23
Acho que vou morrer.
Não ironicamente, eu realmente acho que vou infartar agora mesmo na frente de Hyunjin enquanto ele olha emocionado para nossas mãos unidas.
Eu chorei. Chorei igual o idiota bobão apaixonado que sou. E é tudo culpa dele.
Hoje eu tive um misto de emoções fortes, mas esse dia não poderia terminar melhor, mesmo que de uma forma atrapalhada e extremamente romântica, bobinha e apaixonada.
Mas, recapitulando meu dia vergonhoso, desastroso e romântico, devo começar dizendo que acordei com Jeongin batendo em minha porta, coisa que já não era mais tão comum aqui em nosso apartamento a uns tempos atrás.
Eu até achei que era, sei lá, umas quatro da manhã e eu tava tendo mais um pesadelo desesperador com o demônio que me colocou no útero da mamãe. Mas, não. O escândalo de Jeongin era por conta de meu atraso.
— Você fica até tarde conversando no celular e esquece da faculdade, bocó! — Ele disse, me fazendo revirar os olhos.
Ele ainda tem essas atitudes fofas e carinhosas de se ver como minha mãe. Se bem que, nem mamãe me acorda aos berros assim... Ok, mania de melhor amigo é a forma certa de chamar isso que ele faz.
— Eu não passei a noite no celular! — Me defendi, ficando ofendido. — Aliás, a última vez que peguei no celular ontem foi para falar com meu docinho.
— Que melosidade. — Ele riu, revirando os olhos. — Sinceramente, não quero saber as coisas bobinhas que vocês falaram antes do piticuxo dormir, só quero saber de não nos atrasarmos para a faculdade! — Respondeu, caminhando até seu quarto. Ele parecia ansioso.
Ri baixinho, olhando ao redor e percebendo que mamãe já tinha levantado da caminha provisória — o sofá — e provavelmente estava na cozinha, preparando nosso café da manhã. Respirei fundo e caminhei de volta ao meu quarto, tomando um banho e colocando uma roupa confortável e quente para ir à faculdade, estávamos perto do inverno e o tempo já começava a esfriar bastante.
Durante essas primeiras semanas de aula, eu tive completa paz no prédio universitário. Sohui e seu irmão aparentemente homossexual homofóbico, não me incomodam mais como costumavam fazer.
— Bom dia, mãe... — Sorri, a abraçando pelas costas e dando um beijo em sua bochecha.
Às vezes ainda me parece um sonho tê-la aqui comigo. Morando comigo novamente e fazendo coisas que costumava fazer quando ainda morávamos juntos.Eu não consigo imaginar como aguentei tanto tempo sem seus abraços e concelhos reconfortantes.
— Bom dia, filho! — Ela sorriu, voltando a fazer o que fazia. — Acordou tarde hoje, sim? Aconteceu algo?
— Só muito sono. — Suspirei, caminhando até a geladeira e tomando um pouco de água. — Viu Myung hoje? — Perguntei, olhando ao redor e não vendo meu gatinho em nenhum canto da cozinha.
— Ah, ele apareceu aqui mais cedo mas já deve estar na sala ou se aninhando em seu quarto. — Sorriu, me fazendo concordar. — Vá terminar de se arrumar, filho, quando acabar o café chamo você e Innie.
— Te amo, mamãe! — Lhe dei mais um beijinho na bochecha, voltando para meu quarto e procurando por um tênis.
Eu estava ansioso para o que o dia de hoje me reservava, não sabia o que iria acontecer — Até porque não sou nenhum adivinhador — Mas meu coração estava acelerado e minha ansiedade ativada desde a ligação de Hyunjin ontem a noite.
E, quando eu iria sair do quarto, já devidamente arrumado e com a minha bolsa de lado, meu celular vibrou no bolso da calça, e era Hyunjin mais uma vez. Eu confesso que dizer a mim mesmo que o amo, me deixou ainda mais abobado e boiola que o normal sempre que o vejo ou falo com ele. Se é que é possível ficar mais bestinha toda vez que ele abre a boca para falar.
— Docinho? — Chamei, rindo fraquinho quando ele fez um som engraçado ao notar que foi atendido.
— Bom dia, Lixie! — Foi a primeira coisa que disse, me arrancando mais um sorriso.
— Bom dia, Hyun. — Respondi, caminhando até a cozinha depois de um chamado da minha mãe. — Aconteceu algo? Ou é saudades de ouvir minha voz mais uma vez? — Provoquei, rindo fraquinho quando ele resmungou e os olhares curiosos de mamãe e Jeongin me atingiram.
— V-você não sente falta de ouvir mi... Minha voz também? — Perguntou, me deixando de olhos arregalados de bochechas quentes. Sua entonação vocal era provocadora.
Quando foi que ele ficou tão atrevidinho assim?
— Você não faz ideia da saudade que sinto...— Sorri, colocando um pouco de leite com café para mim. — Aconteceu algo? — Mudei de assunto.
— Lixie, l-liguei so... Só para dizer que não p-precisa me pegar na escola. — Ele disse, sua voz soando mais distante conforme ele parecia distanciar o celular do rosto.
— O que? Por que? — Perguntei, não querendo demonstrar minha chateação diante de sua notícia.
Pega-lo na escola é uma das coisas que mais gosto de fazer durante o dia. O abraço apertado que ele me dá sempre que chego é tão gostosinho...
— Felix?— Ouvi a voz de Junghyun me chamando a atenção, respirei fundo e voltei a ouvi-los.
— Está tudo bem com ele? — Perguntei, soando mais preocupado do que pensar. — Hyunjinnie teve alguma crise ou... ?
— Não, não! — Ele riu baixinho, me deixando aliviado. — Vou buscá-lo hoje, aproveitar essas semanas que estou tendo de folga e passar um tempinho a mais com ele, Felix-ah. — Explicou, me fazendo suspirar
— Certo, obrigado por avisar! — Respondi em um sorriso curto, contente pelo tempo que eles estão tendo para passar junto e chateado por saber o motivo desse tempo.
A audiência de Junghyun está marcada para semana que vem, e confesso que estou minimamente nervoso e ansioso para o desfecho que isso irá tomar. Não acredito que ele será punido por algo que ele diz não ter feito, já que está provado que ele não estava nem na cidade quando isso aconteceu.
Mas eu ainda penso que ele não está dizendo a verdade. Se ele não estava na cidade, com quem Hyunjin estava quando aquela mulher morreu? Porque ele não foi ao velório da própria mãe, que, naquela época, era tão especial para ele? Eu sinto vontade de saber a verdade para ter um certeza de que Junghyun realmente não sera condenado por homicídio, mas eu não sei se devo me intrometer nisso.
Então, quando eu iria findar a ligação inesperada de Hyunjin, sua voz robotica, como ele costuma chamar — Errar adoravelmente, às vezes — se fez presente e me fez sorrir em menos de dois segundos.
— Felix?
— Oi, doce Hyunjinnie. — Sorri, suspirando e chamando a atenção de mamãe e Jeongin, que riram fraquinho. — Está se preparando para ir à escola?
— Sim! — Eu não preciso estar em sua frente para saber que ele estava sorrindo. — C-como... Como foi sua noite?
Muito melhor depois de sua ligação.
— Dormi bem. — Sorri, mordendo o lábio inferior. — Você dormiu bem?
— Sim, sim... — Ele soltou um suspiro, me deixando confuso. Ele parecia querer dizer algo, seu nervosismo era perceptível.— Lixie...?
— Hum? — Murmurei, ainda sorrindo.
— Não esquece do nosso... Passeio. — Foi o que ele disse, me arrancando mais um sorriso grandioso.
Ele está tão ansioso para andar em Blim-blim novamente, faz algum tempinho que ele pedalou pela última vez e nós alimentamos o bicudo no lago do Parque — que possivelmente são patos diferentes mas nós fingimos que é o mesmo patinho de sempre.
E isso me deixa feliz, a alguns meses atrás ele mostrava hesitação em sair de casa e andar por aí comigo. Ele tinha medo. Possivelmente receio do que as pessoas pensariam de vê-lo. Vergonha.
Mas agora, é diferente. Ele quer ir comigo e isso me deixa muito, muito feliz mesmo.
— Jamais esqueço do que você me diz. — Confessei, rindo baixinho quando ele murmurou palavras baixas, envergonhado. — Estou atrasado para a faculdade, Hyunjinnie...
— Ah... T-tchau, Lixie! — Ele disse, mordi o lábio inferior, esperando que ele dissesse mais alguma. — Boa fa... Faculdade.
— Eu prefiro quando você chama de fadade. — Confessei, rindo. Ele murmurou algo que eu não pude entender, mais uma vez.
— Boa fadade, F-Felixie! — Repetiu, fazendo meu sorriso aumentar.
Eu amo quando ele fala assim, mesmo que não ocorra mais com frequência.
— Boa aula para você, docinho... — Suspirei, tentando diminuir meu sorriso. — Te vejo daqui quantas horas?
— Não sei... Acho que umas oito h-horas daqui até eu e papai che... chegarmos na livraria. — Respondeu incerto. Suspirei mais uma vez.
