CAPÍTULO - 07
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Mais um dia vendo as barbaridades que Genaro fazia com Flávio e mais uma vez eu me sentindo um inútil e só por meio de preces é que eu podia ajudá-lo, sem poder interferir. Os parasitas o cercaram e o sufocaram com ideias de morte, de assassinato seguido de suicídio, eles riam a cada murro desferido na face daquele menino que era indefeso frente a força do pai, os pensamentos de Genaro eram absurdamente conturbados ao passo que ele experimentava o prazer de bater numa pessoa mais fraca, prazer esse que era diretamente influenciado pelos espíritos parasitas, ele também sentia pena do olhar do filho e no meio daquilo tudo, prestes a desferir o soco que cortaria o supercílio de Flávio, se perguntou: "Como eu me tornei isso?", foi apenas um lampejo que foi imediatamente rechaçado por aqueles espíritos baixos e pouco evoluídos.
Jazia no chão o meu protegido, senti algumas das dores dele e de alguma forma o meu corpo imaterial doeu também, mas por dentro. Sentei ao lado dele para lhe fazer um carinho, ele deitado com a face encostada ao chão imundo do quarto não percebeu quando Genaro levantou a garrafa ainda cheia de whisky para lhe atacar na cabeça. Foi então que a coisa mais estranha me aconteceu, eu brilhei, tão forte, tão quente e tão protetor que os parasitas voltaram para a sombra e só o que restou em Genaro foi a sua consciência. Tentando se justificar para si mesmo, ele disse: "Tive que me proteger, ele me desafiou e me desrespeitou!", quando o olhei novamente um parasita já lhe atacava o ouvido com sussurros de ódio e rancor. Continuei brilhando por muito tempo e por mais que aquilo não ajudasse de fato ao meu protegido, ao menos lhe mantinha imune aos maus sentimentos que rondavam aquele quarto.
Foi de repente que um cordão de prata me atravessou, ele saía do ombro direito de Flávio e se ligou ao ombro esquerdo de Samuel que entrou no quarto assustado. Maria ia ao seu lado, segurando a sua mão, ela me pegou lacrimejando de pena e sorriu. Em minha cabeça a sua voz surgiu: "Você o ama, papai", não negaria, não mais. Samuel conseguiu levantá-lo e saíram os dois rumo ao apartamento que um dia me pertenceu. Minha nora estava lá com um protetor bonito, mas muito calado, em seguida chegou o meu Netinho, meu filho estava tão bonito e me permiti chorar de pena de mim por não ter aproveitado mais de sua companhia, por ter feito o meu menino sofrer e fiquei feliz no meio disto tudo por perceber que mesmo assim ele tinha uma alma limpa, uma aura luminosa azul clara e que o amor por sua família era maior que qualquer coisa.
Só me separei de minha família novamente para acompanhar o Flávio dentro dos locais específicos onde fez vários exames, energizei todos os copos de água que ele bebeu e toda comida que foi a sua boca naquele dia, o que devo dizer que comparado a um dia normal de sua vida era bastante. Naquela noite eu e Maria velamos o sono dos dois, e foi então que o maior espetáculo aconteceu. Aquele cordão prateado que aparecia sempre que os dois estavam perto um do outro tornou-se algo mais, as almas dos dois flutuaram para fora do corpo e fizeram carinho uma na outra, dançavam uma melodia bonita que os dois cantarolavam e brincavam de se fundir uma na outra.
- O que eles estão fazendo Maria? – Perguntei me sentindo profundamente tocado por aquele espetáculo.
- Estão se amando do jeito deles papai. – Ela sorria e chorava ao mesmo tempo.
- Mas por que elas são disformes assim? – Perguntei notando que diferente de mim e Maria que conservávamos nossas feições de vivos, as almas dos meninos não tinham rostos, eram apenas um espectro esbranquiçado com colorações em alguns lugares, por exemplo a alma de Samuel oscilava em cores quentes como o rosa e o vermelho e a de Flávio em cores mais frias e calmas como o azul e o verde.
- Por que eles estão encarnados papai, eles só assumirão essa aparência quando nascerem em outro plano; - Disse segurando a minha mão e me incitando a olhar aquele espetáculo maravilhoso, eles flutuavam colados um no outro formando um arco-íris completo e a paz que emanava deles era algo próximo do sublime.
- Eles lembram de alguma coisa depois? – Perguntei curioso.
