Capítulo único
✧ Créditos:Escrito por: flowerj
Co-Autor: PurpleGalaxy_Project
Betagem por: taiayrainbow
Design por: Amanddyh
Ainda me lembro de quando era criança e olhava para as estrelas, fascinado. Pequenos pontos brilhantes no céu, que iluminavam até as noites mais escuras juntas com a Lua. Não havia uma noite que eu não olhasse para elas, desejando imensamente poder vê-las de perto.
Hoje, eu olho para o meu eu-criança, e me sinto concretizado, tendo concluído com esses sonhos que muitos diziam "idiotas".
Hoje, sou um astronauta de renome, Jeon Jungkook é um nome muito conhecido em toda a galáxia.
Atualmente, estou fora da via-Láctea, em uma missão de reconhecimento, há 2 semanas, uma das nossas naves havia se despenhado aqui e eu estou encarregado de "confirmar a morte dos meus colegas".
Ninguém espera que eles tenham sequer sobrevivido a uma queda de 7 mil Km/h, então, estão me mandando fazer o reconhecimento dos corpos... É a primeira vez que tenho uma missão como esta, mas nenhum outro astronauta aceitou uma missão fora da nossa galáxia e eles sabiam que eu não recuso uma missão onde posso explorar novos lugares.
Tenho as fichas de cada um dos meus falecidos, mas não confirmado colegas. Dois homens e uma mulher.
Jordan Sidney
Diego Norman
Lilith Alan.
— Eu irei achar vocês. — Olho para a foto da pequena tripulação antes de voltar a guardar num dos pequenos compartimentos do cômodo onde me encontrava.
A nave era pilotada por uma inteligência artificial, conduzindo-me até a localização da nave despenhada. Caminhei até o meu dormitório, um lugar coberto com aço e isolamento térmico, uma cama de metal fino e um colchão pouco confortável coberto por lençóis brancos e cinzentos. Na parede do lado direito, um círculo coberto por um polímero transparente tão forte que não existe algo que pudesse atravessá-lo. Através desse círculo, era possível ver o lado de fora da nave, uma vastidão que muitos pensam ser escura, mas na realidade estava coberta por nebulosas de diversas cores e formatos, estrelas que, embora distantes, eram mais visíveis do que as do chão da terra.
Peguei um comprimido e o tomei, para que pudesse dormir em paz. Me deitei na cama, pedindo para que Trix (inteligência artificial da nave) me acordasse assim que estivéssemos perto da rota. No entanto, não consegui adormecer. Alguma coisa me deixava inquieto. Talvez medo, entusiasmo ou nervosismo. Então, apesar do comprimido que tomei, não consegui dormir.
Fiquei na cama algum tempo, até finalmente ouvir Trix me chamando para a sala de comando, um enorme planeta, com terra vermelha e castanha, alguns tons de verde e várias extremidades azuis surgindo à nossa frente.
Segundo a análise rápida que a inteligência artificial fez, era um planeta como a Terra, porém bem mais degradado; o que agora estava castanho, era o rasto de um oceano agora seco, vermelho são as florestas que foram cobertas por campos vulcânicos, e as restantes cores apenas para aquilo que ainda tinha um pouco de vida naquele lugar.
Rapidamente, foi localizado o sinal emitido pela caixa preta da nave da antiga tripulação, perto de uma das poucas florestas verdes que ainda existiam naquele lugar. Não demorei para ir ao meu assento, onde apertei e coloquei todo o sistema de cintos de segurança para a minha protecção. Trix se encarregou de isolar toda a sala de controle com um aço tão forte que nenhum meteorito vindo na máxima velocidade conseguiria quebrar.
Pouco tempo depois, começamos a entrar na atmosfera daquele planeta destruído. Quase que num piscar de olhos, comecei a sentir a nave tremendo e o cheiro de ferro queimado do lado de fora. Os gases da atmosfera fazem sempre com que qualquer coisa que entre no planeta acabe se incendiando, mas a nave estava preparada para isso.
Logo, a sala de controle se encheu de sirenes e luzes vermelhas, tremendo e derrubando as coisas que não tinham nenhum suporte. Fechei os olhos instintivamente, esperando que todo aquele pânico desaparecesse. Depois de 2 minutos, tudo se desligou, as luzes voltaram aos seus tons normais de branco e azul, as sirenes haviam sido desligadas e a sala havia voltado ao normal.
