Capítulo 3




Laura

Enquanto esperava por Sophia no aeroporto, minha mente vagava pelas opções de voluntariado que estavam disponíveis para mim e quais seriam mais benéficas. Eu já estava quase no fim da faculdade e ainda não tinha completado minhas horas obrigatórias.

Fui arrancada dos meus pensamentos de repente, quando dois estrangeiros se sentaram ao meu lado, discutindo alto. Aquilo me lembrou da vez que caminhei pelas ruas de Old Jorls; em cada esquina havia duas pessoas brigando, e em outra, alguém me olhando com cobiça. Era extremamente perigoso para alguém de classe alta andar por Old Jorls sozinho, a qualquer hora do dia.

Old Jorls e New Jorls costumavam ser uma única cidade, mas, há alguns anos, houve um bombardeio gigantesco durante uma rebelião das pessoas de classe baixa que moravam lá. Foi naquela época, durante o mandato do meu pai, que eu fui sequestrada por três dias... os piores dias da minha vida.

Meus olhos se abriram de repente. Eu não conseguia sentir meu corpo. Com o coração disparado e os olhos arregalados, olhei em volta, analisando o lugar. As paredes estavam cobertas de pichações feitas com tintas de cores brilhantes, mas que já haviam desbotado com o tempo. Alguns grafites eram mensagens de ódio direcionadas ao meu pai. As janelas estavam quebradas e havia muito lixo espalhado pelo chão.

O ar era tão denso que me sentia sufocada, a ansiedade corria pelas minhas veias, e eu tremia por dentro. A corda cortava minha pele, a cada movimento involuntário, sentia ondas de dor nos meus pulsos já latejantes.

Como eu vim parar aqui? Eu fui sequestrada?

Tentei controlar minha respiração, mas parecia impossível me acalmar. O desespero apertava minha garganta como um nó invisível, e eu sentia o gosto amargo e o pânico subir pelas veias. Os únicos sons que eu conseguia ouvir eram o de gotas de água caindo e o som distante de uma porta batendo ao vento. O ambiente tinha um cheiro forte de mofo misturado com álcool e cigarro.

De repente, ouvi passos distantes se aproximando da porta à minha frente. O som parecia cortar meus tímpanos de tão alto que estava.

Meu Deus... eu quero meu pai.

Os passos ficavam cada vez mais próximos até que a porta se abriu lentamente, deixando um vento cortante passar pela minha pele. Meu coração batia tão rápido que eu sentia que estava à beira da morte.

A silhueta de um homem apareceu na porta: ele era alto, magro, com cerca de 1,80m, e tinha cabelos espetados. Meu medo me impediu de encará-lo diretamente por muito tempo. A sala escura só aumentava meu pavor.

— Oi, pequena flor — sua voz forte soou como uma faca em meu peito. Eu estava aterrorizada. — Não chore. — Ele se aproximou, suas mãos ásperas tocaram meu rosto, limpando minhas lágrimas. — Se for uma boa garotinha, vou libertá-la logo. — Suas mãos deslizaram pelo meu rosto, descendo pelo pescoço até meu ombro, e eu me encolhi. — Está com medo?

Assenti devagar, tentando enxergar quem estava à minha frente.

— Então fique quieta e seja uma boa garota. — A mão dele desceu até meu peito, e eu tremi. — Se me disser onde está a fita, eu vou te libertar. Caso contrário... — ele beijou meu rosto — você vai ter que me ajudar a aliviar a raiva que sinto da sua família agora.

Fui trazida de volta à realidade por Sophia, que me sacudia, muito preocupada. Eu ainda me sentia paralisada pelos flashbacks que inundaram minha mente sem que eu percebesse.

O meu medo não era a escuridão ao meu redor, mas o vazio de não saber onde o terror começava ou até onde ele poderia me levar.

