CAPÍTULO IV





O restante do plantão prosseguiu tranquilo para a satisfação de Sofia. Felizmente Keyla tinha passado bem a noite e em dois dias poderia receber alta. Nessa manhã, a morena foi ver como a amiga estava e encontrou Keyla dormindo serenamente. Com cuidado, ela fechou a porta e saiu do quarto, preferindo deixar a loira dormir mais um pouco e então iria levar o café da manhã para ela mais tarde.

Ela foi em direção ao elevador e sentiu um gosto amargo na boca ao ver que assim como ela, César também desceria para o primeiro andar do hospital. Sofia se esforçou o máximo para esconder a repulsa e o ranço que sentia pelo médico e se pôs ao lado dele para esperar o elevador chegar. Os olhos azuis de César brilharam intensamente quando ele avistou a enfermeira ao seu lado.

─ Bom dia, Sofia. Imagino que o plantão deve ter sido cansativo, não é? ─ O médico perguntou, forçando uma conversa casual que Sofia não estava nenhum pouco interessada.

Desconfortável, Sofia se viu obrigada a olhar para César e assentiu com a cabeça, cravando suas unhas nos braços que estavam cruzados com certa força.

─ Eu já estou acostumada. ─ A morena respondeu brevemente.

César não deixou de notar que Sofia parecia incomodada com sua presença. Porém, ele preferiu ignorar aquele detalhe. Ele sabia que a enfermeira não era sua maior fã e sequer tinha interesse nele como tantas outras demonstraram, mas ainda assim não perdia a esperança de tentar fazer de Sofia sua nova conquista.

Quando o elevador chegou, ele, por cortesia e cavalheirismo, deu passagem para que Sofia entrasse primeiro e em seguida ele se juntou a ela naquele cubículo apertado de metal. O ar estava abafado e um silêncio constrangedor se abateu sobre os dois. Sofia evitava olhar para César, mantendo sua concentração fixa no visor digital que indicava o andar em que ambos estavam.

Quando finalmente as portas se abriram, Sofia não perdeu tempo e saiu rapidamente do elevador, sentindo um alívio momentâneo ao se ver livre daquele espaço apertado. Contudo, César não perdeu tempo e seguiu a morena, segurando-a levemente pelo pulso.

─ Sofia, espere um pouco, por favor. O que acha de tomar o café da manhã comigo?

Sofia sentiu um arrepio percorrer sua espinha quando a mão de César tocou seu pulso. Ela se virou para encará-lo, surpresa e em choque com a ousadia dele.

─ Desculpa, doutor César, mas eu preciso terminar o meu plantão e eu também não acho que a Carmem gostaria de saber que estamos tratando de assuntos que não estão relacionados ao trabalho no meio do corredor do hospital. ─ Sofia retirou o pulso das mãos de César rapidamente, temendo que alguém os flagrasse naquela situação constrangedora.

─ E por que a Carmem deveria gostar ou não de algo que não diz respeito a ela? ─ César sorriu galanteador. ─ Vamos, Sofia. É apenas um café da manhã. O que pode acontecer?

─ Lamento, doutor, mas a minha resposta continua sendo não. ─ Sofia respondeu com firmeza. ─ Aqui não é hora e nem lugar para convites como esse.

A morena se virou para sair dali o mais rápido possível, mas César não ficou satisfeito com a resposta e se colocou na frente de Sofia, impedindo que ela pudesse seguir seu caminho.

─ Sofia, Sofia, Sofia... ─ A voz do médico saiu em um sussurro que fez a enfermeira estremecer. Os olhos azuis penetravam os castanhos. ─ Você é tão bonita, mas tão ingênua. Você sabe o que pode ganhar estando comigo? Posso te dar uma vida de rainha se você quiser. Basta dizer sim.

Sofia sentiu seu rosto queimar de indignação e choque. Ela não estava acreditando que César estava tendo a audácia de assediá-la em pleno corredor do hospital com vários médicos e enfermeiros passando por ali.

─ Doutor César, o senhor está escutando o absurdo que você está fazendo e dizendo em um local de trabalho? ─ Ela questionou, sua voz trêmula de raiva e nervosismo. ─ Eu pensei que o senhor fosse um médico e profissional honrado e de caráter, mas estou vendo que não. Eu não estou interessada em nada do que você está me oferecendo. E se você não sair do meu caminho e continuar insistindo com isso, eu posso muito bem denunciar o senhor por assédio sexual.

─ E você acha que eles vão acreditar em quem, huh? Em mim, que sou um médico respeitável e praticamente faço parte do conselho desse hospital, ou em uma enfermeira qualquer como todas as outras?