As janelas, barradas, agora se abriram, mostrando uma enorme luz vinda do Sol deste sistema solar. A nave já estava voando, igual a um avião pelos céus daquele lugar. Olhando para baixo, realmente não havia nada de mais. Tudo exatamente como imaginado: mares secos, campos vulcânicos, apenas um pequeno mar nos fundos do planeta e florestas com menos de 10 km espalhadas por certas partes dos planetas.
Pouco a pouco, nos aproximávamos do solo. E, em menos de 6 minutos, tínhamos aterrado.
Estávamos no meio daquilo que antes teria sido uma praia, algas em degradação, tão sensíveis que qualquer coisa as tornaria em pó. Várias formações rochosas que tinham pelo menos milhares de anos sem tocar em água e areia vermelha espalhadas por todos os lugares.
Trix não poderia aterrar por cima da floresta por causa das árvores que poderiam danificá-la, então paramos por cima deste lugar, onde eu iria caminhar até a floresta com menos de 5 km de diâmetro.
Carreguei-me com uma arma a laser, um fato espacial e uma botija de oxigênio, apesar da análise da trix afirmar que este planeta havia oxigénio, por causa da sua degradação, o ar poderia estar totalmente impuro, então, o mais certo era utilizar uma garrafa de oxigênio.
Após tudo feito, saí da nave, pisando naquele solo desconhecido. Enquanto caminhava, admirava a vastidão daquele planeta, a sua simplicidade, o seu estado, imaginando como ele teria sido vários anos atrás. Talvez tivesse sido um planeta parecido com a Terra. Talvez pudesse existir vida por aqui.
A floresta ficava quase ligada à praia onde estávamos, então rapidamente tive contato com a flora deste local. As árvores eram parecidas com as nossas. Imensos coqueiros secos nas extremidades, mas, por dentro, vários tipos de árvores, algumas frutíferas, arbustos e até mesmo relva. Mas, para além do som do vento nas árvores, não se ouvia nenhum som de um animal ou inseto ao menos.
Estava andando com um enorme sonar, mostrando se havia alguma radiação provocada pelo calor aqui, mas nada, indicando que não poderia existir algum tipo de vida neste local.
Continuei meu caminho, andando incríveis 3 km até chegar ao destino.
Ali estava, os destroços da nave que havia se despenhado aqui. Várias partes da nave estavam espalhadas por aquele canto em específico... A cabine onde deveriam estar os pilotos, não tinha nada.
Abrindo a porta de descarga da nave, consegui adentrar no que restava daquele lugar. Não parecia haver nada além de destroços. Alguns cômodos estavam cheios de vidros quebrados, vigas de metal e a parte desabada do teto da nave. Aquilo era o refeitório, imagino o que terá acontecido com eles sem comida, pelo menos boa parte dos outros cômodos não estava tão danificados, foi por eles que comecei minha busca pelos tripulantes.
Andei com cuidado, esperando que aquela nave não desabasse comigo, abrindo as portas manualmente usando toda a força que tinha. Quatro dos cinco cômodos que tinha naquele lugar estavam sem nada, sem ninguém... sem uma vivalma sequer.
Finalmente no último quarto, respiro fundo pensando que, se eles não estavam em mais nenhum lugar daquela nave, só poderiam estar nesse. Coloquei meus dedos entre as extremidades da porta de metal semelhante à de um elevador, apoiando o meu pé em um pilar de meta. Puxei com toda a minha força, até ouvir a porta rangendo e, aos poucos, se abrindo.
Olhei para dentro do local... em choque.
Não havia nada lá dentro além de uma enorme abertura na parede, totalmente quebrada, mostrando o restante da paisagem da floresta. Mas nada de tripulantes. Meu coração acelerou. Talvez isso significasse que eles estavam vivos, e por aí tentando sobreviver... Aqui tem árvores com comida, ar respirável... Talvez.
Entrei para aquele cômodo saindo da nave pela abertura andando em volta, tentando encontrar algum sinal que me mostrasse para que lado eles haviam ido. Fiquei procurando por rastros, rodeando a nave a fim de encontrar pelo menos o local pelo qual eles saíram. Assim, poderia presumir para que direção foram. Havia esperança para aquelas pessoas e isso aquecia-me por dentro. Soltei um sorriso tranquilo; pelo visto, não preciso fazer nenhum reconhecimento dos corpos.