- No íntimo eles já sabem que nasceram um para o outro, mas precisam passar por todas as etapas da vida juntos. Papai, eles têm tanto potencial para a felicidade, olhe para eles – Olhei e vi algo que nenhuma pessoa viva entenderia, por que é algo até difícil de imaginar quando se está envolvido por matéria sólida, mas era como um balé de fumaças desempenhado em perfeita sincronia.
- Isso é amor? – Perguntei novamente.
- Esse é o amor em estado sublime, papai! Só com a sua alma gêmea ao lado é que se consegue esse tipo de reação. – Ela ria solto.
- Minha filha, e a sua alma gêmea?
- Ele ainda está encarnado, por forças que não ouso questionar não nos encontramos nesta temporada na terra, mas eu vou esperar por ele e só então é que poderemos nos reencarnar para mais uma vez vivermos e aprendermos. – Ela falava calmamente, beijei e a centelha de amor que nos unia como pai e filha fez brilhar o amor que sentíamos um pelo outro. Estávamos nós dois também em comunhão. Andamos por aquela casa e vi meu filho dormir tranquilo.
- Eu queria poder me desculpar com o Netinho – Pousei minha mão no peito desnudo de meu filho, ele era muito parecido comigo e sorri.
- Fale com ele papai! – Ela me encorajou. Quando eu abri a boca. – Fale telepaticamente, afinal o senhor não quer assustá-lo e fazer com que pensem que têm almas penadas neste apartamento. – Ela riu, assim como eu e os outros dois protetores que ali estavam. Consegui entrar no sonho dele, conversamos muito e finalmente eu pude me desculpar por não ser o pai que ele merecia. Naquela noite notei o quanto a minha vida na terra foi prejudicada por noções mesquinhas, como: dinheiro, poder, orgulho e ódio. E agradeci à grande matriz de almas que nos fez por poder me desculpar e mudar. Com um beijo na testa de meu filho eu me despedi e vi um sorriso se formar em seu rosto, mesmo ele dormindo.
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Acordei feliz, nunca fui uma pessoa mal humorada ao acordar, mas naquele dia eu posso dizer que dormi o sono dos justos. Flávio continuava a dormir ainda, percebi que ele gemia enquanto dormia e me fixei em seu rosto, que agora estava cortado, mas que era bonito e harmônico, o nariz grande caía muito bem nele, os lábios avermelhados, o cabelo negro e reluzente, a sua respiração calma e os pelinhos que nasciam em seu peito... Tudo nele era extremamente atraente, tudo nele parecia ser feito para tocar. Não percebi que já havia amanhecido e quem me lembrou disto foi a minha mãe que entrou no quarto de surpresa.
- Bom dia rapazes! – Disse antipática e fiquei vermelho de vergonha, por ela me pegar velando o sono dele.
- Ele ainda não acordou... – Disse cochichando.
- Pois venha aqui na sala Samuel, quero ter uma conversinha com o "senhorito"! – Fui como uma vaca que é levada a força para o abatedouro.
- Vocês dormiram juntos? – Disse ela ainda na porta do quarto e senti uma vergonha enorme como se ela tivesse me pego roubando esmolas de um cego.
- Mamãe...
- Samuel, não minta pra mim! – Disse severa.
- Dormimos. – Baixei a cabeça e as lágrimas turvaram a minha visão.
- Muito bonito Samuel, muito bonito... – Disse levantando o meu rosto. – Ao menos se protegeram? – Perguntou aquilo e eu não entendi na hora.
- Como assim? – Perguntei confuso.
- Camisinha, preservativo, camisa de vênus, condoms! - Disse de uma só vez. E minha expressão era sem dúvida de ultraje.
- Mamãe, me respeite! A gente não transou... – Disse ofendido, não por ela pensar que eu estava fazendo sexo com um garoto e sim por pensar que eu ia liberar assim tão facilmente.
- Samuel... – Falou ameaçadora.
- Mamãe, eu juro que não rolou isso. Eu não vou transar com ele assim todo quebrado e depois a gente só se conhece há pouco tempo. – Falei firme.
- Acho bom, não lhe criei para isso... – Falou sorrindo e vi que ela acreditou em mim.
- Espera mamãe, você estava chateada por que então? – Perguntei confuso ao notar que o meu motivo de medo de me abrir com ela, parecia ser totalmente infundado.
- Meu filho, você quer conversar a sério comigo e com seu pai? – Passou a mão pelo meu rosto.
- Vocês parecem já saber de tudo. – Disse com vergonha e abaixei o rosto.
Ela me abraçou: - Meu bebê, você sempre foi especial. – Ela beijou a minha testa – E nunca me enganou! – Sorriu segurando as minhas bochechas – Você gosta desse menino não é?
