06

Crises nervosas ou colapsos emocionais. 

Naquela mesma noite, logo após chegarmos do supermercado, isso era a única coisa que se passavam pela minha cabeça quando fiquei sozinho na livraria. As crises de Hyunjin. 

As únicas coisas que eu sei, é que elas são, em partes, violentas. Quando eu voltei para casa naquele dia, só conseguia pensar em duas coisas, somente; em como me aproximar mais ainda de Hyunjin e como vou ajudá-lo caso ele tenha uma crise perto de mim. 

Na verdade, Hyunjin anda ocupando bastante meus pensamentos ultimamente, e isso me deixa intrigado. Ele desperta minha curiosidade de formas assustadoras. Intrigado, preocupado... Ansioso. Às vezes fico ansioso para que chegue logo uma da tarde para que eu vá buscá-lo na escola, e não tem motivos concretos para isso. Eu só quero vê-lo rapidamente. 

— Felix-ssi? — Jeongin apareceu na sala, coçando os olhos. 

Era uma quarta-feira, e meu primeiro dia de faculdade. Após meses sem estudar, aqui estou eu, roendo as unhas de tanto nervosismo. Já quase pronto para sair. Era para estar dormindo ainda, mas tive um sonho ruim e acabei acordando. 

— Acordou cedo, já está até pronto! — Jeongin exclamou surpreso, me olhando. — Que milagre. 

— Que nervoso, isso sim! — Disse, mordendo o lábio inferior. Omitindo a parte que tive um pesadelo, Jeongin faria milhares de perguntas se soubesse. — Meu Deus, Jeongin! Será que vou conseguir sair da faculdade a tempo de pegar Hyunjin na escola? 

— E é isso que te preocupa? — A pergunta me pegou de surpresa, franzindo o cenho. Porque estava pensando nisso? 

— N-não, é que... Hwang-hee disse que Hyunjin tem horário para comer e se chegarmos tarde por minha culpa? 

— Eu não posso te ajudar com isso, amigo. — Ele riu, negando com a cabeça. — Quero mesmo é saber quando vou conhecer o bonitinho. 

— Hum? 

— Você e Seungmin vivem falando do menino. Eu também quero conhecer ele! — Disse, cruzando os braços em seguida, suspirei. Ele nada disse depois, apenas voltou para seu quarto, provavelmente para arrumar-se para a Universidade. 

A Universidade, meu Deus! Que nervoso. 

Eu tentei me distrair enquanto organizava meus materiais na mochila, sentado no sofá da sala, mas Hyunjin veio à minha cabeça novamente. 

Eu estava disposto a descobrir coisas que Hyunjin gostava, passei a semana passada todinha o observando, discretamente, para ver quais eram seus temas favoritos de livros, ou sua comida favorita. — Doces, não tem como negar. 

Percebi que ele lê de tudo, tudo mesmo, mas o tema mais procurado por ele é fantasia. Outra coisa que eu percebi, e que me deixou bastante incomodado é que ele realmente come pouco, seu avô coloca uma quantia boa de comida para ele, mas Hyunjin às vezes não chega a comer metade do que está em seu prato. 

Almoçamos juntos, já que não tenho tempo para comer em casa, e vê-lo comer tão pouco, me deixa incomodado. 

Também percebi outra coisa; Hyunjin teve uma crise. Eu não vi, mas eu sei que teve. Na sexta-feira, ele não foi à escola naquele dia. 

Eu vi, em sua bochecha, um pequeno arranhão e também em seu cotovelo e joelho, juro que fiquei meio assustado, mas também preocupado. Eu me desesperei internamente, então, decidi que era hora de me aprofundar mais nesse assunto que eu ao menos tinha tentado prestar atenção. 

Aquilo me deixou ainda mais intrigado. Eu já li algo sobre autistas serem sensíveis à dor, mas não cheguei a pesquisar se eles realmente sentiam dor enquanto estavam naquele momento. E, na maioria das pesquisas que eu havia feito, o Google não me dava as informações necessárias. Foi quando eu percebi que nem tudo que lemos naquela plataforma, é real. Sim, o Google nos ajuda em níveis altíssimos, mas as informações que eu estava procurando sobre Hyunjin, ali, eram limitadas a estereotipadas sobre os autistas, o que não me agradou. Busquei por algo mais profundo, querendo me aprofundar ainda mais naquilo e saber como ajudar Hyunjin de uma maneira que ele se sinta confortável comigo, que confie em mim. 

Eu quero ajudar, não sou apenas o funcionário de seu avô, sou seu amigo. Decidi procurar coisas que acalmam Hyunjin, coisas que ele gosta de fazer ou até mesmo alguma coisa que gosta de assistir quando estiver entediado. Perguntei para o pai de Hyunjin— muito envergonhado, confesso. — Quais eram as coisas que ele gostava, ele me olhou desconfiado, mas respondeu. Descobri que ele ama flores, gosta de ler — Uma coisa que eu já havia notado a séculos. — e que seu livro favorito é "O pequeno príncipe". 

Isso também facilita a minha aproximação com ele. Todos os dias, das cinco às seis da tarde, no meu horário de "descanso" e logo após terminarmos suas atividades da escola, lemos um trecho de seu livro favorito. Bem, isso acontece desde quinta-feira passada. 