— Bitoquinhas, até daqui talvez oito horas! — Sorri, mordendo o lábio inferior antes de dar fim à ligação.
— Você é tão brega... — Jeongin resmungou segurando um sorriso, revirei os olhos.
Eu sou brega, cafona, boiola e qualquer adjetivo que possa existir para denominar o que sou, quando se trata de Hyunjin. Mas eu não me envergonho de dizer isso.
Hyunjin merece toda a breguice, cafonice e boiolice que possa existir nesse mundo. Ele merece saber que é amado por aqueles que estão à sua volta. Amado por mim.
— Innie fala como se não tivesse saído ontem às dez da noite só porque Seungmin não queria sair sozinho... — Mamãe desmascarou o sem vergonha, me fazendo gargalhar alto.
— Eu te amo, mamãe! — Falei, saindo de onde estava e lhe dando um beijinho na bochecha.
— Traidores. — Jeongin resmungou novamente, me fazendo rir baixinho. — O que aconteceu para você parar de sorrir tão bruscamente depois que Hyunjin ligou e disse algo? — Como um bom fofoqueiro que é, ele perguntou.
— Ele ligou para avisar que vai passar a tarde com Junghyun e que não preciso buscá-lo na escala hoje. — Sorri entristecido, respirando fundo.
Satisfeito com a resposta, meu melhor amigo se levantou é foi em direção ao seu quarto.
— Como Junghyun está? — Mamãe perguntou, me fazer suspirar ao tocar naquele assunto.
— Ainda muito abalado por ter que ficar sem trabalhar, mas esse tempinho que está fora do hospital ele está usando para passar mais tempo com a família. — Respondi, comendo um pouco do café da manhã delicioso que mamãe preparou para nos. — Ele diz que está tudo bem, mas sei que deixar de trabalhar por uma coisa que não fez, é muito desesperador.
— É mesmo complicado... — Mamãe disse, suspirando.
— Vamos logo, Felix-ssi, vamos nos atrasar!
— Deixa eu comer! — Respondi, rindo de sua expressão nada satisfeita.— Que horas são para você estar tão apressado assim?
— Quase oito e dez, Felix-ah! — Respondeu, deixando meus olhos arregalados.
— Por que não disse antes?! — Exclamei, rindo de sua expressão ofendida e mamãe gargalhando alto.
— Mas eu disse!
— Coma devagar, bebê! — Minha mãe disse entre risos enquanto eu enfiava ovo com carne na boca.
Depois de mastigar tudo o que estava na minha tigelinha, corri até meu quarto e peguei a carteira que estava esquecendo, dei um beijo na testa de mamãe e corri para fora do apartamento miúdo junto de Jeongin, respirei fundo quando entramos juntos no elevador e fiquei mais aliviado quando olhei em volta e vi que não tinha ninguém, além de nós dois ali.
— Espero que hoje seja como os outros dias. — Falei para Jeongin, que me olhou confuso. — Sabe? Sem Hyeon ou Sohui para encher meu saco...
— Você deveria relatar isso para o senhor Jung, foi um semestre inteiro desses dois te atormentando, Lixie!— Avisou, me fazendo suspirar mais uma vez.
— Se depender daquele idiota, eu nunca mais piso meus pés naquela universidade. — Murmurei, negando com a cabeça. — Você sabe que ele não vai com a minha cara desde que me pegou beijando Changbin na casa dele...
Aquele dia foi tenebroso.
— Já faz, sei lá, uns dois anos?! — Jeongin perguntou indignado, negando com a cabaça. — changbin já não disse para ele que é assexual?
— Com certeza, mas ele insiste em dizer que fui influência ruim para tudo o que Changbin disse para ele. — Neguei novamente com a cabeça, suspirando.
Às vezes eu paro para pensar e entender o que se passa na cabeça das pessoas para se intrometer nas escolhas das outras e acabo percebendo que não irei entender nunca. Sei que Changbin é seu filho, mas isso não lhe dá o direito de tentar se intrometer até na orientação sexual do filho ou sobre as coisas que o deixam desconfortável.
Justamente por isso que Changbin foi terminar sua faculdade em Nova York. Foi uma boa experiência para ele, mas o motivo foi completamente idiota.
— Mas não é justo você continuar sendo intimidado e assediado na faculdade e o diretor não fazer absolutamente nada só por não aceitar que o filho é homossexual e acreditar que a culpa é sua! — Tão indignado quanto eu , meu melhor amigo cruzou os braços. — Aposto que se fosse com qualquer um daquele riquinhos metidos, o filho da puta daria total atenção e falava com o concelho da universidade.
— É, mas sou pobre e ele me odeia por achar que transformei o filho dele em gay. — Sorri sem humor, suspirando. — Vamos logo, Innie, não to afim de prolongar esse assunto chato... — Disse quando as portas do elevador revelou o saguão, nós saímos direto para a portaria.
— Você deveria falar com Junghyun sobre isso. — Pontuou, me deixando de olhos arregalados.
— Tá louco? Junghyun já tem problemas demais para lidar com implicâncias de meus queridos colegas de universidade. — Respondi, negando com a cabeça. — E ele não poderia fazer muita coisa.
— Além de ser um médico renomado e influente ate para fazer o juri de Busan adiar uma audiência que poderia incrimina-lo? — Respondeu retórico, me fazendo suspirar.
— Innie... Esquece isso, só vamos logo. — Neguei mais uma vez com a cabeça, caminhando em direção ao nosso destino.
— Só não quero aqueles idiotas tomando a pouca paz que você tem, Lixie! — Ele insistiu, me fazendo suspirar pela milésima vez.
— Está tudo bem, ok? E se eles vinherem me importunar novamente, eu faço igual você e gravo a conversa. — Sorri, cutucando sua costela.
— Eu fui incrível, né? — Convencido, ele disse com um sorriso largo, me fazendo sorrir.
— Demais, acho que se não fosse sua gravação, seria impossível tirar a mamãe de lá sem um escândalo maior... — Suspirei mais uma vez, mordendo o lábio inferior.
— Você tá querendo mudar de assunto pra não falar dos riquinhos metidos? — Rindo baixinho, ele perguntou.
— Você fala como se não tivesse uma boa renda mensal. — Resmunguei mais uma vez, negando com a cabeça.
— E você também! — Acusou, rindo alto enquanto nos aproximávamos do prédio universitário. — Tem a maior poupança no banco agora e nunca disse porque juntar tanto dinheiro. — Pontuou desconfiado, mordi o lábio inferior.
— Bobagem sua. — Ri, negando com a cabeça. — Vamos entrar antes que o Jung venha me buscar aqui com puxões de cabelo. — Sorri, segurando e seu braço e lhe puxando em direção ao campus.
Nós nos separamos nos variados corredores da universidade e cada um foi em direção a sua sala. Eu estava tranquilo em relação a tudo que estava acontecendo em minha vida agora, tinha minha mãe, meus amigos e Hyunjin. Tudo que me preocupava agora era a aproximação do seu aniversário de dezenove anos e o pedido de namoro que eu estava preparando para esse dia.
Eu ficava nervoso só de pensar nisso.
Tinha que ser perfeito. Suas comidas favoritas, pizzas sem tomates e ervilhas, doces variados de morango , principalmente sua tortinha favorita, a decoração sobre seus gostos... Estava tudo montado e bem arquitetado aqui na minha cabeça, só precisava falar com nossos amigos e pedir ajuda para organizar tudo.
Assim que cheguei próximo a minha sala, meu celular vibrou no bolso traseiro da calça, denunciando uma ligação. Um sorriso abriu-se instantaneamente no meu rosto ao imaginar que seria Hyunjin novamente, mas diminuiu rapidamente ao notar ser um número desconhecido.
— Alo? — Atendi, ficando meio nervoso.
— Felix? — A voz familiar me fez prender a respiração.
Olhei para os lados e não vi ninguém nos corredores, o professor ainda não deu nenhum sinal de estar vindo para nossa sala ainda então ainda tinha um tempinho para me dar o desprazer de atendê-lo.
— Professor Kim? — Respondi de sobrancelhas franzidas, tentando entender o porquê de sua ligação antes mesmo que ele dissesse.
— Sim! Desculpe estar te ligando nesse horário. — Respondeu, parecendo mais animado.
— Ah, não. Sem problemas!— Sorri meio forçado, mesmo que ele não fosse ver.
— Eu queria saber de posso falar com você mais tarde. — Respondeu, juntei as sobrancelhas.
— O que?
— Queria falar com você mais tarde... É uma coisa meio que importante, mas não posso dizer por ligação e muito menos no meio da escola. — Começou a se explicar, me deixando ainda mais confuso.
— Ah, é... Acho que podemos, mas... — Murmurei meio confuso, suspirando relutante. — Onde conseguiu meu número?
— Hyunjin me disse que você não virá buscá-lo hoje, por isso peguei seu numero naquele grupinho que fizemos para as comemorações dos aniversariantes de setembro. — Respondeu rápido. — Desculpe novamente por ligar tão de repente, mas eu preciso mesmo falar com você...
