Capítulo 2
"...Mas precisamos fazer escolhas, estar certos ou errados
Às vezes precisamos sacrificar as coisas de que gostamos
Mas eu nasci para tentar"
(Delta Goodrem – Born to Try)
Às vésperas do primeiro dia de aula, John saiu em viagem com um misto de sensações obtusas. Por um lado, estava extremamente feliz por ter sido admitido em Wistworth e por estar a um passo do início da realização de seus objetivos, mas, por outro, sentia-se triste por ter que abandonar tudo que lhe era conhecido e familiar. Deixar sua tia Beth, seu emprego, sua casa, alguns poucos e bons amigos... Tudo soava um tanto doloroso, embora fosse por uma boa causa.
John dirigiu calmamente os quilômetros que o separavam de Taigo e de Wistworth. A música chillout do toca-CD do carro o mantinha tranquilo. Assoviava baixo as melodias enquanto guiava sem tirar os olhos da estrada.
Após as curtas horas se passarem, chegou a sua nova cidade. Taigo. O dia estava ensolarado, dando boas vindas à primavera recém chegada. Algum tempo preso no trânsito, para não perder a tradição dos grandes centros modernos, ao som de motores, buzinas, pássaros, rádios e pessoas, mais algumas voltas pelas ruas da cidade e, finalmente, Wistworth.
John desacelerou o veículo e procurou um lugar onde pudesse estacionar, na rua, antes de adentrar a faculdade. Precisava, primeiro, certificar-se de onde ficavam os dormitórios e seu quarto. Daquele dia em diante, o campus da universidade seria sua nova casa.
Desceu do carro e andou calmamente em direção à entrada principal. Percebia-se bastante movimentação por todos os lados. John sentiu um lapso de pânico passar por si, mas espremeu os olhos e fê-lo dissipar-se de seus pensamentos. Colocou as mãos nos bolsos da calça e seguiu caminhando pelo pátio.
O lugar parecia, agora, maior do que quando John lá estivera pela primeira vez. Árvores frondosas, bancos, gramados, fontes, pássaros, chafarizes... Tudo isso fazia parte daquela imensidão. A construção da universidade ostentava uma grandiosidade intimidadora. Sua arquitetura minuciosa, com riqueza de detalhes, remontava às universidades que só se viam em filmes.
John caminhou vagarosamente, observando os detalhes daquele lugar tão esplêndido. Não muito distante de onde estava, viu uma senhora uniformizada com uma prancheta na mão que parecia estar dando informações aos recém chegados. Dirigiu-se a ela mantendo o ar preocupadamente sereno.
— Posso ajudá-lo? — perguntou a senhora, com um sorriso educado no rosto.
— Sim. Eu queria saber como faço pra chegar aqui — respondeu John, entregando a ela seu comprovante de matrícula, que dizia a localização do alojamento.
A funcionária analisou o papel por um instante.
— Está vendo aquele terceiro banco, bem ali? — perguntou ela, indicando com o dedo.
— Sim.
— Ao final daquela via, vai ter um caminho de pedras à direita. Siga por ele e vai encontrar uma vila. Sua casa é a Beta 2. Lá vai ter uma lista para o senhor conferir o número do seu quarto. Veio pra cá sozinho?
— Vim.
— Certo... Então seu companheiro de quarto vai te instruir no que for necessário, não se preocupe. E seja bem vindo!
— Obrigado.
John olhou ao redor mais uma vez. Sentiu-se mais uma formiga, perdido naquele jardim infinito, junto a tantas outras formigas desorientadas. Seguiu as instruções que a funcionária lhe dera e certificou-se de que tinha entendido tudo corretamente, repetindo para si mesmo em voz alta:
— Terceiro banco, final da via, caminho de pedras à direita.
Caminhou por entre flores, árvores e plantas, alcançou o tal terceiro banco e, de fato, ao final da via existia um caminho de pedras à direita. Um pouco mais adiante, podia-se ver uma pequena placa apagada. "Alojamento". Era ali mesmo.