Uma semana atrás, as únicas coisas que Hyunjin fazia era responder — de vez em quando — As coisas que eu perguntava. Agora, ele também me procura, pergunta quando tem alguma coisa deixando-o curioso ou até mesmo pede para ler comigo. 

Eu prometi para ele que levaria uma daquelas tortinhas de morango todas as quartas se ele seguisse sua alimentação corretamente e obedecesse às regras que Seungmin colocasse, mesmo eu já descumprindo uma. Enfim, ele aceitou. 

E hoje, no meu primeiro dia de volta às aulas, a única coisa que eu penso é: Meu Deus. Eu não sou religioso, mas ultimamente tenho clamado muito algum Deus que consiga me ouvir. E existe um certo motivo para tanto clamor. 

Parado aqui no meio do Campus universitário, eu fico me perguntando internamente onde que eu estava com a cabeça quando decidi fazer psicologia. É minha profissão dos sonhos? Sim. Mas eu já havia esquecido que estudar é meio cansativo, e foi só meu primeiro dia de aula! 

Parei de estudar por motivos maiores. Foi um estouro total, insira risos desesperados aqui. 

Foi tudo muito bem armado para mim, pela pessoa que havia dito que ficaria ao meu lado a qualquer custo. E bem, custou caro. Explodir a merda daquele depósito foi uma coisa muito bem articulada, claro que eu não faria aquilo. Como tenho o mínimo de vergonha na cara, fiquei meio desconfortável em ir naquele lugar por um bom tempo, até agora.  A polícia foi envolvida, e eu quase fui preso, mas, por sorte, ao olhar as câmeras de segurança. — Algumas que estava funcionando naquele dia. — notaram que eu não havia circulado perto do depósito naquele dia. 

E agora, após minhas aulas no prédio universitário, estou mais cansado que corredor de maratona. Não lembrava que estudar era tão cansativo. 

Parecendo uma estátua humana parada aqui, eu só queria voltar para casa, pegar um potão de sorvete e comer até a barriga doer. Só queria minha cama e um bom sorvete para tomar nesse calor dos infernos. Nem sorvete tem na geladeira e eu tenho meu compromisso diário agora: ficar com Hyunjin. Quero dizer, ajudar Hyunjin e trabalhar na livraria. 

Quando eu penso em andar para fora da Universidade, Sohui está vindo em minha direção. Minha vontade é de correr até esquecer meu nome. 

— felix Oppa!? — Me chama, eu até tento andar ou me esconder na multidão de alunos universitários. —Felix Oppa! — Não deu certo. Suspirei, me virando e sorrindo para ela. 

— Que saudades Oppa! — Antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, ela se jogou contra mim, me abraçando pelo pescoço. Eu esqueci completamente dela. Não havia lembrado que ela estudava aqui, eu sou horrível! 

— Não te achava em nenhum lugar, até pensei que não tinha voltado a estudar...— Ainda me abraçando, ela falava de um jeito que me deixava muito desconfortável, extremamente próxima de mim. — Que saudades!

Ela não queria me largar de jeito nenhum. Sohui é linda, eu namoraria fácil com ela se sentisse o mínimo de atração, mas o problema é que não sinto nada. Absolutamente nada, nada além de amizade. 

— Eu também, Sohui... — Segurei em sua cintura, quase obrigando ela a me largar. 

— Oppa, está tudo bem com nós dois, não é? — Sorriu. Franzi o cenho, como assim? — Quero dizer, você não atendeu minhas últimas ligações e sempre que vou em seu prédio o porteiro diz que você não está, o que você anda fazendo nas últimas semanas, Felix Oppa? 

— Eu preciso ir... — Dou um sorriso, mais forçado que o rei Artur tentando tirar aquela espada da pedra, sem responder suas perguntas. — Sinto muito, Sohui, mas estou meio atrasado. 

— O que aconteceu? Você anda tão longe... — Tocou em meu braço, sem me dar espaço para sair. 

Eu queria estar longe agora, sério. 

— Eu preciso ir, Sohui! — Disse novamente, suspirando quando ela sorriu de um jeito estranho. 

— Você vai fazer algo hoje à noite? Podemos sair e nos divertir um pouco. — Ela se aproximou, enlaçando meus ombros com seus braços, deixando nossos rostos próximos. Ok. Isso já é demais. 

— Sohui, peço que me deixe ir, por favor. — Me distanciei de si, mordendo o lábio em nervosismo e começo a andar, mas mesmo assim ela segurou em minha mão, me impedindo de andar. 

— Oppa... — Voltou a me chamar. 

O que mais me irrita é saber que ela é mais velha que eu e, ainda assim, usa esse pronome de tratamento na maior tranquilidade do mundo. Eu não sou seu Oppa! 

— Então quer sair comigo na sexta? Depois da faculdade? — Perguntou, sorrindo fraco. — Podemos ir ao cinema! Tem um filme ótimo que queria assistir com você.

Revirei os olhos discretamente. Eu não posso fazer nenhum tipo de programação depois da faculdade, tenho compromisso!

Sohui é insistente, mesmo deixando bem claro que eu não quero nada sério com ela, insiste em continuar batendo na mesma tecla do "Eu te quero e eu vou ter", as vezes acho até que ela precisa de uma terapia rapidamente. Chega a ser possessiva! 

