IV - O POLÍTICO

Um estalinho agudo assustou um gato preto que dormia sossegado no banco de complexo de prédio velhos. Após o som Solomon e Cinco surgiram.

A moça sentia uma fraqueza nos pés e não sabia dizer se era de fome ou do teleporte.

- Cara, eu odeio isso que você faz. - Comentou a moça sentando no banco espantando o gato, uma atitude que fez o ceifeiro azedar o rosto. - E me diga o que foi aquele lance da menina abraçando o nada, e mais, onde estamos? O que estamos procurando?

- Bem, - começou olhando para os lados. - Não é da sua conta, estamos onde devemos estar e procuramos por nada, mas nos procuram. - Respondeu Solomon colocando as mãos no bolso da calça jeans colada e andando distraidamente sorrindo. - Nossa, naquele carrinho tem um sorvete supimpa, quer?

A predadora pisca os olhos algumas vezes tentando entender a drástica mudança de humor dele. Para onde foi o ser amedrontador que a capturou e de onde surgiu esse hipster alegre que queria lhe pagar um sorvete?

- Não gosto de sorvete. - Respondeu se pondo ao lado dele. O corvo dá de ombros e pega nas mãos dela entrelaçando os dedos. - O que você tá fazendo?

- Normalmente eu passo despercebido pela maioria das pessoas e seres, - Respondeu indo para um carrinho de sorvete de palito. - Mas especialmente hoje eu quero que me vejam.

- Que sabor a bela dama quer? - Pergunta o vendedor. 

Cinco não conseguiu responder, seu olhar estava fixo no pescoço do homem. A garganta se fechou fazendo a engolir em seco.

- Ela não quer nenhum, sabe, regime. - Manobrava Solomon dando de ombros. - Ela é maravilhosa, mas encana com essas coisas. Um de brigadeiro para mim, por favor.

O vendedor ficou um tempo olhando de Solomon para Cinco com desejo nos olhos. O lixeiro pigarreou fazendo o homem parar de encara-los. E assim que pegaram o sorvete, saíram sem pagar e o vendedor pareceu não se importar com isso.

Andaram, o que pareceu para Cinco por horas, com o Céu começando a escurecer.

- Qual é a razão disso tudo? - Questionou a moça, enquanto o Solomon chupava o picolé com vontade. - Cadê o cara que está atrás de mim?

- Além de pessoas caridosas, só políticos apreciam pessoas pobres. - Comentou o lixeiro quebrando o palito em dois e formando uma cruz. - Quem quer pegar você vai estar aqui, logo, logo.

- Como você sabe? - Cinco estava irritada do  jeito que ele falava e fazia as coisas. Como se tivesse todo o tempo do mundo. - Para mim, eu estou bem longe da viela e o cara não me viu, então não tem como me achar.

- Um bom predador faz com que sua presa abaixe a guarda. - Respondeu Solomon.

Ele pega a cruz improvisada e aproxima da testa, e faz uma oração.

- Ele não te viu, mas me sentiu. - Continua guardando o objeto em um bolsa da jaqueta. - Sendo assim ele vai ficar de vigia em todas as pessoas que me conhece até te achar. Isso é um problema para mim.

- Mas se matarmos ele o problema acaba, certo? - O vento soprou os longos cabelos pretos na moça e trazia um cheiro gelado.

- Há a possibilidade. - Devolve Solomon esticando o corpo de forma relaxada. - As primeiras estrelas estão começando a aparecer.

- O ele quer de mim? - Essa era uma pergunta que ela fazia a vida toda. - Eu não tenho nada de especial.

- Ledo engano minha jovem. - Respondeu Solomon coçando a barba rala do queixo. - Você é uma das possibilidades da evolução humana, quiçá, até dos seres das trevas. Sua existência única simboliza um problema inigualável.

Ela abre a boca para falar, mas fareja o ar sentindo o mesmo cheiro da viela. O corpo dela se arrepia e ela arreganho os dentes como uma fera encurralada.

- Ele está perto. - Diz procurando um lugar para se esconder.

- Eu sei. - Solomon se senta no chão com as pernas cruzadas como se meditasse. - Ele quer você e não eu.

Antes que ela pudesse responder algo, uma mão gelada pega-a pelo pescoço. O aperto faz faltar o ar em seus pulmões.

