PRÓLOGO

Os primeiros raios de sol iluminavam o quarto de Sofia, fazendo um contraste com as paredes pintadas em um tom de amarelo pastel. Ainda sob o efeito da preguiça em seu corpo esbelto, a jovem foi obrigada a abrir os olhos, preparando-se mentalmente para mais um dia de trabalho. Contudo, ela não podia reclamar. Podia se considerar privilegiada por ter dois empregos para sustentar uma mãe depressiva e suspensa do trabalho por invalidez, uma irmã de dezenove anos de idade  imatura e irresponsável, sem nenhuma vontade de estudar e arranjar um trabalho de meio período, e um padrasto bêbado, abusivo e preguiçoso que não servia para praticamente nada dentro daquela casa.

Desde os catorze anos de idade, quando a mãe, Yara, desenvolveu um quadro grave de depressão, Sofia se viu obrigada a assumir a responsabilidade pela casa e pela família. Estudava pela manhã e durante tarde ajudava na lanchonete de seu Mário e de dona Clarita, um simpático casal na casa dos sessenta anos que conhecia a moça desde que Yara se mudou para o bairro de Bonsucesso há vinte e seis anos atrás. O casal sabia das dificuldades que Sofia enfrentava com a família e não hesitou em oferecer um emprego para a jovem, que, desde então, se tornou como uma filha para os dois.

Atualmente, Sofia mantinha o trabalho de garçonete pela manhã nas sextas e quartas-feiras, enquanto nos outros dias estava em tempo integral no hospital São Lucas em Copacabana. Era difícil e cansativo para ela, mas sabia que valeria a pena todo o esforço que fazia. Afinal, Sofia tinha o sonho de conseguir sair de casa e conseguir conquistar seu próprio lar por mérito próprio.

Ela levantou-se da cama, afastando os lençóis brancos bagunçados para o lado.  Sofia esticou os braços e o corpo em busca de afastar a preguiça da manhã que insistia em permanecer. Pegando sua toalha e separando as roupas íntimas, uma calça jeans justa e uma blusa de alças na cor rosa salmão, Sofia seguiu para o banheiro. Precisava de um bom banho para se preparar para a jornada que a esperava naquela segunda-feira.

─ Já acordou. Que bom! A mãe pediu para ir buscar pão para o café.

Sofia jogou a cabeça para trás ao ouvir a voz enjoada de Natália. A garota estava passando pelo corredor estreito da casa, lixando as unhas e com uma expressão de indiferença no rosto.

─ Eu já fiz isso ontem, antes de ontem e nos outros dias também. ─ Sofia reclamou. ─ Custa você fazer isso hoje, Natália?

─ Custa. Olha o calor que está lá fora! ─ Natália apontou, óbvia. ─ Eu não vou caminhar nesse sol horroroso e quente e ficar toda molhada de suor depois.

Sofia se sentiu indignada e saiu atrás de Natália até a sala, sem acreditar na resposta da outra.

─ Engraçado, Natália. Eu saio para trabalhar todos os dias, atravesso esse "sol horroroso e quente", fico de plantão no hospital até de manhã e eu nunca reclamei.

─ Você não faz mais do que a sua obrigação, Sofia. A mãe não pode mais trabalhar, eu não tenho formação e nem consigo emprego, e o meu pai então, nem se fala.

Sofia passou as mãos pelo rosto, contando até mil para não ir pegar Natália pelos cabelos e obrigá-la a ir até a padaria. Estava irada com o descaso da irmã que estava atirada no sofá e agora mexia no celular sem nem olhar para ela. Em passos arrastados, Yara surgiu na sala com o semblante amassado pelo sono e com os olhos semicerrados por conta da luz do sol atravessando a janela da sala, além da irritação com que olhou para Sofia.

─ Não é possível que até nesse horário da manhã você inventa de criar tempestade em copo d'água, Sofia. Pelo amor de Deus. ─ A mulher reclamou, irritada.

─ Mãe, são quase oito horas da manhã! ─ Sofia exclamou. ─ Eu só estava falando para Natália que não custa nada ela ir até a padaria buscar o pão hoje. Eu já faço isso todos os dias.

─ Mas eu falei para ela pedir para você fazer isso, Sofia. ─ Yara fechou as cortinas da sala com irritação. ─ E outra que você já faz tudo nessa casa. Então deveria estar acostumada que eu peça para você fazer as coisas.