Pelo menos, era isso que eu pensava, até ver... a parte de trás da nave: árvores caídas e destroços de metais estavam escondendo os corpos esmagados daquilo que restou dos meus antigos colegas.
A bile subiu pela minha garganta. Virei meu corpo para trás, tentando processar todos os acontecimentos. Afinal, todo mundo tinha razão no princípio, eles já estavam mortos.
Voltei a olhar para os seus corpos enojado, enviando uma mensagem para Trix, confirmando a morte dos tripulantes. No entanto, havia apenas dois corpos à mostra pelos destroços... Faltava um... O da Alan.
Olhei ao redor, procurando por ela, mas não achei nada. Deveria procurá-la? Procurando, estaria debaixo daqueles destroços. Mas ainda assim procurei por ela, rodeando todo o terreno onde a nave havia se despenhado num raio de 1 km.
Nada...
Acabei por desistir. O tempo estava passando e a minha garrafa de oxigênio já estava a 20%.
Durante o caminho, sentia apenas repulsa. Não entendia o motivo. Talvez fosse tristeza, ou talvez medo... Ou trauma de ter visto meus companheiros naquele estado. Era horrível de lembrar, a imagem deles estava marcada na minha cabeça. O que aconteceu com eles foi horrível.
Faltava pouco para chegar até a nave, quando ouvi gritos vindos da praia. Acabei sentindo um choque repentino. Seria susto? Surpresa? Quem seria o causador desses gritos?
Comecei a correr até a nave, onde se ouviam os gritos. Era uma voz feminina. Será que era ela? Acelerei o máximo que pude... entusiasmado, pensando que talvez houvesse algum sobrevivente neste lugar. E tinha razão.
Lá estava ela... Seus cabelos voando com o vento vindo do horizonte, seu traje totalmente empoeirado e rasgado, seu rosto vermelho e sujo de terra.
Eu havia visto a foto dela no dossier que me deram.
Lilith Alana.
— Hey, hey — chamei-a, no entanto, o quanto ela gritava implorando para que a porta da nave se abrisse a impedia de ouvir qualquer outro ruído. Corri até sua direção.
Ela não me viu chegando. Aproximei meu ombro, sentindo seu corpo todo tremendo e sua respiração travando. Ela se virou rapidamente, olhando para os meus olhos, em pânico.
— Calma, calma. Meu nome é Jeon Jungkook, estou aqui para resgatar vo... — antes que pudesse terminar de falar, a garota me abraçou com lágrimas nos olhos.
— Obrigada, eu não aguentava mais ficar sozinha. Obrigada. — Sua voz era dócil, apesar de estar trêmula e cheia de medo. Retribui seu abraço, logo limpando as lágrimas dos seus olhos e ajeitando uma mecha do cabelo dela embaralhado atrás da orelha.
— Vamos. — Desfiz-me de seu abraço e abri a porta da nave, onde entramos. Fomos direto para um dos dormitórios onde ela passaria o resto dos dias, confinada. Peguei algumas agulhas e frascos de análise. Antes que pudéssemos voltar, eu teria que confirmar que estava tudo certo com ela. Não trazia com ela algum vírus ou algo parecido. Troquei meu fato espacial por um de isolamento contra doenças.
Enquanto me trocava, ficava me perguntando por que eu estava vestindo aquilo. Eu já tinha abraçado ela, deixei-a me abraçar sem sequer pensar... É agora possível também que tenha esse suposto vírus em mim, nas minhas roupas.
Precisava pensar melhor em minhas decisões. Era a primeira vez que tinha uma missão do tipo. Gostaria de ter tido mais tempo para saber realmente o que fazer.
Após colocar o fato de proteção, fui para o dormitório dela. Peguei as agulhas e comecei a coletar seu sangue.
— Isso é mesmo necessário? — ela perguntou.
— É, precisamos saber se está realmente tudo bem com você antes de voltarmos — disse, coletando a que penso ser a quinta dose de sangue. O quarto acabou ficando demasiado silencioso. Um clima pesado se fez presente. Ainda tinha as imagens dos outros companheiros dela. — Lamento pelos seus amigos. — Retirei a agulha de seu braço e guardei-a.
