Capítulo 9 (parte 1)
"[...] Nós deveríamos fazer nossas malas e fugir
Descansar na areia movediça,
Ombro com ombro, mão sobre mão"
(iamamiwhoami – b)
Tomaram a estrada pela outra saída de Taigo, ao sul, sentido oposto ao que levava a Oreste, cidade de John.
— Você já esteve em Atma? — perguntou Andrew, enquanto dirigia.
— Não, conheço por nome. Como é lá?
— Não é tão grande quanto Taigo, mas é legal. Parece que lá as coisas são mais bonitas, coloridas, sei lá... Quando eu era criança, queria sair de lá, mas agora parece que sinto um pouco de falta.
— Falando em nome, até hoje eu não sei os nomes dos seus pais.
— Carl e Linda. Você vai gostar deles, e eles de você.
Viajaram por uma hora e meia. Após a placa de boas vindas, Andrew seguiu em velocidade reduzida, enquanto John observava a paisagem pela janela. Andrew estava certo: as coisas pareciam mesmo mais coloridas e bonitas. Diferente de Taigo, logo na entrada da cidade, durante a travessia de uma grande ponte, podia-se observar uma vista encantadora do rio Atma, que seguia seu curso a perder de vista. Ao longe, tocando o horizonte, árvores, relva e pássaros. O sol, brilhando intensamente, tornava tudo ainda mais claro.
Passada uma longa e movimentada avenida, chegaram a uma espécie de conjunto residencial. Um lugar cheio de árvores, jardins por todos os lados, casas coloridas, pessoas passeando com cachorros... Tudo diferente do que John vira, até então, em Taigo.
— Que lugar mais... nórdico — comentou.
— É, é aqui onde vivi a vida toda. Você gosta?
— Sim, sim, é lindo.
Mais alguns metros e Andrew estacionou em frente a uma grande casa branca e azul claro, com uma cerca isolando o jardim, um pequeno caminho de pedras brancas largas e uma caixinha de correio sobre a grama aparada.
— Chegamos.
Desceram do carro e John olhou ao redor novamente. Trocou um aceno com o carteiro, o qual não conhecia, que passava por ali de bicicleta e acompanhou rapidamente a movimentação de quem estava ao alcance da visão. Um clima extremamente pacífico e acolhedor, que o deixou fascinado.
— Sua mala, John — disse Andrew, entregando a mala de John a ele.
Caminharam pelas pedras brancas do lado de fora e pararam em frente à porta.
— Vamos fazer surpresa — disse Andrew, abrindo-a.
Entraram em silêncio. Andrew fechou a porta e, novamente, John percebeu o ambiente acolhedor logo na antessala onde estavam.
— Família, cheguei! — gritou Andrew.
Imediatamente ouviram-se latidos fortes vindos dos fundos da casa. Segundos depois, surge uma mulher de cabelos cor de mel, estatura médio-baixa, corpo forte e semblante sereno.
— Mas olha quem chegou! — disse alegremente, aproximando-se de Andrew e abraçando-o forte em seguida.
— Oi, mãe!
— Oi, querido... Que saudades de você — disse, ainda abraçada a ele.
John, ao lado, observou a cena em silêncio, com um sorriso discreto no rosto. Sabia como era emocionante rever um ente querido.
— E quem é esse rapaz adorável, meu filho? — perguntou Linda, assim que se soltou de Andrew.
— Esse é o John, meu colega de quarto. John, Linda, minha mãe.
— Prazer em conhecê-la, dona Linda — cumprimentou John, estendendo a mão.
— O prazer é todo meu, mas sem "dona", por favor. Não estou tão velha assim.
Riram.
— Venham, seu pai está ali na cozinha, filho.
Deixaram as malas na antessala e caminharam por um pequeno corredor. Quando chegaram à sala, surgiu, vindo dos fundos da casa, um enorme cachorro cor de creme.
— Bobby! — exclamou Andrew.
Bob, ainda latindo, pulou sobre Andrew e tentou abraçá-lo. De pé, era pouco menor do que ele. Assustado com o tamanho do cachorro, John recuou um passo.
— Não precisa ter medo, ele só tem tamanho — avisou Andrew, sorrindo.
— Não tenho medo, ele só é... muito grande.
John se aproximou novamente e arriscou passar a mão sobre o pelo macio e felpudo do cachorro, que balançava o rabo rapidamente e mantinha pendurada entre os dentes sua língua rosada.
Então Bob voltou para fora e ambos chegaram à cozinha, onde estava Carl, preparando o almoço.
