CAPÍTULO - 01
*Oi pessoas lindas, estou de volta aqui No Wattpad com mais uma história, essa daqui é uma bem especial, pois venho amadurecendo essa ideia já há algum tempo e resolvi dividir com vocês. O tema vai tratar de espiritualidade, lógico que junto com o romance como eu costumo fazer, mas deixo avisado que nada do que eu escrever aqui tem a intenção de falar bem ou mal sobre esta ou aquela religião, é mais uma forma de expor as minhas ideias e em algumas passagens eu tomei a "liberdade poética" de adaptar um pouco os ensinamentos de religiões e doutrinas a partir de estudos que realizei durante a vida. Bom, espero que fique claro o meu ponto de vista e desde já agradeço aos queridos que me acompanham. Beijos e mais beijos, vocês tornam os meus dias muito mais felizes! <3 <3 <3
CAPÍTULO - 01
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Nunca acreditei em Deus ou em vida após a vida, sempre fui um homem prático e pragmático, meu pai serviu no exército por toda a sua vida e morreu amando as forças armadas, as armas, a ordem e a disciplina, cresci ouvindo que um homem de bem deve fazer de tudo para proteger a moral e os bons costumes e foi assim que eduquei os meus dois filhos, morávamos numa fazenda no interior do Ceará, muito próximo de uma pequena cidade chamada Ipu, que de lá se sabe que existe uma queda d'água enorme que atrai alguns turistas por sua beleza. Pois bem, essa fazenda foi herança do pai de minha esposa, o Coronel Matias, um homem justo com ideias fortes e pai de uma das moças mais lindas que já vi, minha Helena, Leninha como eu a chamava era uma mulher como poucos tiveram a sorte de ter. Era uma morena clara, de olhos verdes amendoados, bochechas perfeitas e cabelo liso que lhe caía pelas costas como uma cascata perfeita de fios.
Só permitia que ela usasse os cabelos soltos em casa e em minha companhia, pois não havia e nem nunca houve nada mais lindo do que minha mulher com os cabelos soltos. Às vezes, quando fazíamos amor em nossa enorme cama de dossel, seus cabelos se espraiavam pela colcha branca como tentáculos de um animal marinho, prontos a me atacar, sua docilidade e beleza só não eram maiores que seu amor por tudo o que se mexia. Nos primeiros anos de casamento ela engravidou de nosso primeiro filho, me deu um homem com o "saco preto" como se diz por aqui para designar a "macheza" da criança. Chamamos o garoto de Matias para homenagear o pai de Helena, ela não queria por causa de suas superstições que davam conta de que os nomes não se devem repetir, mas eu devia muito ao meu sogro para lhe deixar sem uma homenagem apropriada. De mais a mais, logo que o menino nasceu passamos a chama-lo de Netinho e assim foi até que nasceu a princesa de nossa casa: Maria.
Minha filha Maria me dava tanto carinho e alegrias que eu não sabia como podia amar uma garotinha mais do que a mim mesmo, Neto costumava sentir ciúmes de mim com a irmã, mas era mais que justo que eu a mimasse já que Leninha sempre o mimou muito mais. A clássica separação de filhos e pais se deu em nossa casa. Eu mantinha a fazenda com a ajuda de um capataz, este trabalhou sempre com meu sogro e seu nome é Aluísio, na hora eu não soube, mas ele me mataria... Voltando, meus filhos cresceram e nós mandamos os dois para a Capital do Estado para estudar, por mim Maria teria ficado conosco, mulher precisava saber cozinhar e cuidar do marido na minha opinião, não havia necessidade de que ela soubesse ler, ou qualquer outra coisa nesse sentido. Os dois moravam juntos em uma pensão e nós os visitávamos todos os fins de semana. Foi com pesar que surpreendi meu único filho lendo sobre ideias subversivas e marxistas. Quis trazê-lo de volta para a nossa convivência, mas de mim a única coisa que se soube sempre é que Leninha conseguia de mim toda e qualquer coisa que quisesse.
Por ela eu deixei que ele continuasse a estudar na capital, mas deixei Maria de guarda, para que ela vigiasse sempre o irmão e me dissesse se ele andava se encontrando com gente dessa laia, não era simplesmente uma questão de medo do comunismo, vivíamos numa época em que os policiais e o exército é que comandavam muitas de nossas ações, comigo e com os meus eles nunca mexeram, pois nós sempre apoiamos a causa deles, proteger o país de uma ditadura comunista, onde nós pessoas que sempre trabalhamos por nossas riquezas teríamos que dividir o fruto de nosso suor com os outros vagabundos e preguiçosos que nunca quiseram dar "um prego numa barra de sabão". Pois bem, comigo não! Neto fez dezoito anos e se juntou ao exército de vagabundos que queriam tirar os militares do poder, envolveu-se até o pescoço em milícias e lutava fazendo sequestros e roubos. Lutava... Que piada, meu filho se tornou um maldito ladrão, dizendo querer a liberdade, da última vez em que nos falamos, veio com ideias de espalhar minhas terras para os mais pobres das redondezas para que eles trabalhassem e plantassem no que era deles e não passar a vida inteira trabalhando para mim.