— Obrigada — disse esticando a manga rasgada do seu fato.
— Aqui... — Entrego algumas roupas limpas para ela. — O seu banheiro é bem naquela porta. — Indico a porta ao lado da cama. — Vá tomar um banho, se troque. Eu trago algo para você comer assim que puder.
— Certo. — Segurou as roupas se direcionando para o banheiro, enquanto eu pegava as amostras e me preparava para sair do quarto. Quando coloquei a mão na maçaneta, senti seu braço tocar meu ombro. — Jungkook — disse meu nome, olhando para baixo enquanto mordia ligeiramente sua unha do polegar. — Obrigada.
Apesar da sua aparência maltratada, ela era muito fofa. Sua personalidade não parecia ser a de alguém que gostasse desse tipo de aventura, de explorar outros mundos. Ela parecia alguém que preferia ficar em sua casa enrolada nos lençóis da sua cama e lendo um livro.
Acenei para ela e sai do quarto, indo para a sala de controle, onde desinfetei e guardei o fato. Coloquei as suas amostras para análise e me sentei na cadeira de comando. Clicando em um botão, abri o observatório e pude olhar novamente para o vácuo. As estrelas estavam tão distantes que pareciam apenas pequenos pontinhos numa vasta escuridão. Ainda faltava muito tempo para que eu pudesse apreciá-las novamente.
Mas, ainda assim, continuei a olhar para ela à distância, pensando no que aconteceu naquele planeta diferente. Estava incomodado, mas feliz por ter achado Lilith. Pelo menos, um deles voltaria para a sua família são e salvo.
Peguei o arquivo de Lilith, lendo-o com mais profundidade, já que da última vez só havia visto sua foto e seu nome. Lá estavam todas as informações dela: seu nome completo, sua idade, o ano em que ingressou na Nasa, o que ela fazia antes disso... Todo o seu histórico.
Pelo que estava escrito, ela não tinha pais nem irmãos. Viveu em um orfanato até completar 18 anos em que trabalhou bastante como faxineira e conseguiu alugar um lugar para dormir. Ela trabalhou, a princípio, como faxineira, depois como caixa em uma livraria. Conseguiu um estágio em um banco renomado e trabalhou lá durante 2 anos, até chegar aqui.
Pelo que lia, a vida não deve ter sido fácil para ela; mas, depois de tanto esforço, chegou aonde pretendia.
Não sei por quê, mas meu coração se encheu de orgulho. Nem todos são capazes de chegar aonde ela chegou.
Continuei a ler seu arquivo, que continha quase tudo de sua vida: seus medos, traumas, comidas favoritas, pessoas com quem já se relacionou... Tudo
Estes tipos de arquivos eram totalmente específicos para pessoas que trabalhavam lá. Era necessário, principalmente quando eles desaparecessem no espaço.
Continuei folheando as páginas até perceber que já havia se passado 1 hora. Fui até o refeitório, onde peguei um prato de comida para ela. Vi um dos livros que eu costumava ler esquecido na mesa.
Talvez ela realmente gostasse de ler; afinal, trabalhou numa livraria. Poderia ser apenas por necessidade, mas talvez gostasse.
Peguei naquele livro antes de colocar novamente um fato de proteção e indo em direção ao dormitório onde ela estaria. Bati à porta 3 vezes, ouvindo um "entre" logo em seguida.
— Oi, eu trouxe isso para você. — Fechei a porta atrás de mim antes de olhar para ela.
O que era isso? Ela estava totalmente linda, seu rosto limpo, cabelo arrumado... Estava usando uma camisa sem mangas branca e uma calça de treino da mesma cor, apenas sentada na cama com uma escova de cabelo em uma de suas madeixas cor de avelã.
— T-Trouxe seu jantar — falei, desviando o olhar do seu, entregando a bandeja com comida.
— Obrigada. — A garota se levantou e andou em minha direção, pegando na bandeja e retornando para a cama.
— E-Eu trouxe para você. — Estendi a mão, revelando o livro que estava lendo. "O senhor dos anéis" estava estampado em dourado na capa. — Eu achei que talvez você gostasse de ler para passar o tempo enquanto os resultados estão sendo processados.