Sofia engoliu em seco sabendo que infelizmente César estava com a razão. Entre a palavra de um médico respeitável e com anos de experiência e a de uma enfermeira com pouco tempo de formação, era óbvio que acreditariam em César. Enquanto ele não tinha nada a perder e poderia continuar com o cargo no hospital mesmo que fosse provado ou tivesse outros relatos de assédio da parte dele, ela tinha, e muito. A corda sempre arrebentaria para o lado mais fraco e a vítima da vez seria ela. Mas Sofia não estava disposta a pagar o preço por isso.

Ela tinha uma família, que, embora não fosse a melhor do mundo, precisava dela e do salário que Sofia ganhava como enfermeira para colocar comida na mesa e sustentar os luxos de Natália e pagar os remédios de Yara. Pensar no que teria que suportar para continuar sustentando a casa fez o estômago de Sofia embrulhar.

─ Foi o que eu pensei. ─ César zombou com um sorriso cheio de luxúria.

─ Se o senhor acha que eu vou ser como todas as outras que foram pra sua cama, está muito enganado. ─ Sofia o afastou bruscamente, olhando para ele com asco. ─ Eu não estou à venda, doutor César. Tenha um bom dia.

Sofia seguiu direto para o vestiário, esquecendo totalmente do café da manhã. Depois daquela situação constrangedora, seu apetite desapareceu por completo e ela mal via a hora de terminar seu plantão ali e ir direto para a casa. Contudo, ainda restavam mais algumas horas para cumprir e Sofia se pegava contando os minutos para ir embora.

─ Dai-me forças pra continuar de pé. ─ Sofia murmurou sentindo vontade de mandar tudo para longe e desaparecer dali.

Respirando fundo, ela lavou o rosto e se olhou no espelho, vendo como seu reflexo estava exausto e mostrando sinais de sono depois de uma noite mal dormida e cheia de preocupação com Keyla pelo sumiço da loira no dia anterior.

Antes de sair do vestiário, Sofia decidiu checar seu WhatsApp e viu que tinha cinquenta mensagens recebidas que ela não viu até aquele momento. Ela viu que sua mãe Yara apenas tinha reclamado sobre ela não ter deixado o pão do dia anterior para o café da manhã do dia seguinte, enquanto que Natália lhe mandou uma mensagem pedindo cem reais para ir ao shopping com as amigas.

Sofia soltou um suspiro exasperado e ignorou o pedido da irmã, verificando as outras mensagens que se tratavam de Joana pedindo para ela continuar atualizando-a sobre o estado de Keyla e do grupo de plantão das enfermeiras do hospital que mandaram comentários e piadas maldosas a respeito de Carmem dos quais Sofia não pôde deixar de rir. De alguma forma aquilo a fez se sentir melhor até ver que Ruan também a tinha chamado.

Ruan: Ei, morena! Por onde você anda? Já encontrou a Keyla?

Ruan: Acabei de encontrar a sua tia. Ela me contou o que houve com a Keyla. Que barra, hein?

Ruan: Já que você me ligou hoje cedo, isso quer dizer que você ainda pensa em mim, né, Sofia?

Ruan: Porra, Sofia! Vai continuar me dando gelo até quando, cacete? Tô tentando falar contigo há horas e você não me responde! Cadê tu??

─ Vai se ferrar, Ruan! ─ Ela grunhiu, batendo a cabeça contra a parede. ─ Acabou!

Sem se preocupar em responder ao ex, Sofia imediatamente o bloqueou e desligou o celular. Era hora de mergulhar de volta no trabalho e esquecer por um momento dos problemas que a esperavam fora do hospital.

Rodrigo desceu para o café da manhã e encontrou seus pais e Gael na mesa bastante recheada e animada pela conversa do irmão com Alberto e Isabel.

─ Bom dia, família! Como é bom estar de volta! ─ Ele se serviu de um belo pedaço de bolo de cenoura com cobertura de chocolate que abriu seu apetite. ─ E que saudades dos bolos da Neusa!

─ Agora ferrou. Com o Rodrigo de volta não vai sobrar nada dos bolos que a Neusa faz pra nós. ─ Gael provocou rindo.

Rodrigo fez uma careta e riu para o irmão, fazendo Isabel e Alberto rirem também e ficarem felizes pelos filhos estarem próximos novamente.

─ Bom dia, querido. Já vi que você acordou com muita disposição hoje.

─ Nem me fale, mãe. Dormi como uma pedra. ─ Rodrigo comentou, bebendo um pouco de suco de uva. ─ A viagem foi exaustiva mesmo. A Lívia continua dormindo e normalmente ela costuma se levantar junto comigo.

