Capítulo 3
Zefat caminhava com a criança em seus braços e o pássaro em seu encalço, pairando sobre ele como um corvo em volta de uma carcaça. Talvez fosse exatamente o que ele era, uma presa prestes a virar carcaça, correndo pela vida, mas pela vida de quem? Adentrando o templo com pressa, o sacerdote sente a ansiedade começar a tomar conta dele, mas não se apega a qualquer voz pessimista em sua mente, pelo contrário, parece mais focado que nunca. Ele já havia finalizado a poção de ilusão quando Soren, guarda de Apolo, anunciou que o momento do ritual estava chegando e com isso, era hora de pôr seu plano em pratica. Já com a poção de duplicação em mãos, o sacerdote respirou fundo e a ingeriu rapidamente, não demorou até sua visão se tornar turva e sua pele formigar, por curiosidade ele olhou para suas mãos, talvez pela visão prejudicada Zefat assustou-se ao ver sua pele ondular, como se algo estivesse de baixo dela, entretanto, ele não sentiu dor alguma, a adrenalina correndo por seu corpo era tão forte que não o deixou notar. Em poucos segundos, uma cópia perfeita de Zefat estava a sua frente, compartilhando não só a aparência, mas também a mente e a alma, uma extensão perfeita do sacerdote. Era hora da poção de ilusão. Trocando a criança por um vaso branco de mármore, Zefat derramou por cima toda a poção de ilusão, era uma poção simples, apenas a mistura de narcisos, benjoim, boca de leão, alguns óleos especiais e claro, um pouco do cabelo da princesa. Entretanto, o real problema da poção não eram seus ingredientes, mas sim a intenção de quem a preparava, poções como essa exigiam muita concentração, pois o mesmo deveria repetir suas intenções mentalmente durante todo o preparo da poção, mentalizando o resultado que buscava obter, quanto maior o foco do sacerdote, melhor seria o resultado e durabilidade da ilusão. Zefat buscou tirar concentração de suas emoções negativas, pois eram predominantes, e com isso, obteve uma ilusão perfeita da jovem Deusa.
- Leve-a. Siga a brisa quente vinda do Oeste, vá até onde ela o levar sem hesitação, não temos tempo. - O sussurro de Zefat direcionado ao receptáculo foi quase inaudível, mas a mensagem foi emitida com clareza aos ouvidos da cópia do sacerdote. Sendo assim, acomodou a princesa em seus braços e escondeu-se atrás de uma cortina grossa. E quase em uma sincronia perfeita, Soren adentra o templo com mais dois guardas em seu encalço. - Só um segundo, Soren, deixe-me no mínimo trocar de manto. - O guarda o olhou de cima a baixo, provavelmente pensando se era realmente necessária uma troca de roupa, ou se as vestes do sacerdote eram inadequadas.
- Não parece necessário, olhe para você coberto de tecidos caros. A corte não pensaria que você é algo menos que um nobre nessas roupas. - Disse quase desdenhando. Soren era um jovem calado na maior parte do tempo, provavelmente esse comportamento proveio de seu treinamento rígido, o garoto era um nobre prodígio da família de Magnólia, mas Zefat não lembrava se existia um parentesco próximo entre eles. O garoto não parecia ter mais de quinze anos e já havia sido nomeado capitão de um esquadrão, o típico modelo de um nefilin, loiro, alto e olhos castanhos. Zefat podia jurar que já viu um milhão de rostos iguais ao dele, mas apesar de toda a personalidade e aparência genérica, algo nos olhos do jovem guerreiro era diferente, um brilho, talvez de dor, esperança, se forçasse muito, Zefat diria inocência.
- Posso trajar bons tecidos, mas é você quem está esbanjando prata e ouro por toda armadura. Não demorarei. - O garoto estava prestes a protestar, mas Zefat não o deu tempo para fazê-lo, virou as costas e foi em direção ao seu quarto. O que deveria ser um simples quarto para mais um servo qualquer era maior que toda a casa onde cresceu, espaço o suficiente para duas famílias viverem tranquilamente, ele nunca havia percebido isso até o momento, parecia que agora estava enxergando as coisas como elas realmente eram. Uma memória voltou a sua mente, o dia em que entrou nesse mesmo quarto pela primeira vez, acreditando que havia conquistado muito mais que um dia sonhou. Um sorriso triste se formou em seu rosto ao perceber que mal lembra o que fez nesses últimos trinta anos, não lembra a última vez que gargalhou verdadeiramente ou se preocupou em não quebrar as regras de etiquetas, ele desejou ver sua família mais uma vez, quanto tempo ele não os via além de algo que não fosse uma caligrafia borrada em uma carta amassada. Olhando ao redor outra vez, ele se sente na obrigação de dizer adeus, dessa vez não era tarde demais para uma despedida. Com papel e tinta em mãos, Zefat escreveu três páginas de uma única carta e a guardou juntamente com a única coisa que trouxe da casa de sua família, um pequeno quadro pintado por sua irmã mais nova, retratando uma noite estrelada completamente livre de nuvens e uma árvore seca pendendo num penhasco. Ele lembrava-se bem das palavras dela antes de entrega-lo a pintura.