— O Senhor dos anéis? Nunca li algo parecido. — Sorriu, segurando o livro e tirando-o das minhas mãos. — Obrigada, Jungkook. Vou cuidar muito bem dele.
— Certo, então... Bom apetite — após essas palavras, saí rapidamente do seu dormitório, indo para a sala de controle tirar essa roupa que parecia estar bem pequena.
Senti um arrepio lembrando da beleza excepcional de Lilith... Na foto do seu artigo, ela era linda, mas, pessoalmente... era algo tão diferente.
— Fique quieto, Jungkook — falei para mim mesmo, respirando fundo e colocando a roupa para desinfectar. Fui para o refeitório e peguei minha comida, sentando-me em uma das mesas.
Gostaria de comer ao lado dela. Desde que estou aqui, como sozinho. Ninguém quis fazer parte da minha tripulação por medo, então passei a maior parte dos dias solitário. Precisava ser assim.
Após terminar de comer, fui até o meu dormitório, ao lado do da Lilith. Acho que dessa vez conseguiria dormir sem problemas. Estava cansado, exausto de tantas emoções no dia. Talvez a única coisa que eu precisava era de uma noite de sono.
(...)
Quase caio da cama acordando com um susto enorme. Pensei ter ouvido um som extremamente estrondoso.
— Será que foi um sonho? — me perguntei esfregando os olhos, ainda tentando processar.
Olhei para o relógio. Não fazia nem 3 horas desde que adormeci. Se fosse utilizando o fuso horário do meu país, seriam 3 da manhã.
Abanei a cabeça, deitando-me novamente na cama. Eu só queria continuar a dormir.
Fechei meus olhos, sentindo meu cérebro se desligando. No entanto, acabei ouvindo algumas batidas na parede, fazendo-me abrir os olhos novamente e o coração acelerar...
— Mas o quê?! — Levanto-me da cama, ouvindo os sons quase constantemente. Vinham todos do dormitório ao meu lado. Sem nem pensar, fui até a porta de Lilith, onde bati com força. Estava tão cansado e tão confuso que nem me importei com roupa de proteção ou protocolos a seguir ou seja lá o que fosse.
Quando o som da porta ecoou pelos corredores, ouvi as batidas constantes pararem. Sem esperar que ela viesse, abri a porta, encontrando a menina sentada no chão, de frente para a parede.
Seus cabelos estavam desarrumados, mas de uma forma que realçava sua beleza; seu rosto estava avermelhado, igual aos seus punhos. Ela estava suspirando alto, e seu olhar mostrava preocupação, raiva, pânico ou alguma coisa do tipo.
— O que se passa? — me perguntei, enquanto a menina estava estática ainda olhando para mim. — Lilith?
Seus olhos rapidamente se encheram de lágrimas e ela levou suas mãos para cobrir seu rosto. Fiquei sem jeito, confuso. Foi algo que eu disse? Por que ela começou a chorar do nada? O que estava se passando?
— Calma... — falei, me aproximando dela. Queria tocar nela, mas receei. Estava sem roupa de proteção. Mas, enfim, eu já estava aqui dentro, sem fato de proteção, sem luvas, sem agulhas, sem nada. Sentei-me ao seu lado, segurando em seu ombro. No entanto, meu toque foi desviado e ela me abraçou com toda sua força, chorando em meu peito.
Estava estático, sem saber o que fazer, o que dizer e como agir. Demorei 1 minuto para que pudesse processar tudo. E segurá-la em meus braços, deixando ela chorar à vontade, enquanto suas lágrimas molhavam minha camisa de pijama.
— Se acalme, tá tudo bem — falei, passando as mãos pelas suas costas. Afoguei meu rosto em seu cabelo, repreendendo-me logo em seguida por isso. Ela tinha um cheiro estranho, mas era maravilhoso.
Ficamos naquele estado por mais ou menos 5 minutos, quando ela retirou seu rosto do meu peito e olhou nos meus olhos, sem desfazer o abraço.
Meu rosto e o dela estavam tão próximos, sentindo a respiração um do outro. Eu só me perguntava "Por que ela está tão perto?"
Eu queria me aproximar ainda mais. Por alguma razão, meu corpo todo queria saber como seria a sensação de tocar os lábios dela com os meus. Mas me afastei logo, sabendo que eu estava errado. Ela desviou seus olhos dos meus, desfazendo o nosso abraço e encostando suas costas na parede.