Ideia idiota, esses pobres coitados não tinham a força necessária para gerir um pedaço de terra que fosse, mesmo que eu lhes desse as terras e a maneira de subsistir por si só, eles em um mês estariam de volta me pedindo por um lugar para trabalhar e dormir, pois com certeza teriam se desfeito das terras tomando cachaça e em festas. Neto completou vinte e um anos na mesma época em que Maria retornou à fazenda formada como professora, ela queria exercer a profissão e como um capricho eu permiti que isso acontecesse, pois a ela eu não tinha coragem de negar nada. Minha querida filha que nunca levantou a voz para mim, logo conseguiu uma colocação com minha ajuda e influência e dava aulas para crianças ricas das redondezas, mas sua saúde era frágil, infelizmente. Vivia acamada a pobrezinha, causando preocupações a mim e a Leninha, Neto vivia sumido no mundo, de vez em quando ligava para a mãe, mas nunca pedia para falar comigo, era até melhor mesmo, pois nós sempre acabávamos por nos desentender.
Foi numa madrugada que me chegou a notícia de que ele estava desaparecido, Leninha desesperada me fez prometer que se necessário fosse vendesse até a minha alma, mas lhe trouxesse o filho de volta, eu não queria lhe dizer a verdade, mas achei que nosso filho tinha sido morto. Foi uma das poucas vezes que xinguei os policiais, imaginei que meu filho possa ter passado por aquelas torturas e que depois tenha sido morto, ainda usei de pouca influência para tentar acha-lo, mas as informações que me chegavam eram confusas e nada elucidativas, acabei por desistir, mas mantive sempre a história de que o procurava. Nossa família passou por dificuldades maiores, quando Maria pegou pneumonia e nos mudamos para a capital, para uma casa menor que a da fazendo para acompanha-la durante o tratamento.
Porém nada pode salvá-la, nem os tratamentos, nem mesmo a reza de minha esposa foi o suficiente e quando a enterrei parecia que estava enterrando uma parte de mim, eu e Helena tínhamos tudo para ser felizes, uma bela casa, boa posição social, nome influente, dinheiro suficiente para muitas gerações de nossa família, mas havíamos perdido os dois filhos e ficamos nós dois juntos como no início de nosso casamento. Helena que na idade de cinquenta anos não tinha ainda nenhum fio branco em sua cabeça, passou a mirrar de tristeza e eu mais uma vez me mudei para a capital para um tratamento do que os médicos chamaram de "Estado depressivo", perder dois filhos era um baque sem tamanho, mas se eu a perdesse, sem dúvidas que enlouqueceria.
Por causa das constantes viagens que fazíamos à Fortaleza, comecei a notar pequenos valores sendo subtraídos nas contas da fazenda, minha primeira suspeita era o capataz. Aluísio me garantiu que houve uma baixa nas vendas, que o país passava por uma grave crise naquele momento, mas não me convenceu. "Quem aquele xucro acha que é para me dar aulas de economia? Pois bem, assim que Leninha melhorar voltamos à fazenda e eu irei tirar a limpo essa história sem fundamentos". Ficamos na capital por mais de quatro meses, onde todos os dias Leninha ia e conversava com um jovem num consultório, ele lhe receitava remédios, mas uma vez ela me confessou que apenas as conversas faziam com que se sentisse melhor.
Logicamente que eu fiquei doente de ciúmes, como pode alguém que nem a conhece conversar com ela de forma a fazê-la melhorar? Guardei para mim, pois minha mulher sempre foi um poço de virtudes, não poderia acusa-la jamais de ter me dado motivos para desconfiar de sua honestidade, mas que me doía... Não posso e nem vou negar. Voltamos à fazenda e constatei que era roubado por Aluísio, e o pior de tudo é que não era pouca coisa não, ele deu um jeito de diminuir o faturamento e lucrar com as mercadorias também, lhe escorracei de minha propriedade como o cão sarnento que ele era. Além do mais, não posso ter certeza, mas sempre correram boatos que ele se deitava com homens. Esse não é o tipo de gente que se deve ter por perto, os baitolas são dados a todos os tipos de depravações e imoralidades.