— Meu grande amigo Felix, há quanto tempo! — Minha salvação, Jeongin, aparece para me tirar de mais essa enrascada. 

— Jeongin, que bom te ver... — Sorri em sua direção, me afastando de Sohui rapidamente — Obrigado. — Sussurrei, o abraçando.

— Vai ficar me devendo uma. — Respondeu, com um sorriso falso no rosto. Acho que se Jeongin não fosse botânico, ele seria ator, meu Deus do céu. 

—Vocês... Não moram juntos, Oppa? — Sohui também se aproxima, parecendo incomodada por alguma razão. 

— Claro que sim, mas amigos sentem falta uns dos outros. — Jeongin quem respondeu, mostrando sua indiferença em relação a garota. — Está ocupado, Lixie? Quero te levar a um lugar. — Pisca o olho, me deixando meio confuso. 

— Não, estou não. Já estava de saída. — Mesmo sem entender, eu acabo dizendo. Onde ele me levaria? — Sohui, preciso ir. Até mais! 

— Tchau Oppa! Lembra que vamos sair a qualquer dia, está bem? Só você e eu! — Grita. — Na sexta! 

— Essa garota é louca. — Innie diz enquanto andamos em direção à saída — Obcecada. 

— Ela só precisa entender que não sinto nada por ela, Jeongin. A culpa é minha por não dizer nada. 

— E por que você não diz? Eu sinto como você fica desconfortável com toda aquela aproximação excessiva dela. É estranho. 

— Eu não sei.... Talvez falta de corage- — Antes que eu termine de falar, sinto um impacto no meu ombro e cambaleio para trás. Até segurei a bolsa que meu Notebook, se isso aqui quebrasse, seria mais quinhentos anos para poder comprar outro. 

— Ai, caralho! —Resmungo, massageando meu braço. Mas esqueço aquele pequeno incomodo quando vejo que a pessoa que esbarrei estava sentada no chão, provavelmente caiu durante o impacto. — Está tudo bem? Desculpa! 

— Cara, me desculp- — Sua fala morre quando me ver e eu arregalo os olhos quando percebo quem é. 

O mesmo babaquinha do mercado, o que me fez ter vontade de socar aquele guarda-chuva na bunda dele quando falou aquelas coisas para Hyunjin, idiota! 

Estava acompanhado por algumas pessoas, creio que são seus amigos, ele me olha, me analisando de cima a baixo, já de pé. 

— Mas que...— Fecho meus olhos em sua direção, ele também parece ter me reconhecido. — Tanta gente pra esbarrar, divindade. — Resmungo, revirando os olhos. Que porra. 

— Que mundo pequeno, achei que nunca mais veria essa sua cara de maracujá estragado. — Diz, sorrindo sutil, sendo acompanhado por outros de seus amigos. Que insulto mais nível quinto ano do fundamental. 

— De onde vocês se conhecem? — Jeongin pergunta, claramente não entendendo nada do que está acontecendo. 

— Esse aí é o babaquinha metido a filha da puta que falou aquelas merdas para o Hyunjin, eu já te falei dele. — Expliquei e logo meu melhor amigo entendeu, fechando a cara no mesmo momento e cruzando os braços. 

— Não tenho culpa se aquele moleque estava fazendo bagunça em um local público. Tão problemático quanto você, Lee Felix. — Apontou para mim, acusando-me. Fechei as mãos com força, muito nervoso. Respirei fundo, tentando me acalmar, eu não queria chamar a atenção. Ainda mais aqui. 

E uma pequena rodinha de alunos se formou ao nosso redor, loucos por um entretenimento violento, mas eu não daria aquele gostinho para eles. 

— E como sabe meu nome? Anda stalkeando as pessoas que ofende? — Jeongin segurou meu braço, tentando me conter de uma forma silenciosa. 

— Muita gente aqui sabe seu nome, bombinha humana. — Sorriu novamente, tão infantil quanto aqueles que deram risada de sua piada sem graça. 

— Não quero conversar com você, me dá licença antes que eu perca a cabeça e exploda a sua. — Suspirei, sorrindo. — E ainda quero que peça desculpa a um certo alguém. — Falei, crescendo o sorriso ainda mais quando vi ele sem uma reação definida e suas sobrancelhas juntas. 

— Vai sonhando. — Lambeu os lábios, parecendo incomodado. 

— Não pedi. — Ajeitei minha mochila nas costas, me afastando calmo. — Só estou informando. 

Jeongin soltou meu braço, empinando o nariz e saindo na frente, com aquele ar maior superior para as outras pessoas que ficaram quietas e sem sorrisinhos no rosto. 

— Espero não te ver tão cedo. — E voltei a caminhar, sentindo meu coração parar de pulsar com força aos poucos, nervoso, era isso que eu estava. Posso parecer meio durão quando quero, mas o coração falta sair pela bunda depois de toda a emoção e adrenalina. 

— Aquele cara... — Falei negando com a cabeça, tentando não pensar muito nisso. 

— Então foi Seong-Hyeon que falou aquelas merdas para Hyunjinnie? — Jeongin perguntou, arqueei uma sobrancelha. 

— Hyunjinnis? — Ri soprado, encarando seu rosto confuso. — Você anda sendo muito influenciado por Seungmin, pode ir parando. 