Sofia balançou a cabeça em negação. Ela lutava contra um nó preso na garganta contra o sentimento de injustiça que sentia naquele momento. Sempre percebera que Yara tinha um certo favoritismo por Natália, afinal eram incontáveis vezes que a mulher passava a mão na cabeça da filha caçula quando ela se recusava a ajudar em algo ou não queria saber de estudar e arrumar um trabalho.

─ Tudo bem. ─ Sofia assentiu,  mordendo os lábios derrotada. ─ Vou tomar um banho e vou na padaria. Já não adianta falar mais nada dentro dessa casa mesmo.

Sem esperar resposta vinda da mãe, Sofia seguiu para o banheiro e trancou a porta com chave, e então pôde deixar as lágrimas saírem livres enquanto se sentava no chão frio. Ela não sabia por quanto tempo havia chorado, mas fora o bastante para aliviar os maus sentimentos que guardava apenas para ela. Debaixo da água fria do chuveiro, Sofia fechou os olhos apreciando o bálsamo da temperatura fria da água que parecia curá-la e acalmá-la ao mesmo tempo. Após o banho, secou-se com a toalha, passou o hidratante corporal pelo corpo e vestiu-se ali mesmo. Já não era mais seguro sair enrolada de toalha pela casa com Zé Roberto a devorando com os olhos toda vez que a via passando pela casa. Na verdade, para Sofia, nada mais era seguro com a presença do padrasto em casa.

Procurando manter a calma e fugir das possíveis discussões com sua mãe, Sofia saiu do banheiro e pegou sua bolsa, indo até a sala novamente. Na sala, Natália continuava imersa em seu mundo virtual, e Yara parecia ter retornado ao quarto, ignorando os conflitos familiares. Sofia respirou fundo, tentando dissipar o desânimo e a frustração que sentia. Decidida a não se deixar abater, dirigiu-se à porta, mas antes de sair, escutou a voz de Zé Roberto ressoando na sala.

─ Então a vagabunda resolveu aparecer... ─ A voz embolada de Zé Roberto bem como o andar atrapalhado indicava o quanto o homem havia bebido na noite anterior até o sol nascer.

Sofia olhou para o padrasto com raiva, sem esconder o ranço que sentia. Perguntava-se como sua mãe pôde ter escolhido um homem tão porco e imoral como ele como marido.

─ A vagabunda aqui passou a noite de plantão no hospital trabalhando para colocar comida nessa casa enquanto o padrasto bêbado e a irmã preguiçosa não fazem nada para ajudar nas despesas da casa. ─ Sofia sorriu de forma irônica, podendo ver Natália largar o celular para fitá-la com raiva. ─ O que foi, Nat? A carapuça serviu?

─ Você não tem direito nenhum de falar assim com o meu pai, Sofia. ─ Natália levantou-se erguendo o dedo indicador para a irmã. ─ Você se esqueceu que ele te criou e te assumiu como filha quando o seu pai não quis saber de você e nem da nossa mãe? Se não fosse por ele, você estaria na sarjeta.

─ Você se esqueceu, Natália? Já estamos na sarjeta! ─ Sofia voltou a olhar para Zé Roberto cambaleando enquanto tentava se manter de pé. ─ Por culpa desse bêbado que você chama de pai que gasta o que tem e o que não tem na cachaça.

─ Escuta aqui, sua vagabunda...

Sofia foi para cima de Zé Roberto, ficando de frente para ele enquanto ele caía no sofá, incapaz de conseguir continuar de pé.

─ Escuta aqui, você, Zé Roberto. ─ Ela o encarou com raiva. ─ Eu sustento essa casa com o meu dinheiro. É graças a mim que você ainda pode continuar bebendo a sua cachaça e gastando as migalhas de centavos que eu te dou como se não houvesse amanhã. Mas essa foi a última vez, entendeu? Se você quer se acabar e morrer de tanto encher a cara, vai em frente. Mas agora é você quem vai sustentar esse seu vício. Acabou a palhaçada por aqui.

Natália mordeu os lábios, apreensiva. Sofia nunca pareceu ter falado tão sério na vida. A jovem saiu pela porta, ignorando a irmã e deixando o padrasto largado no sofá. Por mais que Natália fosse sangue de seu sangue, Sofia não tinha mais sangue de barata para continuar servindo de capacho e empregada da irmã e tampouco da mãe e do padrasto. Se Zé Roberto queria continuar se acabando aos poucos com o álcool, ele que sustentasse seu vício e ou então Natália fizesse isso. Agora é cada um por si, Sofia pensou amargurada enquanto seguia para a padaria.