O estacionamento ficava quase ao lado desse caminho à direita. John voltou pela mesma rota por onde viera para memorizar o trajeto. Saiu do campus e voltou ao carro para estacioná-lo. Procurou em seu comprovante o número de sua vaga e, então, estacionou. Desceu do carro e pegou duas de suas malas. Não conseguiria levar todas de uma vez. Saiu do estacionamento e seguiu, novamente, o caminho dos dormitórios.
Passou pela placa e, logo após, viu cinco grandes casas, de arquitetura similar à da fachada de Wistworth, uma bem ao lado da outra, formando uma espécie de vila. Lá quase não havia movimento. Andou devagar pela rua que se formara e procurou pela tal Beta 2.
Na porta da primeira casa, havia, pregada na madeira, uma inscrição que dizia: "Alfa 1". Na casa seguinte, no mesmo lugar, "Alfa 2". John passou os olhos pela próxima e leu "Beta 1". A penúltima era a sua, Beta 2. Respirou fundo. Subiu o pequeno lance de escadas da entrada, abriu a porta, que estava apenas encostada, e entrou.
— Minha nossa...
Apenas garotos. John não viu uma garota sequer. Em Wistworth, os dormitórios eram separados: homens e mulheres. Um em cada extremidade do pátio. Isso não seria problema. Muito pelo contrário.
Alguma agitação ali. Entra e sai de gente dos quartos, conversa, risos, algazarra, alguns sorrisos de boas vindas e até um aperto de mão de um simpático desconhecido. John estava num corredor. Deste corredor afluíam os quartos. Três à esquerda e mais dois à direita. Ao final, do lado direito, uma grande sala-cozinha, com sofás, TV, fliperamas, vídeo game, geladeira, fogão e bancada; e, do lado esquerdo, uma escada que levava ao piso superior.
John caminhou devagar e observou a numeração das portas. Sabia que seu quarto era o 310. Não. precisava de nenhuma lista 301, 302, 303... 305. Final do corredor. Subiu as escadas. Sua tia estava certa: parecia ter um cadáver dentro de suas malas. E ainda faltavam duas.
308, 309, 310. Finalmente. John colocou as malas no chão, estralou os dedos e contorceu os ombros. Olhou em volta mais uma vez. Ninguém à vista por ali, apenas vozes lá em baixo. O simpático aviso de "Não perturbe!" colado na madeira era praticamente um convite. Deu duas batidas na porta do quarto silencioso e esperou.
— Ei! Você deve ser o John — cumprimentou o rapaz que abriu a porta.
John conteve seu breve espanto. Que gato! Não pensou que fosse ter o privilégio de dividir o quarto com uma pessoa bonita.
— Sim, sou eu — sorriu timidamente.
— Prazer, eu me chamo Andrew — continuou o rapaz, estendendo a mão.
— O prazer é meu — John retribuiu.
— Deixa eu te ajudar com as malas.
Andrew pegou as duas malas e passou para dentro do quarto. Colocou-as no chão e disse:
— Seu armário é esse aqui, tudo bem?
— Sim, sem problemas.
— Quer escolher em qual das camas vai ficar?
— Qualquer uma serve.
— Olha, aproveita, porque eu não sou legal assim. Estou sendo gentil só porque é seu primeiro dia.
Riram.
— Vou ficar com a da direita, então.
— Beleza.
Andrew colocou as malas sobre a cama de John.
— Eu vou pegar as duas malas que ficaram no carro, já volto.
— Quer que eu te ajude?
— Não, não precisa, essas eram as mais pesadas. Obrigado.
John saiu do quarto e fechou a porta. Pensara que seria recebido em um corredor polonês, mas enganou-se. Um belo rapaz de olhos castanhos claros e sorriso brilhante foi seu anfitrião. Cabelos anelados, desgrenhados, negros, ombros largos, braços fortes... Uns vinte e três anos. Melhor que do que a encomenda. O ano acadêmico tinha tudo para ser bom, muito bom.
Buscou as duas malas que ficaram faltando e voltou ao quarto. Colocou-as sobre a cama e estralou as costas.
— É seu primeiro ano aqui? — perguntou ele a Andrew.
— Não, segundo. Você é novato mesmo, não é?
— É, sou sim... Vou dividir o quarto com um veterano.
Risos. John começou a desfazer suas malas e a guardar suas coisas no armário à frente.