- " Essa deve ser a visão lá de cima. Tudo que não está no controle deles é lindo, mas basta um toque de suas mãos perversas para apodrecer até uma estrela."- Ele repetiu as palavras de sua irmã sentindo a culpa por não ter percebido o que elas queriam dizer. Zefat já havia sido tocado e apodreceu tão naturalmente que não percebeu, mas a jovem não teria o mesmo destino que ele. Trocando rapidamente seu manto purpura com detalhes pretos por um vermelho com detalhes dourados, também vestiu um colar de corrente longa dourado, em seu pingente um nó infinito feito de ouro com quartzo rosa, cuidadosamente lapidado em formato octaédrico, servindo perfeitamente nas aberturas do pingente. Antes de sair, o sacerdote e sorriu para o espelho. Finalmente pronto para dizer adeus. Já de volta ao centro do templo, Zefat encontra apenas Soren a sua espera, sentado em sua escrivaninha brincando com uma pena de harpia raríssima.
- Onde estão os outros? - Perguntou sério, focado na pena completamente amassada pelo pouco conhecimento de Soren. O garoto apenas deixou a pena de lado levantando-se da cadeira.
- Estão levando os itens para o ritual, incluindo a princesa. - Soren permanecia indiferente, mas Zefat sentia-se incomodado com a forma fria como ele se referia a jovem Deusa. Decidindo apenas continuar calado, ele resolve analisar o pergaminho dado por Apolo, dessa vez mais detalhadamente. A maior parte estava escrita em uma língua desconhecida por Zefat, o pouco que conseguiu ler não fazia sentido, palavras soltas e desconexas, "divino", "híbrido", "nuvens", "sangue"," vermelho". Essas palavras aprareciam no mínimo duas vezes, não fazia sentido até o sacerdote analisar o verso do papel escuro, lá instruções apareciam em uma língua mais compreensível para o sacerdote, a folha áspera arranhava os dedos de Zefat conforme ela a manuseava, por um momento ele se apegou a essa dor após descobrir do que aparentemente se tratava as instruções, uma maldição. Enquanto segurava a folha, pode jurar sentir cheiro de chuva, não apenas o cheiro, mas os pingos de água gelada escorrendo por sua testa seguido de um arrepio tão forte que o deixou tonto, como se todo o templo houvesse sido arremessado para longe com ele dentro, seus olhos sequer conseguiam focar em suas mãos bem a sua frente, o sacerdote tentava apoiar-se em algo próximo, mas estava congelado, perplexo demais para pensar em algo além das muitas sensações em seu corpo, tudo que conseguiu foi piscar repetidamente, mas ao invés de recuperar seus sentidos, eles apenas se alteraram ainda mais, os ouvidos zuniam, a chuva caia cada vez mais forte em sua pele, o cheiro de terra molhada agora tornara-se fumaça e seus olhos falhavam. Imagens iam e viam na cabeça de Zefat como memorias de um passado que não era o dele, ou um pesadelo longe de acabar. O sacerdote estava pronto para gritar de agonia quando simplesmente tudo parou repentinamente, mesmo confuso e nauseado, abriu seus olhos lentamente, não estava mais em seu templo, pelo contrário, estava sentado no chão lamacento, escorado no que restou de uma parede, não importava onde olhasse todo lugar tinha sinais de sangue, corpos e fogo. Zefat não fazia ideia de que lugar era aquele, não lembrava de nada parecido em suas memórias, não poderia ser um sonho, pois ele tinha a certeza de estar acordado. Sem conseguir encontrar sentido algum na situação, ele apenas olhou para cima, o céu estava cinza, completamente nublado, mas atras das nuvens carregadas se escondia um sol fraco de final de dia, mas isso não foi tudo que chamou a tenção de Zefat, mesmo com o caos instaurado na cidade ele não ouvia barulho algum que não fosse o vento forte soprando a poeira. O lugar fedia a morte, mas o cheiro era tão forte que Zefat sentiu estar muito próximo dele, foi então que olhou para baixo. Seu estomago se embrulhou, isso é, se ele tivesse um estomago ali, ele estava dentro de outro corpo, ou melhor, metade de um corpo, todo seu intestino exposto e nem sinal do que um dia poderia ter sido as pernas, não demoraria até corvos comessem suas entranhas e os vermes devolvessem seu corpo a terra. O pensamento mórbido do sacerdote apenas o deixou ainda mais enjoado, ele procurou respostas naquele pergaminho, mas tudo que encontrou apenas o deixou ainda mais confuso. Zefat estava prestes a perder sua sanidade quando aquele corpo que ele sequer controlava caiu para frente, impossível estar vivo, mas como estava se movendo? Um trovão rugia iluminando o horizonte, a chuva caiu quase que simultaneamente, lavando o sangue e apagando o fogo da cidade destruída. Agora deitado, Zefat pouco enxergava da paisagem destruída, sua visão se limitava a um único olho, pois o outro estava coberto pela lama escura do chão, entretanto, algo se movimentava na cidade sem vida, o choro estridente de uma garota ecoava pela cidade morta, Zefat não foi capaz de ver nada além de seus pés descalços e suas meias rasgadas, ele não precisava vê-la por completa para saber que estava coberta de sangue e cinzas, seus paços eram trêmulos e desengonçados, parecia prestes a cair e ser fadada com o destino dos muitos outros cadáveres, até que ela parou. Naquele momento, algo dentro de Zefat pareceu prender a respiração, como se estivesse preparando-se para saltar, a garota soltou um grito estridente, repleto de raiva, dor e uma força que o sacerdote nunca viu antes, mesmo sendo apenas um espectador ele pode sentir um arrepio o envolver e com ele seu corpo se contrair. Zefat não precisava estar pessoalmente ali para notar o mais triste de todo o acontecimento, naquele momento algo naquela menina estava partido, algo estava perdido e ninguém poderia curar aquela ferida, o sacerdote tremeu diante a ideia, quem quer que fosse a dona das pernas bambas e meias imundas, estava nas preces do sacerdote, pois aquela garota era o tipo de alguém que não é mais humano. A visão se dispersou aos poucos do mesmo jeito que começou, mas antes de ir, Zefat deixou uma lagrima escorrer em memória a garota que perdeu a luz.
