CAPÍTULO - 13
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Sabe aquela história de quanto mais você despreza alguém, mais esse alguém corre atrás de você? Pois é, era esta a situação de Flávio e Héctor, o garoto mexicano estava cada vez mais apaixonado por meu protegido, tão preso e apaixonado que não pude me furtar de conversar com o seu protetor em uma ocasião em que ele chorou escondido no banheiro de seu apartamento depois que Flávio, dormindo, chamou pelo nome de Samuel.
- Ele tem alguém esperando por ele? – Perguntei penalizado de ver o quanto aquele garoto sofria.
- Infelizmente a alma gêmea dele morreu ao nascer nesta encarnação. – Falou sem me olhar e já tentando energizar o seu protegido para lhe dar força.
- E agora? O que acontece com ele? – Perguntei preocupado e já ouvindo a alma de Flávio desempenhar aquele show melancólico de todas as noites e quanto a isso havia pouca coisa a se fazer.
- Bom, eu espero conseguir protegê-lo dos maus sentimentos que nascem a cada uma das decepções amorosas que ele vai sofrer. Dos sentimentos de pouca valia, de inadequação, da tristeza e da depressão. – Deu um riso triste.
- Entendo – Falei genuinamente preocupado e antes de voltar para perto do meu protegido, lancei uma prece por Héctor, afinal de contas ele não tinha culpa de sua pouca sorte.
Nos dias que se seguiram Flávio quis se afastar do garoto por perceber o quanto ele estava envolvido, e o quanto aquela situação tinha potencial para se complicar, porém cada vez que ele tentava entrar neste assunto Héctor o cortava.
- Cara, eu não posso te corresponder dessa forma! – Disse Flávio pela segunda vez naquele dia e talvez a milésima naquela semana.
- Mas fica comigo Flávio, eu amo o suficiente por nós dois! – Disse em desespero, tentando frear as lágrimas e falhando miseravelmente mais uma vez.
- Desculpa Héctor eu não devia ter deixado chegar a esse ponto, mas agora tem que acabar! – Disse ele firme, naquele momento eu e Juanito (o protetor de Héctor) fazíamos preces e iluminávamos os nossos protegidos e pelo que pude ver, funcionava mais do meu lado.
- É por causa desse tal Samuel, não é? – Ele disse com despeito.
- Olha eu não vou mais falar sobre isso, Héctor eu te respeito cara. Desde que nós começamos nossa história eu não estive com nenhum outro cara...
- Você sempre esteve com outro cara na cabeça! – Falou acusador.
- Disso eu não tenho controle. – Disse Flávio como se estivesse se defendendo.
- Tem sim! – Gritou Héctor neste momento completamente tomado pelo ciúme e pelas dores que já havia sentido mais de uma vez na vida. Era sempre assim, os caras o achavam interessante, simpático e gostosinho, acabava sempre com um ou outro na cama, mas depois eles o esqueciam e ele se via novamente naquele redemoinho de sentimentos inferiores. As dúvidas sobre si mesmo, a pergunta que mais se fez foi: "Será que eu só sirvo para sexo?" se perguntava a cada nova decepção, ultimamente vinha se perguntando "Quantos mais eu posso aguentar?", a pergunta era válida, afinal quantas decepções a mais ele conseguiria aguentar sem ruir. Quantas vezes mais ele conseguiria ser preterido por outros caras sem que aquilo o enlouquecesse.
Flávio sentia-se culpado por fazê-lo sofrer, mas isso jamais foi o seu intuito. Quando começaram os dois transaram logo de cara e apesar de ter sido gostoso, para Flávio aquilo foi mais uma confirmação de que sem Samuel aquilo não fazia sentido. Afastou-se por não querer magoar o rapaz, mas este insistiu por um segundo e um terceiro encontro e quando viu já estavam dormindo juntos. Não que não tenha percebido onde aquilo estava indo, mas até então pensou ter sido bastante claro ao dizer que: "Não quero relacionamento sério neste momento", só que vendo o olhar enraivecido e magoado que Héctor lhe lançava ele se puniu por ter sucumbido à sua carência sexual e afetiva e ter vindo ao seu encontro.
- Héctor, cara você não precisa passar por isso! – Segurou-o pelos ombros – Você não precisa se humilhar... Tu é um cara incrível, inteligente, engraçado e...
- Mas não sou o suficiente para você, apesar de ser tudo isso, não é? – Falou vencido por fim, chorando e novamente provando do gosto amargo de ter se envolvido com alguém que claramente não o amava e que não o amaria.