— Você vai cursar o quê?
— Jornalismo... Você faz o quê?
— Engenharia, mas a melhor parte é que sou da equipe de natação — respondeu Andrew, sentado à beira da cama.
— Ah, que legal. Eu não nado muito bem.
— Eu também não nadava, mas com o tempo você pega a manha.
Fez-se breve silêncio. John dobrava suas roupas e as guardava no armário com esmero. Andrew se levantou e disse:
— Nós veteranos combinamos de sair à noite com a galera nova, tipo festinha de boas vindas. Topa?
John ponderou.
— Hoje?
— É. A gente decidiu não fazer trote nem qualquer outra sacanagem, porque isso é palhaçada, né? Então marcamos de nos encontrar num bar aqui perto. Mesmo que você não beba, vai ser bom pra conhecer o pessoal daqui. Vamos?
Por que não?
— Ué, vamos.
— Legal. Esteja pronto às nove. Agora eu vou dar uma saída. Depois a gente conversa.
— Tá bem, até mais.
Andrew saiu. John continuou arrumando sua pequena mudança, ainda um tanto admirado. Se as coisas continuassem boas como haviam começado, aquele ano prometia.
O quarto onde estava não tinha nada de muito especial, afinal era apenas um dormitório, não uma suíte de hotel. Ao lado da porta, uma TV velha, os dois armários e, ao lado dos armários, a porta da suíte. No espaço restante, duas camas pouco maiores que uma cama de solteiro. Entre elas, um criado mudo e uma janela, com vista para a universidade e para a cidade. Dela, via-se com mais clareza e amplitude a dimensão daquele lugar tão deslumbrante.
Anoiteceu. John já havia terminado de guardar suas coisas. Tomou um banho rápido e escolheu uma roupa legal para sair com seus futuros companheiros de faculdade.
Poucos minutos depois, Andrew chegou.
— Já está pronto? — perguntou. — Estamos em cima da hora.
— Estou, sim. Podemos ir.
Andrew abriu seu armário, vestiu uma jaqueta de frio e se perfumou.
— Então vamos.
Saíram apressados. Caminharam sem trocar muitas palavras. Apenas o trivial. Não tinham, ainda, muito o que conversar. Atravessaram o campus e seguiram a pé até o tal bar onde se reuniriam. Andaram por duas ou três ruas e, então, chegaram.
Aquele parecia ser o bar oficial dos estudantes de Wistworth. O clima pub do lugar fez John se sentir em um filme, novamente. Bancos estofados, pequenos sofás, garçons trajando aventais, limpando a bancada do bar com panos úmidos...
— É aqui — confirmou Andrew.
Entraram. Uma faixa bem grande pendurada ao alto dizia: "Aos calouros de Wistworth". Que simpático. O ambiente era amistoso e o clima, bastante receptivo.
— Vamos procurar um lugar pra gente se sentar — disse Andrew, tocando o ombro de John.
Esquivando-se das muitas pessoas que ali estavam, Andrew foi à frente, tentando abrir passagem para chegarem às mesas.
— Andrew! — ouviu-se chamar.
John acompanhou com os olhos. Uma turma de meia dúzia de pessoas o chamava. Andrew sorriu e acenou, mas permaneceu imóvel.
— Vai lá — disse John.
Andrew o olhou pensativo e não disse nada.
— Não se preocupa comigo, eu fico quietinho ali no bar. Vá curtir com seus amigos. Depois a gente se fala.
— Tem certeza?
— Tenho sim. Pode ir.
Separaram-se, então. Andrew se juntou ao grupo que lhe chamara e John seguiu em direção ao bar. Sentou-se num dos bancos do lado detrás do balcão e suspirou. De onde estava, era possível ver Andrew. Logo percebeu que ele era muito bom com as mulheres, pois estava no meio de três delas, cheias de sorrisos e caras e bocas. John riu baixo. Achava interessante esse jeito hetero de ser. Pediu uma água tônica ao garçom e permaneceu quieto, "viajando" na música ambiente e observando as pessoas em volta.
Um aroma forte de perfume masculino invadiu suas narinas repentinamente. Percebeu que havia alguém parado ao seu lado, chamando pelo garçom.