Ele sumiu por um tempo, consegui um novo administrador para a fazenda e esse tinha uma família, era um bom católico e um homem direito, seu nome é Sandoval, tinha duas filhas gêmeas recém-nascidas chamadas Paula e Paola. Coisa de gente sem criatividade, mas fazer o que? Elas duas eram alegres e me vi apegado às meninas que apesar de não serem brancas, lembravam a minha filha, só não as colocava no colo, pois como eu já disse: elas eram de cor. Não sou racista, mas não me misturo com negros.
A vida estava tranquila novamente e apesar de Leninha estar mais triste do que antes, vivíamos bem. A ditadura acabou e começaram com essa palhaçada de democracia, coisa mais sem cabimento deixar esse povo burro escolher quem vai governar, se fosse por mim apenas homens de posses como eu escolheriam os nossos comandantes. Foi por esta época que apareceu uma moça em nossa fazenda, ela era loira, olhos castanhos e cabelos lisos, tinha o corpo mais gordinho, seios enormes e carregava em seus braços uma trouxinha. Quando ela se aproximou vi que era um menininho.
- Bom dia senhor Manoel! – Ela parecia me conhecer, mas eu nunca havia visto aquela sujeita em minha frente. Levantei de minha cadeira de balanço que eu sempre ficava no alpendre fumando o meu cigarro de palha. – Me chamo Viviane!
- Boa tarde já por essas bandas! – Disse antipático.
- É que eu ainda não almocei... – Disse tímida.
- Pois dê a volta e peça um prato de comida na cozinha, aqui não lhe negaremos isso, mas se quiser trabalhar lhe digo que aqui...
- Não vim por trabalho, vim aqui para lhe pedir que me ajude! - Fiquei parado, aquela moleca era atrevida de interromper a minha fala – Este é seu neto! – Falou apontando a criança para mim e quase morri ao ver o rostinho dele, era o mesmo de Maria naquela idade. – Venho do Rio de Janeiro...
- Mas que maluquice é essa? Eu só tive um filho homem e ele está sumido no mundo, quem sabe se ainda vive! – Disse levantando de um pulo da cadeira, Leninha chegou ate o alpendre da casa enxugando as mãos num pano.
- Sim, eu sei. Neto me disse! – Disse altiva.
- Meu filho? – Leninha falou e seus olhos marejaram imediatamente, mas eu não podia cair naquela armadilha, afinal de contas podia ser um truque de alguém visando nos tirar dinheiro, mesmo o menino parecendo ser da família. – Meu filho está vivo? – Perguntou com a esperança que só as mães têm.
- Vivo sim, bem não... – Disse e baixou a cabeça. – Ele está preso!
- Aonde? Meu deus homem, temos que ir busca-lo! – Minha esposa falou agarrando-se a mim.
- Como diabos eu vou saber se você fala a verdade sua pirralha! – Falei já sem paciência e com medo de que aquilo fosse verdade.
- O Netinho me disse que o senhor desconfiaria e que era melhor que eu não lhe procurasse, mas não posso deixar o seu neto passar necessidades por causa do orgulho dele! – Entregou uma foto em minhas mãos, é verdade que meu filho estava diferente, mais queimado de sol, com o cabelo e a barba grandes como era do feitio desses guerrilheiros, mas sem dúvida era ele. Meu coração palpitou e Leninha se agarrou a mim com toda a força que conseguia. – Agora será que eu posso tomar ao menos uma água? – Perguntou minha nora com um tom que não gostei.
- Este é meu neto? –Leninha perguntou já tomando a criança dos braços daquela mulher suada.
- Sim, o nome dele é Samuel foi o Neto que escolheu, disse que se parece com Manoel. – Senti um nó se formar em minha garganta, aquela era uma coisa que ele dizia quando criança, que colocaria um nome parecido com o meu em seu filho e não um igual para não dar má sorte. Olhei para aquela criancinha nos braços de Helena e logo senti uma nova onda de amor me invadir, aquele menininho eu criaria sob os preceitos da igreja e dos homens de bem e ele levaria o nosso nome adiante.
- Viviane, você é casada com o meu filho? – Perguntei já sentindo o amor peo meu neto me invadir.