— O que foi? Eu posso não conhecer o garoto, mas se meu namorado chama seu paciente nutricional assim, eu também posso — Deu de ombros, revirei os olhos e suspirei aliviado quando passamos do portão de ferro. Prontos para sair. 

— E como você sabe o nome daquele cara? — Juntei as sobrancelhas, já imaginando muito bem sua resposta. Jeongin conhece quase todo mundo desse lugar, não importa o curso ou idade, ele sabe de qualquer forma. 

— Seong-Hyeon é o irmão mais novo de Sohui, pelo o que me contaram. Ele morava em Incheon e veio fazer faculdade de pedagogia aqui em Seul. Mora junto com a irmã, tem 22 anos e é conhecido por ser esquentadinho e meio encrenqueiro. Bem, foi isso que me disseram. — Explicou. Precisei de bons segundos para entender tudo que Jeongin tinha falado, como caralhos ele sabe de tudo isso? 

— Por que não faz jornalismo invés de botânica? Você leva jeito pra a coisa, puta merda Jeongin. — Neguei com a cabeça, sorrindo desacreditado. 

— Eu só sei porque as pessoas me dizem, ué. 

— Pedagogia? Aquele cara pensa em ensinar alguma pessoa na vida?

Certeza que a única coisa que ele vai ensinar é como ser um grande sem noção. 

— Vemos aqui que você não tem experiências boas com pessoas nessa profissão, não é? — Bateu em meu ombro, revirei os olhos de novo. 

— Que seja! — Decidi não falar mais sobre aquilo. — Onde você queria me levar mesmo? Não posso me atrasar, ainda tenho que passar em alguma cafeteria ou padaria por aqui e pegar Hyunjin na escola, em menos de vinte minutos. — Peguei meu celular no bolso da calça, olhando o horário. 

— Eu só estava tentando te salvar da neurótica da Sohui. De nada. — Deu uma risada convencida, dando tapas no meu ombro mais uma vez. 

Não vou reclamar, só porque ele fez um ato de caridade. 

— Vou dar um jeito de falar logo com ela sem arrastar seu coração no asfalto. — Suspirei, Jeongin concordou, e então começamos a caminhar para a escola de Hyunjin. 

Agradeço por não ser muito longe. Mas, espera aí. Por que o Jeongin está aqui? 

— O que você está fazendo? — Olhei para ele. Por que ele estava me seguindo? 

— O quê?

— Por que 'tá me seguindo? Pelo que eu sei, seu trabalho fica p'ra lá. — Apontei para a direção oposta da nossa, ele sorriu pequeno e então me olhou. Muito estranho. 

— Quero saber quando que vou conhecer Hyunjin, ouço você e Seungmin falar dele, mas nunca vi de perto. Então, quando? — Com expectativa, ele me olhou. O olhei com tédio. Ele fala como se eu fosse responsável pelo menino, meu Deus. 

— Se depender de mim, nunca. — Dei risada, vendo seu olhar quase que ofendido sobre mim. — Não me leve a mal, Innie, mas ás vezes você não é alguém muito silencioso. 

— Eu sou alguém muito silencioso, tá bom?! — Gritou. Mordi o lábio inferior, segurando a risada forte que queria sair, já Jeongin apenas cruzou os braços e negou com a cabeça. 

— Qualquer dia eu passo lá, você vai ver. — Falou, sorrindo de lado. O olhei, confuso — O quê? Ler também é um passatempo legal para mim! 

Ele não é capaz... Ok, ele é. 

— De qualquer forma, eu vou indo. — Me abraçou por trás. — Até mais tarde, maninho, não faça muita merda! — Beijou minha bochecha. Suspirei e concordei, me despedindo dele e seguindo um caminho diferente do habitual, indo até uma cafeteria aqui perto para poder comprar a tortinha de Hyunjin.

Pluguei o fone no celular e coloquei a playlist no modo aleatório, tipo aquela que faz a gente rir, chorar e surtar a cada música que passa. Senti meu coração pulsar mais forte quando a música que Hyunjin costumava ouvir, soou por meus ouvidos. 

Voltando ao assunto Hyunjin, ele tem comido muito bem ultimamente, mesmo que derrube os legumes "não propositalmente" para fora do prato, como ele mesmo falou. Sua alimentação segue normal. Seu avô está orgulhoso dele, e Seungmin disse-me que Hyunjin já está muito melhor do que ele estava a algumas semanas. E essa informação me agradou inesperadamente. 

Na cafeteria mais próxima de sua escola, eu pude notar várias das mesmas tortinhas, ou docinho da frutinha vermelha, como Hyunjin prefere chamar — Sim, ele disse a mim que chamá-la de "morango" é muito comum, prefere algo mais "original". Comprei uma, com morangos frescos enfeitando a torta e o glacê branco, como ele também havia me dito que a preferia assim, comprei de seu gosto. 

Então, com seu doce na mochila e a música nos meus ouvidos, vou em direção a sua escola colorida, um caminho já muito bem conhecido por mim. Paro quando chego no portão da escola, vendo Hyunjin sentando no seu lugar sempre. 

— Hyunjin! — Chamei, acenando para que ele conseguisse me ver. Ele estava no mesmo banquinho que todos os dias, com seu professor de um lado e a senhorita do sorriso bonito, do outro. 