No quarto de um hotel barato, Keyla vestia suas roupas íntimas enquanto mirava o pagamento pelos serviços prestados na noite passada. Duzentos e cinquenta reais era uma ninharia, mas era melhor do que nada, ela pensou consigo mesma. No banheiro, o som do chuveiro ligado podia ser escutado por ela, que pegou a bolsa e o dinheiro e saiu discretamente do cômodo. Não podia negar que o homem era bom de cama, mas esperava que o pagamento tivesse sido tão bom quanto a transa da noite que passaram juntos.

Quando o elevador chegou, Keyla entrou e pôde ver os olhares que as três pessoas ali lhe lançaram. Sabia o que elas estavam pensando e pouco se importava. Afinal, era ela que estava vendendo o próprio corpo e ninguém podia julgá-la por isso quando naquela situação, os fins justificavam os meios. Os ricos nunca iriam saber o que era passar privações na vida.

Para seu alívio, o elevador não demorou muito para chegar no térreo e Keyla respirou aliviada quando se viu fora daquele hotel. Embora o sol estivesse quente e forte, ela caminhou até a parada mais próxima para pegar o ônibus para o centro do Rio de Janeiro e então ir para a loja onde trabalhava como balconista e vendedora. Era humilhante estar lá, mas trabalhar como garota de programa durante a noite levantaria suspeitas e fofocas dos vizinhos, além de que às vezes não dava o retorno esperado.

Na Boutique da Jô, Joana a recém abria a loja quando Keyla chegou trinta minutos depois de pegar o ônibus. O centro já se encontrava movimentado e cheio e Keyla previu que o dia seria longo e estressante.

─ Bom dia, Joana. ─ Keyla largou a bolsa em cima do balcão localizado na parte dos fundos onde era realizado o pagamento e seguiu para ajudar a mulher.

─ Olha só... Resolveu chegar mais cedo hoje, Keyla? ─ Joana perguntou enquanto verificava o caixa da loja. ─ Daqui a pouco vai chover por conta desse milagre.

Keyla sorriu falsamente, dando as costas para colocar os manequins na vitrine da loja e revirando os olhos disfarçadamente, fingindo não ter escutado a indireta da chefe. Seu emprego ali estava por um fio devido aos constantes atrasos e ela tinha ciência que Joana só não a demitia por consideração a Sofia, a afilhada que a mulher amava como filha. Ela conteve um suspiro exasperado. Sempre Sofia.

─ Hoje você fica com a parte do atendimento junto com a Stephanie e a Daniele, ok? A Gabriela vai ficar responsável pelo caixa hoje.

─ Claro, Joana. ─ Keyla forçou um sorriso compreensivo, enquanto na verdade, estava escondendo a irritação por dentro. ─ Eu vou comprar uma água enquanto a loja ainda está vazia e as meninas não chegam. Prometo que não demoro.

Joana a olhou séria, mas assentiu enquanto observava Keyla atravessar a rua para ir até o bar localizado na frente da loja.

─ Gabriela, sempre a Gabriela e a Sofia. ─ Murmurou caminhando a passos duros. ─ Como deve ser bom ser afilhada e filha da patroa. Sempre têm seus privilégios. Ô Paulão, me vê uma água gelada, por favor.

─ Eita que alguém acordou de mau humor hoje, hein, Keyla? ─ Paulão indagou abrindo o refrigerador. ─ Aqui. Quatro reais.

─ Quatro reais? Que roubou é esse, Paulão?

─ Não é só você que está passando dificuldade, não, Keyla. ─ Ele deu de ombros.

Keyla abriu a bolsa irritada, procurando algumas notas de dois ou moedas de um real para que pudesse pagar pela água. No entanto, só havia as duas notas de cem reais e uma de cinquenta do programa que havia feito na noite anterior e ela não gastaria aquele dinheiro de jeito nenhum.

─ Quer saber? Deixa para lá. Vou ver se a Joana tem água lá na boutique. ─ Keyla empurrou a água de volta para Paulão.

Keyla saiu do bar quase praguejando, irritada com aquele dia fadado ao fracasso e estresse. A rua estava cheia e movimentada e isso só a deixou ainda mais mal humorada enquanto passava pelas pessoas e as empurrava para poder atravessar a rua. Logo estava de volta na loja e viu que Gabriela já havia chegado junto com Sofia.