— Você está bem? Por que está chorando tanto? — Sorri e à expressão de Sophia suavizou, parecia aliviada ao ver meu sorriso. — Estava com tanta saudade de mim assim? — Ela riu e me envolveu em um abraço caloroso.

Sophia costumava visitar seus pais com frequência, mas se mudou para New Jorls para seguir seu sonho de se tornar modelo na Jorls' Fashion, a agência de modelos mais famosa do nosso país. Conseguir uma vaga para ser o rosto de uma revista nessa empresa era extremamente difícil, mas com suas incríveis habilidades e beleza ela passou na primeira audição de modelos. Somos amigas há mais de seis anos, desde que ela se mudou para a casa ao lado da minha.

Seus cabelos ondulados dançavam sobre seus ombros, e seu rosto acentuado revelava uma mulher forte e marcante. Seu olhar de águia era o que a tornava mais especial; com seus 1,73cm de altura, Sophia era a pessoa mais doce que eu já havia conhecido.

— Senti muita saudade de você, Soph — sorri.

— Como foi seu aniversário?

Eu tinha contado a ela que Lucas iria à minha festa, mas depois do ocorrido, preferi não mencionar nada. Eu me senti envergonhada e com raiva.

— Foi uma vergonha, Soph — meu sorriso se desfez com a lembrança — Tive o maldito azar de rasgar meu vestido no meio da festa, e o Lucas viu. Fiquei surpresa quando ele me avisou e me deu a jaqueta para cobrir a parte rasgada do meu vestido.

— O Lucas te deu a jaqueta? — Sophia ficou boquiaberta.

Lucas era uma pessoa fria, porém insuportável, nunca o vi sendo caloroso ou gentil com outras pessoas, no meu aniversário foi a primeira vez. Mas tenho certeza que ele me ajudou apenas para esbanjar da próxima vez que nos encontrássemos, ele não falava muito mas quando abria a boca, falava tudo menos o necessário. Ele nunca mais visitou minha casa com sua mãe após voltar da França, ele não costumava acompanhar sua mãe em visitas, e agora que ela está fora trabalhando eu o via menos ainda. No entanto, ele sempre parecia tão vazio quanto as quatro garrafas de vodca que bebeu na minha festa.

— Sim, tenho certeza de que ele só fez isso para esbanjar para todo mundo, como sempre faz.

A lembrança trouxe uma onda de raiva ao meu peito.

— Vocês se beijaram? — Sophia me olhou de forma maliciosa. Fechei a cara e a encarei, incrédula, enquanto ela soltava uma gargalhada. — Estou brincando. Sei que essa seria a última coisa que você faria.

Sorri e balancei a cabeça.

Ajudei Sophia com suas malas e caminhamos até o meu carro, que estava parado em um estacionamento próximo aonde estávamos, o aeroporto estava tão lotado que não consegui entrar com meu carro. Conversamos sobre as novidades da faculdade e discutimos várias ideias para o trabalho voluntário que eu teria que fazer. Como Sophia estava de férias, ela se ofereceu para me acompanhar, para que eu não precisasse ir sozinha.

𒈞

Esperei na fila da cafeteria, ansiosa pelo meu café expresso que tanto amava. Sophia me convidou para nos encontrarmos com Amelia e passarmos um tempo juntas. Aceitei o convite porque Sophia me pediu esse favor, mesmo que ela já soubesse que Amelia e eu não éramos exatamente amigas. Talvez isso se devesse ao fato de que Amelia e Alex eram muito próximos, e, assim como Lucas, ela não gostava de ver minha atenção voltada para ele.

Lucas não se importava; ele era apenas um ser insuportável. Não contei nada a Sophia sobre o que aconteceu entre Alex e Amelia na minha festa. Quando Sophia descobrisse, ela ficaria furiosa. Sempre alertou sobre o quanto Alex não era uma boa pessoa, mas eu o achava incrivelmente atraente.