- Sacerdote! - Agora Soren gritava para ele, os braços cruzados, um olhar confuso e sobrancelhas arqueadas. - Há algum problema?
Engolindo em seco, Zefat balança levemente a cabeça tentando recuperar sua postura. - Não. Desculpe-me, Soren, acabei me distraindo.
- Ótimo, é hora do ritual. Vamos. - Sem dar tempo de resposta, Soren e os outros guardas escoltam Zefat por todo caminho até o castelo. O caminho é tranquilo e a noite mágica ainda está lá, entretanto, a brisa travessa não o acompanha, pelo contrário, parece nunca ter estado ali. A respiração do sacerdote é calma, está longe de estar em paz, mas naquele momento, Zefat se sentia pronto para o que viesse até ele, não era o mesmo de duas horas atrás, a ideia o faz rir. Zefat mudou muito mais em um dia do que mudou em trinta anos, tudo graças a Magnólia, ele não esqueceria sua amiga, não esqueceria tudo que ela o ensinou tanto em vida, como em morte, não esqueceria a princesa cuja ele estava arriscando tudo, não esqueceria o despedaçar de uma alma que presenciou momentos atrás, Zefat estava disposto a relembrar cada uma dessas memorias até o dia de sua longínqua morte. A respiração controlada, o olhar focado e distante, passos firmes e a cabeça erguida, ninguém diria que Zefat escondia algo, mesmo imerso na gratidão ocasionada por suas recentes descobertas, um lugar em sua mente ainda guardava espaço para preocupações, entre elas de si receptáculo já estaria distante o suficiente com a princesa. Para Zefat, entrar em Sora era algo impossível, a ilha flutuante que afastava-se da capital, pairando sobre ela graças ao poder gravitacional do tatara- avô de Apolo, acreditava-se que a ilha flutuante cairia após sua morte, foi uma surpresa ela continuar intacta mesmo séculos depois de sua morte. Entretanto, sair não era impossível, uma coisa era fato, nenhum outro ser além de nifilins conseguiam voar até a ilha de Sora, mas qualquer um capaz de planar ou com o mínimo de controle sobre o ar podia sair da ilha em segurança, assim Zefat esperava que ocorresse. Em seu plano, o receptáculo usaria o pouco da afinidade de Zefat com o ar para planar em segurança até aterrissar o mais longe possível da capital. Graças aos Deuses tudo contribuía para esse plano funcionar, a noite estava limpa, sem sinal de tempestade e ventos fortes e se assim continuasse, Zefat logo finalizaria esse maldito ritual e fugiria até o encontro da jovem Deusa e o receptáculo. Inocentemente, Zefat deixou um sorriso aparecer em seu rosto, a ideia de cuidar de uma criança estava longe de sua visão de futuro, mas parece que ele precisaria aprender como cuidar dela. Junto com o rápido sorriso, o pensamento otimista também se foi, era cedo demais para comemorar uma vitória e Zefat sabia disso, tudo que o restava agora era rezar pela pequena Deusa e torcer para que esse falso ritual durasse o mínimo possível.