Discretamente, John virou a cabeça para ver quem era o dono daquela fragrância tão forte. Fora, novamente, pego desprevenido. Um rapaz alto, bastante forte, semblante sisudo, olhos gláucicos, cabelos castanhos escuros desarrumados, cara de mau, voz firme. Pediu uma dose dupla de vodka.
O coração de John disparou. Aquele era, sem dúvida, o homem mais sexy que havia visto desde que chegara, quiçá que havia visto em toda sua vida. Exalava testosterona. Era a acepção personificada do termo "faz meu tipo". John queria admirá-lo até cansar-se, mas a sensatez não permitiu. Apenas olhou-o duas vezes de relance, enquanto pôde, e logo se virou novamente para sua água tônica. Sentiu um calor subir por seu corpo. Há tempo não via uma miragem tão fascinante como aquela.
Desapareceu. John levantou as sobrancelhas e guardou seus pensamentos para si. Começou a idealizar duas mil coisas sobre o rapaz misterioso e depois se aquietou. Olhou para onde Andrew estava e teve mais uma surpresa excitante: o rapaz estava lá, no mesmo grupo, conversando com os demais com sua dose dupla de vodka em mão. Será que era amigo de Andrew? Ou apenas conhecido?
— Para com isso, John — pensou.
Pediu mais uma lata de água tônica e manteve-se calmo. Afinal, era só um cara bonito, nada de tão impressionante. Esqueceu.
Minutos se passaram.
— Tá tudo bem aí?
John se virou rapidamente. Era Andrew, acompanhado de uma moça. Mãos dadas.
— Tudo sim, e aí?
— Também. Essa é a Teri. Teri, esse é o John, meu companheiro de quarto.
Cumprimentaram-se.
— Eu e a Teri vamos sair. Vou voltar tarde, não precisa me esperar.
John riu. Entendera a mensagem. Balançou a cabeça afirmativamente.
— Sua chave está debaixo do tapete.
— Pode deixar. Boa noite pra vocês.
— Falou.
Foram embora. Maneirismos heterossexuais realmente divertiam-no.
Menos de uma hora se passou. John ainda procurou o rapaz galanteador com os olhos pela última vez, mas não o encontrou. Uma pena. Pagou sua conta, levantou-se e também saiu. O dia seguinte o aguardava. Suas aulas seriam dadas pela manhã e, eventualmente, à tarde ou noite, portanto teria que acordar cedo para o primeiro dia.
Foi-se.
▪▫▪
John não viu ou ouviu Andrew chegar. Acordou com o chamado escandaloso do despertador. Andrew roncava, com a boca aberta. Levantou-se, trocou de roupa, lavou o rosto e escovou os dentes. Pegou sua mochila e saiu do quarto. Sete e meia da manhã. A primeira aula começaria às oito. Desceu as escadas, cumprimentou alguns e sorriu a outros. Depois saiu da casa. Caminhou pela pequena vila e seguiu em direção à entrada principal do prédio.
A parte interna era tão grande e labiríntica quanto a externa. John procurou a localização de sua sala no mapa colado numa parede próxima.
— Sala 5, setor B.
Estava no setor A. Guiou-se por placas e mais placas até encontrar o setor B, que, ao contrário do que deveria, não estava próximo ao setor A. Muita gente, uma correria, característica geral dos primeiros dias de aula. Subiu dois lances de escadas e chegou ao setor B. Sala 5, a última do corredor. Entrou.
Algumas pessoas já estavam na sala. John procurou por um lugar para se sentar. Deviam caber umas quarenta pessoas ali. Sentou-se na quarta carteira da terceira fileira, lugar onde sempre se sentara durante o colégio. Tirou um caderno de dentro da mochila e colocou-o sobre a mesa, enquanto batia silenciosamente a ponta da caneta na madeira da carteira.
Mais pessoas foram chegando. Um rapaz feio se sentou atrás de John, outro, mais simpático, ao lado, e uma jovem, loira, bonita, do outro lado. John permaneceu indiferente e não encarou nenhum deles. O barulho lá fora foi, devagar, cessando ao som de um sinal e, logo em seguida, um homem bastante grisalho entrou na sala, carregando uma maleta.