— Desculpa — ela disse.
— O que se passou? — perguntei, vendo seus lábios se curvarem em um sorriso presunçoso.
— É que eu sou claustrofóbica. Me deu meio que um ataque a pouco — ela respondeu com o seu olhar voltado para o chão.
— No seu arquivo não dizia isso — falei, lembrando-me do que estava escrito no campo de distúrbios psicológicos. Eu tinha visto ansiedade, dislexia, mas não claustrofobia.
— Bem, aquele artigo não sabe mais sobre mim do que eu mesma — respondeu.
— Pois, me desculpa — falei, sentindo-me idiota. — Mas vai ficar tudo bem, não se preocupe. — Ouvi o seu suspiro enquanto encostava sua cabeça em meu ombro
— Preciso ficar quanto tempo aqui? — perguntou.
— Só mais algumas horas. Até de manhã estará tudo pronto. Isso se os resultados estiverem normais.
— Hmmm — A garota colocou seu rosto na curva do meu pescoço, fazendo-me arrepiar cada vez que soltava ar. — Me ajuda a dormir? Eu não consigo.
Fiquei sem palavras, deixando um sorriso idiota escapar. Admito que um pensamento impuro passou pela minha cabeça, mas logo dei uma coçada nela, tentando afastar esses pensamentos.
— E como faria isso? — perguntei para ela, vendo-a recuar um pouco e logo se levantar, sentar na cama e dar dois tapas ao lado.
— Dormindo comigo. — Arqueei uma sobrancelha, estranhando o que ela disse, apesar de ter pensado nisso. Quando ela percebeu meu olhar, seu rosto ficou vermelho e sua voz falhou. — N-Não... Só ficar me fazendo companhia na cama. A gente não vai fazer nada, sério!
— Calma. — Soltei uma risada presunçosa. — Eu realmente gostaria de poder ajudar, mas acredito que você saiba as regras do protocolo. Eu não posso ficar perto de você...
— Mas você já ficou perto de mim, várias vezes... E você nem tá com sua roupa de proteção... Então achei que não iria fazer diferença.
Ela tinha razão. Essa desculpa já não fazia sentido. No máximo, eu teria que ficar confinado que nem ela e fazer análises a mim mesmo depois. Teríamos que ficar os dois isolados quando chegássemos à Terra. Então esse confinamento já não fazia sentido.
— Então tá certo. De qualquer jeito, já não faria diferença — falei, sentando-me ao seu lado na cama. Logo, ela se deitou e eu fiz o mesmo.
Ela colocou sua cabeça em meu peito, aconchegando-se. Na minha mente, só se passavam milhões de coisas para poder deixar aquele momento ainda melhor, mas eu estava me limitando. Simplesmente a abracei com o meu braço direito, fazendo seu corpo se aproximar do meu. Coloquei meu outro braço por baixo da minha nuca e assim permaneci, tentando adormecer. Foi difícil. Eu estava me concentrando mais em não me mexer do que adormecer; mas, depois de uns 20 minutos, eu consegui.
(...)
Quando acordei, Lilith já não estava ao meu lado e a porta do dormitório estava aberta. Levantei-me com preguiça, olhando para o redor e tentando confirmar que a garota não estava naquele cômodo.
No final, meus olhos se encontraram com a parede em que estávamos encostados ontem. Pisquei algumas vezes, tentando perceber se eu realmente estava vendo direito ou era ilusão de ótica.
A parede estava totalmente amolgada. Será que foi quando ela ficou batendo ontem à noite? Aquela parede era de aço. Como ficou amolgada daquele jeito? Não havia nada que pudesse fazer aquilo.
Levantei-me, olhando para aquilo enquanto saía do quarto. Fui procurar por Lilith, acabando por encontrá-la no refeitório.
— Bom dia. — Sorriu, enquanto enchia sua boca com comida.
— Bom dia. — Sentei-me frente a ela, olhando para seu rosto, enquanto ela comia. Ainda estava inquieto sobre as amolgadelas na parede, mas ignorei assim que a menina trouxe uma bandeja de comida para mim.
— Aqui. — Colocou em cima da mesa, me dando alguns talheres para comer. — Dormiu bem?