— Sinto muito, mas acabei de lembrar que estou meio ocupado hoje... — Respondi, sentindo meu coração acelerar em nervosismo— Tenho que trabalhar depois da faculdade e no meu tempo livre ajudo Hyunjin em suas atividades e outras coisas, mas... — Dei uma pausa, pensando em uma solução para não deixá-lo constrangido com a ligação sem sucesso. — Depois das dez da noite eu estou livre.
— Posso falar com você nesse horário? — Parecendo satisfeito, ele perguntou rápido.
Suspeito.
— Claro, eu...
— Eu sei onde você trabalha, posso passar lá para te pegar e conversarmos a sós? — Me interrompeu, apressado.
É errado dizer que eu estava levemente assustado?
— Ah... Claro, sem problemas! — Foi o que eu respondi, mordendo o lábio inferior e vendo o professor virar o corredor em minha direção. — Professor, preciso desligar...
— Tudo bem, até mais tarde e pode me chamar de Yug- — Antes que ele terminasse de falar, dei fim a sua ligação e corri para dentro da sala antes que meu professor se aproximasse mais de mim.
Certo, eu estava realmente assustado com aquela sua ligação repentina.
Mas tentei não pensar muito no que ele queria falar hoje a noite comigo. Talvez me matar para ter o espaço livre, tentar conquistar o coraçãozinho ferido de Hyunjin e ser o próximo a dar bitoquinhas nele? Ok, viajei...Mas não deixa de ser uma hipótese, mesmo que bem maluca.
Durante a aula, eu prestava atenção no que era passado e também buscava na internet alianças que representavam o pouco do que eu e Hyunjin já vivemos nesses oito meses juntos, tentei buscar referências do que me faria lembrar dele assim que olhasse para o anel e meu dedo. Borboletas, fadas, flores, desenhos, músicas, o pôr do sol em uma praia... Eram tantas referências que eu não sabia qual usar para comprar uma aliança de namoro.
Faltam menos de duas semanas para o aniversário dele e eu quero que seja a melhor primeira comemoração de aniversário que ele já teve.
— Felixie! — Como se o diabo ouviu minhas preces para ter um pingo de paz durante o tempo que fico aqui na universidade, Sohui veio correndo em minha direção. — Quanto tempo! Por que não atendeu minhas ligações?
Por que será?
— Porque eu queria um pouco de paz. — Respondi, sem muita paciência.
Sei que fui grosso, mas eu estava apressado para falar com a Bae, atendente da cafeteria que comprou as tortinhas de Hyunjin, e não podia me dar a graça de perder tempo com as investidas nada discretas dela.
— Ah... — Respondeu, sem realmente parecer magoada com a resposta que teve. — Você está livre essa noite? Soube que abriu um restaurante novo próximo a sua casa e podemo–
— Restaurante? — A interrompi, mais interessado em sua conversa. — Sabe o nome?
— Food alguma coisa, mas essa informação não é importante, queria saber se você quer ir comig-
— Preciso ir, Sohui, valeu pelo convite! — Respondi, já tratando de virar o corredor em direção a saída da universidade.
Mas, como nada é como planejamos, cai direto no colo do capeta. Literalmente.
— Você tem feitiche em tropeçar e cair? — A voz do demônio me trouxe de volta à realidade depois de alguns segundos de visão turva, efeito da pressão caindo com a velocidade que meu corpo foi de encontro ao chão.
— Que porcaria... — Resmunguei, me levantando com a mão na cabeça. — Ai, desculpa e tchau.
Foi o que eu disse, tentando me afastar. Só tentando mesmo, já que ele agarrou meu pulso. Que porra...
— Sentiu saudades e já está me dando boas vindas assim? — Perguntou, sem me soltar.
Qual a dificuldade em manter distância?
— Ainda não fiquei louco. — Respondi, puxando meu braço com força para me afastar de seu aperto.
— Eu queria falar com você. — Falou, ignorando minhas investidas para sair de perto dele.
Tiraram o dia para me irritar, não é possível!
— Que pena, eu não quero. — Suspirei, voltando a me afastar de si, sendo segurado mais uma vez. — Porra, cara, me solta! — Sem paciência para sua gracinhas, o empurrei com força, fazendo ele cambalear para trás.
— Felix, merda!— Ele resmungou, ajeitando sua roupa amarrotada pelo meu empurrão é se aproximando de mim mais uma vez, com mais brutalidade e me empurrando contra a parede do corredor. — Preciso falar algo sério com você! É sério mesmo!
— Não tenho nada para falar com você, seu sem noção. — Respondi, respirando fundo em busca de alguma paciência presente em meu corpo. Segurei em seus ombros e o afastei de mim mais uma vez, dançado de toda aquela briguinha sem sentido.
— Felix, eu vim em paz e realmente preciso falar algo serio! — Ignorando novamente minhas palavras ele se aproximou, tocando em meu braço.
— Me deixa em paz ou eu espalho para todo mundo que você curte chupar pau também!— Me afastei de si novamente após a ameaça, sem prestar muito a atenção nas baboseiras que ele dizia.
— O que...?
— Só me deixa em paz, seu babaca. — Me afastei quando ele tentou se aproximar, com uma expressão de horror estampada em seu rosto.
— De onde você tirou essa informação?! — Mais alterado, ele perguntou.
— Lixie? — Jeongin, meu eterno salvador, apareceu. — Algum problema?
— Não, já estava virando o corredor para sair ir embora. — Respondi em um suspiro, agarrando a alça da minha bolsa.
— Felix, é sério... —Seong- Hyeon disse mais uma vez, respirei fundo.
— Me deixa em paz, cara. — Repeti e foi a última coisa que disse antes de dar as costas para ele.
Eu e jeongin fomos em silêncio até a saída da universidade, eu ainda estava tenso sobre o que tinha acabado de acontecer e Jeongin visivelmente curioso e preocupado.
— Seria insensibilidade minha perguntar o que aconteceu? — Ele perguntou arredio, me fazendo rir baixinho.
— Não seria, Innie.
— Beleza, o que acabou de acontecer? Tipo... Lixie, ele parecia preocupado. — Falou, me fazendo revirar os olhos.
— Innie, aquele filho da puta só queria me irritar e arranjar um brechinha para me humilhar. — Neguei com a cabeça, sem querer dar atenção para aquele assunto.
— Ele disse alguma coisa?
— Não, eu não quis ouvir. — Respondi, suspirando. — Mas Sohui me deu uma informação muito boa. — Mudei de assunto, vendo a expressão nata satisfeita no rosto do meu melhor amigo apenas aumentar.
— E aquela lá fala alguma coisa que preste? — Perguntou retórico me fazendo rir.
— Você ficou sabendo de algum restaurante que abriu perto de casa esses dias? — Perguntei, querendo saber se aquela informação era realmente correta.
— Me disseram que sim...
— Maravilhoso! — Sorri, respirando mais aliviado. — Eu estava conversando com a mamãe ontem antes de ir dormir e ela disse que queria arranjar um emprego o quanto antes e...
— Que demais! — Jeongin me interrompeu, ri baixinho com sua animação repentina. — A tia com certeza vai conseguir esse emprego! Ninguém em sã consciência deixaria ela e suas mãos mágicas fugir de um restaurante que acabou de inaugurar!
— Foi exatamente o que pensei! — Sorri, animado com a ideia. — Preciso ir, vou passar ali e depois vou almoçar com vocês em casa.
— Não vai direto para a livraria?
— Eu só entro às duas da tarde, ainda tenho um tempinho até esse horário. — Sorri, lhe abraçando em despedida. — Até já!
Me despedi e segui caminho até a cafeteria que ficava próxima a universidade, sorrindo assim que Joohyun me viu e acenou com uma das mãos.
— Boa tarde, Noona!! — Sorri mais abertamente,parando em frente a vitrine com vários docinhos que me dão dor de barriga só de ver.
— Boa tarde, Felix-ssi. — Sorriu ao se aproximar mais de mim — Acho que você está meio adiantado, quarta que vem ainda está meio longe. — Disse em tom zombeteiro, me arrancando uma risada curta.
— Na verdade, queria perguntar quanto fica se eu encomendar cinquenta fatias daquela tortinha de sempre... — Comecei dizendo, mordendo o lábio inferior.
— Oh... São muitas, mas...
— E mais vinte desse mousse de morango, mais uns cinquenta desse pão recheado com morango e...
— Minha nossa, calma Felix! — Ela riu baixinho. Respirei fundo.— E o pão recheado são minis croissants de morango. — Deu risada novamente, cocei a nuca meio envergonhado.
— Pode me trazer o cardápio de doces? — Pedi, sorrindo para ela.
— O que vai fazer? Um pedido de casamento? — Riu de maneira fraca, me passando o cardápio de doces e arregalando os olhos com a minha falta de jeito e respostas. — Calma, você vai pedir o bonitinho em namoro?! Meu Deus, depois de tanto tempo!
— Joo, cala a boca! — Pedi, balançando as mãos em sua frente, meio desesperado. — E... Sim, eu estou montando uma festinha para pedir ele em namoro no dia do aniversário dele...
— Porra... — Ela murmurou, tapando o sorriso com a mão. — Que coisa fofa, Felix-ah!