─ Finalmente lembrou que tem uma melhor amiga, hein, Sofia? ─ Ela perguntou enquanto Sofia se aproximava para abraçá-la.

─ Nos falamos ontem pelo WhatsApp, Keyla. ─ A morena riu, divertida. ─ Desde quando você ficou tão dramática assim?

─ Desde que a senhora anda se dedicando mais ao trabalho e se esquecendo de se divertir um pouco.

─ Acho que talvez seja porque as pessoas têm contas e dívidas para pagar e não têm tempo para ir de bar em bar encher a cara. ─ Gabriela não perdeu a oportunidade de alfinetar.

Keyla a olhou de cara feia. Não era segredo que ambas não iam uma com a cara da outra e Sofia sempre se via em uma linha de fogo cruzado quando se tratava de escolher entre Gabriela, a quem considerava como se fosse sua própria irmã, e Keyla, sua melhor amiga de infância.

─ E alguém aqui falou em encher a cara, Gabriela? ─ Keyla zombou se apoiando no balcão. ─ Não sabia que se divertir agora era sinônimo de se embebedar.

─ Você entendeu o que eu quis dizer, Keyla. ─ Gabriela respondeu dando as costas para a loira.

Após a outra se afastar, Keyla se virou para Sofia.

─ É sério, Sofia. Essa garota é insuportável e nariz em pé. ─ Ela reclamou cruzando os braços. ─ Não posso revidar à altura porque ela é filha da sua madrinha, ou seja, minha patroa, e o meu emprego aqui está por um fio.

─ Keyla, você também alfineta e provoca a Gabi que eu sei. ─ Sofia advertiu. ─ Poxa, eu adoro vocês duas. É difícil para mim ver que vocês não conseguem se entender e eu tenho que ficar nesse fogo cruzado porque se eu apoiar uma, a outra vai ficar chateada.

─ Era mais fácil você me apoiar. Sofia, há quanto tempo nos conhecemos?

Sofia jogou a cabeça para trás, soltando um suspiro alto e voltou a encarar Keyla.

─ Praticamente desde a barriga das nossas mães.

─ Então é mais natural que você me apoie do que apoiar a Gabriela. Ela nunca gostou de mim e você sabe disso.

─ Você também nunca gostou dela e mesmo assim eu gosto de vocês duas. ─ Sofia respondeu. ─ Keyla, isso não é sobre a Gabi que eu sei. Aconteceu alguma coisa? Quer me contar algo?

Keyla negou com a cabeça, se afastando do toque de Sofia em seu braço. A morena a olhava com certa pena e Keyla odiou isso. Detestava que a encarassem daquela maneira.

─ Você sabe, Sofia. Nada além dos mesmos problemas. ─ Keyla virou de costas, disfarçando as lágrimas que queriam sair de seus olhos verdes. ─ Mas eu fico bem. No final eu sempre fico bem.

─ Você não precisa esconder nada de mim, sabe disso. ─ Sofia lembrou, fazendo Keyla olhar para ela.

─ Eu sei. Vou ficar bem, não precisa se preocupar. Você está indo para o hospital?

─ Eu trabalho só à noite. Mas vou aproveitar para pagar algumas contas desse mês e ir falar com a diretora da escola da Natália. Dezenove anos e essa garota conseguiu a proeza de repetir o terceiro ano do ensino médio pela segunda vez. Já era para ter se formado no ano passado. ─ Sofia desabafou, passando a mão pelos fios castanhos, exausta.

─ Seu dia vai ser longo. E o meu também... ─ Keyla suspirou vendo a primeira cliente entrar na loja. ─ Boa sorte, Sofi. Nos falamos mais tarde ou quando der.

─ Diz para a madrinha e para a Gabi que eu mandei um beijo. ─ Sofia pediu enquanto saía da loja.

─ Mas é claro. ─ Keyla murmurou observando a amiga indo embora, com um sorriso falso nos lábios.

O avião de Rodrigo e Lívia havia pousado no Rio de Janero mais cedo do que o previsto para o alívio do casal. O vôo de doze horas de Boston até a Cidade Maravilhosa fora extremamente exaustivo para ambos apesar de terem ido na primeira classe. Apesar disso, Rodrigo parecia em êxtase por voltar a pisar em solo brasileiro, pois já fazia um bom tempo que ele pretendia voltar a morar em seus país natal, para o desgosto de sua noiva. Lívia tentava disfarçar, mas era nítido que a ruiva estava desgostosa por estar ali, observando algumas pessoas com certo desprezo no olhar.