Ele era... o mesmo Hyunjin de sempre. Bonito. Vestido naquele uniforme "feio" — Mas que nele ficava bonito. —, o cabelo meio bagunçadinho e, claro, os óculos redondos moldando seu rosto. 

Ele dá um sorriso pequeno para seu professor, que retribuiu, tocando na ponta do nariz de Hyunjin com um dedo, o sorriso de Hyunjin diminuiu, mas logo surgiu novamente quando o professor comentou algo que não pude ouvir. Eu sorri, sem sequer saber, seu sorriso era... contagiante. Seu professor também pareceu feliz ao vê-lo sorrir. 

Logo a moça bonita me avistou, avisou à Hyunjin que eu já estava ali, ele me olhou por poucos segundos. Então sorriu, levantando apressado do banquinho e se despedindo das duas pessoas, curvando-se educadamente para eles e correndo, com seu jeitinho engraçado, até mim. 

— Que alegria toda é essa? — Perguntei quando ele estava próximo, abraçando sua mochila. Sorri. — É só por me ver?

— Com... Comprou? Docinho da fruta ve-vermelha? C-comprou? — Perguntou animado. Olhando para minhas mãos, afoito, quase que ansioso. 

E eu achando que era por minha causa. Puff! 

— Comprei sim, seu interesseiro. — Ri, tirando minha mochila das costas e pegando a embalagem com sua torta dentro. Ele quis pegar. Mas eu fui mais rápido em tirar ela do alcance de suas mãos. Claro que não foi levantando a embalagem acima de si, Hyunjin é poucos centímetros maior que eu, seria fácil alcançar a torta. 

— Dá... — Pediu, com seu típico biquinho na boca e um olhar triste, por meio segundo eu pensei em reconsiderar as condições que coloquei e entregar logo aquele doce. Mas não podia. Eu tinha que resistir! 

— Tsc, tsc. — Estalei a língua na boca, negando. — Depois do almoço você come, seu espertinho.  

—Você é mal... Malvado — Começou a andar, me ignorando e seguindo seu caminho sozinho. Já estou até acostumado com esse seu comportamento. 

— Você sabe que não sou malvado.— Sorri, andando até ele. — E pode tirar esse biquinho da boca, não vou te dar isso agora. —Ele não respondeu, apenas virou o rosto para o outro lado e começou a andar com mais rapidez, mesmo que fosse fácil de acompanhar. Ah, Hyunjin! 

Mas, de repente, ele parou e me olhou. Confuso, o encarei nos olhos por breves segundos, já que ele desviou os seus para a tortinha em minha mão. 

— Vovô n-não pode me ver comendo isso. — Ele disse, com uma entonação de aviso, e então eu sorri. Ele é esperto. 

— Você não quer comer isso com seu avô lá, não é? — Ele balançou a cabeça, concordando, parecia até meio tristinho. — Você quer fazer as coisas escondidas, Hyunjin? Que menino travesso! 

— N-não! — Ele bateu o pé no chão, parecendo estar irritado. Sorri. 

— Eu sei, seu bobinho. — Meu sorriso cresceu quando sua expressão irritada deu lugar a uma envergonhada, e aquilo me surpreendeu. Era novo para mim vê-lo assim. 

— É que... v-vovô vai ficar tristinho se hyun- e-eu comer? — Me deu vontade de apertar suas bochechas e dizer que ele era o ser mais adorável do mundo, mas tudo que fiz, foi negar com a cabeça, sorrindo para si. 

Hyunjin causa efeitos estranhos em mim.

— Eu acho que não. — Fui sincero. E então, ele sorriu. — Você sabe, seu avô é tão jovem quanto nos dois, ele pensa como um adolescente. — Ri de minha própria frase, e Hyunjin também, expondo seus dentinhos salientes. 

— A-acredito em você. 

Voltamos a andar para sua casa, e eu desejei com todas as minhas forças que aquele babaquinha já tivesse saído da Universidade, já que passamos em frente a ela, mesmo que não seja na mesma calçada. 

Se ele tentasse algo contra Hyunjin novamente, eu não me controlaria da forma que me controlei aquele dia. 

Em silêncio, andamos lado a lado, então, decidi fazer algo. Procurei pelo fone de ouvido em um dos bolsos da minha mochila e estendi os fones em sua direção, recebendo seu olhar sobre eles. 

— Quer ouvir música? — Perguntei, ele olhou para os fones estendidos e hesitando um pouco, segurou um. Sorri aliviado. 

Era a primeira vez que ele aceitava ouvir música comigo usando os fones em um mês de tentativa, e com algumas dificuldades, conseguiu encaixar o negocinho em seu ouvido. 

— Prometo que não vai machucar. — Peguei o celular e coloquei o som o mais baixo possível. Dando play logo em seguida, sua reação foi maravilhosa. 

— P-parece que tá n-nadando na minha cabeça! — Sorri mais ainda, concordando com a cabeça e encaixando o outro fone em meu ouvido, por conta disso, andamos com uma aproximação a mais. 

— É, eu particularmente gosto. 

— Som... Di-diferente — Mordeu a alça da mochila, fechando os olhos e se concentrando em algo. 

— Maybe tem uma melodia mais calma, Parents é mais agitadinha. — Expliquei, sabendo que ele não tinha me escutado por estar prestando atenção na música. 