— É, se eu não infartar até o dia primeiro de setembro. — Sorri sem humor, mais nervoso que o habitual.
— Fica tranquilo, amigo! Se precisar, eu posso te dar umas diquinhas de como não morrer antes de pedir ele em namoro. — Deu uma piscadela, me fazendo rir baixinho.
— Isso parece título tutorial no YouTube.— Ri ao dizer, negando com a cabeça.
— Descobriu meu segredo! — Ela lamentou, fingindo chateação.— Pode ser difícil você escolher todos os docinhos agora, então acho melhor você tirar uma foto e me mandar os que vai querer por mensagem. — Mudou de assunto, me fazendo suspirar aliviado com sua sugestão.
— É, você tem razão. — Tirei o celular do bolso, fazendo o que ela disse e tirando fotos de todo o cardápio de doces.
— Quando você vai me apresentar o degustador da maioria das tortinhas de morango vendidas aqui nos últimos seis meses? — Perguntou depois de alguns poucos segundos em silêncio, me fazendo rir.
— Se prepara para conhecer meu docinho dia primeiro de setembro. — Respondi, rindo ainda mais quando seus olhos se arregalaram.
— Está falando sério?!
— Não deixaria a responsável pelo sabor gostoso da tortinha favorita dele fora desse evento que está praticamente me fazendo cagar nas calças. — Disse sincero, ouvindo sua risada ecoar pela cafeteria.
— Então chame minha mãe. — Disse ainda sorrindo, pegando o cardápio quando a entreguei.
— Pode chamar a tia também. — Brinquei, guardando o celular no bolso e olhando para a entrada da cafeteria quando os sininhos que anunciavam a chegada de alguém, tocou.
Eram Seong-Hyeon e Sohui.
Santa divindade, era so um minuto de paz...
— Só pode ser brincadeira... — Murmurei, perdendo qualquer resquício de humor em meu corpo.
— Chama minha mãe de tia mais uma vez que ela... — Ela foi parar de rir, encarando meu rosto. — Aconteceu algo?
— Sohui, eu já disse que não estou nem aí para o que você pensa! — Foi a única coisa que Hyeon disse após olhar para frente e me ver.
Ele ficou praticamente da cor de um papel depois que percebeu que eu estava ali. Diferente de Sohui, que apenas sorriu e acenou, se aproximando.
— Te aviso os docinhos que escolhi por mensagem, está bem? — Sorri de maneira forçada para Joohyun, que apenas acenou com a cabeça.
— Felixie, o convite para jantar está-
— Sinto muito Sohui, mas já disse que não tenho interesse em você. — Suspirei, seguindo caminho para fora da cafeteria. — Sem jantar para nós dois, mas agradeço pelo convite.
— Esse babaca não te merece, Soso. — Suspirei ao ouvir aquilo,olhando para Seong-hyeon uma última vez e soltando um riso curto quando seus olhos parecerem captar cada coisa que eu pensava.
Ali não parecia o cara que estava praticamente implorando para conversar algo "importante"... Confuso.
Mas não deixei aquilo estragar minha tarde. Corri direto para o meu prédio e sorri quando vi mamãe e Jeongin já comendo, sentados na mesinha de quatro lugares da nossa pequena cozinha.
— Não acreditei quando Jeongin disse que você iria mesmo almoçar aqui em casa. — Minha mãe disse assim que me viu, levantando e colocando mais um prato para mim na mesa. Como foi hoje na faculdade, bebê?
— Foi tranquilo, mamãe. — Respondi, me sentando ao lado dela e ouvindo Jeongin rir.
— Viu, tia? Eu disse que ele iria mentir! — Acusou, me dando um peteleco na cabeça.
— Mas foi! — Tentei me defender, colocando um pouco da comida deliciosa da mamãe em meu prato.
— Por que não me disse que estão te incomodando na escola, filho? — Ignorando meu protesto, ela disse num suspiro chateado.
Sorri, acho que às vezes ela esquece que eu sou um adulto de vinte anos.
— Eu consigo me defender sozinho, mamãe. — Sorri para ela, suspirando logo em seguida. — E está tudo bem, Hyeon nem disse nada demais, parecia mesmo era querer dizer qualquer bobagem a sós comigo.
— A sós? — Jeongin juntou as sobrancelhas em confusão.
— Sim, mas tenho duas coisas importantes para dizer para vocês... — Mudei de assunto, esperando que ele me desse total atenção.
Coisa que não foi muito difícil, já que Jeongin praticamente deixou a comida de lado para me ouvir.
— Mamãe, descobri agora a pouco que estão abrindo um restaurante aqui perto de casa e... Bem, acho que a senhora se daria bem conquistando sua independência financeira trabalhando com algo que goste!— Disse a encarando, vendo um sorriso emocionado nascer em seu rosto mais saudável.
— Eu adoraria tentar, Felix-ah! — Respondeu animada, me mandando um beijinho no ar.
Bitoquinhas, como Hyunjin prefere chamar.
Mas prefiro usar bitoquinhas apenas com ele. É mais uma forma que me deixar bobão.
— Posso ir lá com você amanhã, mãe. — Sorri, vendo Jeongin balançar a cabeça fielmente, dizendo que também iria.
— E a outra coisa que iria dizer, Lixie? — Ele perguntou, me deixando nervoso automaticamente ao lembrar do que se tratava.
— Eu... E-eu estou planejando pedir o Hyun em namoro no dia do aniversário dele e-
— Você o que?! — Jeongin gritou, assustando eu e minha mãe. — Q-quero dizer, nossa, Lixie! Que demais hahaha... Que dia é mesmo? — Perguntou de maneira nervosa, me deixando confuso.
— Em março, dia doze... — Mordi o lábio inferior,suspirando. — Quero fazer algo que ele nunca vá esquecer, uma festinha surpresa de aniversário com o pedido de namor-
Eu fui interrompido quando Jeongin derrubou seu copo de suco, que por sorte, era de plástico.
— Meu Deus, que desastre, hein?! — Disse estranhamente, me deixando confuso. Ele se levantou e foi até a portinha da dispensa, onde guardávamos alguns utensílios de limpeza. — Você vai fazer o pedido mais fofo de todos, Lixie!
— É...— Mordi o lábio inferior, sentindo minha barriga se revirar ao me imaginar de joelhos em frente a Hyunjin para oficializar nosso romance.
Nosso romance.
Ainda é novo dizer algo assim, é estranhamente bom dizer em pensamento e em voz alta que eu quero oficializar meu romance com ele. Quero usar alianças combinando e chamá-lo de meu namorado para quem quer que seja.
Meu namoradinho.
— Tem que ser perfeito. — Disse então, tratando de encher a boca de carne. Estava constrangido.
— Tenho certeza que Hyunjinnie ficaria imensamente feliz se você aparecesse só com um cacto e lhe pedisse em namoro, meu amor. — Mamãe disse risonha, segurando em minha mão.
Ela tem razão, Hyunjin é do tipo que curte coisas simples e afetuosas. Mas isso não me impede de tentar dar meu melhor em seu primeiro e, se depender de tudo que eu sinto, único pedido de namoro. Vou fazer algo simples, afetuoso, cafona, brega, boiola ou qualquer outro adjetivo que possa ser usada para denominar o que vai ser feito
— Mamãe, você pode fazer o bolo de aniversário? Eu falo com Junghyun e Hwang-hee sobre isso e... Bem, dependendo da resposta, peço ajuda com os ingredientes. — Sorri, mudando de assunto.
— Claro, meu amor! — Ela sorriu abertamente, me tranquilizando. — E não se preocupe com os ingredientes, tenho uma boa quantia de dinheiro no banco e faço questão de dar esse presente para meu futuro genrinho. — Disse então, deixando meu olhos arregalado e, quando iria protestar, ela negou com a cabeça. — Já disse, filho. Será meu presente para Hyunjinnie.
— Sim! — Jeongin apareceu novamente, com um novo copinho de suco. — Já eu, vou procurar o melhor lírio de tigre desse universo para dar pro neném.
Se Hyunjin estivesse aqui, com certeza teria cruzado os braços e dito " Eu não sou neném" Com aquele biquinho emburrado e uma expressão que, em sua cabeça, é intimidadora, mas que na realidade, o deixa ainda mais fofo.
Eu amo tanto ele...
— Certo! Vou conversar melhor com a joohyun sobre os docinhos que vou encomendar, a decoração mitologia que vai me ajudar a fazer, os pratos favoritos de Hyunjin para o jantar e-
— Desse jeito você vai ter um treco, Felix-ah! — Jeongin me interrompeu. Respirei fundo e mordi o lábio inferior. — Vai dar tudo certo, está bem? Agora vai trabalhar antes que você desmaie aqui e caia duro no chão! — Riu ao dizer, mas sua expressão denunciava um pouco de preocupação.
Me despedi deles com um beijo na testa de mamãe e um abraço em Jeongin, seguindo caminho para a livraria e suspirando quando percebi o quão diferente esse dia estava sendo.
