Laura

Nunca gostei de aniversários. Não vejo sentido em celebrar o fato de estarmos, a cada ano, mais próximos da nossa morte. Mas sempre estou pronta para comer um bolo de aniversário. Lucas Neves virá à minha festa hoje, e não estou nada feliz com essa notícia.

Conheço Lucas desde a infância, mas nunca fomos amigos. Nossas mães são melhores amigas, então crescemos juntos, entre aspas. Ele costumava roubar meus brinquedos quando visitava minha casa, e me lembro bem de uma vez em que colocou minha boneca na privada e deu descarga na minha frente. Ele nunca fez esforço para que nos déssemos bem, e eu jamais ousaria me esforçar para que isso acontecesse.

Caminhei pela pista em direção à cozinha, onde os preparativos para servir o jantar aos convidados estava em andamento. Minha mãe me lançou um olhar preocupado ao perceber o quanto eu estava abatida.

— Você está bem, Laura? — perguntou, com a preocupação evidente em seus olhos.

— Sim, mamãe, só estou um pouco nervosa com a quantidade de convidados — tentei forçar um sorriso.

— Minha filha, é seu aniversário de 22 anos. Eu e seu pai queríamos fazer algo especial, com muitas pessoas — disse, caminhando em minha direção. — Não fique nervosa, todos que estão aqui gostam muito de você! — Ela me abraçou.

Retribuo o abraço.

A verdade é que não conheço nenhuma das pessoas que entraram pelo hall de entrada. Estive em pé por longos minutos cumprimentando os convidados e, até agora, não vi ninguém que eu realmente conheça.

Minha festa é apenas um meio de meu pai aumentar seus contatos e se beneficiar no trabalho. Não somos extremamente ricos, mas possuímos muitos bens materiais. Eu entendo que meu pai seja viciado em dinheiro, mas fazer isso no meu aniversário? Não fiquei nada feliz com isso.

— Eu entendo, mamãe. Estou muito feliz com a minha festa — sorri.

Sinto uma mão fria deslizar sobre minha cintura e se aproximar lentamente do meu ouvido.

— Oi, Laurinha — a voz de Alex ecoou em meus ouvidos, me fazendo arrepiar.

Gosto de Alex desde os meus 12 anos de idade. Eu odiava quando ele fazia isso... ou talvez, apenas fingisse odiar.

— Nossa, você me assustou — me virei para trás, fingindo surpresa. — Não acredito que você veio, Alex. Estou tão feliz! — Sorrio genuinamente e o envolvo em um abraço apertado.

O único problema é que Lucas Neves está prestes a chegar, e os dois nunca se deram bem. Talvez porque eu gostasse tanto de Alex quando era pequena, e Lucas não suportava ver que, quando eu estava com Alex, não dava a atenção que ele queria para suas implicâncias.

A presença de Alex me faz sentir um misto de ansiedade e nervosismo, como se eu estivesse flutuando entre a euforia e a calmaria. O cheiro da sua colônia é incrível, seus cabelos louros e olhos cor de mel o fazem se destacar entre os outros garotos. E, principalmente, sua personalidade. Alex é amigável com todos, e todas as meninas na faculdade são apaixonadas por ele, inclusive eu. Mas temos algo mais especial e simbólico: somos amigos há muito tempo, mas sei bem que ele me vê apenas como uma irmã.

— Achei que Amelia viria com você. Ela me ligou há duas horas e disse que se atrasaria um pouco.

— Ah, Amelia é um caso. Ela não me avisou que precisava de carona, então vim direto para a festa — ele disse, olhando para mim com seus olhos brilhantes. — E eu tenho uma surpresa para você, maninha.

Sinto uma pontada no coração sempre que ele me chama de "maninha". Ah, como eu queria ser vista como a mulher que sou. Alex é dez anos mais velho que eu, o que explica seu comportamento quando se refere a mim.

— E o que seria essa surpresa misteriosa? — perguntei, desconfiada, olhando para ele.

— Você vai descobrir logo — ele sorriu, arqueando as sobrancelhas.

Alex pegou suavemente em minha mão, demonstrando toda a sua delicadeza, e me conduziu para fora da cozinha. Senti o ar fresco do ambiente acariciar minha pele enquanto os olhares se voltavam em minha direção. Eu estava vestindo um longo vestido vermelho que alcançava o chão.

Ao me aproximar do centro, vi um grupo de violinistas no palco, aguardando a ordem para começar a tocar. Uma bela mulher de cabelos longos segurava um grande buquê de rosas.

Alex se aproximou dela, pegou o buquê de suas mãos, acenou para que os violinistas começassem.

Ele parecia tão quanto um ator, corri meus olhos por cada detalhe dele, sua pele macia e hidratada refletia a luz que vinha do teto em direção ao palco.

Amelia acabará de chegar, estava tão apressada que quase caiu enquanto passava em meio aos convidados para chegar ao local com melhor visão para onde Alex e eu estávamos. Ao perceber Alex com um buque na mão, ela adquiriu uma expressão seria, não parecia nada feliz com isso.

Meu mundo estava em câmera lenta enquanto Alex caminhava em minha direção com um sorriso de orelha a orelha, com seus olhos brilhantes e seu olhar penetrante.

Ele irá se declarar para mim, meu Deus!

Desviei o olhar por um breve segundo e vi Lucas no canto da pista, observando a cena segurando um copo de bebida na mão esquerda e sua mão direita em seu bolso, uma expressão seria e entediada permaneceu em seu rosto, ele parecia indiferente, não me lembro de te-lo visto chegando..

Isso me distraiu completamente. Maldito Lucas.

Me virei para frente novamente e observei Alex se aproximar. Meu mundo parecia estar em câmera lenta; eu mal podia acreditar que aquilo estava acontecendo. Senti o calor subir pelo meu corpo e meu coração acelerar, enquanto meus dedos tremiam levemente.

Meu sonho sempre foi ter Alex só para mim, eu odiava como minha paixão era platônica.

Alex parou em minha frente, se inclinou e sussurrou:

— Você sempre me disse que eu deveria ser mais atento para perceber se alguém próximo a mim gostasse de mim — ele sorriu. — Quero que você veja isso pessoalmente, agora vejo como era óbvio. Obrigado maninha!

Merda. Eu não deveria ter dito uma coisa dessas, não acredito.

Fiquei congelada no lugar, tentando processar o que ele estava dizendo.

Então, Alex desviou o caminho e se dirigiu para a minha esquerda, onde Amelia, minha colega de quarto que acabara de chegar, estava. Eles são muito amigos, uma amizade entre professor e aluna, eu nunca me preocupei em compartilhar meus sentimentos por ele com ela. Não havia necessidade de revelar tal sentimento... ou talvez houvesse.

Ele parou diante de Amelia com o mesmo sorriso e entregou o buquê a ela. Amelia que antes parecia chateada agora estava totalmente encantada, seus olhos brilhando com um misto de surpresa e paixão. Alex se inclinou e sussurrou algo em seu ouvido, fazendo-a sorrir instantaneamente.

Senti meu coração se despedaçar. Os olhares que antes estavam em mim agora se voltavam para eles.

Que humilhação

Ele realmente pensa que a minha festa é uma oportunidade para se declarar para outra pessoa na minha frente? Patético. Surpresa de aniversário, uma ova.