— Bom dia, pessoal.
— Bom dia.
— Meu nome é George — escreveu na lousa. — Vou acompanhá-los até o final do ano. Espero que tenhamos uma boa convivência. Certo?
Sua apresentação foi breve. Não houve aquele discurso de primeira aula típico da maioria dos professores que John conhecia até então.
As primeiras três aulas foram tranquilas. John fez algumas anotações e nada mais. De acordo com um amigo de outrora, "o primeiro semestre é a melhor parte: você quase dorme".
Todos na sala tinham um semblante de seriedade que chegava a incomodar. Aquilo era Wistworth, não um velório! — como pensava John.
Hora do intervalo. John saiu da sala e caminhou devagar, sem rumo, com as mãos nos bolsos.
— Ei! — cumprimentou uma voz feminina.
John se virou. Era a moça loira bonita que se sentara ao seu lado.
— Oi! — respondeu ele, com o mesmo entusiasmo.
— Eu sou a Melanie, prazer — estendeu a mão, sorrindo.
— Prazer. John — respondeu ele, segurando a mão da moça.
— Nossa, eu não pensei que essa gente da faculdade fosse tão séria. Só você estava com uma carinha mais receptiva.
Riram.
— Eu estava pensando a mesma coisa agora, há pouco.
Caminharam juntos.
— Você é daqui? — perguntou ela.
— Não, eu sou de Oreste. E você?
— Eu sou daqui, mesmo. Mas você já conhecia a universidade?
— Não, só por fora e por nome. Ainda estou meio perdido. E você?
— Eu conheço. Minha mãe deu aulas aqui quando eu era criança. De vez em quando ela me trazia aqui para passear. Você já tomou café?
— Não, eu não sei onde fica o refeitório, restaurante, lanchonete... sei lá. E não tive tempo de procurar. E não ia dar tempo de tomar no alojamento.
— Então vamos, eu te ensino o caminho.
Desceram os lances de escada e ainda passaram por dois ou três blocos até chegarem ao refeitório. Grande, bonito, espaçoso, cheio de mesas. Atravessaram até a lanchonete e se serviram de qualquer coisa. Sentaram-se.
Melanie tinha cabelos louros, médios, ondulados, olhos cor de mel, pele rosada e sorriso inocente. Vinte anos, pouco mais nova que John, e planos de vida bem diferentes. Queria ser colunista de revista feminina. Não demonstrara, até então, segundas intenções em relação a John. Essas coisas são perceptíveis.
— Já tinha vindo a Taigo alguma vez?
— Muito poucas vezes. Não conheço nada por aqui.
— Ah, eu nasci aqui, como já disse. Conheço tudo. Precisamos sair pra você conhecer os lugares legais.
John não respondeu. Sentiu uma hipotética indireta no ar. Tomaram café ao som de conversa prosaica. Melanie parecia ser o tipo de garota "entrosa-fácil", desinibida, espontânea e comunicativa.
— Ainda temos quinze minutos. Quer dar uma volta pelo prédio? — convidou ela após consultar o relógio.
— Pode ser.
Levantaram-se. Melanie foi à frente. Saíram do refeitório e chegaram à parte detrás do campus. Mais plantas, árvores e flores e, adiante, uma enorme piscina que preenchia os olhos de quem ali estivesse.
— Aqui é a piscina e ali, logo atrás, o ginásio.
Pararam para observar por um instante.
— Essa é a melhor parte daqui. Os caras mais gatos são os atletas... Oh! — censurou-se. — Eu não devia estar te falando essas coisas, né? Você é homem. Tsc...
John sorriu.
— Vou tomar isso como um elogio.
— Como assim?
John cruzou os braços e franziu o cenho, tentando proteger os olhos da claridade.
— Sinal de que eu ainda consigo passar despercebido.
Melanie olhou-o, interrogativa.
— Oh, meu Deus! Você é gay?
— Até o último fio de cabelo.
Melanie abafou o agudo de contentamento.
— Eu sempre quis ter um amigo gay!
— É mesmo?... Eu sempre quis ter uma amiga loira.
Ambos riram.
De longe, John viu uma silhueta familiar sair da piscina.