Não demorou muito para chegarmos em casa, eu realmente passei certo sufoco quando alguma música "indecente" começava a tocar e eu a passava rápido, com o olhar confuso de Hyunjin sobre mim. Eu preciso fazer uma playlist para ouvir com ele sem medo. Vai que ele saiba inglês e acabe entendendo a tradução das músicas? Nem fodendo. 

— Meninos! — Senhor Hwang sorriu para nós. Nos recebendo com um abraço, eu particularmente me sinto agradecido quando ele me recebe assim. E, por isso, o fone que estava em meu ouvido se soltou e Hyunjin ficou com o outro pendurado, sorrindo abertamente para seu avô. — Oh, meu pequeno Hyun está ouvindo música no fone? Não machucou, meu bem? 

— Não, vovô! — Ele respondeu batendo palminhas, parecendo muito feliz. — ele colocou bem b-baixinho e não doeu, foi bom!

Senti meu coração bater forte, e eu jurei que enfartaria. Meu Deus, Hyunjin! 

— Ah, sério? — O mais velho perguntou virando-se para mim, eu senti que ele poderia me matar. Mas então, ele sorriu, me aliviando por completo. Que susto. 

— É... — Foi tudo que eu disse, acalmando meu coração acelerado por motivos que eu ainda não entendia. 

— Hyun, leve as coisas de Felix lá para cima e tome um bom banho, pode ser, meu neto? 

Hyunjin concordou, esperando que eu lhe entregasse minha mochila e, mesmo hesitando por medo dele derrubar meu precioso notebook, o entreguei com um sorriso.

— M-mas, vovô, você quer falar um coiso c-com o senhor... — Hyunjin soltou no ar, me fazendo arregalar os olhos e sentir meu coração parando de vez. 

Quê?! 

Eu não tive outra saída. Não quando Hyunjin me olhava daquele jeito, com expectativa e uma ansiedade que eu mesmo podia sentir. Eu sabia que ele estava falando de sua tortinha. 

— Tem, Felix? — Senhor Hwang perguntou, senti meus nervos à flor da pele. 

— B-bem... — Hyunjin, pelo amor de Deus. — Eu comprei algo para Hyunjin, um "agrado" por ele... Ele estar indo tão bem nos estudos! 

— M-mas-

— E ele está muito bem, bem mesmo! estou impressionado! — O interrompi, sorrindo de um jeito desesperado para que ele não falasse mais nada. 

— Sério? Que maravilha! — Hwang-hee sorriu, abraçando o neto pelos ombros. — Que agrado seria esse? 

— U-uma torta de morango... — Me aproximei de Hyunjin e tirei a embalagem da tortinha de dentro da minha mochila, a entregando para ele novamente, sorrindo meio torto para meu chefe. — Eu sei que ele não pode comer muito açúcar, mas Hyunjin gostou tanto da tortinha... 

Seja o que qualquer divindade que eu tenha clamado nesses últimos dias, quiser. 

— É! A-a melhor que j-ja comeu! — Hyunjin disse animado, o que me tranquilizou mais. 

— Comi, meu bem. Se diz comi. — Hwang-hee o corrigiu e eu quis rir de sua expressão insatisfeita. 

Hyunjin resmungou algo e subiu as escadas com passos pesados, arrancando risadas minhas e de seu avô. Uma graça. 

Mas meu sorriso desapareceu quando percebi que só havíamos ficado eu e Hwang-hee. 

— Obrigado por cuidar tão bem do meu neto, Felix. Ele está muito melhor esses dias! — Ele exclamou animado, pegando a tortinha da minha mão e caminhado em direção a cozinha. O segui, como fazíamos todos os dias. Ok, estou tranquilo. — Contratar você foi a melhor coisa que eu e meu filho fizemos! Além de um funcionário excepcional, é um jovem de bom coração e grande amigo do meu Hyun, é muito bom ver meu neto interagindo tão livremente com você! — Eu quis gritar a cada elogio direcionado a mim, aquilo me deixava feliz e até mesmo ansioso ao ponto de imaginar que a qualquer momento alguma coisa poderia acontecer e toda a admiração que consegui do meu chefe, sumir de vez. Qual é? Eu sou inseguro! Eu me sinto tão bem na presença dessa família que tenho medo de fazer besteira e ser chutado, é normal, poxa. 

— M-muito obrigado, Senhor! — Foi a única coisa que consegui dizer, curvando-me para si. — Eu quem agradeço. 

— Certo! — Ele riu, colocando a torta de Hyunjin na geladeira. — Me ajude a pôr a mesa para comermos, depois abra da livraria, ok? 

Senhor Hwang sempre fechava a livraria no horário de almoço, para não sermos interrompidos no momento que estamos comendo, e isso me deixava muito feliz. Respondi sua pergunta com um aceno de cabeça, fazendo o que fazemos todos os dias e esperando Hyunjin voltar de seu quarto. O que não demorou muito, minutos depois ele apareceu na cozinha com um sorrisinho pequeno nos lábios, me olhando de um jeito diferente.

— Aconteceu algo, Hyunjin? — Perguntei preocupado, mas ele apenas negou e abaixou a cabeça. Suspirei. 