— Eh... Eu dormi bem, por acaso. E você?
— Eu dormi bem. Seu peito é bem confortável. — Não resisti em dar um sorriso bobo quando ela disse aquilo.
Continuamos comendo e conversando, até finalmente se passar dois dias. Era hora de ver os resultados das análises que fiz para Lilith.
Deixei a garota no refeitório e fui na sala de controle, onde recebi os resultados de quatro das cinco análises que eu havia feito. Ela não tinha nada de errado, nenhuma anomalia foi detectada no corpo dela. Faltava uma análise, que comparava o sangue que coletamos dela antes do com o atual e ver se tinha algo de errado ou eram compatíveis. Essa só estaria disponível na manhã do dia seguinte.
Ela estava bem, e isso já me deixava feliz. Não precisava usar mais fatos de proteção ou qualquer outra coisa do protocolo com Lilith. Poderia simplesmente estar de boa com ela.
Fui para o refeitório novamente, não encontrando a garota. Achei estranho. Eu a havia deixado aqui havia cinco minutos. Procurei por ela durante mais algum tempo, até finalmente achá-la: estava no banheiro, a porta aberta, olhando-se no espelho e vendo seu cabelo.
Eu olhei para ela, estranhando. Eu estava vendo certo? Seu cabelo castanho tinha uma mecha avermelhada, e um dos seus olhos havia se tornado azul.
— Lilith? — Quando chamei por ela, ouvi um grito enorme antes da porta se fechar na minha cara.
Mas o que estava se passando? Eu realmente vi certo? Lilith tinha um olho de cada cor? Seu cabelo tinha uma mecha vermelha?
Decidi sair daquele lugar, deixando Lilith em paz, enquanto tentava entender o que se passava. Talvez alguma coisa naquele planeta estava alterando a genética dela ou algo parecido.
Caminhei até meu dormitório, pensando em descansar um pouco. Talvez alguma coisa estivesse me fazendo ver coisas. Antes que a porta se fechasse, Lilith entrou no local, impedindo a porta de fechar. Seu cabelo estava na cor normal e seu olho também. Será que eu estava vendo coisas?
— O que você precisa, Lilith? — perguntei para a garota, vendo-a se aproximar de mim.
— Eu sei que é muito cedo para você, mas... — Sua mão passou pelo meu pescoço, e seu rosto estava próximo ao meu. — Você pode me beijar?
Naquele momento, foi como se tudo tivesse deixado de existir, era apenas eu e ela.
Eu iria recusar? Não... Eu queria isso. Eu a queria, e muito.
Receei por 4 segundos, quando finalmente avancei para os lábios dela. Eles eram tão macios e gostosos. Um beijo tão suave que parecia que poderia durar para sempre. Sua mão desceu para meu peitoral e fiz o mesmo. Não percebi quando nos deitamos na cama, mas já lá estávamos, indo devagar.
(...)
Acordei novamente pela manhã, vendo que já eram 8 horas. Alan novamente não estava comigo. Provavelmente estava no refeitório comendo alguma coisa. A noite de ontem foi... perfeita, incrível. Foi tantas coisas.
Essa garota é perfeita.
Coloquei algumas roupas para que pudesse encontrar Lilith, mas, quando estava chegando, ouvi um bip na sala de controle, indicando que o resultado do último teste já estava disponível. Decidi ir vê-lo, antes de ir para o refeitório encontrar Lilith. Sinceramente, eu não estava tão ansioso para ver esse resultado. Tudo deu negativo, o que garantia que seria diferente com este?
Peguei no teste, olhando para ele e analisando cada resposta. Passaram-se 5 minutos e ainda não havia saído da sala de controle.
— Jeon? Cadê você — perguntava enquanto entrava para a sala de controle, me encarando, com o papel nas mãos. — Jeon?
Dei dois passos para trás, mirando minha arma para ela.
— Você não é a Alan Lilith, né? — perguntei atirando o resultado para junto dela.
Tinha 20% de compatibilidade, não havia nada que correspondesse 100% a Lilith.
— Jungkook, deixa eu explicar. — Tentou se aproximar. A cada passo que ela dava para a frente, eu recuava dois. — Não é isso que você está pensando.
— O quê? Você não é uma cópia da Lilith?
