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O INÍCIO DA PARTIDA
O estádio estava lotado, dividido entre gritos de guerra e cânticos apaixonados. João Moreira, lateral-direito do São Paulo, ajeitava suas chuteiras no vestiário enquanto ouvia o técnico repetir a estratégia. A tensão pré-clássico era algo que ele conhecia bem, mas hoje estava diferente. Era um duelo decisivo contra o maior rival, o Corinthians, e, mais especificamente, contra Maria Clara, a atacante que transformava cada jogo em uma batalha pessoal.
Enquanto isso, no vestiário do outro lado do estádio, Maria Clara estava amarrando o cabelo em um coque firme, o olhar fixo no espelho. Ela adorava clássicos, e o desafio de superar João era um incentivo extra. Ele era disciplinado, metódico e incrivelmente eficiente. Tudo o que ela não era — e tudo o que ela adorava destruir.
No túnel de acesso ao campo, os dois se encontraram por um breve momento.
— Preparado para correr atrás de mim de novo, Moreira? — provocou Maria Clara, com um sorriso travesso.
João lançou-lhe um olhar impassível, mas os olhos dele brilharam com a provocação.
— Só se você conseguir passar da linha de defesa, Clara. Mas, olha, não crie muitas expectativas.
Ela riu, mas antes que pudesse responder, o árbitro chamou os times para entrar em campo.
A partida começou intensa, como sempre. Maria Clara, com sua agilidade e audácia, fez a torcida corintiana explodir em gritos de empolgação a cada drible e arrancada. Mas João estava sempre lá, como uma muralha, frustrando suas tentativas de avançar.
Em um lance disputado, os dois acabaram no chão após uma dividida dura. Quando João se levantou, estendeu a mão para Maria Clara.
— Tudo bem? — perguntou, quase mecânico.
Ela segurou sua mão, mas não perdeu a chance de alfinetar:
— Você está ficando lento, hein?
João balançou a cabeça, segurando um sorriso, e voltou para sua posição.
O jogo terminou em empate, mas o clima no estádio continuava fervendo. Nos bastidores, os dois foram chamados por representantes de seus clubes. Eles haviam sido escolhidos para representar São Paulo e Corinthians em um projeto de integração entre jogadores rivais.
Quando receberam a notícia, a reação foi imediata:
— Trabalhar juntos? Com ela? — perguntou João, incrédulo.
— Isso é alguma piada? — retrucou Maria Clara, cruzando os braços.
O diretor balançou a cabeça.
— Não é uma escolha. O projeto foi aprovado pela federação, e vocês dois têm o perfil perfeito: lideranças nos times, protagonistas em clássicos... e, claro, aquela química que a torcida adora odiar.
Maria Clara bufou, mas sabia que não tinha como recusar. João permaneceu calado, sua expressão séria escondendo o turbilhão de pensamentos. Trabalhar com Maria Clara fora de campo parecia um desafio ainda maior do que enfrentá-la dentro dele.
Ao final da reunião, quando estavam saindo, Maria Clara parou na porta e olhou para João.
— Espero que você jogue melhor nesse projeto do que jogou hoje.
João sorriu de canto, finalmente deixando escapar um pouco de ironia.
— E eu espero que você fale menos.
Os dois trocaram olhares, e por um breve momento, a rivalidade deu lugar a algo mais sutil, uma faísca que nenhum deles estava pronto para reconhecer.
Enquanto seguiam seus caminhos opostos naquela noite, ambos sabiam que o clássico acabara de começar — mas desta vez, fora das quatro linhas.
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