- Cara... – Flávio balbuciou sentindo-se o pior dos seres humanos.
- Sai daqui, me deixa sozinho Flávio! – Héctor sentou em uma cadeira velha, cansado e derrotado mais uma vez. Não fez questão de esconder as lágrimas. – VAI! – Ordenou e por mais que Flávio quisesse, não se achou no direito de ficar. Desceu os lances da escada pensando o tempo todo em como havia feito mal a aquele garoto e inevitavelmente lembrou de Samuel e por ele sim, chorou pensando em quantas lágrimas ele teria derramado ao pensar que ele ia embora por não lhe amar o suficiente, quando na verdade ele o amava tanto que preferia estar longe a atrapalhar a vida do outro.
"Sam, meu amor!"
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Às 18:52 olhei para o relógio, parado na frente de casa e não pude deixa de pensar o por que aceitei aquele convite, nunca fui amigo de Afonso, nós dois nunca trocamos nada além de farpas quando menores e agora ele reaparecia mudado, até bonito, mas mesmo assim não fazia sentido sair com ele assim. Sentei-me na cadeira da vovó e peguei na cestinha de costura dela um caminho de mesa que ela estava fazendo e continuei de onde ela havia parado.
- Samuel, deixe isso meu filho! – Falou minha avó ao sentar ao meu lado.
- Ai vó, é que eu acho que ele vai atrasar. – Falei olhando para a minha vó com a agulha apoiada no dedo.
- Vai não bebê! – Ela sorriu confiante. – Vocês vão pra onde? – Ela já sabia por alto da minha relação com o Flávio, mas acredito que achou naquela atura de sua vida tentar me mudar daria um trabalho desnecessário, que só quem teria coragem de levar a frente era o meu avô Manoel.
- Ele não me disse vó, mas acho que deve ser em alguma lanchonete. – Falei concentrado no croché.
- Hum – Ela não gostou disso – Vai levando o celular, não é? – Ela não sabia muito bem usar aquele aparelhinho, mas comprou um mesmo assim para mim, afinal todo mundo tinha um, até ela que deixava o seu dentro de uma gaveta.
- Vou sim vó! – Então nós dois ouvimos o barulho de um carro potente se aproximando, ao longe aqueles faróis que pareciam os olhos de um felino jurássico a se aproximar na noite escura. Ajeitei-me, conferi novamente se a roupa estava engomada e limpa, vesti uma bermuda branca e uma camisa azul escura de tecido plano onde fiz um bordado em forma de tribal com uma linha prateada, com as mangas dobradas até os cotovelos e uma chinelinha de couro. Me peguei um tanto impressionado por estar nervoso com sua chegada e com o que ele iria achar de mim vestido daquele jeito.
Ele desceu e me surpreendi pelo jeito que ele estava vestido também, muito simples, mas bonito com uma bermuda lisa de cor escura, uma camiseta verde e tênis daqueles que normalmente se usa para correr. Sorriu ao me ver e achei o seu jeito atraente.
- "Donelena", boa noite! – Disse ele com o sotaque próprio daquele lugar e apertou a mão de minha avó.
- Boa noite Anfosinho! – Ela respondeu sorrindo.
- Vim buscar o seu neto para dar uma volta. – Ele sorria o tempo todo.
- Cuide dele, sim! – Ela sorriu. – E não cheguem tarde. – Minha vó me deu um beijo no rosto e sussurrou em meu ouvido: "Cuidado", sorri e saí com ele. Seu carro era um Jeep daqueles que andam em todos os tipos de terrenos.
- Tá todo chique, cheiroso... – Ele disse num tom que julguei ser bastante sensual.
- Deixa de ser besta Afonso! – Falei rindo.
- É serio, gostei dessa blusa aí. – Falou ligando o carro e o som ligou junto, tocava uma música do Belchior – Coração Selvagem.
- Nós vamos pra onde? – Perguntei curioso.
- Na bica! – Ele sorriu.
- Na bica? – Na bica havia várias piscinas naturais que se formavam por todo o terreno, mas tratava-se de um terreno maltratado pela ação da água e dos agentes da natureza que ao mesmo tempo em que criavam um cenário lindo e encantador, dificultavam e muito o acesso.
- Sim, fizeram uma estradinha por lá e uns restaurantes legais. – Falou sem me olhar.
- Tudo bem! – Sorri.
- Depois a gente pode subir um pouco e ficar mais a vontade. – Falou naturalmente e fiquei nervoso imediatamente.
- Ok... – O ar condicionado do carro era tão potente quanto o seu motor e eu estava morrendo de frio depois de dez minutos com ele.
