Capítulo 8 (parte 2)

Nos dias que seguiram, John e Riley muito conversaram. Sobre Steven, sobre outras coisas, sobre assuntos de homem para homem... John nunca antes tivera um homem adulto e experiente com quem pudesse conversar sobre essas coisas, mas agora, pelo visto, isso tendia a mudar.

Em outra ocasião, contou, resumidamente, a Beth sua trajetória de volúpia com Steven. Esta manteve as palavras de Riley e também aconselhou que John fosse com calma e tomasse cuidado com Steven, já que sabia tão pouco a respeito dele. Mas falar era fácil, difícil era controlar essa explosão de sensações que Steven causava.

Assim se passou aquela semana e mais dois dias, tempo suficiente para que John matasse as saudades e se aproximasse de Riley, que, agora, seria seu meio tio. Na hora da despedida, beijos, abraços, sorrisos e algumas lágrimas, com a promessa de um retorno mais duradouro ao final do ano. Então, com o coração leve e o espírito renovado, John voltou para Taigo.

▪▫▪

Estacionou o carro e desceu. Também era bom estar de volta a Wistworth. Caminhou devagar por entre as plantas e flores. Havia quase ninguém por ali, onde sempre passava tanta gente apressada a todo instante.

Chegou em casa. Pela primeira vez, aquele lugar estava silencioso. As portas dos quartos, fechadas, a TV da sala, desligada e apenas dois conhecidos conversando na cozinha. Uma calmaria completamente atípica.

John subiu a pequena escadaria e seguiu rumo ao seu quarto. Bateu duas vezes à porta e entrou. Andrew, sentado à cama, lendo atentamente uma de suas apostilas, distraiu-se com o ruído.

— John! — exclamou, surpreso.

— Andrew!

— Ah, que bom te ver!...

Andrew fechou a apostila que lia e se levantou. Então abraçou John calorosamente, rindo e erguendo-o do chão.

— Bom te ver também, meu amigo.

Solto dos braços de Andrew, John colocou sua mala sobre a cama e se sentou.

— E aí? Como foi de viagem?

— Ótimo. Muito bom voltar pra casa depois de tanto tempo. E você? Conseguiu resolver o que tinha que resolver aqui?

— Algumas coisas. Ainda preciso terminar um trabalho e conversar com o pessoal da natação... Coisa pouca.

— E a Teri?

Andrew fez um olhar desanimado e respondeu em voz apática:

— Terminamos.

John ficou sério. Sabia que as coisas entre eles não estavam tão boas, mas não pensou que fosse assim tão grave.

— Oh... Eu sinto muito.

— Não esquenta.

Fez-se breve silêncio.

— Então? Como passou os dias aqui, sozinho?

— Foi meio estranho; já me acostumei a ver você aí todo dia... Eu ia chamar o Steven pra gente sair, pra me fazer companhia, mas ele viajou pra casa da irmã dele.

— Ah, então ele viajou...

— Ele não perguntou por mim? — perguntou John, só por curiosidade.

— Não... Por que perguntaria?

— Ué, sei lá, pra saber sobre a matéria.

— Não, ele não disse nada.

John ficou pensativo por um segundo. Não queria supor nada, mas era inevitável. Steven deveria ter se manifestado. Mas não deixou que essas dúvidas povoassem sua cabeça.

— E você? Não vai viajar? Acho que a casa inteira viajou; não vi quase ninguém lá em baixo.

— Acho que não.

— Por que não? Seus pais devem estar com saudades de você.

— Ah, sei lá, não estou com muito ânimo pra isso. Mas posso pensar a respeito.

John se levantou. Foi até o banheiro e lavou mãos e rosto. Enquanto se enxugava, perguntou:

— Tá a fim de dar uma volta?

— Onde?

— Eu tava pensando em ir ao parque, caminhar, alimentar os pombos, ficar reparando os outros... Vamos?

— Ué, vamos.

O dia não estava muito animador, mas foram, mesmo assim. Uma brisa fria e serena soprava do oeste. As nuvens cinza de chuva tornaram o céu quase todo argênteo e o sol tinha seu brilho ofuscado. Ainda assim, os pássaros cantavam e enfeitavam os galhos das árvores.

John e Andrew seguiram caminhando de Wistworth até o parque central da cidade, que não ficava muito longe dali. Um lugar romântico e primaveril, com todas as suas árvores frondosas e flores coloridas, cenário de casais enamorados, crianças despreocupadas, pais não tão despreocupados, esportistas ou simplesmente admiradores da natureza.

Após comprarem dois sacos de pipoca, ambos se sentaram num dos bancos próximos ao chafariz de anjinho, onde pombos tornavam o chão preto e branco com suas penas lívidas.

Enquanto comia, Andrew perguntou:

— Como é o namorado da sua tia?

E enquanto alimentava os pombos que estavam à espreita, esperando pela pipoca que distribuía, John respondeu:

— Um primor. Bonito, sexy, rico, inteligente, fino, elegante, educado, cavalheiro, cozinha bem...

— Ok, já deu pra entender — interrompeu Andrew. — Agora ele é praticamente seu padrasto, olha o incesto, hein?

— Padrasto não é parente e eu jamais furaria o olho da minha tia. Aliás, essa é uma boa ideia: ele poderia ser meu padrasto.