Percebi também que Hyunjin não é o único acostumado com a rotina tranquila que temos quando estamos juntos, é como se todos tirassem o dia para me importunar quando ele não está por perto — Digo isso me referindo às três bobocas de hoje mais cedo.
— Que demora, hein? — Jisung disse assim que passei pela porta de entrada da livraria, sorri.
— Passei em casa para almoçar com minha mãe e Jeongin. — Expliquei, caminhando até as escadas. — Onde estão os outros?
Tinha um pingo de esperança de que Hyunjin já teria chegado.
— Senhor Hwang-hee acabou de sair e Hyunjin com o pai bonitão ainda não chegaram. — Respondeu, me fazendo rir. — Aí, Felix-ssi?
— Sim? — Parei no meio das escadas, olhando para ele.
— Será que Junghyun desiste da sua mãe para ficar comigo? — Arregalei os olhos com sua pergunta.
Eu acho que Jisung também precisa de uma terapia severa.
— Como é?! Minha mãe o que?! — Corri até ele novamente, ignorando sua risada escandalosa.
— É brincadeira, seu idiota! — Riu ainda mais, me fazendo suspirar. — Eu ja tenho uma paixonite.
— E que história é essa de Junghyun com minha mãe? — Ainda meio desconfiado, perguntei.
— Aí você pergunta pro seu sogrão. — Deu de ombros, rindo fraquinho. — Mas, ei...— Mudou de assunto, me encarando.
É até difícil acompanhar as coisas que ele diz.
— Vai mesmo pedir Hyunjin em namoro no dia do aniversário dele? — Sua pergunta saiu sussurrada, como se qualquer pessoa entrasse aqui e nos ouvisse falando disso.
— Sim... — Respondi na mesma entonação, sorrindo abobado. — Sinto que vou infartar só de tocar nesse assunto.
— Já imaginou se ele pede primeiro? — Perguntou com um sorriso travesso dançando na boca, ri baixinho, negando.
— Faltam poucos dias para o aniversário dele, e... Acho que ele ficaria tão nervoso quanto eu para fazer isso, quero dizer, não que eu não acredite que Hyunjinnie possa fazer, eu só...
— Você fica tão bonitinho todo embolado para dizer que choraria de boiolagem se Hyunjin pedisse você em namoro. — Me interrompeu, rindo mais uma vez. — Vai logo se aprontar porque não quero trabalhar sozinho.
Resmunguei, caminhando novamente até as escadas e indo para a sala, no andar de cima. Coloquei minha mochila no sofá e suspirei, mordendo o lábio inferior. De volta para a livraria, parei no meio do corredor e olhei para trás, vendo a portinha azul do quarto de Hyunjinnie.
"E se ele pedisse?" O pensamento vagou pela minha cabeça, me fazendo rir baixinho. Mas o sorriso logo se desfez ao lembrar que faltavam menos de duas semanas para seu aniversário e eu ainda não tinha ideia do que falar, vestir, e muito menos quais seriam nossas alianças.
Sorri mais uma vez e neguei com a cabeça, caminhando até o quarto de Hyunjin em passos curtos, era como se ele estivesse ali e qualquer movimento brusco fosse lhe assustar. Suspirei ao entrar e vi suas coisinhas organizadas cada uma em seu lugar, como sempre estão, desde que eu entrei aqui pela primeira vez, lá no comecinho de janeiro.
Mas percebi que estava faltando alguns de seus desenhos nas paredes.
— Hannie, sabe se Hyunjinnie veio aqui depois da escola? — Perguntei para Jisung quando voltei para a livraria, prendendo o riso quando ele deu um pequeno pulinho, possivelmente pelo susto.
— Não veio. — Respondeu, guardando o celular no bolso de seu avental. — Agora me ajuda a organizar esses livros aqui que veio uns moleques e deixaram tudo fora do lugar.
— Seja mais gentil com nossos clientes! — Disse sorrindo, indo até onde ele estava.
— Eu sou! Mas não me impede de reclamar se eles deixarem tudo desarrumado, custa colocar no lugar? — Resmungou, me fazendo rir mais uma vez.
Aos poucos a livraria ia recebendo novos clientes, a tarde passou mais rápido do que eu imaginava e, às quatro da tarde, estava tudo tranquilo até receber uma mensagem de um número desconhecido.
Parece que todo mundo tirou o dia para me encher o saco.
Numero desconhecido
|Devolva a Taeyeon.
Era tudo o que dizia na mensagem, eu travei ao entendê-la tão rapidamente.
— Felix — Jisung chamou, tocando em meu ombro. — Ei, aconteceu algo?
Minha respiração estava descompassada com uma simples mensagem, eu ainda ficava assustado com a ideia de falar com aquele cara mais uma vez.
— Felix, meu Deus, calma! — Jisung disse preocupado, me levando até uma das cadeiras daqui. — Calma, pitoco, o que aconteceu? — Eu não consegui dizer nada, apenas levantei meu celular para que ele lesse o que tinha ali. — Esse cara ainda está te incomodando?
— E-eu...Eu fiquei com medo. — Respondi, inspirando e suspirando, tentando me acalmar. — Mas agora estou com raiva.
— Espera, me dá aqui. — Pegou o celular de minha mão, digitando algumas coisas.
— O que está fazendo? — Perguntei preocupado, olhando para ele e a forma apressada que ele digitava em meu celular.
Quando ele iirial me responder, uma pessoa apareceu na entrada da livraria, era uma garota e ela sorriu de maneira tímida ao nos ver ali.
— Ali, vai atender aquela menina enquanto eu faço isso aqui.— Jisung murmurou concentrado no que fazia.
Até pensei e argumentar, mas sabia que não daria em nada e eu confio nele para saber que não faria nada para prejudicar a mim ou a minha família.
— Boa tarde... — Disse para a moça, sorrindo gentilmente, mesmo que tivesse um furacão de sentimentos dentro do meu peito.
Apos atendê-la, fiquei mais uns segundos olhando para a porta por onde ela tinha acabado de sair, esperando que Hyunjin e Junghyun aparecesse por ali o quanto antes. Tínhamos nosso passeio hoje a tarde e ainda não fizemos suas atividades de casa. Ele sequer respondeu às mensagens que mandei hoje a tarde.
— Aqui. — Jisung disse ao me devolver o meu celular. — Agora temos mais provas contra esse babaca.
Jisung é um gênio.
Ao ler as mensagens, meus olhos foram se arregalando e um sorriso nascendo em meu rosto. Não eram mensagens, eram prints. As mensagens que aquele desgraçado havia mandado, tinham sido apagadas por ele.
Me:
Minha mãe está muito melhor
sem um nojento como você|
Número desconhecido
|Fala isso de novo que
eu te arrebento, moleque!
Me:
Você só pode está muito
louco de me mandar essas mensagens|
Número desconhecido
|Eu só quero a minha mulher
de volta, devolva e vou deixar
você e esses nojentos dos Hwangs em paz.
Me:
Minha mãe não vai
voltar a ser sua escrava,
e o que quer dizer em
deixar os Hwangs em paz?|
Número desconhecido
| Não vou cair nesse seu
joguinho de psicólogo.
|Devolva a Tae e não terá nenhuma consequência.
Me:
Soque essa consequência
no seu cu. |
Número desconhecido
| Fale assim de novo comigo
e eu te viro do avesso, desgraçado!
Me:
Não incomode mais a gente
ou você vai se foder mais
do que o previsto. |
Número desconhecido
| Hyeon ainda vai te
fazer uma visitinha.
Ao ler a última mensagem, meu coração acelerou mais uma vez.
Ele também conhece Seong-Hyeon. Ele possivelmente é mais um de seus capangas.
" Você me lembra seu pai" As palavras daquele sem noção rodearam minha cabeça novamente, trazendo lembranças nada legais.
— Você conhece esse Hyeon? — Jisung perguntou perante a minha falta de resposta, suspirei e concordei. — De onde ele é?
— Jeongin disse que ele era de Incheon, ja meu outro amigo disse que ele é de Busan... — Mordi o lábio inferior, meio nervoso. — Esse cara é um completo desconhecido, na verdade.
— É esse tal de Hyeon que te incomoda na faculdade?
— É esse filho da puta mesmo! — Falei, andando de um lado para o outro. — Descobri que Ji-hoon mandou Jungkook para foder com minha vida aqui em Seul, e que anda me perseguindo mesmo sem que eu perceba! — Mais irritado, eu disse ao parar em sua frente.
— Precisamos descobrir qual é a desse Hyeon. — Jisung disse pensativo, olhando para lugar nenhum. — Ele disse alguma coisa para você esses dias?
— Ele e a irmã ficaram uns dias sem ir pra faculdade, mas... Hoje ele apareceu dizendo que queria conversar algo sério. — Respondi, não sabendo o que sentir sobre isso.
— Irmã? Acha que ela está envolvida nisso?
— Que? Não... Conheço Sohui desde que entrei na universidade, ela é só meio obcecada por mim, mas não chega a ser doentio assim.— Respondi, negando com a cabeça.
— Obcecada? — Mais interessado, ele perguntou.
— Deus me livre, Hannie, você fica meio assustador assim.— Respondi, rindo fraquinho.