Ao notar que já havia chegado aos degraus antecedentes ao salão superior, o sacerdote respirou fundo deixando o ar gelado limpar seus pulmões, ele olhou uma última vez para o majestoso céu noturno na intenção de guarda-lo eternamente em sua memória, a ideia de um amanhã o trouxe esperança, o sol irá se levantar ao amanhecer e ninguém, nem mesmo Apolo mudaria isso. O sol iria se levantar. Assim ele repetia mentalmente enquanto subia as escadas até chegar ao seu destino. Lá, nobres quais ele sequer memorizou o nome, agrupavam-se organizadamente aguardando a sua chegada, uma elite mesquinha e inconsciente, cobras prontas para dar o bote sem qualquer sinal de empatia. Generais ostentavam armaduras decorativas feitas de pirita enquanto as damas cochichavam baixo comentários maldosos sobre os trajes umas das outras, por sorte, Zefat era muito bem familiarizado com esse tipo de evento, seguiu caminhando sem falhar um passo. Conforme andava, os olhares da corte queimavam suas costas enquanto outros abriam caminho para o tão talentoso e estimado sacerdote de Apolo. Não demorou para o rei aparecer, posicionado exatamente no centro do salão junto a falsa princesa forjada por Zefat em seu templo. Apolo destacava-se em todos os sentidos, fosse por sua altura exagerada, até mesmo para um nefilin, ou por seus incomuns e longos cabelos prateados penteados para trás, ele resplandecia absoluto, digno do título de rei, esbanjando toda sua majestade em vestes de cor branco, preto e dourado, as cores de seu clã o caiam como uma luva contrastando perfeitamente com sua pele pálida e os olhos vermelhos, harmonizados perfeitamente com a coroa negra em sua cabeça. A coroa de Apolo era o ponto alto de toda elegância naquela noite, três pontas negras decoravam a parte inferior da coroa, duas delas desciam por suas têmporas até chegar ao meio de seu maxilar, enquanto a terceira descia sua testa até alcançar o meio de suas sobrancelhas, então as três pontas estendiam-se para cima, comparando-se facilmente a chifres, porém essas pontas afiadas eram apenas as maiores e mais enfeitadas, existiam outras menores em volta de sua coroa, e mesmo com tudo isso, o maior destaque estava na única e resplandecente pedra branca presa pouco acima da ponta do meio, rodeada de detalhes em ouro que estendiam- se por toda coroa como rachaduras douradas. Mesmo transparecendo perfeição, Zefat encontrou uma fiçura na máscara de Apolo, algo em todo aquele glamour não combinava com o rei. Um sorriso amigável de orelha a orelha, se fosse ingênuo o suficiente, Zefat acreditaria que Apolo estava feliz em vê-lo, mas não, o rei o analisava também, dos pés à cabeça como se pudesse ver dentro de sua alma. Antes que pudesse dar mais um passo, a voz de Apolo cortou o salão, clara e forte, isso se não ameaçadora.
- Meus amados súditos e amigos, agradeço a todos por comparecerem a um evento tão importante como esse. Mesmo tendo que compartilhar a dor da perda com todos os presentes, aos desavisados, com muito pesar comunico que esta noite Arcade se despede de duas de suas rainhas. - O choque da multidão foi tão claro quanto as luzes reluzentes das velas que os iluminavam, mas não pela morte da Magnólia, certamente todos já sabiam da informação e sim pela curiosidade de descobrir quem era a "segunda rainha", e Zefat adoraria compartilhar da ignorância e frieza deles, abutres prontos para brigar por qualquer pedaço morto que fosse jogado para eles. - Magnólia encontra-se com os seus antepassados olhando por nós, me dói vê-la partir tão cedo, levando com ela toda sua luz, esperança, sabedoria e amor, deixando-me com nada além de um vazio avassalador que consome minha alma aos poucos, insaciável como a fome de meu povo. Ainda assim, mesmo tendo levado tudo, ela ainda se faz presente em mim e agora, também será parte de vocês. É com muito orgulho e emoção que os apresento os últimos presentes de Magnólia, as últimas partes dela agora se tornam nosso futuro, nossa esperança, um fim e um início de uma nova dinastia. Lyla, traga-a por favor. - A criada age quase automaticamente, vira as costas para a multidão que agora a encara ferozmente. O sacerdote não precisava estar perto para ver as mãos da criada tremerem de tensão, a gota de suor escorrer vagarosamente de sua testa percorrendo sua pele parda, descendo pelo nariz, sobrancelhas e têmporas, o sacerdote adoraria tranquiliza-la, aproveitando-se da distração dos nobres para passar pelo salão aproximando-se cada vez mais de Apolo, consequentemente de Lyla, que agora voltava com a jovem princesa, uma cópia quase perfeita de Magnólia, dava para entender a comparação feita por Apolo de imediato.
- Aqui está ela, meu rei. - A serva entregou a princesa ao seu pai evitando ao máximo olhar para ele, curvou-se para o mesmo que apenas respondeu com um ascenso de cabeça. Quando estava prestes a virar as costas e voltar ao seu posto, seus olhos encontraram o de Zefat, que sorriu para ela tentando conforta-la, seguidamente de um sussurro inaudível e discreto dizendo nada além de "respire". Em resposta Lyla sorriu de volta e retomou seu posto.