- Somos "amigados", vivemos juntos, mas nunca casamos. Não acreditamos nisso de casamento, entende? – Disse o absurdo como se fosse a coisa mais natural do mundo e quando eu ia lhe responder, Leninha pisou no meu pé. Um pezinho daquele tamanho só podia fazer carinho no meu, mas mesmo assim me calei. Enquanto elas entraram e Viviane foi tomar banho e depois comer, consegui com ela o número da delegacia que meu filho estava preso e com a ajuda de um amigo do Rio de Janeiro foi possível localiza-lo, depois de uns dias ele chegaria aqui e viveríamos de novo como um família. Por Leninha eu seria capaz de tudo, até de viver com meu filho sob o mesmo teto.
O menino Samuel era quieto e mesmo não querendo admitir nem para mim mesmo eu o queria perto de mim, ele era magrinho e quase não chorava, mamava pouco e mesmo assim parecia ser muito forte, tinha olhos profundos. Leninha disse que a alma dele era antiga, por isso ele mantinha aquela expressão de sabe tudo mesmo quando ainda só chorava por leite e por estar cagado. Mas como aquele menino devolveu vida a nossa casa, a notícia de não ter perdido o Netinho era maravilhosa, sem dúvidas, mas ter um neto era uma benção. Neto chegou em nossa casa depois de duas semanas, vinha de barba feita e usava uma roupa larga que lhe deram, uma mala quadrada e com a expressão de derrota. Leninha o abraçou por mais de meia hora, lhe beijou de todas as maneiras e ele me estendeu a mão, apertei-a para não fazer desfeita e apesar de meu coração querer que ele se jogasse em cima de mim me abraçando como ele fazia quando criança, me contentei com aquele pequeno contato.
Os dias passaram e logo viraram meses, Neto conseguiu um emprego na cidade como professor, apesar de eu não estar de acordo que um homem trabalhasse assim, não pude deixar de ter orgulho ao saber que ele tinha um trabalho honesto e estava disposto a deixar para trás aquelas convicções furadas de rebeldia e anarquia. Samuel era um presente para mim, o garoto quase não chorava, mas quando abria o berreiro só o vovô aqui é que conseguia acalmá-lo, salvo as vezes em que era por fome o seu choro. Apesar de achar Viviane meio maluquinha, não posso negar que ela era uma mãe devotada e uma esposa exemplar, não tanto como minha Leninha, mas era sim uma mulher direita e cozinhava como ninguém.
Logo Samuel deu as primeiras palavras, os primeiros passos e senti como se revivesse todas aquelas pequenas alegrias que tive com meus filhos, com exceção de que amor de avô é triplicado, meu netinho era um menino lindo de cabelos castanhos, olhos da mesma cor e tez alva como nunca se viu por aqui. Eu sempre ficava abobalhado olhando para ele, lhe comprava todos os tipos de brinquedos que se possa imaginar e ele quando começou a falar chamava a mim do Vô Noel. Logo o meu neto estava estudando na escola em que meu filho dava aulas de literatura e história, para os meninos mais novos. Eu fazia questão de ir lhe deixar todos os dias no colégio e a cada dia que passava ele parecia ainda mais com Maria, nos gestos para comigo, era sempre extremamente carinhoso e dócil, sua voz era clara e ele falava muito bem para as crianças de sua idade e me fazia muito bem ver que ele me amava mais que a qualquer um dos outros daquela casa.
Quando ele fez cinco anos de idade fizemos uma festa enorme, com churrascos, bebidas e aqueles doces que todas as crianças adoram, chamamos todas as famílias que conhecíamos e apesar de sua natureza carinhosa, vi que os meninos o tratavam mal e somente algumas meninas se aproximavam dele, um pensamento terrível passou por minha cabeça naquela hora, mas eu não podia acreditar naquilo. Deixei passar, pois foi naquela noite que soube por um de meus amigos que Aluísio estava de volta na cidade e que andava me fazendo ameaças, aquele desclassificado e ladrão ainda tinha a coragem de me difamar por aí, mas ele iria pagar. Um dia, saí com o Samuel para andar a cavalo na fazenda, ele ia sentado a minha frente com os bracinhos abertos sentindo a velocidade e o ar lhe bater no rosto, parei próximo a um pequeno riacho que passava por ali, tirei-o de cima do cavalo e andamos um pouco para sentar em baixo de uma arvore.
- Samuel, venha cá! – Ele veio sorrindo e sentou-se ao meu colo, sua mãozinha foi direto ao meu bigode me fazendo cócegas e eu sorri para ele. – O vovô quer te perguntar uma coisa. – Ele apenas assentiu. – Por que você não brincou com os meninos na sua festa?
- Eles não gostam de mim Vô Noel. – Disse tristonho e virando o rostinho para a água.
- Mas por que meu filho? – Quis saber.
- Não sei Vô Noel, eles falam umas coisas pra mim, me batem às vezes... – Disse com os olhinhos marejados.