— O quão obcecada ela é, Felix? — Ignorando minhas palavras ele perguntou.
— Meio que... Um pouco. Ela já me embebedou um tempo atrás para ficar comigo.— Respondi, ficando meio nervoso. Seu olhar me instigou a continuar a falar. — Vive me chamando para encontros, sabe magicamente onde eu trabalho, conhece meus gostos...
— Sobre o acontecimento dela te embebedar, você lembra de alguma coisa?
— Sim, eu não estava completamente fora de mim, eu meio que quis também.— Ri sem humor, mordendo o lábio inferior.
— Me sinto um perito criminal assim, mas precisamos resolver isso.— Ele disse ainda sério, andando até a minha antiga mesa de trabalho, o caixa, e pegando um papel. — Me diga o nome daqueles que você tem suspeita de ter algum envolvimento com seu pai nos últimos anos.
— O que? Por que?!
— Meu tio é detetive e vai me ajudar nisso. — Respondeu simples, me deixando de olhos arregalados mais uma vez.
— O que?!
— Felix, seu pai está ameaçando não só você, mas seus amigos e futuro namoradinho também, pode ter mais pessoas te vigiando e isso não é certo. — Explicou, me deixando de olhos arregalados. — Os nome, Ji...
Comecei dizendo, respirando fundo e tentando lembrar dos nomes daqueles que conseguia.
Alguns minutos depois, cerca de três ou quatro, meu celular tocou novamente, sorri ao ver o nome de Hyunjin brilhando na tela.
— Oi, docinho! — Disse ao atender, mudando completamente meu humor.
— Lixie! — Sua voz soou meio distante, me deixando meio apreensivo.
— Hyunjin? Aconteceu algo?
— Pode pegar b-blim-blim e... E vir para o parque? — Respondeu, me deixando ainda mais apreensivo. — Por favor, lixie!
— Aconteceu alguma coisa? — Meio assustado, perguntei novamente.
— Não, Felixie! — Riu fraquinho, me deixando mais tranquilo. — Vem?
— Vou, docinho. — Finalmente, sorri, colocando a mão no peito e suspirando mais uma vez. — Que susto você me deu...
— A-aconteceu alguma coisa? — Foi sua vez de perguntar, parecendo preocupado também.
— Nada de mais, Hyunjinnie. — Respondi com um suspiro. — Chego ai daqui a pouco, está bem?
— V-vem rapidinho! — Foi a única coisa que disse antes de dar fim a ligação.
Porra, quase tive um treco so de imaginar que alguma coisa pudesse ter acontecido com ele e Junghyun, ainda mais depois das coisas que eu e Jisung acabamos de conversar.
Avisei para Jisung que estava indo encontrar Hyunjin no parque, ele riu e resmungou que eu estava lhe deixando sozinho mais uma vez com um monte de adolescente cheios de hormônio que nem sempre iam a livraria para comprar um livro e sim, ver e contemplar sua beleza estonteante.
Sinceramente? Eu sonho em ter uma auto-estima e amor próprio tão admiráveis como a do Hannie.
Fui até a garagem e peguei a bicicletinha azul de Hyunjin, colocando minha mochila na cestinha e me equipando com alguns equipamentos de segurança. Pedalei rapidamente em direção, sorrindo sem perceber ao pensar no que poderia acontecer no nosso parque favorito. Eu estava meio ansioso, não o via desde ontem e já sentia falta de seu sorriso sorriso e palavras gaguejadas .
Conforme eu me aproximava, o nervosismo aumentava, e eu sequer conseguia controlar a velocidade que meus pés pedalaram em blim-blim, só consegui respirar adequadamente quando vi Junghyun e Hyunjin paradinhos em frente a entrada do parque, me esperando.
— Chegou rápido, Felix-ssi! — Junghyun disse com um sorriso pequeno nos lábios, me ajudando a tirar os acessórios de segurança enquanto Hyunjin continuava paradinho ao lado do carro do pai.
— Vim o mais rápido que pude. — Confessei, sentindo minha respiração mais acelerada do que estava enquanto vinha pedalando. — Cansei um pouco. — Disse, levando a mão até o peito, tentando normalizar minha respiração.
— Bem... Eu vou indo. — Ele disse, rindo fraquinho é me deixando confuso.— Me liguem quando tudo acabar, venho buscá-los.
— Tudo o que? — Perguntei ainda mais confuso, olhando para Hyunjin. Ele parecia mais nervoso e amuadinho que o normal.
— O passeio, oras! — Junghyun disse sorrindo, indo até Hyunjin e lhe dando um beijinho na testa, murmurando alguma coisa e abrindo a porta do motorista. — Se cuidem, meninos! Nada de ficar subindo nas raízes das árvores, está bem, Hyunjinnie?
— Pai...
— Hyun...? — Perguntou em tom de aviso, me fazendo rir baixinho.
— Está bem, papai... — Disse de uma vez, me arrancando um sorriso curto.
Observamos Junghyun dar partida no carro e sumir dentre os demais carros no asfalto, suspirei e me virei para Hyunjin, tentando conter um sorriso quando sua mão direita parou de dar tchauzinho para seu pai.
— Hum... —Murmurei, chamando sua atenção. — Oi, doce Hyunjinnie, quanto tempo!
— Oi, Felix! — Disse com um sorriso contido por seus dentinhos frontais, me olhando brevemente. — Nós vimos ontem.
— Como foi seu dia? — Mudei de assunto, virando meu corpo completamente para si e encostando Blim-blim em minha cintura.
— Foi l-legal. — Respondeu, respirando fundo. — E... E o seu?
— Tedioso, não tinha você pra me deixar bobinho. — Respondi desleixado, vendo como seus olhinhos se arregalaram por trás da lente do seus óculos de grau, ri baixinho. — Vamos entrar?
— Sim! — Foi o que disse.
— Quer ir de mãos dadas ou andando em Blim-blim?
— Dá a m-mãozinha, Lixie. — Respondeu com um sorrisinho divertido no rosto, esticando sua mão em minha direção.
Segurei em sua mão e caminhamos para dentro do Parque, sorri ao observá-lo melhor e prestando atenção em suas roupas e seu jeitinho lindo.
Hyunjin estava lindo.
Ele é lindo.
Mas estava incrivelmente mais lindo a cada dia que passava. Seus cabelos mais longos que o usual aqui em nosso país, o famoso "padrão coreano", e a cada dia que se passava, meu amor por ele aumentava. Era como se qualquer movimento, seja o mínimo feito, fosse feito para fazer com que eu me apaixonasse cada dia mais. Seus sorrisos, apertos de mãos, momentos de leitura, pintura, músicas, olhar as estrelas... Era tudo um conjunto que deixava Hyunjin ainda mais apaixonante e admirável aos olhos humanos. Aos meus olhos.
Às vezes eu me pergunto se é capaz existir ser humano tão lindo com ele, e com uma beleza angelical tão perceptível.
Sim, sim, eu sei que fui um bobão apaixonado agora. Mas eu me transformo em um verdadeiro filósofo quando se trata de admirar e proferir cada sentimento que a beleza surreal de Hyunjin me causa.
— Lixie? — Ele chamou baixinho, balançando a mão em minha frente e com um sorriso pequeno na boca. — Me... Me ouviu?
— Hã? O que? — Balancei a cabeça, voltando a prestar atenção em nossa realidade. — Meu Deus, sinto muito, Hyunjinnie! — Ri baixinho, mordendo o lábio inferior em nervosismo. — Pode repetir?
— E-Eu e papai fizemos um pi...Piquenique.— Explicou, ajeitando o moletom roxo que usava.
Ele estava com calças rasgadas. Eu nunca vi ele com calças rasgadas.
Estava lindo.
— Você se divertiu?
— Hum? — Parecendo confuso, ele perguntou.
Lerdinho, Hyunjinnie...
— Você se divertiu no piquenique? — Reformulei a pergunta, vendo suas sobrancelhas se juntarem mais ainda.
— Não é isso, Lixie! — Sua expressão se suavizou quando ele riu, negando com a cabeça.
Ué.
— H-Hyunjinnie e papai fez... fizemos um piquenique para nós dois! — Riu baixinho e apontou para mim e ele, me deixando constrangido.
Preciso falar com Minho sobre essa minha lerdeza mental que tenho às vezes. Não pode ser normal.
— Nos dois? — Fingi tranquilidade, apertando sua mão levemente.
— Sim! Alí, ô! — Apontou para um lugarzinho mais afastado do parque, justo onde ficava o lago onde alimentamos os patinhos.
Tinham duas pessoas paradas lá, acenando para mim e Hyunjin.
Era Jeongin e Seungmin.
Certo... O que estava acontecendo aqui?
— Aqueles dois são Jeongin e Seungmin? — Sabendo exatamente a resposta, perguntei para Hyunjin, que sorriu ao concordar. — Ok...
— Vem, Felixie! — Puxou minha mão devagarzinho, me levando de encontro onde estava nossos amigos e a pequena surpresa que tinha ali.
Estava lindo...
Estava tudo lindo e eu não sabia o que pensar.
Não sabia como agir. Não sabia como agir e o que pensar.