- Gosto. – Disse baixinho.
- Então, pra que esconder de mim ou do seu pai? – Perguntou ainda segurando meu rosto.
- Porque eu sempre apanhei por isso. – Permiti que uma lágrima escapasse dos meus olhos, ela limpou e soube que ela entendeu o que eu quis dizer, além do meu avô, os meninos do colégio me provocavam e alguns me agrediam.
- Nunca de nós! – Ela disse firme e me abraçou forte, o bom do abraço de minha mãe é que ela aquele tipo de abraço que envolve o corpo por completo, você sente cada arte do seu corpo ser envolvida. Não sei explicar, mas o abraço dela é o melhor do mundo. – Beijei o rosto dela.
- Interrompo? – Perguntou o meu pai sorrindo.
- Não meu amor, você nunca interrompe. – Ela disse e ele sorriu, os dois se beijaram na minha frente.
- Eca, parem! – Disse fazendo cara de nojo e sempre que eu fazia, meu pai agarrava a minha mãe e lhe beijava ainda mais, sai de perto por que ainda estava de barriga vazia.
Andei até o meu quarto e tomei um banho demorado, o tempo todo pensando que conversaria com meu pai o quanto antes sobre mim e o Flávio. Saí do banho todo molhado, fui ao quarto me trocar e passei um perfume. Entrei no quarto de hóspedes onde o Flávio dormia o sono dos justos. Sentei ao seu lado e vi que passava das oito da manhã.
- Ei dorminhoco. – Falei baixinho ao lado dele. – Acorda! – Ele tinha que tomar remédio, mas quem eu estou enganado? Eu estava mesmo era com saudade de sua voz. Ele acordou um pouco desorientado, afinal aquele não era o seu quarto. Abriu um sorriso lindo e com dificuldade encostou-se ao espaldar da cama.
- Dormi demais! – Disse baixinho e um pouco envergonhado.
- Não tem problema Flávio – Sorri de volta.
- Nem te acordei, desculpa. – Ele continuava envergonhado.
- Minha mãe me pegou aqui contigo! – Os olhos dele arregalaram ao máximo.
- Meu deus, que vergonha... Ela vai...
- Calma menino, eu já conversei com ela. – Falei e pousei a mão em seu peito, ele sorriu e eu também, parecia que nós já éramos íntimos o suficiente para termos acesso ao corpo um do outro.
- Vou tomar um banho então... – Disse ele cortando aquele momento e sorrindo, ajudei-o a levantar e quando saímos do quarto pude ouvir que a sessão de beijos dos meus pais ainda estava acontecendo, corei de vergonha. – Bom dia! – Ele disse sorrindo ao ver os dois namorando.
- Bom dia! – Os dois responderam ainda abraçados, se afastaram um pouco e vieram ao nosso encontro.
- Dormiram bem? – Meu pai perguntou sorridente.
- Dormimos sim – Flávio olhou para os lados, envergonhado. Depois daquela situação e de algumas brincadeiras, ele entrou no banheiro e minha mãe foi passar um café enquanto meu pai saiu para comprar pães.
- Sabe que olhando assim pra ele, eu consigo ver o charme de "bad boy" que ele tem... – Disse minha mãe toda serelepe.
- Ai mãe, menos, por favor! – Disse com vergonha. Ele voltou só de toalha para sala e eu tive que usar todas as minhas forças para não voar em cima dele, as gotinhas de água ainda passeavam pelo seu corpo, os poucos pelos de seu peito estavam colados a pele, o cabelo se colava a testa e ele estava mais lindo do que antes.
- Dona Viviane, minhas roupas... – Ele perguntou envergonhado e eu estava hipnotizado agora pelos gominhos que ele tinha no abdômen.
- Ah sim meu filho, levo já as suas roupas para o seu quarto. – Ela disse e foi até a área de serviço voltou com uma bermuda e uma camisa, nesse meio tempo ele interceptou o meu olhar e ficamos nos encarando. Eu sentado na ponta da mesa, ele de pé todo molhado na entrada do pequeno corredor que dava para o quarto. Algo nos prendia e um vórtex de energia parecia surgir entre nós dois, nos atraindo um para o outro. Desejei o corpo dele, desejei a língua dele, desejei ainda mais ouvir as palavras que ele dizia quando estávamos a sós. – Estão aqui! – Disse ela entregando as roupas em sua mão, só a interrupção dela foi capaz de quebrar aquele instante mágico de comunhão em que estávamos imersos.
Ele deu as costas e foi para o quarto se vestir.
- Vocês dois, hein? – Ela disse sorrindo como se fosse nossa cúmplice.