— E aí, sir Carl McCoy? — cumprimentou Andrew, indo em direção ao pai.
— Andrew, meu garoto! Como você cresceu! — disse Carl, abraçando-o fortemente.
— Eu já parei de crescer, pai — respondeu Andrew, rindo.
— Mas parece que você está maior. E você vai ser sempre meu garoto.
Novamente, John observou em silêncio, sorrindo.
— Pai, este aqui é o John, meu amigo. John, esse é meu pai, Carl — apresentou Andrew, pondo-se ao lado de John.
— Como vai, garoto? — cumprimentou Carl.
— Muito bem, obrigado. É um prazer conhecê-lo.
— Igualmente.
Carl parecia ser mais velho que Linda. Uma década, pelo menos, ou talvez fosse só impressão. Tanto fazia.
— Sentem-se, gente — disse ele.
Sentaram-se. Linda abaixou o fogo da panela sobre o fogão e também se sentou, enquanto Carl picava tomates sobre a mesa.
— Quando disse que traria um amigo, pensei que seria aquele outro... Qual o nome, mesmo? Steven?
John fitou Andrew com olhar de surpresa. Perguntaria "ué, sua mãe conhece o Steven?", mas seria uma pergunta tola e de resposta óbvia.
— Não, o Steven tinha outros planos.
— Ah... Você conhece o Steven, John? — perguntou Linda.
John sentiu seu sangue subir até o rosto.
— Conheço.
— Ah, eu nunca fui muito com a cara dele. Que rapaz mais grosseiro! — disse com voz indignada.
— Não exagera, mãe. Ele se faz de durão, mas é um grande amigo.
Questionável.
— E vocês dois? — perguntou Carl, apontando John e Andrew. — Quando se conheceram?
— Esse ano. A gente é colega de quarto, pai. Aliás, mais que isso; John é meu melhor amigo — respondeu Andrew, passando o braço pelo pescoço de John. — Ele está meio calado agora porque estou fazendo ele passar vergonha, mas ele conversa, viu?
John corou. Todos riram. Andrew se levantou.
— Bem, nós vamos para o quarto desfazer as malas. Já voltamos.
John também se levantou. Pegaram as malas na antessala, passaram pela sala e, ao meio de outro pequeno corredor, subiram um lance de escadas brancas. No piso superior, adentraram o primeiro cômodo à direita.
— Bem vindo ao meu quarto.
John parou ao lado de uma cômoda, cruzou os braços e pôs-se a observar. Tudo organizado com muito asseio, provavelmente trabalho de Linda durante a ausência de Andrew. Alguns pôsteres de bandas diversas nas paredes, TV, uma escrivaninha, um banheiro, um guarda roupas e...
— Duas camas? Por quê?
— Ah, porque, quando eu era criança, de vez em quando vinham uns colegas meus dormir aqui em casa, aí eu dormia na minha cama, de casal, e eles nessa outra, de solteiro. Só os meus primos, ou um ou dois colegas mais chegados, tinham a honra de dormir comigo.
— Hum... — John colocou sua mala sobre a cama de solteiro. — Como eu não sou seu primo nem seu chegado, vou ficar com a de solteiro.
— Nada disso, o senhor vai dormir comigo.
— De jeito nenhum. Você não é mais criança, eu não sou seu primo, não sou seu chegado e não sou obrigado.
— Não mesmo. Você é meu amigo, e eu faço questão. Para de show.
Andrew abriu o guarda roupas e começou a desfazer sua mala. John se sentou na cama e ficou observando. Analisou as feições de Andrew por um instante e comentou, em seguida:
— Você é seu pai esculpido em Carrara.
Andrew riu.
— Você acha? Eu me acho mais parecido com a minha mãe, mas ela concorda com você, principalmente quando ele era moço.
Fez-se breve silêncio. John preferiu não desfazer sua mala, pois trouxera pouca coisa. Apenas observou que Andrew desfizesse a dele.
— Seus pais sabiam da minha existência? — perguntou.
— Mais ou menos. Comentei sobre você uma vez que liguei pra eles, há algum tempo, mas não sei se eles se lembraram de que você é você.
— Eles parecem ser bem legais.
— E são, especialmente com as visitas — Andrew se levantou e fechou o guardarroupas. — Bem, temos Internet, vídeo game, filmes, uma cidade nova... O que quer fazer hoje?
Da cozinha, ouviu-se exclamar:
— Venham, meninos! Tá pronto!
