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O PREÇO DA VERDADE
A tensão entre João e Maria Clara já não podia ser ignorada. Nos dias que se seguiram ao treino no campo 2, algo havia mudado definitivamente entre os dois. Eles estavam mais próximos, mas também mais confusos. Cada olhar, cada gesto parecia carregar um peso novo. Algo que nunca haviam permitido antes começava a tomar forma: o desejo, a atração, o inevitável caminho em direção a algo além da rivalidade. Mas ainda havia um obstáculo, algo maior que os impedia de seguir em frente — a pressão de suas carreiras, a lealdade aos seus clubes e o medo do que isso poderia significar para todos ao seu redor.
O Treino Intenso
O dia do treino chegou e a atmosfera estava mais carregada que o normal. João e Maria Clara eram peças-chave de suas respectivas equipes, e os preparativos para o clássico se intensificavam a cada momento. O treino daquele dia era focado em táticas defensivas e ofensivas, algo que sempre exigia o melhor de cada jogador. Maria Clara estava especialmente determinada. Ela sabia que este seria um jogo decisivo, mas o que ela não sabia era que, naquele treino, algo mais estava prestes a acontecer.
Era uma tarde quente e o campo estava lotado de jogadores focados, cada um pensando no próximo movimento, no próximo passe, na próxima jogada. O time de João e o de Maria Clara estavam divididos em equipes para o treino de finalizações e defesas. Maria Clara estava em plena forma, mas, ao tentar driblar João com mais velocidade do que o normal, algo deu errado.
Ela avançou com a bola, determinada a passar por ele, mas João, como sempre, estava atento, tentando bloquear sua jogada. Maria Clara, com toda a sua agilidade, fez uma finta, mas perdeu o equilíbrio no movimento. No instante seguinte, ela caiu de forma inesperada, o impacto do joelho no gramado a fez gritar de dor. Ela se levantou rapidamente, mas a dor foi forte demais.
— Maria Clara, você está bem? — João correu até ela, a preocupação em seu rosto, algo que ela não esperava ver de sua parte. O momento entre eles, que antes parecia carregado de tensão, agora estava sendo substituído por uma sensação de urgência e preocupação genuína. Ele se abaixou ao lado dela, tentando ajudar, mas ela afastou sua mão.
— Eu estou bem... acho que só... só torci o joelho. — Maria Clara tentou se manter firme, mas a dor era evidente. Ela respirou fundo e tentou se levantar novamente, mas as pernas falharam, e ela teve que se apoiar no ombro dele. Algo na forma como ele a sustentou a fez parar de lutar contra a dor. O toque de João era suave, mas firme, e, pela primeira vez, ela não se importou em se mostrar vulnerável.
— Deixa eu te ajudar. — João insistiu, seus olhos fixos nela. Havia uma preocupação inusitada em seu olhar, e Maria Clara não sabia o que pensar. Isso era novo, ela pensava, e talvez até perigoso.
O Toque que Quebra as Barreiras
Maria Clara o olhou de relance, tentando esconder a frustração. Ela odiava admitir suas fraquezas, especialmente para alguém como João, que sempre parecia ser imbatível. Mas algo naquele momento fazia ela se sentir diferente. O campo ao redor, o treino, o jogo — tudo parecia distante. Só restava ela e João, em um instante que parecia suspenso no tempo.
Ele ajudou a conduzi-la até a lateral do campo, onde os médicos rapidamente se aproximaram. Ele permaneceu ao lado dela enquanto os médicos avaliavam o joelho de Maria Clara. Ela tentava manter a compostura, mas a dor era mais intensa do que ela queria admitir. Ao olhar para João, algo a fez hesitar. Era impossível negar a conexão que eles estavam começando a criar, algo que ia além da rivalidade, além da dor do momento.
Quando os médicos disseram que seria necessário um repouso e que ela provavelmente ficaria fora por alguns dias, Maria Clara sentiu um peso no peito. Não só pela lesão, mas pela incerteza do que o futuro reservava para ela — tanto no futebol quanto no relacionamento com João.
João, como sempre, estava atento. Ele não disse nada, mas a maneira como olhou para ela foi suficiente para transmitir tudo o que ele sentia naquele momento. Uma mistura de preocupação, mas também algo mais — algo que ele não queria admitir. Ele sabia que, de alguma forma, aquela situação mudaria o curso das coisas.
O Beijo Inesperado
Após os médicos indicarem que ela precisaria de uma pausa, Maria Clara se sentou na beira do campo, com o olhar perdido, observando seus companheiros de time ainda treinando. João ficou ali ao lado, em silêncio. Ambos sabiam que não poderiam continuar a ignorar a tensão crescente entre eles, mas também não tinham certeza de como lidar com isso. Eles estavam muito próximos, mas, ao mesmo tempo, havia uma barreira invisível que os separava.
Foi quando Maria Clara olhou para ele, seus olhos mais suaves do que ele jamais imaginou ver.
— Você não precisa ficar aqui, João. Eu sei que não tem obrigação. — Ela disse, tentando esconder o fato de que sua voz estava embargada pela dor, tanto física quanto emocional.
João não respondeu imediatamente. Ele apenas a observou por um momento, como se estivesse tentando decifrar algo dentro dela. O campo estava em silêncio agora, como se o mundo todo tivesse parado. Ele se abaixou, ficando à sua altura, e tocou suavemente seu rosto, afastando alguns fios de cabelo que estavam caindo sobre seus olhos.
Maria Clara o olhou com intensidade, a respiração curta. Algo dentro dela fez com que ela se aproximasse, e, antes que pudesse pensar, seus lábios se encontraram com os dele. Foi um beijo suave, inesperado, mas carregado de emoção. No momento em que seus lábios se uniram, tudo o que existia eram os dois. Nada mais importava. Não havia rivalidade, não havia clubes, não havia pressão. Só existia o toque, o calor da pele, a proximidade.
Quando se separaram, os dois ficaram em silêncio, ainda atordoados com a intensidade do que acabara de acontecer. Maria Clara olhou para João, a respiração ofegante, seus olhos mais vulneráveis do que nunca.
— O que foi isso, João? — Ela perguntou, a voz tremendo, mas com um sorriso tímido nos lábios.
Ele não sabia o que responder. Ele estava igualmente perdido. Mas sabia que aquele momento havia mudado tudo entre eles.
— Eu não sei. — João disse finalmente, com a voz baixa. — Mas, agora, talvez seja a hora de descobrir.
O beijo que havia começado como uma explosão de sentimentos agora deixava ambos com um único questionamento: o que fariam com o que tinham acabado de iniciar? O que, antes, parecia ser apenas rivalidade, agora parecia estar se transformando em algo muito mais profundo, e mais complicado.
Mas, por enquanto, eles não precisavam de respostas. Eles apenas precisavam de um ao outro.
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