- Em meus braços está a segunda filha de Magnólia, Sigel, sua nova princesa e futura soberana de Arcade, todos aqueles que juraram lealdade a mim também jurarão a ela, todos que lutaram por mim também lutarão por ela, e a aqueles que ousarem trair esse juramento que a ira de sua irmã caia sobre eles. Aqui e agora apresento Selene, Deusa da lua, minha primogênita, nascida Deusa. - Ao lado do berço, outra serva ergue a criança ilusória idêntica a real, exibindo-a como um prêmio de caça, arrancando sobressaltos e expressões perplexas de todos ali, ostentando lindos e falsos olhos brancos. Um ato de demonstração de força, uma prova do que é feita a realeza nefilin, um poder imparável que ninguém deve ousar cobiçar, os nobres entendiam isso, nenhum mortal, magiec, imagen ou nomagiec existente poderia derrubar Apolo, o anjo mais poderoso que já pisou na terra, o segundo tronos a governar Arcade. O vento balançava as chamas das velas que iluminavam o salão criando sobras no rosto satisfeito do rei que agora entregava Sigel para Lyla, os nobres pareciam atordoados pela tempestade de informações com ameaças explicitas disfarçadas de discurso, mas Zefat, assim como Apolo, permanecia serio sem esboçar reação alguma, o rei notou sua postura e logo continuou sua fala.- Porém esse é só o começo como eu já havia dito, hoje eu marco o fim de uma era e cravo o início de outra, pois a partir de hoje meus caros, Arcade será lavada de todos os males, impurezas e trevas que nela habitam, o processo será longo e infestado de obstáculos, mas nenhum deles será maior que a nossa força, nossa luz. Acomodem-se e alegrem-se, pois a noite de hoje será lembrada para toda a eternidade, a noite em que a luz iniciou sua supremacia diante as trevas. Para isso, ninguém mais que Zefat foi escolhido para dar início a o que será conhecido como " a acessão de Selene". Venha sacerdote, faça história conosco, e assim como o de todos os presentes, seu nome nunca será esquecido.
Mesmo que as mãos do sacerdote suassem frio, seu rosto permanecia pétreo. Inabalável assim como foi orientado a ser, não havia para onde fugir. Tudo que precisava fazer era abraçar o momento e ir onde o mesmo o levasse, e assim ele faria. Com todo o cinismo que o restava, o sacerdote faz questão de abrir um sorriso marcado e juntar-se ao rei, ficando em sua frente e o reverenciando. Por um breve momento Zefat se assustou com sua atitude, ele poderia facilmente acostumar-se a viver com essa máscara, mesmo com o medo e adrenalina correndo em suas veias, ele sentia-se um gigante vivendo sob a sombra de um rato, protegido por uma falsa muralha tão fraca quanto as vidraças coloridas do castelo. Ao se levantar de sua reverencia, Zefat foi surpreendido por Apolo, que agora segurava seus ombros fortemente. Com um sussurro inaudível, se não imperceptível já que seus lábios mal se moveram, o rei disse.
- Cante a vida, pois eu cantarei a morte. - As palavras não faziam sentido algum para o sacerdote, nem de longe eram familiares a ele, entretanto, a ameaça estava ali mesmo sem saber o significado ou entender qualquer parte dela. Surpreendendo a si próprio, Zefat apenas acenou positivamente e virou as costas para Apolo.
- Acredito que apenas os Deuses compreendem minha gratidão, tanto pela presença de nossos estimados convidados, como pela grandiosa oportunidade de fazer parte de um momento tão memorável. Antes de começarmos o que precisa ser feito, peço aos Deuses que confortem o coração de todos, principalmente o de nosso rei, pois nenhum sorriso substituirá o de minha querida amiga e rainha. Dito isso, fecho o ciclo de uma rainha, Selene e inicio o de outra, Sigel. - As palavras de Zefat deveriam soar apáticas graças a sua discordância impregnadas nelas, mas não foi o que aconteceu, por um segundo, Zefat sentiu-se um espectador em sua mente, isso quase fez sua voz falhar, mas esse não foi caso, apenas a amplificou como um eco. Sem mais delongas, seguiu ao berço já próximo a ele, tirando Selene de lá e a segurando em seus braços, a seda leve que envolvia a princesa trazia uma sensação agradável a pele de Zefat, entretanto, o tecido era frio e isso era compreensível, a ilusão não tinha o calor de uma vida, era apenas um objeto disfarçado que Zefat torcia para ser o suficiente. Já com a criança em mãos, o sacerdote voltou ao centro do salão ignorando os olhares curiosos e os passos rápidos daqueles que abriam espaço, incluindo Apolo, que agora estava sentado pouco mais de três metros de distância dele, mantendo uma distância de tudo que estava prestes a acontecer. - Deuses do povo magiec, viemos humildemente pedir vossa graça nessa noite mágica. Pedimos, poder, força e proteção enquanto devolvemos esse sacrifício puro de uma dos seus, intocada e perfeita assim como nos foi enviada, perfeita em seu todo, criatura que se perdeu no caminho até a imensidão. Pedimos que a aceitem em vosso majestoso reino e olhe pela família que ela deixará. - A prece final engasgou na garganta do sacerdote que precisou de certo esforço para sair. - Magia impura será renegada!