Nós comemos em silêncio, a comida de Jonghyun é simplesmente maravilhosa. Arrisco dizer que é tão gostoso como a da minha mãe. 

— V-vai subir, boa tarde! — Hyunjin disse assim que terminou sua refeição, subindo apressado para seu quarto, deixando a mim e seu avô com risos bobos nos lábios. 

— Eu fico bobo com a doçura do meu neto. — Ele sorriu abobado. É, senhor, eu também fico. 

— Desculpa se estou sendo invasivo, mas ele sempre falou assim? Não que seja um problema, eu só... Tô curioso. 

—Eu não sei te dizer isso, Felix-ah... — Ele soltou um suspiro pesado, o encarei ainda mais confuso. — Eu não tinha contato com Hyunjin, só depois que sua mãe morreu que consegui ter um contato maior com ele. 

O quê?! 

— A mãe dele... E-ela morreu? — Eu estava com os olhos arregalados, eu achava que... Sei lá, sequer imaginei que ela havia morrido! Pensei que estava viajando ou algo menos trágico! 

— Ah, você não sabia? — Neguei. Ele suspirou, falando baixinho: — Eu ainda não sei muito bem o que aconteceu, num dia ela estava bem e no outro meu filho ligou desesperado para mim, dizendo que ela havia falecido, foi uma lástima... 

Ele parecia entristecido. Eu não devia ter tocado nesse assunto!

— Ela era uma mulher um pouco... Estranha. Não muito sociável, mesmo que trabalhasse como professora em uma das escolas particulares mais caras de Busan. Eu ainda não sei direito o que aconteceu com ela, Junghyun disse que foi parada cardíaca e... Bem, disse também que as últimas palavras que ela havia dito foi "Eu não queria um filho assim"

Meu coração doeu com as últimas palavras, imaginando a angústia de Hyunjin ouvindo aquilo. Doeu só de pensar na possibilidade de vê-lo chorar. 

— E... E Hyunjin? 

— Ele não estava quando isso aconteceu, havia tudo uma crise de alergia forte e estava no hospital. Junghyun cuidou de tudo sozinho, contou para o filho que a mãe havia falecido... 

— Eu sinto muito, de verdade. — Sentia uma sensação estranha, era como se tivesse presenciado aquilo. A dor do marido de perder a esposa e a dor do filho por perder a mãe. A última me deixa ainda mais angustiado. 

Eu senti vontade de abraçar Hyunjjn. 

— Ya! Está tudo bem agora! — Ele riu, me deixando confuso. A verdade é que os Hwangs eram especialistas em me deixar confuso. — E respondendo sua pergunta, hyunjin falava muito pior. Sequer conseguia parar de gaguejar, depois que comecei a cuidar dele, sua fala melhorou muito, mas eu não sou profissionalizado em fonologia então é difícil... Mas agora que ele está começando sua vida social, está tudo bem. 

Minha cabeça estava girando com tantas informações de uma vez só. Hyunjin não tinha vida social? Como assim? Meu Deus! 

Nós terminamos aquela conversar por ali, já que estava no horário de reabrir a livraria. Coloquei meu "uniforme" — Que era apenas um tipo de avental com o nome da livraria e seguir caminho para o balcão, sorrindo para as pessoas que entraram assim que a porta foi aberta. 

O dia seguiu tranquilo, eu estava feliz fazendo meu trabalho que nem notei as horas passando. Quando dei por mim, já estava no horário de ajudar hyunjin com suas atividades. 

— Senhor, vou subir, tá bom? — Pedi permissão ao meu chefe, ele apenas sorriu. — Se precisar de alguma coisa, pode me chamar. — Então segui meu caminho, subindo as escadas enquanto tirava meu avental, quero dizer, uniforme. 

Parei em frente a porta de hyunjin e sorriu involuntariamente, batendo na madeira e aguardando por ele. Quando seu rosto se fez presente a minha visão, meus olhos sorriram junto com meus lábios. 

— Boa tarde... — Disse a ele, ainda sorrindo. Hyunjin retribuiu o sorriso, abrindo completamente a porta de seu quarto e expondo seu corpo por completo. Eu precisava levantar meu rosto minimamente para encará-lo nos olhos, mesmo que ele não me olhasse mais. 

— Boa tarde. — Saiu do quarto, parando em minha frente. Seguimos para sala, que ficava bem pertinho de seu quarto e sentamos no lugar de sempre, no chão ao redor da mesinha de centro. 

— Onde estão suas coisas? — Franzi as sobrancelhas, procurando por sua mochila. Ele apontou para o quarto. 

Soltei um riso soprado, negando com a cabeça e levantando. Ah, Hyunjin...

— Posso ir buscar? — Pedi, já que entraria em seu quarto. Ele não demostrou sinal de desconforto, apenas balançou a cabeça e me deu permissão para entrar lá. Seu quarto sempre me impressionava. Era linda. O azul das paredes em contraste com suas artes penduradas ali, é realmente bonito. Ele é um verdadeiro artista. 

Ultimamente ele tem pintado bastante, Junghyun me avisou que isso acontece quando ele está animado ou feliz demais e acaba tentando passar essas emoções para o papel. Foi em uma das poucas conversas que já tive com seu pai. 

O novo desenho em sua parede era de alguém empurrando um menininho em uma bicicleta, na verdade, era uma fada menino, ou um fado(?) não sei. 