- Mãe, para com isso... – Falei envergonhado, mas sorrindo.
- Ah meu filhote, para você! Acho bonitinho amor adolescente... – Ela falou quebrando um ovo para fritar para o meu pai. Flávio voltou a sala com o cabelo penteado, uma roupa toda preta e umas pulseiras no braço direito, no esquerdo ele ostentava o infame gesso. Sentou ao meu lado e o cheiro cítrico daquele sabonete de limão invadiu o meu nariz e eu quase morri. Meu pai entrou em casa e veio direto com para a sala de jantar com pães e bolos variados. Todos comemos bem, mas deu gosto de ver o Flávio se deliciando com cada uma das coisas que meu pai havia trazido, ele sorria como se há muito tempo não tivesse acesso àquelas coisas simples e eu desconfiei que era assim mesmo.
Passamos a manhã juntos assistindo tv no sofá, eu ajudei um pouco a minha mãe no almoço, mas o tempo todo eu ficava voltando para vê-lo, depois do almoço minha mãe foi deitar um pouco e meu pai saiu para a sua aula, lavei a louça sob o olhar atento de Flávio. Quando terminei tudo ele disse:
- Ei, vamos deitar também? – O tom que ele usou era diferente e me arrepiou.
- Vamos sim – Sorri amarelo para ele. Andamos de mãos dadas até a porta do meu quarto. Ao entrar eu abri as cortinas enquanto ele fechava a porta. Ele percorreu com os dedos a superfície lisa da minha escrivaninha, viu algumas fotos ali com os meus pais, minha avó e meu avô. Em uma minha, num porta-retratos maior que os outros, o gorro dele estava encaixado.
- Então você ainda tem o meu gorro? – Ele disse segurando nele e sorriu. Não senti vergonha, me aproximei pelas costas dele e que menino alto e cheiroso.
- Tenho sim, senta aí! – Apontei para a cadeira da escrivaninha, mas ele andou até a minha cama e sentou nela, alisou a colcha branquinha que eu amava e deu duas batidinhas me chamando para sentar ali com ele. Sentei de frente pra ele.
- Eu agradeci ao seu pai poro me defender, mas acabei não te agradecendo por me salvar! – Ele me olhava fazendo aquela mágica de fazer tudo ao nosso redor desaparecer. Sua mão tocou a minha.
- Não precisa agradecer, eu faria tudo de novo! – Fiquei mais próximo dele, fui lhe beijar e ele fechou os olhos. Desviei dele e deitei na cama.
- Seu safado, me enganou! – Ele disse e deitou em cima de mim. Fez cócegas, mas acabou magoando o braço que estava luxado. – Auuuuu! – Gemeu de dor.
- Meu deus, desculpa! – Ele estava ajoelhado entre as minhas pernas e eu sentei e fiquei olhando para atadura.
- Droga, tá doendo agora! – Ele disse fazendo uma caretinha.
- Desculpa mesmo... – Falei me sentindo mal.
- Pegadinha do malaaandro! – Falou apontando pra mim e rindo. Eu ri também, por que ele conseguiu mais uma vez brincar com minha cara e eu caí feito um pato.
- Seu chato! – Disse fingindo raiva.
- Ow meu lindo, fica com raiva de mim não. – Ele disse manhoso e aí foi a minha vez de rir. Ri tanto que ele fechou a cara. – Porra, tá rindo que assim? – Disse com raiva.
- Nunca pensei que você ia me chamar assim – Mais uma saraivada de risos.
- Já me arrependi! – Disse deitando do outro lado da cama. Não sei o que me deu, nem sei de onde aquilo surgiu, mas sentei em cima dele, uma perna de cada lado de seu corpo e o beijei. Logo ele estava com o humor normal e com apenas um movimento ele me colocou na posição original, ele por cima de mim. Ficamos a tarde toda nesses amassos, mais uma vez ele me fez gozar na cueca e depois disso ficamos agarrados um ao outro.
- Flávio, o que você sente por mim? – Disse sem lhe encarar.
- Como assim? – Ele perguntou tranquilo.
- Tipo, eu sei que tem pouco tempo que estamos ficando, mas o que você sente por mim? – Perguntei agora mais receoso.
- Não sei Sam, desculpa. – Ele parecia genuinamente preocupado, levantei a cabeça e lhe encarei, eu já sabia o que sentia por ele. – Mas eu te digo uma coisa – Voltei a lhe olhar – Eu estou louco por você! – Sorri e lhe beijei de novo. Bom, ao menos ele está louco por mim!
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