Foco

Como Amelia e Sophia são irmãs, eventualmente ela acabaria descobrindo sobre o relacionamento deles. O desgosto de Sophia por Alex e ao relacionamento irá ser evidente.

— Qual vai ser o seu pedido? — A voz feminina me tirou dos meus pensamentos.

— Um café expresso e um chocolate de menta, por favor.

Enquanto pagava, ouvi a voz aguda e doce de Amelia cumprimentando Sophia. Quando me virei, vi Amelia com sua pele bronzeada reluzente, um vestido curto azul claro e sapatos brancos. Seu riso encantador preenchia o ambiente chamando a atenção dos rapazes próximos à nossa mesa.

Sentei-me e, ao cumprimentar Amelia com um sorriso, ouvi Sophia retrucar.

— Alex? Aquele Alex? — Sophia levantou a sobrancelha, com uma expressão de desdém.

— Sim... aquele Alex — respondeu, sem graça. — Sei que você não gosta dele, mas ele me faz sentir especial, sabe?

— Estamos falando do mesmo Alex? Aquele que deu em cima de todas as suas amigas, inclusive da sua colega de quarto, na sua frente? — Sophia soltou um suspiro frustrado.

Era verdade; Alex era um mulherengo, e eu estava certa de que ele não perderia a chance de trair Amelia, se tivesse oportunidade. Na nossa última festa da faculdade, ele bebeu muito e me perseguiu a festa inteira, Amélia e eu tínhamos ido juntas já que somos colegas de quarto. Enquanto bebíamos, ele sentou a mesa e começou a dizer várias babaquices e o quanto queria nós duas indo a um passeio com ele, e enfatizou, principalmente a Laura. Depois desse dia ele fez questão de pedir desculpas a nós duas pessoalmente, como eu queria que o que ele disse se tornasse verdade. Nos dois juntos entre quatro paredes e ele acariciando meu mamilo com a língua.

Foco Laura, foco.

Infelizmente, é por esses cafajestes que nos apaixonamos às vezes.

Amelia balançou a cabeça, sorrindo.

— As pessoas mudam... — afirmou ela. — E ele me escolheu.

— Não consigo entender como você não vê o quanto ele é... tóxico — Sophia disse, com um tom de preocupação.

— Soph, eu entendo sua preocupação, mas você não vê o lado dele que eu vejo. Ele me escuta de verdade, se importa comigo. Ele tem sido incrível nas últimas semanas.

Sophia se inclinou para frente, seu tom se tornando mais sério.

— Só porque ele está sendo 'incrível' agora, não significa que ele seja sincero.

Amelia deu de ombros e mudou de assunto.

— E quanto ao seu trabalho voluntário? — perguntou, voltando-se para mim. — Quando começa?

Pensei por um momento, pois ainda não havia decidido.

— Talvez na próxima semana.

O silêncio que se seguiu foi cortado pelo toque do celular de Sophia, como uma faca, interrompendo o ambiente.

— Estão te perturbando nas suas férias? — perguntei.

— Assinaram contrato com uma empresa nova e querem que as fotos sejam feitas o mais rápido possível para o lançamento da revista em duas semanas — respondeu Sophia, com os lábios apertados. — Eu ia finalmente ter minhas férias, mas agora vou precisar trabalhar.

Observei Sophia tomar um gole do seu café. Hoje estava sendo um bom dia; a sobremesa especial da cafeteria era meu doce favorito, chocolate de menta. Minha boca salivou só de pensar.

— Terei que ir daqui a pouco — disse Sophia, desbloqueando o celular. — Querem me acompanhar até o estúdio de fotos depois que terminarmos nossos cafés?

Amelia assentiu com entusiasmo.

— Sempre tive curiosidade sobre como são feitas as fotos para suas revistas. — O pensamento iluminou meus olhos.

Eu admiro muito Sophia, ela não queria ver Amelia sofrendo quando as falhas de Alex começassem a aparecer.

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