— Meu Deus, lixie, finalmente chegou! — Jeongin disse assim que eu e Hyunjin nos aproximávamos, seungmin riu baixinho.
— Felix tem as perninhas curtas, por isso demora para dar a volta no pedal da bicicleta. — Respondeu em uma provocação, neguei com a cabeça enquanto Jeongin e Hyunjin tentavam esconder a risada.
— Tenho sua altura! — Retruquei, soltando Hyunjin brevemente para encostar blim-blim em uma árvore perto de nós. — Por que estão aqui?
— Queria que os bichos desse parque comessem toda a comida que Junghyun e a tia Taeyeon fizeram? — seungmin disse sem muita paciência, se aproximando de Hyunjin e lhe abraçando.
Minha mãe?
Calma... Minha mãe e Junghyun?!
Certo, preciso ter uma conversa séria com meu futuro sogro. — Vou fingir que não senti minha barriga gelar só de imaginar essa tal conversa.
Mas, calma. Por que todo mundo sabia disso aqui e eu não?!
— Como assim? — Foi o que eu perguntei, encarando Hyunjin que ainda estava quieto.
— seungmin, amor. Não tem bichos aqui nesse parque. — Jeongin disse entre risos, dando um abraço em Hyunjin também e, antes de se afastar, sussurrando algo.
Hum... Isso está meio estranho.
Hyunjin disse que seria um passeio, como costumamos fazer sempre. Não um piquenique.
Eu nem sabia se ele gostava de piquenique!
— Bem, vamos indo! — Meu melhor amigo sorriu, se aproximando de mim e me dando um abraço rápido. — Juízo, hein? Vejo vocês mais tarde!
Observamos eles se afastarem e eu suspirei audível, me aproximando de Hyunjin novamente, segurando em sua mão e lhe puxando em direção a toalha estirada no chão com algumas coisas cobertas por cima.
— O que você está aprontando? — Perguntei, lhe olhando meio desconfiado.
— É... É um momento de lazer! — Riu meio nervoso, parecendo que explodiria de tão vermelho que estava.
— Você e seu pai prepararam tudo? — Perguntei baixinho, me sentando junto a ele.
— Sim...— Mordeu o lábio inferior, juntando as mãos nervosamente sobre suas coxas, que estavam meio à mostra por conta dos rasgos na calça jeans. — Tem... T-tem docinho de milho.
— Hum... Deixa eu adivinhar...— Fingi pensar, não conseguindo segurar o riso quando sua cabeça tombou para o lado, denunciando sua confusão. — Tem tortinha de morango também?
— Não podia faltar... — Respondeu, tirando um dos paninhos que cobria as comidas sobre a toalha, revelando três fatias generosas de sua tortinha. — B-bitoquinhas...
— Quer agora? — Arregalei os olhos, olhando em volta para ver se tinha pessoas ao nosso redor.
É desanimador dizer isso, mas saber que preciso me certificar e tomar cuidado com o ambiente que vou beijá-lo, me deixa entristecido.
— N-não! — Se defendeu, crescendo os olhos ainda mais.
— Não quer mais minhas bitoquinhas? — Fingi um choramingo curto, segurando o riso quando a expressão de Hyunjin ficou exatamente ao emoji favorito de Jeongin, aquele com a metade do rostinho azul e uma gotinha de suor descendo.
Fofo, Santa divindade. Que gracinha de garoto.
— Não é isso! — Se defendeu, foi quase impossível segurar mais uma gargalhada curta. — Eu só... D-deixa pra lá. — Resmungou, balançando a perna.
— Ei, seu bobinho. — Segurei em sua mão inquieta, trazendo-a de encontro a minha boca e dando um beijo ligeiro. — Estava brincando, entendi o que você quis dizer.
— Jura? — Levantou o mindinho da mão que eu havia beijado a alguns segundos atrás.
— Juro. — Juntei com o meu, lhe dando mais um beijinho na ponta do dedo, fazendo ele sorrir.
Eu amo quando ele sorrir assim, franzindo o nariz e fechando minimamente os olhos.
— Por que não disse que estava preparando um piquenique? — Mudei de assunto.
— Era surpresa...
— Eu amei. — Respondi, ajudando ele a tirar os paninhos que cobriam cada uma das coisinhas que ele trouxe.
Acho que ele não sabia que seria somente nós dois aqui, trouxe comida para um batalhão inteiro! Eu nem como tanto assim, Hyunjinnie...
— Aquilo é pizza?! — Perguntei animado, me esticando para pegar uma fatia das que estavam na caixa de papelão, ouvindo a risada escandalosa e contagiante de Hyunjin ecoar ao nosso redor.
— Sim, Lixie... — Respondeu quando foi parando de rir aos poucos, pegando uma das fatias de torta e comendo também.
Nós ficamos em silêncio por um tempinho, apenas aproveitando a presença um do outro enquanto trocamos sorrisos sinceros e poucas trocas de olhares. A cada segundo que se passava, meu coração dava palpitadas irregulares, consequência das incertezas aqui dentro de mim e das coisas que eu e Jisung conversamos lá na livraria, mas eu não queria pensar nisso naquele momento, só queria aproveitar o momento de paz que tenho quando estou ao seu lado.
— L-Lixie, eu queria te dar uma coisa... — Ele disse depois de um tempinho, procurando por algo no bolso de sua calça.
Endireitei minha postura e dei toda minha atenção para o que ele iria me entregar, meus olhos se arregalaram quando suas mãos trêmulas me ofereceram um envelope.
— O que é isso, docinho? — Com as mãos mais trêmulas que as suas, devido ao nervosismo crescente, segurei o envelope de cor lilás e trouxe para mim, observando Hyunjin esfregar as mãos um mas outras.
Eu estava começando a entender o que estava acontecendo ali. Mas ainda não conseguia acreditar no que minha mente estava pensando.
— Leia... — Pediu, rindo de um jeitinho nervoso. — E... E q-quando chegar nas palavras "Estou pronto" no último p-parágrafo, diz para mim.
— Você está me deixando nervoso! — Confessei, rindo sem muito humor e abri com cuidado o envelope, sentindo meu coração acelerar.
"Oi, Felixie, aqui é seu Hyunjinnie
Era o que dizia o primeiro parágrafo, e eu já estava com vontade de chorar.
Meu Hyunjinnie.
Meu Deus do céu.
— Isso é... — Parei de falar, respirando fundo e lhe olhando por poucos segundos, vendo duas bochechinhas mais rosadas que o normal e suas mãos inquietas apertarem uma a outra, assim como seu tronco se movia lentamente para frente e para trás.
Ele também estava nervoso, e perceber isso me deixa ainda mais nervoso. Mas também estou feliz. Aquele envelope era uma declaração sua.
Perceber aquilo, fez a vontade de cagar aumentar. Não me disseram que sentir o diabo dessas borboletas na barriga fosse ser tão constrangedor e gostosinho ao mesmo tempo.
— São c-coisas que Hyunjinnie não consegue falar vê... V-verbalmente. — Confessou, fazendo meu coração palpitar forte mais uma vez.
Respirei fundo e voltei a dar atenção para o papel azul em minha mão, coloquei o envelope lilás em minha coxa com cuidado para não amassar mais do que já estava, e com um suspiro apaixonado, voltei a ler o que estava escrito ali com sua caligrafia encantadora.
Com o tempo e boas aulas de Changbin e... Bem, de Yugyeom, a caligrafia de Hyunjinnie foi melhorando cada vez mais.
"Lixie, gostaria de pedir desculpas por não conseguir dizer isso com a minha voz, mas queria deixar claro que tudo escrito aqui, são do fundo do meu coraçãozinho e que meus sentimentos são verdadeiros.
Eu peguei paixão, lixie, e a culpa é sua."
— P-pegou.. pegou paixão? — Juntei as sobrancelhas, rindo baixinho da expressão usada.
Por que ele tem que ser tão apaixonante a cada dia que passa? Não acho justo...
— lixie, n-não fica parando! — Pediu rindo de nervoso e tão envergonhado quanto eu, me fazendo rir e suspirar, voltando a ler sua cartinha de declaração.
— Desculpe, docinho.
"Pode parecer estranho dizer assim, mas eu me sinto mais livre enquanto escrevo essa cartinha e vou lembrando de todas as coisas que passei nos últimos meses. Todas as memórias boas que tenho, são com as pessoas que mais amo nesse mundo todinho, Felix, e você está incluso nessas memórias tão importantes e animadoras.
Eu estou nervoso, ansioso, com medo e meio inseguro, mas não tenho dúvida do que sinto por você, papai disse que seria mais fácil se eu me declarasse por cartinha e confesso que estou mais aliviado de dizer tudo isso aqui, acho que eu travaria se fosse dizer tudo com a minha boca, iria gaguejar mais que o normal e você não entenderia muito fácil... Mas, lixie, eu peguei paixão e foi por você. "
— Hyunjin... — Murmurei choroso, sentindo meu peito doer com a velocidade impressionante que meu coração se movia.
Ele estava apaixonado por mim. Eu já sabia, mas ouvi-lo — Ler— ele falando isso, é tão bom...