- Ah, te achei. - Diz o atacante, suas unhas pontiagudas ferindo a pele da Cinco. - Você vai ser a salvação do meu povo.

- Deputado Felicilas, que milagre te encontrar por aqui. - Cumprimenta Solomon ainda sentado.  - Até parece que é coincidência a gente se encontrar, - Diz com tom de deboche e sarcasmo. - Se não fosse o senhor, o fundador da igreja do falecido de ontem, ser um sanguessuga e ter um covil de pó de fada aqui por perto, eu diria que o destino quer que a gente converse.

- Foice da Morte, você não tem poder aqui. - Esbraveja o vampiro. Intensificando o aperto e elevando Cinco do chão. - Eu sou um servo de Deus e ele acaba de me dar o poder para curar o enfermos do meu povo.

- Me solta seu desgraçado. - Grita Cinco arranhando as mãos do Sanguessuga e tentando mexer o corpo. - Me enfrenta de frente que te faço encontrar com seu Deus.

-Isso que queria ver, mas posso fazer uma pipoca primeiro? - Debocha Solomon. - E mesmo que você o mate, o que duvido muito você ser capaz,  os outros sanguessugas te caçarão, já que todos sabem sobre você.

- Você está certo que essa coisinha é um mera nada para mim, poderia mata-la com um estrela de Davi na testa. - Comenta Felicilas jogando-a no chão com força para ter as mãos livres caso Solomon ataque. - Mas ninguém sabe dela ainda. É muito perigoso para o meu povo despertar falsas esperanças.

- Um diurno conseguiria riquezas e poder sem fim, um salvador para todos que temem o dia. - Completa Solomon ficando de pé sorrindo e balançando a cabeça. - O problema é que você é burro demais. - O ceifeiro amarra o cabelo em um rabo de cavalo. - O egoísmo sempre precede a ruína.

- Como é... - Começou o politico.

Tudo ocorreu rápido demais para Cinco, ela não conseguiu acompanhar.

Com um movimento rápido o ceifeiro lançou a cruz de palitos em sorvete na direção do sanguessuga que pegou o objeto.

- Iss... - Começou o politico.

A cruz entrou em combustão e explodiu. 

Em um segundo Solomon estava de um lado e em outro estava com a cabeça do deputado na mão esquerda e o resto do corpo na outra.

- Porra! - Gritou Cinco se arrastando de quatro para longe do lixeiro. - O que é você?

- Como eu já disse, eu sou apenas um lixeiro e agora você me viu recolhendo o lixo. - Diz soltando o corpo e batendo as mãos na calça se limpando. - Pronto, agora você está segura, mas aconselho não chamar muita atenção e ficar longe das cidades.

Ele estende a mão para o moça. Ela rejeita e se levanta do melhor jeito que consegue.

- Então quer dizer que vampiros, lobisomens e todas essas merdas existem? - Pergunta quase entrando em colapso.

- Imagina o problemão para o mundo com essas crias da noite andando pelo dia. - Ele ri e balança a cabeça negativamente. - Nenhuma das ordens e seitas dos Sentinelas daria conta. Acho que até Gregor teria dificuldade. - Seu olhar se foca na moça ficando sombrio e o ar pesado. - Seria muito mais simples te matar aqui e agora.

O corpo do vampiro murcha e vira pó aos seus pés. Os olhos dele emanam medo.

 Cinco imediatamente se lembrou da ilha e do medo que sentia toda vez que fechava os olhos. Era o medo de morrer e por um segundo se pensou que essa era a sensação de suas presas.

- Bem, agora que eu resolvi esse problema, as suas memórias sobre esse lance de sobrenatural podem desaparecer. - Comenta Solomon sorrindo para ela e erguendo as mão para o alto esticando o corpo. - Mas tu ainda vais se lembrar do conselho que dei e, por segurança, apliquei uma marca de Caim em você, assim se alguma criatura sobrenatural te ver não se aproximará e você também não verá nada do tipo.

- Como? Quando? Eu não quero me esquecer. - Diz com raiva tentando afastar o pavor. - Você não pode fazer isso comigo.

- Quando andamos de mãos dadas, eu fiz o rito que aplicaria a sigilo e apagaria as suas memórias. - Diz Solomon desaparecendo.

Cinco olha para os lados não reconhecendo onde estava. Seus instintos diziam para ela correr e é isso que faz. Tentando se manter o mais longe possível das cidades grandes.

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