Essa era uma das muitas diferenças entre ela e Rodrigo. Ambos vinham de classe social elevada, cujas famílias eram milionárias. Contudo, havia muita distinção no modo de criação do casal. Rodrigo foi criado em um ambiente mais próximo da cultura brasileira, com alegria, calor humano e uma certa dose de descompromisso com o que os outros pensavam. Lívia, por outro lado, cresceu em um lar mais rígido, onde a etiqueta, a aparência e o status social eram valorizados acima de tudo.

Enquanto caminhavam pelo saguão do aeroporto, Rodrigo não conseguia esconder a felicidade estampada em seu rosto, enquanto Lívia mantinha uma expressão neutra, disfarçando sua insatisfação.

─ Está se sentindo bem, amor? ─ Rodrigo perguntou, notando a falta de entusiasmo de Lívia.

─ Sim, estou bem. Só estou um pouco cansada. ─ Ela respondeu, evitando olhar diretamente para ele e se contendo para não soltar uma resposta afiada.

Rodrigo suspirou, sabendo que a adaptação de Lívia ao Brasil não seria fácil. Ele havia tentado convencê-la durante anos a voltar para o Rio de Janeiro, mas a ruiva sempre relutou, apegada à sua vida em Boston e à sua carreira promissora como advogada.

─ Vai dar tudo certo, Liv. Você vai ver. ─ Ele tentou confortá-la, envolvendo-a com um braço enquanto caminhavam em direção à saída do aeroporto.

Lívia apenas assentiu, tentando convencer a si mesma de que o noivo estava certo. Ela sabia que precisava dar uma nova chance ao Brasil e à vida que teria ao lado de Rodrigo se não quisesse perdê-lo, mas no fundo, uma parte dela ainda resistia a essa ideia. Contudo, o que ela menos queria era voltar a discutir com ele. O relacionamento de ambos estava esfriando com as discussões tidas em Boston e ela sentia isso, mas preferia acreditar que era apenas algo passageiro.

O casal seguiu para o estacionamento, onde um motorista os aguardava para levá-los até o apartamento que Rodrigo havia alugado temporariamente até encontrarem um lugar definitivo para morar. Enquanto Lívia observava a paisagem pela janela do carro, Rodrigo não conseguia conter sua empolgação com o retorno ao seu país de origem. Sua mente voltou para o dia em que havia recebido a notícia de que havia passado em medicina na Universidade de Harvard e do quanto seus pais, Alberto e Isabel, ficaram em êxtase com a notícia, apesar da dor em se despedir brevemente do filho quando chegou a hora de Rodrigo partir para os Estados Unidos.

Rodrigo se lembrava com carinho das palavras de incentivo e orgulho de seus pais naquele dia. Eles sempre o apoiaram em suas decisões, mesmo quando significavam estar distante da família. Ele mal via a hora de rever seu pai e conversar com o mais velho sobre seus futuros planos como médico e trocar ideias e sugestões com ele; também sentia-se ansioso para rever sua mãe e junto com ela, tocar suas músicas preferidas no piano após o jantar; e sobretudo, Rodrigo tinha vontade de se reaproximar de Gael, seu irmão mais novo. Ambos haviam sido melhores amigos desde a infância, mas ainda na adolescência, aos poucos começaram a se afastar e Rodrigo nunca conseguiu compreender esse comportamento do irmão.

Ele esperava que agora que eram dois homens adultos e maduros, pudessem, enfim, deixar para trás qualquer ressentimento ou mágoa que pudessem ter causado um outro, e voltar a ter a mesma relação de irmãos unidos que um dia foram.

Todavia, mal sabia Rodrigo que sua vida de volta ao Brasil jamais seria a mesma.

Começando oficialmente com as postagens de Entre Dois Mundos :).

Sejam muito bem-vindos à essa história com a qual eu estou bem empolgada pra escrever. Espero que vocês gostem dela tanto quanto eu estou gostando de escrever.

Hoje apresentei três dos nossos protagonistas: Sofia, Keyla e Rodrigo. Ainda tem mais dois que vão ir aparecendo aos poucos. Quero ver vocês se vocês adivinham quem são 👀.

Comentários? Sugestões? Críticas e primeiras impressões? Deixem aqui nos comentários.

Vou tentar atualizar a história o mais rápido possível. Espero que tenham gostado do prólogo, amigos.

Vejo vocês em breve :).

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