— Termina de ler, lixie. — Pediu baixinho, voltando a enfiar a mão direita no bolso de sua calsa.
" Eu queria poder dizer quando foi, em que momento meu coração te escolheu para ser o menino que eu me apaixonei, mas não sei. Então, quando percebi, meu amigo Google estava cheio de perguntas sobre você, sobre o que fazer quando sente as borboletinhas na barriga, o que significava o coração bater forte demais, se bitoquinhas eram boas, porque parecia tão nojentinho encostar uma boca na outra, o que significava querer estar o tempo todo perto... De repente, você foi tomando minha cabeça e meus pensamentos, mas já tinha meu coração apenas para você, Felix...
Eu queria poder dizer mais coisas, fazer você esquecer tudo que aquele homem sem coração fez para o Felixinho criança, fazer você esquecer o que as pessoas ruins já disseram e machucaram seu coração de criança, adolescente e mini adulto, mas eu não sou um Deus mitológico que pode mudar o tempo ou as coisas que aconteceram no seu passado, muito menos uma fadinha que pode usar poderes para fazer você esquecer cada dorzinha que já fizeram em você..."
Eu estava chorando.
Eu tentei segurar, mas eu amo tanto esse garoto que não consigo segurar meus sentimentos avassaladores! Como... Como ele pode fazer isso comigo?!
— Lixie? — Sua voz saiu preocupada. Ele se aproximou minimamente de um e usou um lencinho para limpar minhas lágrimas teimosas. — Está tudo bem?
— Porra, Hyunjinnie... — Murmurar, sem me dar espaço para corrigir o meu xingamento e lhe abracei, dando um beijinho em sua cabeça enquanto seu rosto foi de encontro com meu peito e seus braços rodearam minha cintura, fazendo movimentos meio desengonçados com seus dedinhos longos, em um carinho atrapalhado.
— Termina, Felixie. — Sua voz saiu quebrada, como se ele estivesse segurando o choro.
Suspirei e levantei a cartinha até a altura de sua cabeça, apoiando minha mão ali.
" Mas eu gostaria de estar presente em suas conquistas daqui para frente, Lixie, não sou nenhuma criança que não sabe de verdade o que quer. Eu quero ter você ao meu lado também, quero ler com você todos os livros que tem no mundo durante todas as noites, quero pintar mais essa obra de arte que você é, quero poder dar bitoquinhas mais intimamente com você, lixie, quero tudo o que pessoas apaixonadas tem direito de ter, tudo o que pessoas normais tem... Eu quero você, lixie"
Eu ainda vou repreendê-lo por usar esse tipo de comparação de "pessoas normais".
" Quero você todos os dias na minha vida, quero acordar cedinho e ter certeza que vou ver seu sorriso de dentinho torto e o narizinho lindo se espalhando em seu rosto vermelho quando fala comigo, Felixie.
Quero ter certeza de que sou merecedor de ter você na minha vida, cuidando e me ajudando como sempre fez desde que entrou pela portinha do meu quarto, quando vovô apareceu dizendo que iria contratar um novo funcionário. Felixie... Eu tenho certeza que quero você todos os dias comigo, e fico tão bobinho percebendo que você também me quer.
Eu sou um bobinho apaixonado por você, Felixie. "
Tudo que eu faço agora, é chorar feito o brega, cafona e boiola apaixonado que sou ao ler o próximo parágrafo, sentindo que iria realmente morrer ali.
É exagero, eu sei, até porque não sei se é realmente possível morrer de amor.
" Por isso e por muitos outros motivos, felixie, eu quero dizer que estou pronto. Estou pronto para dizer..."
A carta termina aqui.
— Acabou, docinho. — Respirei fundo, sentindo meus olhos pesados por conta do choro emocionado que tive.
E só piorou, ou melhorou, depende do ponto de vista, quando Hyunjin se afastou de mim e ficou em minha frente, sentado sobre as pernas e com uma caixinha lilás em mãos.
Uma caixinha.
Ele se sentou em minha frente e a abriu, revelando alianças.
Ok.
Sinto que realmente irei morrer de amor.
— Lixie... — Ele chamou, diante de meus olhos arregalados e meu corpo imóvel. — Hyunjinnie está p-pronto para dizer... — Começou dizendo, se aproximando mais de mim e expondo mais as alianças coloridas por alguma coisa. — Quer ser meu na... Namoradinho? Quer n-namorar comigo?
De repente, tudo ficou em completo silêncio, e quando eu pensei ter morrido e acordado em um céu de anjos magníficos, o sorriso tímido e emocionado de Hyunjin foi a primeira coisa que vi quando abri os olhos.
Eu não conseguia acreditar que aquilo estava realmente acontecendo. Era como um sonho e um tapa no rosto.
Ele pediu.
— Lixie? — Ele chamou mais preocupado, me trazendo de volta para a realidade. — Lixie n-não quer? D-desculpa, eu-
Não deixei que terminasse de falar, cortei sua linha de raciocínio errôneo com um abraço forte e choroso, distribuindo beijinhos pelo seu rosto corado e de expressão preocupada, me deixando ainda mais apaixonado do que eu já estava.
Eu amo tanto ele!
— C-claro que eu aceito! Quero muito! Quero pra caralho!— Foi a primeira coisa que eu disse, segurando em seu rostinho e distribuindo mais e mais beijinhos, pouco me importando se alguém iria ver aquilo. — Meu Deus, Hyunjinnie... Você... Você me... Meu Deus!
Eu só queria expressar toda a felicidade e emoção crescente aqui dentro de mim! Tudo estava explodindo de uma vez só! Eu... Porra! Caralho! Isso estava mesmo acontecendo?!
Hwang Hyunjin me pediu em namoro do jeito mais adorável e encantador que eu ! Eu... Cacete! Sinto que tudo dentro de mim se transformou em rosas desabrochadas e arco-íris por toda parte!
Meu Deus! Todas as Santas Divindades desse mundo pequeno demais para guardar todo o amor que sinto por esse garoto! Hyunjinnie...
— Lixie! — Ele disse entre risos, segurando em meu rosto e se afastando minimamente, se aproximando apenas para ele mesmo juntar nossas bocas que já ficaram tempo demais longe uma da outra.
Foi mais um selinho curto como todos os outros que já demos, mas eu senti meu coração pulsar como nunca antes. Ler tudo aquilo que estava em sua cartinha me fez chorar, mas foi com um sentimento tão bom tomando conta de meu corpo que eu fui completamente incapaz de controlar minhas lágrimas teimosas.
Ele me quer!
—Felixie... — Hyunjin chamou quando nos afastamos, fazendo um carinho gostosinho e minha bochecha.
— Somos namoradinhos agora. — Respondi da forma que ele havia dito segundos atrás.
Meu namoradinho Hyunjinnie. Isso soa tão bom...
— Ainda não. — Respondeu, me deixando confuso. Ele pegou a caixinha lilás esquecida entre nós dois e pegou as alianças ali.
Minha boca abriu-se novamente, quis falar algo, mas nenhum som saiu de minha boca. Eu estava em choque. Surtando!
Eram alianças de resina, personalizadas com florzinhas azuis e algo dourado. Eu quis chorar mais uma vez ali. Aquilo era... Porra! Era a coisa mais linda que eu já tinha visto!
— Docinho... — Falei sem realmente saber como finalizar minha fala, segurando em sua mão. Ele, com cuidado, segurou em minha mão direita, colocando o anelzinho menor em meu dedo anelar.
— A-agora você coloca em mim, Felix. — Respondeu, me fazendo rir baixinho e segurar em sua mão direita, colocando o anelzinho maior, enfeitando sua mãozinha longa com aquele acessório.
Nossos acessórios. Nossos anéis. Nossas alianças.
— Agora s-sim, Lixie. — Ele riu mais uma vez, ajeitando os óculos em seu rostinho tão vermelho quanto o meu. — Você é meu namoradinho...
— Meu namorado se chama Hwang Hyunjin.— Disse baixinho, juntando nossas mãos e sorrindo igual um bobinho apaixonado quando as alianças presentes ali brilharam juntas diante a luz do pôr do sol. — E eu sou o cara mais sortudo desse mundo por poder dizer isso.
Ele olhava emocionado para nossas mais, tentando a todo custo segurar o choro que, vergonhosamente falando, eu não pude segurar.
E aqui chegamos ao que eu dizia no início. Estou prestes a morrer de amor. Se fosse possível, claro.
— Lee Felix é meu na... Namorado. — Foi a vez dele dizer, suspirei me aproximando de si.
— Sabe uma junção melhor que morango e chocolate? — Perguntei de repente, rindo de sua expressão meio confusa. Eu não gosto de morango com chocolate.
— O que, Felixie? — Perguntou baixinho, olhando para minha boca.
— Lee Felix e Hwang Hyunjin juntos dando bitoquinhas. — Respondi. E então, dando fim a nossa distância desnecessária, segurei em suas bochechas e juntei nossos lábios necessitados um do outro.
E em meio a risos curtos e beijos apaixonados, pela primeira vez, eu beijei Hwang Hyunjin como meu namorado.
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