— Olha, o Andrew...! — pensou alto.
— Cadê?
— Aquele de sunga vermelha, branca e azul.
— Ah, o Andrew. Você o conhece?
— Sim, ele é meu companheiro de quarto. E você o conhece de onde?
— De outras primaveras. Ele é popular aqui; já namorou uma amiga minha, mas não sabe que eu existo. Não deram certo porque ela era muito ciumenta. Mas também, com um gatão desse, tem que ter ciúme mesmo.
Fizeram breve silêncio.
— E aquele que tá chegando ali pra conversar com ele é o Steven.
Ele! Era ele! Era ele! A miragem, o rapaz do bar! O coração de John acelerou novamente.
Manteve-se calmo e disfarçou a euforia como pôde.
— Você também o conhece?
— Só ouvi falar. Dizem que ele é um nojo. Grosso, estúpido, frio, egoísta...
— Mas é um pedaço de mau caminho. Olha que corpo mais perfeito.
De fato. Era possível ver cada um de seus músculos, meticulosamente esculpidos, mesmo de longe. John suspirou.
— Ah, não sei, não. Prefiro o Andrew. Ele é meio bobão, às vezes, mas é uma gracinha. Super fofo.
De onde estava, Andrew avistou John. Sorriu e acenou. John respondeu ao aceno e concluiu:
— Mas esse Steven mexeu com os meus hormônios.
Melanie riu alto.
— Ai, como você é engraçado! Vamos voltar, já vai acabar o intervalo.
Parecia que John e Melanie se conheciam há tempos. Nunca antes John simpatizara com alguém com tanta rapidez. Melanie era o tipo de garota com quem ele costumava andar nos tempos de escola, talvez por isso tenha sentido tamanha empatia em tão pouco tempo. E talvez ali John tivesse começado a conhecer as pessoas mais legais de toda sua vida.
Após o término da aula, tiveram tempo para conversar com calma e se conhecer um pouco melhor. Almoçaram juntos e passaram quase toda a tarde sentados em frente ao chafariz do pátio, falando sobre tudo um pouco. Depois, Melanie foi para casa e John voltou ao seu dormitório.
Anoiteceu.
Andrew não estava. John tomou um banho, colocou seus trajes de dormir e se deitou. Enviou um torpedo a tia Beth dizendo estar tudo indo muito bem. Tirou um livro de dentro da gaveta do criado mudo e pôs-se a lê-lo.
Estava quase pegando no sono da leitura quando Andrew apareceu.
— E aí? Tudo em ordem?
John continuou lendo.
— Tudo, e você?
— Também. Como foi seu primeiro dia?
— Legal, nada demais.
— Como "nada demais"? E aquela loirinha gostosa que estava com você lá perto da piscina, de manhã?
— Conheci hoje. Ela se senta na carteira ao lado da minha.
— Já pegou?
John olhou de soslaio.
— Não.
— Por quê? Eu vi, lá de onde eu estava, ela te dando condição. Se eu fosse você, transaria com ela a noite toda, que nem eu transei com a Teri ontem. Huuum...
Andrew se sentou na cama e tirou os tênis.
— Isso não vai acontecer — finalizou John.
— Ah, cara, qual é? Você é veado, por acaso?
— Sou — respondeu John, quase incontinênti.
Andrew arregalou os olhos e entreabriu a boca.
— Sério?
— Sério.
— Que nojo, velho! — treplicou, esboçando uma expressão de asco e decepção. — Fique bem longe de mim — apontou o dedo indicador.
— Não se preocupe, eu não vou te agarrar. Você não faz meu tipo.
Isso não era bem verdade.
— Aff, velho, que nojento!
John fechou o livro e fitou Andrew. Fez breve silêncio para criar o que ele chamava de efeito. Lidava com esse tipo de situação sem constrangimentos.
— Olha, eu não quero problemas. Se isso te incomoda tanto assim, eu posso trocar de quarto com alguém.
Andrew não disse nada, apenas manteve a mesma expressão de desgosto.
—Se quiser, podemos falar sobre isso depois. Agora, se me der licença, eu voudormir, pois estou com sono e amanhã acordo cedo. Boa noite.
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