Como uma só voz, todos ecoaram a milenar e hipócrita prece. - A luz será elevada.
A poucos passos de Zefat, estava uma grande mesa, também dourada, cintilando perante as velas e luz da lua, perfeitamente polida e preparada para uma finalidade brutal. Uma mesa de sacrifício, o sacerdote já a havia usado várias outas vezes, mas com propósitos diferentes, situações diferentes, sendo uma pessoa diferente, com vendas demais nos olhos para enxergar o sangue que escorria por suas mãos, sufocado por sua própria omissão. Estando preparado para lavar suas mãos de todo o mau indireto que causou, lutando contra seu próprio instinto em busca de paz convencido que conseguiria. Com um nó no estômago, seguiu até a mesa lentamente, olhando todos os matérias necessários já perfeitamente organizados sobre bandejas. Escolhendo a adaga de lâmina negra, sua mão toca metal gelado que decorava a bainha, mas aquela sensação tíbia não chegava aos pés do frio que sentia em todo seu corpo, muito menos da estranha paz que mantinha sua mente sã. Assim que retirou a adaga da bainha os rufares de tambor começaram, tentando ignorar o fato de as batidas estarem sincronizadas com o bater de seu próprio coração, o sacerdote retira o papel escuro do bolso, abrindo-o sobre a mesa e assim como nas instruções lidas anteriormente, posicionou a adaga, fechando o pergaminho com a mesma dentro. Entretanto, isso foi o suficiente para tornar o ar rarefeito, não apenas para ele, mas todos ali pareciam sentir o mesmo, todos exeto Apolo que agora estava de pé, gesticulando para que o sacerdote continuasse. Engolindo em seco, Zefat colocou a princesa ilusória sobre a mesa, retirando sua pequena manta de seda, mesmo sabendo que não era nada além de um feitiço, ele ainda sentia-se mal fazendo aquilo, e nesse contexto, viu a oportunidade de validar ainda mais seu teatro, dando veracidade em sua máscara, ele olhou para Apolo, que agora estava ainda mais próximo da mesa, sussurrando inaldivelmente uma suplica, "por favor", mas o rei apenas negou calmamente com a cabeça, caminhando ainda mais para perto. Por reflexo, o sacerdote virou rapidamente o rosto de volta a mesa, jogando delicadamente pétalas de magnólia por sobre a garotinha, mesmo enojado pela cruel referência, seguiu com todo o processo, sua mão voltou ao pergaminho, mas duas coisas o impediram, primeiro, o grande cálice transparente que Lyla segurava, cheio com sangue até a boca, prestes a derramar, mas antes que pudesse fazer qualquer coisa sobre aquilo o toque frio da mão de Apolo em volta de seu pulso o impede.
- Use outra adaga sacerdote. - A ordem foi tão clara quanto uma ameaça, chegando a surpreender ainda mais a corte que já não estava mais calada, cochichava discretamente enquanto o medo consumia seus corpos, o mesmo acontecia com Zefat, imerso no medo, de volta a postura indefesa que sempre assumiu, inerte, buscando forças no que ainda o era palpável.
- Sim, meu rei. - Lutando para que sua mão não tremesse, pegou outra adaga, dessa vez prateada, posicionando a ponta da lâmina próxima ao peito da princesa. O peso dos olhos de Apolo chegava a ser inquietante, como um peso retraído sobre Zefat, complementando, o rei apertava cada vez mais seu pulso, fazendo seu sangue fugir dos dedos. - Meu rei, meu pulso. - Disse o mais baixo possível, controlando sua voz para parecer estável e tentando ao máximo desviar os olhos do nefilin que aparentava ter o dobro de seu tamanho.
- Olhe para mim, sacerdote. - Zefat sentia a força em seu pulso aumentar ainda mais, fazendo o resto de seu corpo se curvar de dor.
- O que está acontecendo? - A voz descontrolada de Zefat saiu como um grito grave, ele notou os nobres recuando ou virando o rosto para a cena ali, o comportamento de Apolo não fazia sentido algum, a menos que ele saiba. A paz dentro do sacerdote sumiu sem deixar rastro, substituída por pânico e em algum lugar, raiva. Antes que pudesse abrir a boca para dizer qualquer outra coisa, os ossos de seu pulso quebram, estalando tão altos quanto a queda dos joelhos de Zefat ao chão, seu grito era estridente, constante, queimando-o por dentro.
- Olhe para mim! - Repetiu apertando ainda mais os ossos quebrados, fazendo o sacerdote gritar ainda mais, mas dessa vez, abafando o grito e com o pouco de dignidade que ainda o restava olhou para cima, o rosto apático e enojado o encarando com desdém, o sorriso falso sumiu, a máscara caiu e Apolo apareceu. O rei, com Zefat rebaixado aos seus pés, abriu o pergaminho, tirando de dentro a adaga negra e a admirando enquanto a girava em seus dedos com uma perfeição perturbadora. Zefat já sabia o que viria a partir dali ele já estava no chão, havia apenas mais um lugar para ir, ou um último apelo.
