãe. – Falei frustrado.
- Vocês estão namorando sério? – Ele sentou ao meu lado no sofá.
- Nunca chegamos a firmar um compromisso, mas acho que estávamos sim... – Lembrei dos momentos ao lado dele, todos muito agradáveis e eu ali sendo um escroto com Afonso, ele não merecia.
- E o Flávio? – Ela segurou em minha mão.
- Como assim? – Me fiz de desentendido.
- Meu filho, você devia ir até lá. Vocês dois devem ter muito que conversar! – Eu queria conversar com ele, sem dúvidas, mas eu tinha medo de estar sozinho na presença dele.
- Não dá... – Eu falei me sentindo impotente, eu e ele numa casa sem ninguém para nos vigiar, bem tudo poderia acontecer.
- Eu acho que vocês têm que se acertar, muita coisa ficou em suspenso desde a viagem dele. – Nisto minha mãe estava coberta de razão, muita coisa precisava ser dita e ouvida.
- A senhora acha que eu devo ir lá? – Falei só para que ela me desse o aval, afinal de contas eu sabia bem o que queria fazer.
- Vá! – Ela sorriu e eu levantei do sofá. Fui até o quarto, ajeitei os cabelos, passei um perfume e no banheiro eu escovei os dentes.
- Vou indo, tá bem? – Fiquei parado na sala enquanto o olhar de minha mãe me esquadrinhava por completo.
- Todo bonito! – Ela sorriu maliciosa – Cheiroso... – Sorriu de novo.
- Mãe, para! – Falei e me dirigi para a porta, meu coração pulava de antecipação, meus pés e mãos suavam, a boca seca e o estômago revirando de tanto nervosismo, entrei no elevador e tive que me encostar nas paredes de metal, olhei no espelho mais uma vez antes de sair e me dirigi até sua casa. Apertei a campainha, mas não ouvi nenhum barulho, bati na porta então e logo ele apareceu. Olhos vermelhos, sem camisa, uma bermuda e uma havaianas, seus braços estavam lindos e eu não cansava de admirá-los.
- Entra... – Ele falou amistoso, meu corpo não me obedecia e eu quis voltar para a segurança de minha casa, para longe daquela situação, para longe daquele mix de sentimentos.
- Não sei... – Não sabia mesmo, tudo em mim estava absolutamente em dúvidas se eu devia mesmo conversar com ele.
- Entra Sam, por favor! – Seus olhos marejaram novamente e ele segurou em minha mão, foi o suficiente. Um choque elétrico nos percorreu, minha respiração estava entrecortada, minha visão turva e bastava que ele pedisse e eu seria dele novamente.
Passei pelo umbral da porta, nossas mãos grudadas uma na outra, seus olhos fixos em mim. Por que estávamos naquela situação? O natural é que estivéssemos nos engalfinhando como dois desesperados, cada um desejando mais o outro e cada vez mais perto de estarmos colados, grudados, enfiados um no outro.
- Sam... Eu... – Ele cortou o silêncio.
- Fala, eu preciso saber o porquê você voltou! – De alguma forma achei o sentimento de raiva e dor por ter sido abandonado por ele. O meu tom de voz foi absolutamente gelado, ele sentiu as farpas de dor que saíram de mim, é tanto que soltou a minha mão e eu quis morrer.
- Eu voltei por você! – Ele falou com as mãos nos bolsos agora, uma feição triste.
- Tarde demais! – Me vi falando e a cara dele foi impagável.
- Você está com aquele cara? – Ele disse devagar, como se tomasse cuidado ao pronunciar aquelas sílabas.
- Estou! – Falei seguro, mas por dentro eu ruía completamente.
- Eu sei que você tem motivos pra isso, mas não me queira mal! – Falou em súplica e eu quase morri ali mesmo.
- Eu não te quero mal... – Disse baixinho, mas eu queria machuca-lo de alguma forma, queria que ele sentisse a dor que eu senti. Mas ela era minha, só minha, não há como infligir aquilo ele e mesmo que eu pudesse, será que conseguiria?
- Você tá mesmo morando no interior?
- Sim, estou! – Ele abaixou a cabeça.
- E aquele carinha é de lá? – Falou ainda com a cabeça abaixada.
- Sim, é...
- Termina com ele! – Falou seguro e eu quis sair dali, quis fugir, mas eu entrei naquela armadilha de bom grado, entrei sabendo que não havia forças em mim para resistir a uma intimação como aquela.
- Flávio, eu não posso...
- Você o ama? – Ele se aproximou de mim.
- Não é isso. – Falei com medo e ele deu mais um passo em minha direção, eu suava de nervosismo, minha camisa grudava em minhas costas.
- Você o ama Sam? – Ele segurou novamente em minha mão. – Responde, por favor!
- Não...
- E a mim? – Cai de novo na armadilha dos olhos dele, fiquei hipnotizado e meu corpo todo pediu por um contato com ele.
- Amo! – Admiti derrotado.
- Então... – Ele me abraçou.
- Eu não posso passar por aquilo tudo de novo. – Disse sinceramente – Eu morreria... – As lágrimas vieram com força, ele também chorava.
- Você não vai meu bem, eu voltei por você! – Falou em meu ouvido e de um movimento só ele beijava o meu pescoço e me segurava tão colado a ele que nem ar passava por nós.
- Promete? – Pedi.
- Prometo sim! – Nem se eu quisesse conseguiria resistir a ele, principalmente depois de todas aquelas palavras ditas.
Nós nos beijamos, finalmente eu sentia o gosto maravilhoso de sua língua em contato com a minha, sua respiração entrecortada de desejo, o seu corpo enorme se moldando ao meu de maneira que estávamos colados. Eu não seria capaz de dizer se estava realmente vivendo aquilo tudo de novo ou se era uma ilusão. Segurei em sua nuca, beijei o seu pescoço.
- Vamos pra cama! – Exigi, meu corpo implorava pelo dele. Andamos nos esbarrando em cada quina daquele apartamento, com certeza eu estaria roxo logo mais, mas nem me importei. Chegamos ao quarto de Genaro e estava meio bagunçado, mas limpo. Ele me jogou em cima da cama e deitou por cima de mim.
- Eu pensei tantas vezes nesse momento... – Flávio confessou me olhando no fundo dos olhos.
- Eu também! – Falei e ri.
- Eu te amo mais que tudo Sam!
- Se você me abandonar de novo eu te caço e arranco fora o seu pau! – Falei brincando e ele arregalou os olhos.
- Vai ficar sem teu brinquedo preferido? – Ele beijou o meu pescoço e falou de forma safada – Amanhã você não anda! – Eu estava de olhos fechados, quando os abri meu olhar foi atraído para a porta do quarto onde Genaro estava em pé e nos observava com uma feição de raiva. Foi então que eu gritei.
- O que houve? – Flávio perguntou assustado.
- O seu pai! – Falei em desespero, ele me olhou como se eu estivesse maluco e provavelmente estava. Ver um homem morto a nos observar, só podia ser um sinal claro de loucura.
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