Então John respondeu:
— Comer.
— Mas nós já almoçamos.
— Não se preocupe, ainda tem espaço aqui.
Assim, todos almoçaram, enquanto conversavam sobre a vida em Taigo, faculdade, notas, estudos, família... Linda, muito educada e receptiva, logo conseguiu fazer com quem John se sentisse à vontade, sempre o trazendo para dentro do assunto.
Andrew parecia ser mais chegado ao pai, talvez por isso John e Linda simpatizaram-se e entrosaram-se primeiro. Carl puxava assuntos muito másculos, sobre os quais John pouco entendia ou se interessava. Caça, pesca, fazendas, esportes, viagens, carros, bebidas... Andrew entendia de todos. Por ter sido criado por sua tia a vida toda, John não tivera contato com esse tipo de atividade, nem fazia questão.
Passaram toda a tarde conversando, rindo e relembrando coisas da infância de Andrew, que John desconhecia. Novamente os tais primos, que tiveram a honra de dormir com Andrew, foram citados. Eram três, donos de uma concessionária de carros importados da cidade. Nessa conversa, John ainda descobriu que Carl era militar aposentado e Linda, noutra época, havia sido comissária de bordo, por isso todo seu tato e gentileza.
Ao anoitecer, Linda sugeriu que fossem todos, juntos, ao cinema. Queria assistir a um romance que vira anunciarem na TV.
— Romance, Linda? — perguntou Carl, com desdém.
— É, qual o problema? É uma história bonita, emocionante.
— Isso é coisa de mulher, só tem você de mulher aqui, e...
— Vamos, pai — interrompeu Andrew. — Deixa de ser ranzinza.
Sob mais um pouco de protesto, Carl aceitou a proposta. Pegariam a penúltima sessão.
No carro de Carl, foram até o shopping center da cidade. Durante o percurso, John observava a vista pela janela. A cidade parecia tão encantadora à noite quanto pela manhã. Movimentação baixa, praças iluminadas, pessoas caminhando tranquilamente e a lua, lá do alto, observando tudo, solene e silente.
Chegaram. Estacionaram no subsolo e seguiram em direção ao interior do shopping. Andrew numa ponta do quarteto, ao lado de Carl, e John noutra, ao lado de Linda, falando sobre vestidos, bolsas e sapatos, pois esta descobrira que ele trabalhava num ateliê de moda antes de se mudar para Taigo.
Após pequena espera numa fila que se formou em frente à bilheteria, compraram os ingressos e entraram na sala. Encontraram quatro cadeiras vazias na antepenúltima fileira. Para lá foram, se esquivando dos joelhos de quem já havia se sentado.
— Peraí, mãe — disse Andrew —, deixa eu ficar do lado do John.
Então trocaram de lugar. Andrew ficou ao lado de John e Linda ao lado de Carl. Mais alguns minutos de burburinho e ruídos de pipoca se quebrando entre os dentes e o filme começou, ao apagar das luzes.
Apenas Linda sabia do que se tratava a história. John também quis saber, mas, como estava acostumado a dormir cedo, apesar das madrugadas em claro que vinha passando com Andrew em Wistworth, o sono veio chegando sorrateiramente. Um bocejo, outro, e outro, e mais um... Logo as legendas foram se embaralhando, as imagens, se tornando profundas e embaçadas pelas lágrimas que brotavam dos cantos dos olhos, os sons pareciam ter ganhado revérbero, assim como as pálpebras ganharam peso. Dentro de pouco tempo John adormeceu, antes da primeira hora do filme. Apenas sentiu a cabeça pender para a direita e apagou.
Aos poucos, um misto de sons e ruídos incognoscíveis começou a permear os pensamentos de John, que, ao clarão do acender das luzes, despertou, sem saber ao certo onde estava ou o que estava acontecendo. As únicas coisas que logo percebeu foram que sua cabeça estava recostada ao ombro de Andrew e que suas mãos estavam dadas, com os dedos de ambos entrelaçados.
John espremeu os olhos e levantou a cabeça. Seu pescoço doía. Andrew soltou sua mão, sorriu e disse:
— Acorda, que o filme acabou de acabar.
Todos se levantavam. John coçou os olhos e tentou desamassar o rosto. Linda e Carl seguiram comentando o filme à frente, descendo a pequena escadaria da sala. John e Andrew iam, devagar, logo atrás.
— Por que a gente estava de mãos dadas? — perguntou John.