- Por que? Eu não o servi bem? - Indefeso, era tudo que Zefat parecia, era tudo que queria parecer, mas no fim, era tudo que era.
- Não consegue mentir para mim sacerdote. Eu reconheço a inocência da sua fraqueza. - As palavras de Apolo foram apenas a confirmação de algo que Zefat apenas fingia não saber, mas não significa que não doeram. Quando suas esperanças já haviam sido obliteradas, Apolo abaixou seu corpo, ficando um pouco mais perto do sacerdote, que agora sentia as lagrimas começarem a se formar e borrar sua visão. Foi então que o sussurro de Apolo chegou aos seus ouvidos, soprando o resto das cinzas de um corpo carbonizado. - Assim como reconheci a de Magnólia. - Essas palavras foram suficientes para transformar dor em ódio, lágrimas em vingança, um pulso quebrado em uma distração e uma adaga em esperança. Em sua mão ainda livre, Zefat permanecia segurando a delicada adaga prateada, que agora cortava o ar em direção ao pescoço de Apolo, o rei por sua vez mal fez esforço, apenas cravou a própria adaga no peito de Zefat em uma velocidade quase invisível. Ainda segurando o pulso quebrado do sacerdote, Apolo o levantou como um boneco, deixando-os cara a cara. Zefat por sua vez não desviou o olhar por um segundo que fosse, as lágrimas escorriam de seus olhos desesperadamente enquanto seu grito cortou todo burburinho e rufar de tambor, todo o ódio que o sacerdote guardava estava quase materializando-se ali, a dor em seu peito não era causada pela adaga, e sim pela culpa, o peso de ter falhado, a dor da consciência de alguém que provavelmente morreria por nada.
- Onde ela está!? - Gritou o sacerdote ainda erguido por Apolo, que por sua vez apenas o olhava com uma curiosidade estranha, parecida até com fascínio, mas Zefat não tinha tempo para esse jogo, que Apolo derrotasse sua rainha de uma vez e o deixa-se sair da partida. Tentando soltar-se, Zefat balançava os pés tentando ignorar a dor tanto do punho quebrado, quanto da adaga em seu peito.
- Não vê? Ela está onde você a colocou. - O sangue de Zefat já criara uma poça no chão, não havia mais tempo, não havia o que salvar ou perder. Mesmo fraco, o ódio ainda o consumia, ou melhor, o alimentava. Com a mão fraca e trêmula, Zefat tirou a adaga de seu próprio peito e novamente a destinou ao pescoço de Apolo, novamente inútil. O rei apenas a tomou sem qualquer esforço, mas ao menos Zefat tirou dele aquela expressão doentia, agora era raiva que Apolo expressava.
- Saiba a hora de se render, sacerdote, já cumpriu seu papel, está livre para ir. - As sobrancelhas arqueadas e o sorriso pontudo de Apolo seriam as últimas coisas que Zefat lembraria. Morto por um ser bestial e cruel, trajando tecidos finos e infinitas mascaras, todas forjadas em sangue e poder, agora, o sangue dele também faria parte desse legado. Sem a chance de morrer sem mais dor, Apolo o lança ao chão com uma força sobre-humana, quebrando todos os ossos de suas pernas, e o arrancando um último grito. Agora o sacerdote que alcançou o céu encarava o chão, tendo como última visão seus próprios olhos âmbar, vendo o que lhe restava de vida fugir com um sopro frio, perdendo-se em nenhuma consciência surpreso por não sentir mais dor alguma, morrendo sem a certeza de ter feito a coisa certa, grato pela chance de pelo menos uma vez ter sentido o doce gosto da liberdade. Livre e morto, grato pela morte não passar de um sopro, assim como a vida não passa de um momento.
- Ainda vai amanhecer. - Foi o que Zefat conseguiu dizer, mesmo em meio ao sangue, antes de seus olhos embaçarem por completo e seus pulmões se tornarem incapazes de inspirar o ar. Derramando uma última lagrima. Morto e livre. Livre.
Olhares surpresos e expressões de nojo tomavam conta dos rostos ali presentes, exceto pelo de Apolo que podia ser equiparado a uma estátua. O rei nem ao menos explicou qualquer coisa que fosse para sua corte, apenas buscou a adaga negra jogada ao chão, a mesma estava coberta de sangue e de um jeito no mínimo inquietante parecia que aquilo era o que faltava para deixar sua beleza mortal ainda mais perfeita. O sangue de Zefat percorria do punhal a ponta, pingando num ritmo hipnótico ao chão. Apolo parecia o único familiarizado com a situação mesmo todos os presentes já tendo presenciado coisas muito piores que um assassinato. Não deixando-se distrair, o rei volta a mesa cravando a adaga sem hesitar, cortando a garganta ilusória do que seria sua filha, assistindo mais e mais sangue manchar o chão, até a ilusão ser desfeita revelando o objeto por trás do feitiço. Antes que o líquido da poção chegasse ao pergaminho, Apolo o retirou da mesa levando-o para longe tanto do cadáver verdadeiro quanto o falso e sinalizou para a criada que segurava um grande cálice cheio de sangue. Lyla atendeu prontamente com toda a energia e disposição que alguém da sua idade teria, com apenas dezesseis anos e a oportunidade de servir aos mais poderosos, escolhida a dedo por Apolo para cuidar de Sigel.
