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O PESO DA INCERTEZA
O dia estava nublado, e a tensão no ar era palpável. Maria Clara ainda estava se recuperando da lesão, mas, no fundo, sentia que não poderia mais esperar. Ela queria vê-lo. Queria falar com João, entender o que estava acontecendo entre eles. Não podia mais ignorar seus sentimentos, nem deixar a rivalidade e as consequências pesarem sobre tudo o que ela estava começando a sentir.
Apesar do técnico e dos médicos insistirem para que ela descansasse, Maria Clara decidiu que precisava sair. Havia algo no fundo de seu coração que a chamava até ele. Algo que ela não conseguia explicar, mas que se tornava mais forte a cada dia. Então, com o pretexto de uma visita, ela pegou o carro e seguiu para a casa de João.
O Caminho Até João
Ela dirigiu pela cidade, as ruas de São Paulo se tornando cada vez mais vazias à medida que ela se afastava dos pontos centrais. A chuva fina começou a cair, tornando a estrada ainda mais escorregadia. Ela não se importou. A mente dela estava em outro lugar, nos pensamentos sobre o que diria a João, sobre o que aquela visita representava.
Maria Clara sabia que o que sentia por João estava se transformando em algo muito mais forte do que uma simples atração momentânea. Era mais complexo, mais profundo, e o medo de perder aquilo a fez agir sem pensar direito. Ela só queria estar perto dele. Precisava entender, precisar entender o que estava acontecendo.
O som da chuva batendo no vidro e o farol do carro iluminando a estrada sem fim a fazia refletir sobre os últimos dias. Cada gesto, cada olhar de João parecia ter significado algo mais do que ela queria admitir. Mas ela sabia que não poderia ignorar mais. Ele a fez questionar o que ela acreditava ser verdadeiro.
O Acidente
No momento em que ela se aproximava do bairro onde João morava, algo inesperado aconteceu. O tráfego estava mais lento devido à chuva forte, e Maria Clara tentava se concentrar na estrada, mas seus pensamentos estavam longe. O carro à sua frente diminuiu a velocidade abruptamente, e ela não teve tempo suficiente para frear.
O impacto foi forte. Ela tentou desviar, mas não conseguiu. O som da batida ecoou por todo o carro, e a visão de Maria Clara ficou turva por um momento. Ela sentiu um choque percorrer seu corpo, e a dor na cabeça começou a surgir. Por um segundo, ela ficou paralisada, sem saber o que fazer. O ar parecia ter sido tirado de seus pulmões. Ela piscou várias vezes, tentando se recuperar da confusão, mas, ao tentar mover a mão, sentiu a pressão no peito.
O carro estava parado no meio da rua, com os vidros quebrados e a frente danificada. Maria Clara tentou ligar para alguém, mas não conseguia encontrar o celular. Suas mãos estavam tremendo, e a sensação de pânico começava a crescer dentro dela.
— Não... não agora — murmurou para si mesma, tentando se controlar.
Ela tentou sair do carro, mas a dor aumentava a cada movimento. Seu coração batia forte, mas uma sensação de medo maior a dominava. Ela precisava avisar alguém. Ela precisava de ajuda.
E, sem saber como, ela se inclinou para frente, até que o mundo ao seu redor se apagou completamente.
A Chegada de João
Quando João recebeu a ligação, seu coração disparou. Era uma mensagem simples, mas cheia de urgência. Maria Clara estava no hospital. Ele não conseguia acreditar. Não sabia o que tinha acontecido, mas tudo se tornou um turbilhão de sentimentos e pavor. Ele não conseguia imaginar um mundo onde ela estivesse machucada, onde ele não pudesse estar ali, ao lado dela.
O trajeto até o hospital parecia interminável. Ele estava perdido em seus pensamentos, revirando todas as possibilidades, tentando entender o que tinha acontecido. A raiva de não ter ido até ela antes, de ter deixado as coisas chegarem a esse ponto, tomava conta dele. Mas, acima de tudo, havia a preocupação.
Ao chegar no hospital, a primeira coisa que ele fez foi procurar por informações. Ele correu até o balcão da recepção e, sem pensar duas vezes, perguntou por Maria Clara. Ele foi informado de que ela estava sendo atendida, mas o médico ainda não tinha dado o diagnóstico completo. O que ele soubera era que a lesão no joelho estava agravada, mas a maior preocupação estava com sua cabeça e possíveis contusões internas.
A espera foi agoniante. Cada minuto parecia uma eternidade. Ele sabia que ela era forte, mas não sabia até onde a situação poderia ir. Ele não conseguia mais esconder a ansiedade, o medo de perder a chance de estar com ela, de ser o apoio que ela precisava.
Quando finalmente foi liberado para vê-la, ele entrou no quarto e a encontrou deitada na cama, com o rosto pálido e as mãos imobilizadas, mas os olhos ainda vivos, ainda desafiadores. Mesmo com a dor e os tubos conectados ao corpo, ela olhou para ele e, por um momento, esboçou um sorriso cansado.
— Eu sabia que ia me encontrar aqui... — disse Maria Clara, sua voz suave, mas ainda cheia de espírito.
João não conseguiu responder de imediato. A visão dela ali, machucada, o fez sentir uma dor que ele não soubera que existia. Ele se aproximou e segurou sua mão com suavidade, como se temesse que ela pudesse desaparecer a qualquer momento.
— Eu devia ter ido com você... Não sei por que deixei você vir sozinha. Eu... — sua voz falhou. Ele estava emocionado, algo que raramente demonstrava, mas o medo de perder Maria Clara o estava consumindo.
Maria Clara tentou se sentar na cama, mas a dor no corpo a fez desistir rapidamente. Ela o olhou com um sorriso fraco, mas reconfortante.
— Não se culpe, João. Eu fui impulsiva. Fui atrás de algo que talvez nem estivesse pronto para acontecer, e... acabei pagando o preço. — Ela tentou sorrir, mas a dor fez com que ela fechasse os olhos por um momento.
João se inclinou mais perto dela, tocando sua testa com delicadeza. Ele nunca imaginou que ver Maria Clara assim fosse mexer tanto com ele. Ela não era mais apenas a rival, a mulher que ele tinha que vencer no campo. Ela era alguém que ele temia perder.
— Eu estou aqui, Maria Clara. Eu estou com você, não importa o que aconteça.
Ela olhou nos olhos dele e, pela primeira vez desde que o conhecera, viu sinceridade pura. Algo que ela sabia que podia confiar, apesar de tudo o que havia acontecido entre eles.
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