Só que o fadinho tinha os cabelos loiros e usava uma roupinha meio escura, tipo o Terence, da Tinker Bell. Sorri, Hyunjin tinha uma imaginação incrível.

— O que temos que fazer hoje? — Falei quando cheguei na sala, ele me olhou e tombou a cabeça para o lado, confuso. — O que a gente vai fazer hoje? — Repeti, sabendo que ele não tinha escutado.

— N-nada. — Respondeu num sussurro, olhando para baixo. 

— Nada? O professor Kim resolveu dar uma folguinha para seus alunos? — Me sentei ao seu lado, tirando seus materiais da mochila e colocando na mesinha. — Nem mesmo um desenho ou palavras para soletrar? — Disse brincando. 

Ele balançou a cabeça, negando. Eu sabia que suas atividades não eram fáceis como aquelas, e bem, os desenhos que o Kim pedia para Hyunjin não é lá aquelas coisas que todos conseguem fazer, é uns desenhos nível... Hyunjin. 

— Hum... — O olhei desconfiado, abrindo seu caderno e passando para a última folha escrita, vendo que não tinha nada na próxima. — É verdade, estamos de folga hoje então. 

— F-fa... Fadade? Você não tem? — Perguntou, demorei algum tempo para entender o que ele tinha falado, então concordei e sorri. 

Vou explodir. 

— Não tenho nada da faculdade para fazer hoje, só pesquisar algumas coisas mais tarde. — Suspirei, me encostando no sofá. Ele imitou meu gesto ficando ao meu lado. Ficamos em silêncio por alguns minutos. 

— Você quer ler um pouco? — Meio sonolento ele negou com a cabeça, e o silêncio reinou novamente. Ele raramente se negava a ler. 

Parei para pensar um pouco, e cheguei à conclusão que nunca vi Hyunjin assistindo nada, digo, na televisão da casa. — Que é bem grande por sinal. — E tirei a conclusão que ele não era um menino muito "digital" O que é algo bem incomum de se ver hoje em dia, digo isso por experiência própria, sou o próprio dependente tecnológico. 

— Você tem algum programa favorito? — Perguntei, tentando achar alguma coisa para fazermos o resto da tarde. 

Quem sabe assistir um filme...  É, um filme é bom. Quero saber quais são seus gostos cinematográficos.

— P-pogama? — Franziu as sobrancelhas, olhando para suas coisas espalhadas na mesinha. 

— Programa — Corrigi, sorrindo de sua feição indignada e contrariada. Fofo. — Sabe, alguma coisa para assistir na televisão, aquilo ali. — Apontei para o televisor grande na nossa frente. 

— S-sabe o que é TV. — Eu quis rir de sua fala, mas me contentei em observar sua expressão se suavizar. 

— Então, tem algum favorito? — Insisti. Então ele negou, movendo a cabeça para os lados. 

— Machuca... Aqui. —Apontou para os olhos, sem me olhar. 

Ah... Entendi. 

— Faz tempo que você assistiu algo? Nem no celular? — Sim, eu estava meio indignado. Ele deve ter um filme favorito, ele não teve infância?! 

— Uso o c-celular só para c-chamadas. P-papai ensinou assim. — Pegou o celular que estava no centro da mesinha, esse que eu sequer tinha notado estar ali, e o ligou, entrando nas chamadas de emergência em um toque só. Esperto. 

— Seu pai lhe ensinou bem. — Ele concordou, desligando o celular gigante. Aquele celular era de última geração. Juro. 

— Eu prometo que deixo a iluminação bem baixinha para não machucar você, se assistir algo comigo. — Olhei para ele, que também olhou para mim por poucos segundos, mordendo o lábio inferior. 

— Lixie... — Com uma tonalidade de aviso, ele chamou, como se eu estivesse ultrapassando alguma espécie de linha colocada entre nós. Mas eu ainda queria assistir um filme com ele. 

— A gente pode assistir no meu notebook! Olha aqui. — Me virei de costas pegando a mochila onde o notebook estava, trazendo até meu colo e a abrindo. — Quando eu ligar e deixar a iluminação baixa, me diz se está machucando você ou não, entendeu? 

Ele demorou um bocado de tempo para responder, olhando para baixo e começando a mexer as mãos, fiquei nervoso. 

— Eu prometo que deixo o som baixinho também, só para não te machucar... — Insisti novamente, então ele balançou a cabeça, concordando e finalmente me olhando. 

— Tudo bem. — Sorri feliz, abrindo o notebook. — V-vamos ver. 

— Quer assistir ali? — Apontei para a televisão. — Ou aqui? — Apontei para o computador no meu colo, esperando por uma resposta sua. 

— A... A-aqui. — Apontou para mim, então sorri, abrindo o aplicativo de filmes e procurando por algum sem muita iluminação e que não machucasse seus ouvidos. 

A dificuldade é que eu não sabia que filme colocar, romance não é a minha ideia de filme favorita; prefiro mais os livros românticos. Comédia também não, talvez ele demore para entender a "piada" da coisa, aventura ás vezes têm muita luz.... Então, decidi por Ação.  

Os Vingadores, um filme com cinco por cento das cenas de dias e noventa e cinco por cento com cenas escuras, além de não mostrar tanto sangue e ainda ser

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