- Pois você tem que revidar, um menino não pode aceitar que os outros batam nele! Você é homem, não pode deixar isso acontecer! – Ele pareceu assustado com o meu tom de voz, mas eu precisava ser firme, formar o caráter dele logo de pequeno. Meu neto não pode virar um desses rapazes delicados que existem por aí e que só envergonham a família.
- Mas Vô Noel, eu não sei bater, eu não sei brigar. – Disse quase chorando.
- Eu: Engula o choro Samuel, homem não chora! – Vi o grande esforço que ele fez para me obedecer, mas parou de chorar e ficou caladinho. A partir daquele momento eu passei a ser mais grosso com ele mesmo sem querer, e a notar que ele ficava cada vez mais delicado.
- O que diabo você tem Manoel? Anda tratando o seu neto diferente. – Disse Leninha acusadora após um jantar onde estávamos comendo frango assado e ele pegava na coxa de frango com os dedos em pinça, como se tivesse nojo da carne, parecia um boiolinha, dei-lhe um beliscão e ele se ajeitou, fui repreendido por Viviane e por Neto, mas eu sabia o que era melhor para aquela criança. Se eu deixasse a cargo deles dois, podia ser que eles até incentivassem aquele tipo de comportamento.
- Nada mulher! Vamos dormir! – Disse exasperado, com o tempo o próprio Samuel passou a se afastar de mim, tomava a benção com medo, vivia silencioso ao meu lado e quando eu ouvia a sua gargalhada sentia saudades de eu ser o causador daquela alegria. Até sua risada era igual a de Maria. Os dias passaram e ele passou a não querer mais andar comigo, eu ficava doído, mas não podia permitir aquele comportamento por parte dele. O surpreendi uma vez brincando de bonecas com as gêmeas do administrador da fazenda e lhe dei uma surra de cinto.
- Vô Noel, pelo amor de Deus, isso dói – Disse depois de dar um grito fino, senti ainda mais raiva dele, fui o arrastando até em casa pelo braço e lhe batendo com o cinto, a fivela lhe acertou o braço e um nó arroxeado surgiu quase que de imediato, perto de casa ele conseguiu se desprender de mim e correu, mas caiu nos degraus da entrada e eu lhe dei outra bordoada com o cinto, desta vez nas costas. Doeu mais em mim que nele, foi quando Leninha apareceu em seu socorro.
- O que é isso? – Disse minha esposa abraçando o neto e tentando protege-lo de minha ira.
- Esse viadinho estava brincando de bonecas com aquelas duas! – Apontei na direção da casa do caseiro, consegui puxá-lo pela gola e quase derrubei Leninha nos batentes – Eu lhe mato antes de permitir que você vire viado, seu moleque! – Não foram os gritos de Leninha ou a culpa que me pararam, foi o olhar magoado dele que quase me matou naquela hora. Derrubei o cinto no chão e entrei em casa enfurecido. Depois daquele dia ele não se dirigiu mais a mim. Foi a primeira vez que chorei depois da morte de Maria, quando ele passou por mim no dia de meu aniversário como se eu não existisse. Saí de casa naquela noite, bebi tudo o que eu podia, na volta o pneu do carro furou e eu vi uma silhueta a se aproximar.
- Lembra de mim? – Perguntou Aluísio, meu antigo capataz ao ficar frente a frente comigo, ele estava mais velho e acabado do que eu lembrava, magro parecia um usuário de drogas.
- Saia daqui seu imundo, ou eu dou cabo de você! – Disse gritando e perdendo o equilíbrio por causa das muitas bebidas.
- Eu só vim aqui fazer uma coisa! – Dei as costas para ele, foi quando ouvi o disparo. Algo quente descia de minhas costas, mas não havia dor. Caí com o corpo virado e senti quando ele puxou a minha carteira, mas eu já não tinha forças para nada. Aspirei terra e perdi a consciência.
Quando abri os olhos, vi vários rostos ao meu redor, não reconheci nenhum eu estava vestido com as mesmas roupas, sujas de sangue com o corpo coberto de poeira e aquelas pessoas que pareciam mendigas a me rodear.
- Saiam daqui! – Gritei exasperado, foi quando todos começaram a rir, falavam entre si, mas eu nada entendia até que olhei em volta e não reconheci o lugar, andei um pouco e em todos os lugares que eu ia haviam mais e mais daquelas pessoas, "Mas que diabo, onde estou?" pensei, uma mulher com uma lamparina de azeite se aproximou e como se tivesse ouvido os meus pensamentos falou: "Aqui é o purgatório seu burro!"
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