Com pouco ou quase nenhum protocolo, Apolo sinalizou para que o cálice fosse colocado em sua frente, assim Lyla o fez. Era chegada a hora, estava longe de ser conforme o planejado, mas Apolo não esperaria nem mais um segundo, com o pergaminho em uma mão e a adaga em outra, o rei dava início ao inimaginável. Lendo as palavras traduzidas do pergaminho mesmo as tendo decorado várias vezes, ele diz:
- Onde habita trevas, não resplandece a luz.
Eu amaldiçoo aqueles que contra mim estão.
Inverto a maldição, fazendo do dia uma só nação e da noite uma prisão.
Renego as trevas.
Suplico a luz.
Pago o preço que me for cobrado.
Para sentir meu ódio ser vingado.
Banhando os impuros em Caos, eu ascendo.
Eu serei o centro dessa guerra entre luz e trevas. - O ar em volta se tornou rarefeito até para Apolo, damas agarravam o braço de seus acompanhantes na tentativa de fugir do frio que caíra sobre eles, tudo era tão perturbador que até mesmo a lua se escondeu entre as nuvens densas da noite antes limpa. Já era chegada a hora de Apolo finalizar seu trunfo, erguendo as mãos e utilizando perfeitamente sua magia o sangue no cálice começou a agitar-se. Fechando os olhos e respirando calmamente, Apolo ergue suas mãos até a altura de seus cotovelos fazendo o sangue trasbordar uniformemente seguindo linhas perfeitas, subindo até as mãos, entrando pelas mangas cumpridas e largas sem ao menos manchar o tecido, mais uma prova do controle formidável de Apolo sob sua magia, o sangue seguia do cálice até suas mãos e das mãos até seu pescoço, formando desenhos vivos seguindo o controle impecável do rei, símbolos que poucos ali conheciam, mas todos acabavam próximos a boca e olhos de Apolo, prestes a encostar neles e continuar os traços de sangue. Apenas quando todo o sangue do cálice havia passado por suas mãos Apolo abriu os olhos e soltou o pergaminho ao chão e ainda com a adaga em mãos, o rei limpou o sangue de Zefat nela utilizando de suas habilidades. - Suplico a Luz.
Renego as Trevas! - Com a adaga pronta, Apolo corta seu pulso direito verticalmente como se fosse incapaz de sentir qualquer dor, fazendo sangue jorrar em cima do pergaminho, assim que termina de pronunciar a penúltima frase da maldição Apolo sorri como nunca antes, erguendo o rosto para cima e com um movimento rápido de seus dedos os desenhos feitos de sangue agora estão aproximando-se ainda mais de seus olhos e boca, esperando apenas o comando de seu mestre. Com uma voz carregada de poder, sem esconder qualquer parte de sua natureza, Apolo finaliza. - Eu serei o centro dessa guerra entre luz e trevas. - O sangue agora entrara com toda a força pelos cantos de seus olhos e boca, destruindo os símbolos construídos cuidadosamente anteriormente, mas isso estava longe de ser tudo. O estrondo de um trovão antecedeu a cegante luz branca que vinha do céu e do pergaminho ao mesmo tempo, encontrando-se muito mais acima dos limites dos telhados e torres do castelo de prata, os gritos tomaram conta de todos os lados, funcionários e nobres se jogavam ao chão, tanto pela forte pressão repentina jogada em cima deles como pelo medo de ser atingido pelos estilhaços de vidro estourados sendo levados por uma forte ventania assustadora, apenas Apolo e os guardas que agora o cercavam estavam de pé, mas isso não significa que estavam confortáveis, muitos dos guardas estavam quase de joelhos, mas Apolo, Apolo nunca se sentiu tão bem. Em meio ao caos, o poder e a dor Apolo apenas teve a confirmação de algo que já sabia, ninguém podia parar um Deus e ele estava muito acima de um reles rei, porque ao comando dele sozinho, o mundo se reduziria a cinzas, o poder invadindo suas veias e o esmagando por dentro foi de longe a melhor sensação sentida por Apolo, agora absoluto, sem mais sangue e qualquer parte de seu corpo, incluindo o corte já cicatrizado em seu braço, assistia o clarão que iluminava o céu diminuir aos poucos assim como a ventania voraz e a força do ar sobe todos. Assim que tudo se acalmou, Apolo deu as costas e se retirou sorrindo em meio ao caos.
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