I - A PREDADORA
A lua cheia fazia a noite ser tão linda e misteriosa.
Esse era o pensamento do corvo que sobrevoava um complexo de favelas. Ele não era simplesmente um corvo, mas como dizia para todos, era um lixeiro.
No cartão que havia sido encontrado em seu casaco estava escrito.
" João Oliveira, 23h 23m, Drenado Até a Morte."
O ser estranhava aquela morte.
Se a vítima era morta daquele jeito, não devia haver ceifa. Quando um humano era morto por um Sanguessuga, a sua alma era sugada junto com o sangue, sendo assim não tinha alma para buscar. Essa pessoa era apagada da existência.
O vulto negro conjecturou que poderia ser um assassino que acreditava que era um vampiro, e se for assim até que fazia sentido a morte, mas não era para ele estar ali e sim outro corvo.
Seu trabalho era recolher o pior dos excrementos que a humanidade pudesse produzir, e não uma vitima.
Ele deixou o pensamento do por que estar ali se perder em sua mente, não cabia a ele decidir essas coisas. De qualquer forma ele precisava ir por aquelas bandas.
O corvo olhava com atenção para baixo procurando a alma.
A viela era bem íngreme e com esgoto aberto, o chão se misturava em barro e pedrisco. Tinha um bar e na frente uma casa de luz vermelha, algumas meninas novas demais e outras com doenças demais arrastavam os caras de um lugar para o outro. Uma igreja pentecostal completava os pontos de encontro entre os barracos sobre barracos do lugar, que era apertado para qualquer veículo passar e fedida demais para qualquer pessoa morar.
Ele vê João. Um cara forte, barba a fazer e uma roupa social com uma bíblia embaixo do braço.
Isso vai ser interessante. - Pensou o lixeiro.
Ele se empoleira em um telhado de metal com visão privilegiada do que vai acontecer e espera.
Na frente de João tinha uma moça muito bonita.
Seus cabelos pretos eram longos chegando na bunda e seus lábios eram de um vermelho intenso.
O ser percebeu que havia algo de errado nela. Ela não era uma moça comum, ela tinha um cheiro forte e metálico.
O corvo se teleportou para mais perto ocultando a sua presença.
João puxava a mulher pelo braço com fúria.
- Eu não sei quem é você, mas eu te vi ao lado do meu irmão anteontem e agora ele tá sumido. - Ele gritava, mas a moça parecia nem ligar. - Fala demônia maldita, enviada por Satanás para desviar o meu irmão dos caminhos do Senhor. Onde meu irmão está?
Ela puxou o seu braço se desvencilhando do aperto. Seus olhos mudaram de apatia para ferocidade emanando uma aura predadora.
Ela não era uma simples humana, mas também não era uma Sanguessuga. Concluiu o corvo crocitando de irritação.
Ele faz uma magia de ocultamento, pois não queria mais trabalho desnecessário.
Sombras saem das suas asas rastejando para o chão, tornando o ambiente mais escuro e abafando os gritos do servo de Deus.
O ser havia vivido era demais para saber que os seres humanos eram curiosos demais e essa moça parecia não se importar em matar.
Então achou era melhor precaver.
- O seu irmão era um babaca que tinha mãos leves demais. - Ela molhou os lábios com a língua. - Eu estava com fome, então ele foi meu lanchinho.
João jogou a bíblia na direção da predadora, que com extrema agilidade desviou e o agarrou pela nuca com brutalidade. Um crack alto foi emitido do corpo do homem. Ele tentou correr, mas ela era muito mais forte e o mantinha no lugar.
- Jesus... Pai nosso que está no Cé...
A moça olhou para o homem, mas em seus olhos verdes não via um igual, mas sim uma presa fraca. Ela esticou o braço direito para trás e como uma lança atravessou o peito de João arrancando seu coração. Sangue jorrou para todos os lados e o corpo amoleceu na mão da assassina.
- Eu não entendo, por que esse medo de morrer? É algo natural, assim como respirar. - Dizia a moça para o corpo caído, ela deita o corpo no chão e morde com força o pulso de João.
Não haviam presas circulares como os Sanguessurras, o que confirmava que ela não era uma vampira.
Assim que saciou sua fome, ela se afastou do corpo de João. O corpo ficou imóvel e seco no chão, e a sua alma ficou de pé olhando para cima como se esperasse algo.
O corvo se aproximou da alma prateada, ainda oculto, e vasculhando a mente viu os abusos que cometeu, os roubos e as traições, mas nada que valesse ser buscado por ele.
Ele sabia que quando, tecnicamente, se arrepende de verdade, algumas coisas são apagadas da existência extra-material, sendo assim, seria o mais certo um anjo vir buscar a alma ou até um espirito messiânico, já que João era cristão.
A moça começou a se afastar até que farejou o ar e olhou na direção do ser, mas não via nada.
- Quem está aí? - Perguntou em um rosnado. - Eu consigo sentir seu cheiro podre.
O corvo projetou a sua aura antiga, o que a fez se retrair, mas mantinha a sua postura rígida.
- Eu... Eu não tenho medo. - Gritou com sangue escorrendo da boca para o pescoço. - Eu vou...
Ela se lançou na direção do ser com as mãos projetadas para frente, porém ele desviou sem dificuldade.
- Apareça, eu não posso te ver, mas posso sentir seu cheiro de cadáver. - Ela ergueu a perna em um chute na lateral do corvo, que ficou intangível, fazendo o ataque passar direto. - Eu cansei desse joguinho idiota.
A alma de João olhava triste, percebendo que nenhum anjo ou Deus viria lhe buscar. O lixeiro tocou em sua testa como o bico negro tornando-o em um moeda de prata, que a guarda entre o bico.
O corvo sentia que não dava mais para ficar perdendo tempo e se torna visível atrás dela.
A predadora percebe o ser, então salta girando no ar ganhando distancia. Assim que caiu no chão, arreganhou os dentes e se jogou tentando o agarrar. Ele ficou intangível e ela passou por ele rosnando.
O ser crocita e toma a forma de um humano. Ele era alto e esguio. Seus cabelos negros e liso roçavam a nuca. Ele sem se esforçar a prende no lugar com a telecinese.
- Tá, agora chega. - Disse se aproximando da predadora. Ela tinha seios fartos, curvas e olhos estranhamente verdes. O ser sentia a lascívia descer por entre minhas pernas. - Quem e o que é você?
- Eu vou te matar. - Gritava se mexendo inutilmente. - Me solta. Eu vou beber todo o seu sangue.
- Interessante, você é bem... - O corvo sentiu uma presença fria ao longe. - Não podemos ficar aqui, tem alguém te caçando.
- O quê? - Ela farejou o ar e arreganhou os dentes. - Tem cheiro de gelado.
- Excelente olfato. - Ele se aproxima mais colocando as mãos em sua cintura, os dois sentem arrepios e ela mordendo os lábios sorri. - Bem, isso vai abrir todos os seus poros e buracos.
Ela fitava-o com interesse e ele retribui com uma piscadela.
A presença fria se aproximava e o corvo os teleporta.
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