— Eu... Por favor, deixa eu falar. Só não aponta essa arma para mim como se quisesse me matar.
— E como eu sei que você não quer? Já não posso confiar em você.
— Se eu quisesse machucar você, teria feito há muito tempo. Teve tantas oportunidades, toda vez que te abracei, a noite que você me fez companhia no quarto... Ontem à noite. Então por favor, abaixa isso. — Ela tinha razão, então abaixei a arma, mas alertei para que ela não se aproximasse, se não atiraria nela.
— Prossiga — falei simples.
— Olha, o planeta onde a gente estava já teve muita vida, muita mesmo. E tinha seres parecidos como eu... Humanos, se posso assim dizer. Mas o mundo entrou em decomposição e um a um os meus semelhantes haviam sumido. Eu sou a última daquela espécie ou qualquer espécie daquele lugar. E então... num dia, alguma coisa caiu do céu, bem na floresta onde morava. Eu fiquei curiosa e fui explorar o que era. Pensei que fosse uma rocha do espaço, mas na realidade era uma nave. Havia 3 pessoas: dois homens e uma mulher. Os homens já estavam mortos, mas a garota ainda estava viva. Puxei ela para o meu abrigo e tentei cuidar dela, no entanto ela disse que não queria sobreviver; ela havia perdido todos que eram importantes para ela e que agora nada mais valia. E, um dia, simplesmente fui pegar alguma comida para mim e para ela e encontrei ela morta no chão. Quando eu toquei nela, foi como se eu tivesse entrado no cérebro dela. Todas as suas memórias desde quando começou a falar até o seu último momento viva estavam na minha cabeça. Eu senti o sofrimento dela, mas consegui encontrar algo que ela não conseguiu, que foi a vontade de viver.
E, então, enquanto andava pelas extremidades da floresta, encontrei a tua nave, pensando que seria uma forma de ir para a Terra, encontrar milhares de pessoas similares a mim e poder viver a vida que Lilith não viveu. Pensando que talvez alguém estivesse procurando por ela. Alterei a cor dos meus olhos e do meu cabelo para que ficasse totalmente parecida com ela. Foi quando você me encontrou.
Era difícil processar tudo o que ela havia dito, toda a história. Talvez tenha sido por isso que eu não a encontrei morta ao lado dos seus companheiros, ela tinha sido salva.
— Você não é humana... — tentei falar, mas ela acabou me interrompendo.
— Eu sou, em questões de anatomia e mente. Eu sou totalmente humana. Simplesmente tenho algumas funções que vocês ainda não têm, mas sou humana — disse.
— Me mostre sua forma verdadeira — falei sem enrolar, vendo a garota suspirar com o meu pedido, limpando suas lágrimas.
Rapidamente, seu cabelo mudou de cor para um vermelho parecido com o de uma rosa; seus olhos haviam mudado de cor, um castanho e outro turquesa. Apesar disso, ela ainda parecia uma humana, e estava ainda mais linda daquele jeito do que antes.
— Eu sei que enganei você, e peço desculpas... Foi a única forma que eu achei de entrar na nave, mas o resto tudo era real, Jeon. Eu sempre tive uma capacidade rápida de reconhecer algo que quero, e quem eu mais queria era você... Desde o momento que te abracei pela primeira vez, que senti o teu cheiro. Eu percebi que você era o... amor da minha vida.
Fiquei em choque, ouvindo isso dela. É verdade que naquele momento eu também senti alguma coisa, mas era isso? Eu tinha a certeza do que eu queria fazer.
— Por favor... Eu sempre vivi sozinha, sem conhecer alguém igual a mim. Eu só quero ir para Terra, sentir que não sou a única nesse universo, e poder estar com você... Por favor, Jeon...
Eu não sabia o que dizer ou como reagir. Fiquei parado durante algum tempo apenas refletindo, mas abaixei a arma e caminhei em sua direção. Peguei no seu queixo, elevando seu rosto e então, selando nossos lábios. Senti a surpresa em seu beijo, mas mesmo assim continuamos até a falta de ar se fazer presente.
— Só... volta a ficar como estava antes. Eu vou alterar esse resultado para que a compatibilidade seja 100%. Vou levar você para a Terra... Vou proteger você.
— É sério?
— É sério... Eu vou cuidar de você, Lilith.
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