- Tá com frio Samuelzinho? – Ele perguntou ao me ver tentar esquentar os meus braços esfregando-os com as mãos.
- Um pouco. – Sorri sem graça. Ele então o desligou. – Obrigado – Sorri pra ele. chegamos rapidamente ao local que ele pretendia me levar. Quando ele parou o carro eu ia abrir a porta.
- Espera! – Falou segurando a chave do carro.
- O que foi? – Estranhei.
- Vem aqui! – Não me deu tempo para fugir, ele colou os lábios aos meus e sua boca era bruta como ele todo, sua barba por fazer machucava meu rosto liso, sua mão segurava em minha nuca e assanhava os meus cabelos e percebi então que sim, ele me atraía e muito. O beijo durou só alguns segundos, mas foi o suficiente para me fazer sair do ar. – Só pra não deixar dúvidas, isso é um encontro! – Disse assim que nos separamos e ele desceu do carro. Fiquei totalmente abobalhado pela sua forma direta e firme. Desci do carro e andamos lado a lado até uma mesa do restaurante, jantamos intercalando momentos de silêncio e sorrisinhos cumplices, com outros em que falamos de quase tudo o que nos aconteceu durante os anos em que não nos vimos.
- Quer dizer que você parou de estudar, né rapaz? – Ele disse em tom de bronca.
- Por enquanto sim! – Falei seguro, vivia pensando em como poderia fazer para estar naquele apartamento novamente sem pensar em Flávio, sem chorar por ele não estar mais ali.
- Mas pretende voltar, então. – Perguntou enquanto esperávamos a conta.
- Sim, claro. – Sorri, de repente o tom que ele sempre usou para me desestabilizar quando éramos crianças, pareceu mudar e então entendi que aquele era o jeito dele de ser e não uma forma de me tirar do sério. – Quanto é a minha parte? – Perguntei ao ver que o garçom entregou a conta em suas mãos.
- Seu dinheiro não vale aqui! – Falou bruto.
- Cavalo! – Eu falei sorrindo. Ele sorriu também de forma lasciva.
- Você ainda não viu nada! – Falou safado. Corei.
Andamos nos encostando até chegarmos ao carro, ele estava muito cheiroso, o seu perfume era maravilhoso e inebriante. Assim que entramos no carro ele nem me deixou respirar e me atacou novamente, seus lábios eram fortes como todo o resto de seu corpo e ele não me deixava escolha a não ser sugar com vontade aquela língua dele, com vontade e tesão ele a enfiava em minha boca, chupava a minha com força, de repente ele me puxou como se eu não pesasse nada e me colocou sentado de frente para ele.
- Estava doido pra fazer isso! – Ele sorriu safado.
- Estou notando. – Mesmo estando uma delícia, não pude me furtar de lembrar do meu Flávio.
- Vem, ainda é cedo. Vou te levar num lugar legal. – Disse empolgado, sai de cima dele e sentei novamente em meu banco, coloquei o cinto de segurança. Foi então que ele passou a me tocar no joelho o tempo inteiro, sorrindo e tentando me deixar a vontade.
Chegamos ao pé da pedreira, ao lado a queda d'água que lançava pequenos respingos de água umedecendo o ar que respirávamos, as roupas que vestíamos e deixava tudo meio frio naquela noite escura. Ele portava uma lanterna e me ajudou a subir até um local um pouco mais alto onde havia uma piscina natural e em volta pedras lisas que eram perfeitas para sentar junto de alguém, presentes perfeitos da natureza e naquela noite tudo parecia perfeito. Olhei em volta e vi que não havia como ninguém nos ver ali.
- Uma cobra! – Gritei desesperado e me joguei nele.
- Calma cara! – Ele me segurou rindo do meu susto. – É só uma cobrinha d'água! – Riu um pouco mais e eu já estava com vergonha, pois sabia que aquela não tinha nenhum veneno e por isso mesmo não justificava o meu escândalo.
- Não deu pra ver que era uma cobra d'água! – Tentei me defender.
- Seeei! – Ele não acreditou e eu corei. – Vem aqui! – Ele me tomou novamente em seus braços, me beijou longamente e era bom sentir o gosto de sua boca, a brutalidade de sua barba em meu rosto, as mãos enormes que tomavam conta de meu corpo como se a ele já pertencesse. Ele se envergava todo para alcançar os meus lábios e era muito gostoso estar em sua companhia.
Quando nos afastamos por um momento, ele beijou o meu pescoço.
- Delícia! – Sussurrou em meu ouvido.