Andrew continuou comendo enquanto John continuou alimentando os pombos. Não sabia se deveria tocar no assunto, mas, mesmo assim, perguntou:

— Como foi com a Teri?

Observando os pássaros que John alimentava, Andrew explicou:

— Ela me trocou por outro. Ainda me deixou um recado na caixa de mensagens dizendo que foi bom o tempo que ficamos, mas que eu não era o que ela estava procurando.

— Puts... Que vadia.

— Mas eu tô bem. Só um pouco abalado, mas vou superar. E eu não gostava tanto assim dela, o lance era mais físico, sabe? E ela também não era exatamente o que eu procuro.

— Sei, sim.

— Mas e você e o cara que senta do seu lado?

John arfou.

— Você ainda se lembra disso?

— É claro.

— Desencantei. Ele também não é exatamente o que procuro.

— E o que você procura?

— Na verdade eu não estou procurando nada, é só força de expressão, mas ele é muito cult, tem uns assuntos muito nada a ver — inventou. — Já que tocamos nesse assunto, o que é que você procura?

Andrew suspirou. Recostou-se ao banco e cruzou as pernas, olhando as nuvens.

— Procuro uma garota que seja minha amiga, antes de tudo; que seja legal, engraçada, que saiba conversar, que me entenda, que seja segura... Sei lá, que me faça bem. E que não tenha ataques de ciúme à toa — finalizou, rindo.

John também riu, mas foi de outra coisa:

— Você tá precisando ir procurar no mesmo lugar em que minha tia vai, caso se separe do Riley.

— E aonde ela vai?

John riu baixo mais uma vez. Adorava quando faziam as perguntas que ele queria que fossem feitas.

— Deixa pra lá.

— Ai, como você é engraçadinho — disse Andrew, ironicamente, atirando um grão de pipoca em John.

— Ai, como você fica lindo quando tá irritadinho — respondeu ele, infantilmente.

— Ai, como você é gay.

— Ai, como você é hetero, joe.

Andrew riu e empurrou-o com o ombro.

— Palhaço.

Continuaram alimentando os pombos em silêncio. Quando seu pacote já estava vazio, Andrew constatou, pensativo:

— Engraçado... Pra quem divide o mesmo quarto, a gente se fala muito pouco. Quando você está lá, eu não estou, e vice versa. E quando estamos juntos, estamos dormindo.

John atirou os últimos grãos de milho do fundo do pacote ao chão. Amassou-o e jogou-o dentro da lixeira. Cruzou as mãos sobre a barriga e respondeu:

— Se você chegasse mais cedo, nos falaríamos mais.

— Se você dormisse mais tarde, também.

— Dormir cedo faz bem à saúde.

— Dedicar algum tempo aos amigos também faz.

— Ih, pronto... — disse John, em conclusão. — Tá carente. Não fica assim, não, tio Johny tá aqui.

John puxou Andrew para si pelo ombro e abraçou-o de lado, como uma mãe que gentilmente releva a chantagem barata do filho mimado. Andrew retribuiu o abraço torto e riu da cena ridícula. John beijou-lhe o rosto e se recompôs em seguida.

— Espero que ninguém tenha visto isso — disse Andrew, arrumando os cabelos.

Passaram a tarde toda ali. Quando anoiteceu, foram jantar no restaurante "uber" a que Melanie levou John quando saíram pela primeira vez. Divertiram-se, comeram, voltaram para casa e passaram boa parte da madrugada conversando sobre família, amizade, namoro, planos, futuro, homens, mulheres, sexo... Uma daquelas conversas onde descobrimos, em pouco tempo, coisas que nunca imagináramos, em muito.

Nesse dia, John mudou e reviu alguns conceitos sobre Andrew. Percebeu que ele não era tão bobo quanto parecia, que não era preconceituoso como parecera, que era um ser humano admirável.

No final daquela semana, deitados, tarde da madrugada, enquanto assistiam a um filme de terror trash na TV, Andrew disse, rompendo o silêncio:

— Quer saber? Eu vou.

Já um tanto sonolento, John respondeu:

— Deixa pra ir amanhã, agora deve estar fechado.

— Não, seu gay, "eu vou" viajar, pra minha casa, lá com os meus pais. E o senhor vai comigo.

— Ah, vou?

— Vai. Não quero te deixar sozinho aqui, e também não quero acordar sozinho lá. Vamos amanhã mesmo, depois do almoço, aí a gente passa essa última semana de férias lá. Topa?

— Tenho direito a negar?

— Não. Quer dizer... Eu tô só fazendo um convite, se você não quiser ir, tudo bem, tô falando isso pra te encher o saco.

John sorriu.

— Topo. Agora fica quieto que o filme vai voltar do intervalo.

Assim,nesse ímpeto, tudo foi decidido e feito. Logo que acordou, Andrew ligou paracasa avisando que lá passaria uns dias e que levaria um amigo. Aprontou suasmalas enquanto John se banhava. A súbita ideia o empolgou; fez tudo às pressas,como se o tempo fosse passar mais devagar por conta disso. Logo John tambémarrumou, novamente, suas coisas e, então, ambos saíram. Almoçaram na rua e, delá, pegaram estrada para Atma no carro de Andrew. 

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