— Por nada. Você deitou a cabeça no meu ombro e eu segurei sua mão. Só depois fui ver que você estava cochilando.
— Hum...
Que sensação estranha. John não sabia se era porque acabara de acordar e ainda estava um pouco zonzo, ou se foram as imagens abstratas do seu breve sono misturadas aos sentidos recém despertos, mas que sensação estranha. Estranhamente boa.
— Gente, vamos jantar? Tem um restaurante ótimo aqui.
— Quer comer ou quer ir pra casa dormir, John? — perguntou Andrew, passando o braço pelos ombros de John.
— Não, vamos jantar...
Foram, então, ao tal restaurante. Enquanto todos conversavam animadamente, John apenas observava e levava o garfo à boca automaticamente, comentando qualquer coisa quando questionado para não parecer tão desligado. Alguma coisa em seu sono o deixou fora de órbita.
Ao final da noite, foram embora, caminhando devagar pelas vias do shopping até alcançarem o estacionamento e seguirem de volta para casa. Lá chegando, foram todos para seus devidos aposentos.
— Boa noite, meninos. Durmam bem.
— Boa noite, mãe. Durmam bem vocês também.
— Até amanhã.
No quarto, John se sentou na cama e tirou sua roupa languidamente. Puxou sua mala e pegou nela sua camiseta e short de dormir. Andrew se deitou e deixou escapar um gemido de cansaço.
— Tá tudo bem com você, John? Parece que eu tô te achando meio estranho...
— Só estou cansado, com sono. Amanhã estarei novo de novo.
Deitou-se, então, ao lado de Andrew, mantendo algumas polegadas de distância. Virou-se para o canto, cobriu-se até a cintura e cruzou as mãos sob o travesseiro.
— Boa noite — disse.
— Vai me dar as costas, então?
John suspirou. Virou-se para Andrew e fitou-o com olhos sonolentos. Andrew sorriu. Deslizou a mão pelo rosto de John e disse:
— Tô brincando, pode ficar virado pra lá. Só chega um pouco mais perto de mim, senão o cobertor não dá.
John se aproximou e Andrew ajeitou o cobertor sobre eles. Apagou a luz do abajur e também se virou para o outro lado.
— Boa noite.
Escuro, silêncio, sono, um bocejo, dormiram.
▪▫▪
John acordou com o peso do braço de Andrew sobre suas costelas. Seus olhos ainda ardiam e sua boca tinha um gosto amargo. Criando forças, em meio a um suspiro profundo, virou-se de frente para Andrew, que ainda dormia. Tirou seu braço de cima de si e segurou sua mão. Ficou a observá-lo. Não sabia precisar as horas, mas o sol já brilhava e os pássaros cantavam. Não se levantou; continuou deitado, observando Andrew dormir inocentemente.
Naquele instante, John concluiu que sentia algo muito especial por Andrew. Este era o tipo de amigo que John sempre sonhara, um dia, ter. Cúmplice, dedicado, compreensivo, carinhoso... Isso tudo somado ao fato de que tudo começou com
— Que nojo, velho! Fique bem longe de mim...
fazia com que John se sentisse duplamente feliz e realizado.
Ao ouvir passos e latidos e tilintar de talheres vindos da cozinha, John beijou a mão de Andrew, colocou-a cuidadosamente sobre o travesseiro, para que ele não acordasse, e se levantou. Escovou os dentes, trocou de roupa, calçou seus chinelos e caminhou até a cozinha, onde Linda estava a arrumar a mesa do café.
— Bom dia! — disse ela.
— Bom dia...
— Sente-se, os pães de queijo estão quase prontos.
John se sentou. Linda trouxe uma garrafa de café, leite, biscoitos, pão e manteiga.
— Pode ficar à vontade, que aqui em casa todo mundo come muito — disse ela, sentando-se em seguida.
— Hum... Obrigado, não sei nem por onde começar.
Linda serviu-se de uma xícara de café com leite e perguntou:
— O que está achando daqui, da cidade?
— Confesso que estou um pouco impressionado. Em Taigo é tudo tão grande, tão barulhento, tão metropolitano, e aqui é tudo tão... bucólico.
— É verdade. Quando o Andrew era criança, ele reclamava que queria ir pra cidade grande por causa disso, dessa calma, mas eu e o pai dele sempre gostamos dessa tranquilidade daqui.
— É, eu também gosto. Faz bem aos ouvidos.
Linda sorriu e continuou tomando seu café com leite. John pegou alguns biscoitos e, então, fez-se silêncio, interrompido por Bob, latindo para os pombos no quintal.