- É mesmo! – Abracei o seu pescoço e ele me suspendeu por um minuto.
- Sexta você vai sair comigo de novo! – Falou decidido e eu confirmei com a cabeça, foi bom notar que apesar de não ser com o Flávio, eu poderia me interessar por outras pessoas.
Ele me deixou em casa por volta de 23:00hs, íamos devagar pelo terreno da fazenda, foi então que ouvi dentro de uma da casa de um dos peões, um grito desesperado de uma mulher.
- O que foi isso? – Perguntei alarmado, ele me olhou assustado.
- Não sei! – Falou. Ouvimos outro grito.
- Para o carro! – Falei já avistando uma casa com a luz acesa.
- Samuel, deixa isso pra lá cara!
- Se você não parar eu desço com o carro em movimento. – Ameacei.
Desci na frente da casa de um dos peões que só conhecia de vista e ele estava claramente agredindo a esposa. Bati na porta com força, os ruídos cessaram imediatamente. Olhei para trás e Afonso vinha em minha direção.
- Não se mete nisso Samuel – Ele parecia suplicar.
- Eu não vou ser conivente com esse tipo de coisa aqui! – Falei gritando com ele, mas também para que o homem lá dentro soubesse que eu estava falando sério. A porta se abriu de uma vez e um homem bêbado e sujo a abriu, o bafo de cachaça me atingiu com tudo.
- "O que cê qué patrãozin?" – Ele falou quase sem se aguentar em pé.
- O que estava acontecendo aí dentro? – Perguntei cruzando os braços. Afonso tentou me puxar para voltar ao carro. – Me solta Afonso! – Falei olhando diretamente pra ele. – Cadê a sua esposa João? – Falei o olhando diretamente.
- Não é de sua conta "patrãozin"! – Ele falou desafiador.
- Eu quero falar com ela. – Insisti e foi quando ele se desequilibrou e vi que ela estava no chão, com o rosto ensanguentado e os filhos pequenos ao lado dela tentando fazer com que ela acordasse – Monstro! – Gritei assustando aquele bêbado, lhe empurrei e ele foi ao chão imediatamente, entrei na casa e fui ver se a mulher que eu não lembrava o nome estava respirando, Afonso me acompanhou e foi providencial que ele entrasse, pois a coitada estava desmaiada. – Me ajuda aqui – Falei segurando a cabeça da mulher, os filhos dela se encostaram a mim, eram dois meninos e uma menina.
- Ajuda minha mãe moço! – O menor suplicou e eu tive que frear o impulso de chorar.
- Vou ajudar meu amor. – Olhei pra ele e nesse momento o homem se levantou.
- Não se meta no meu casamento. – Rugiu.
- Cale a sua boca seu bêbado! – Afonso gritou mais alto ainda e o homem se encostou à parede assustado com o tom.
- Me ajuda aqui Afonso! – Pedi e foi então que a mulher gemeu de dor, abriu os olhos e me olhou quase chorando. – A senhora consegue levantar? – Perguntei e ela, os filhos a ajudaram a levantar. De pé ela me olhou chorando. – Venha comigo, vocês dormem lá em casa hoje! – Falei baixo só para eles ouvirem. Os quatro me acompanharam, o homem continuava encostado a parede.
- Obrigado moço! – Ela falou me olhando, o filhinho menor segurou em minha mão. Chegamos rápido a casa, minha avó já dormia eu ia coloca-los em dois quartos, mas as crianças insistiram em dormir com a mãe. Depois de dar roupas e arranjar algo para que eles comessem, saí para me despedir de Afonso. Ele estava sentado em minha cadeira no alpendre.
- Afonso, vou te acompanhar até o carro, - Ele estava preocupado, pude notar.
- Eles estão bem? – Perguntou baixinho.
- Agora vão ficar! – Falei com raiva. – Vou denunciar aquele homem!
- Samuel, em briga de marido e mulher não se mete a colher! – Ele falou em tom sério.
- Aquilo não era uma briga entre marido e mulher, era um espancamento Afonso! Se nós não fizéssemos nada, seríamos tão culpados quanto ele! – Falei firme.
- Não te entendo... – Ele disse rindo.
- Como assim? – Cruzei os braços.
- Tem medo de uma cobra d'água, mas entra nas casas dos empregados pra se meter com homens violentos. – Falou rindo um pouco e eu sorri. – Vem aqui! – Ele olhou para os lados e me beijou de forma intensa como da última vez, mas mais rápido.
Não foi uma noite perfeita, mas foi muito boa mesmo assim.
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