— Ô, John...
— Hum?
— Eu sei que eu não tenho absolutamente nada a ver com isso, mas... é verdade que você é gay?
Sem saber o porquê da pergunta e tendo sentido algo estranho na entonação com que fora feita, John não respondeu imediatamente, como sempre fazia. Por algum motivo, pela primeira vez na vida sentiu vontade de dizer não. Mas não fugiu da resposta.
— É, é sim.
— Oh... — Linda ficou pensativa e seu semblante se tornou ligeiramente assustado.
— Bem, se isso é um problema, eu...
— Não, não, não é isso... — desdisse ela, agitando as mãos. — É que eu fiquei preocupada com você.
— Quando? Por quê? — John não estava entendendo.
— Quando eu soube. O Andrew me disse que o colega de quarto dele era gay, uma vez, quando me ligou, mas eu não acreditei...
— E por que a preocupação? Não estou entendendo.
— Porque eu pensei que ele fosse te maltratar, te agredir, não sei. O Andrew sempre andou com aquele tal de Steven, que é um grosso, machista, ignorante... Aí pensei que ele pudesse ter te causado algum mal. Eu me sentiria péssima se isso acontecesse. Eu e o Carl sempre ensinamos que ele deveria respeitar as diferenças, quaisquer que fossem, mas o Andrew sempre foi muito cabeça dura.
Ah, era essa a questão. Que alívio.
— Pra falar a verdade, no começo foi difícil — bem difícil. Mas com o tempo, com a convivência, ele foi aprendendo a lidar, a conhecer melhor como as coisas realmente são. Fui um professor muito paciente, e ele, um bom aluno.
Linda sorriu.
— Aposto que sim.
Segundos depois, Andrew surgiu.
— Bom dia, mãe, bom dia, Johny — cumprimentou, dando um beijo em cada um.
— Bom dia, filho. Chegou bem na hora do pão de queijo.
Linda se levantou e foi até o fogão. Desligou o forno e tirou a forma de lá, colocando-a sobre a pia. Andrew se sentou ao lado de John e serviu-se de um copo de leite.
— E aí? Estavam falando mal de mim?
— Como adivinhou?
— Você é previsível, mister Collins.
— Nossa, que afronta, joe.
Riram e trocaram um tapa na nuca.
— Estávamos comentando sobre sua mudança depois que conheceu melhor o John — disse Linda, trazendo os pães de queijo em uma bacia. — Ele disse que foi difícil, mas que conseguiu fazer você reavaliar alguns conceitos.
Andrew mordeu um pão de queijo e respondeu, com a boca cheia:
— Se um em cada dez gays fossem como o John, o mundo seria um lugar melhor.
— Discordo sumariamente — respondeu John, calmamente. — Pra existir mais um de mim, precisaria existir mais um de você. Coloque essa proporção em escala global e você vai ver que, se existisse um andrew pra cada john, o mundo não seria mais um lugar assim tão bom.
Linda riu. Andrew puxou John pelo pescoço imobilizou sua cabeça.
— Você vai machucá-lo, Andrew!
— Vou nada. Isso aqui é assim todo dia. Eu não posso fazer um elogio ou falar alguma coisa mais fofa que ele ignora e faz piada.
John se livrou dos braços de Andrew e arrumou seus cabelos.
— É que o amor do Andrew é muito violento, sabe? Sou espancado todos os dias.
— Mas olha que absurdo, mãe!
— Tô vendo!
Todos riram mais um pouco. John pegou um pão de queijo e Andrew acariciou seus cabelos, para fazer as pazes. Com os braços cruzados sobre a mesa, Linda perguntou:
— A gente estava aqui falando sobre Atma... Você já falou ao John sobre Greenville, Andrew?
— Acho que não... Falei?
— Não. O que é?
— Nossa casa de campo — respondeu Linda. — Era o lugar preferido do Andrew, quando criança. É um lugar lindo, você precisa conhecer.
— Iremos amanhã. Hoje vamos à praia. Falando em ir, cadê o papai?
— Foi à feira, já deve estar voltando. Ah, falando em pai, seu irmão esteve aqui mês passado. Te deixou um abraço.
— Ué, você tem um irmão?
— Tenho, mais velho. Mas eu sou mais bonito.
— E ele, certamente, mais modesto.
Andrew fitou John e levantou a sobrancelha. John fez cara de pouco caso.
— Ai, não comecem, hein? — censurou Linda, rindo.
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