Gael se remexeu levemente na cadeira, bebendo um pouco do suco para evitar demonstrar o incômodo que sentia sempre que Rodrigo ou qualquer outra pessoa tocava no nome de Lívia. Era ainda mais desconfortável para ele, saber que seu irmão dormia com a ruiva todas as noites, mas Gael fazia o possível para fingir que estava tudo bem.

─ Ela vai voltar pro flat de vocês ou vai visitar os pais? ─ Gael perguntou. ─ Posso dar uma carona pra ela se ela quiser. Saio pro trabalho daqui a uma hora mais ou menos. Isso se ela se levantar até lá.

Rodrigo olhou para o relógio e viu que era 8h00 da manhã. Lívia estava exausta e a mudança do fuso horário ainda era confusa para a ruiva. Ele achou melhor que deixassem a noiva dormir.

─ É melhor deixar ela dormir, Gael. Ela está exausta da viagem e a mudança de fuso horário também contribuiu pra isso.

Gael assentiu e se levantou da mesa.

─ Então vou ir pro escritório mais cedo hoje. ─ Ele declarou. ─ Não sei se volto pro almoço, mas vou tentar, mãe. E boa sorte com o César no hospital, Rodrigo. Já te adianto que não vai ser fácil.

─ Eu já estou bem preparado pra lidar com ele. Já lidei com gente pior. ─ Rodrigo disse confiante.

Por fim, Rodrigo se despediu da mãe e do irmão e junto com Alberto, saiu de casa direto para o hospital. O trajeto felizmente não foi muito conturbado, visto que por incrível que parecesse, o trânsito estava razoavelmente tranquilo naquela manhã. Ambos deixaram o carro no estacionamento reservado para os médicos e Rodrigo encarou o hospital. Ele parecia maior desde a última vez que ele tinha estado ali, Rodrigo pensou.

Pai e filho seguiram direto para a entrada, onde foram recebidos com um sorriso cheio de luxúria disfarçado de gentileza pela recepcionista, cujos olhos foram direto para Rodrigo e seu corpo atlético. Ao perceber isso, o jovem médico sufocou uma leve risada, sabendo que agora seria a nova atração das enfermeiras e recepcionistas de plantão no hospital.

Alberto e Rodrigo seguiram caminhando pelos longos e movimentados corredores do hospital, cumprimentando a todos simpaticamente sob os olhares admirados e suspiros das enfermeiras que ali estavam. Em seguida, foram direto para o elevador que os levaria até o último andar do enorme prédio, onde as reuniões com o conselho do hospital eram realizadas.

No caminho, Alberto aproveitou para atualizar Rodrigo sobre as mudanças e desafios recentes do hospital.

─ Filho, quero que você se prepare. A situação com o César está pior do que imaginamos. Há rumores de que ele anda assediando as enfermeiras. ─ Alberto disse em um tom sério, olhando diretamente para Rodrigo.

O rosto de Rodrigo adquiriu uma expressão de espanto e incredulidade. Ele já sabia que César tinha um caráter questionável bem como algumas atitudes, mas o que Alberto acabara de contar era algo muito grave.

─ Você tem certeza, pai? Eu não duvido de mais nada vindo dele, mas ainda assim acho que precisa de provas para afirmar isso. Como você mesmo disse, são apenas rumores.

─ Eu sei, Rodrigo. E é exatamente por esse motivo que quero que você fique de olhos bem abertos com ele. ─ Alberto explicou. ─ Quero que ele saiba que tanto você quanto eu ficaremos bem atentos quanto aos passos e atitudes dele. Assim ele vai ficar na linha, ao menos por enquanto. Ou até conseguirmos uma reunião com o conselho para discutir mudanças na direção do hospital e isso inclui o próprio César.

No momento seguinte, a porta do elevador abriu e coincidentemente ou não, era César quem tinha apertado o botão para subir no mesmo andar que Rodrigo e Alberto. Para a satisfação interna de Alberto, ele viu César ficar pálido, os olhos azuis levemente arregalados pelo susto momentâneo de ver Rodrigo.

─ Alberto, bom dia. Não sabia que o seu filho tinha voltado do exterior. ─ César conseguiu forçar um sorriso neutro e um tom de voz falsamente cordial. ─ Da última vez que eu o vi ele ainda era um adolescente.

─ Não faz muito tempo que eu retornei ao Brasil, César. ─ Rodrigo sorriu de canto. ─ Na verdade, voltei ainda ontem. Me formei em Harvard e decidi que quero fazer carreira por aqui mesmo.

Para César, aquela novidade foi um soco no estômago e sua expressão de desgosto não passou despercebida pelos dois homens à sua frente. O restante do caminho até o andar onde os três iriam, seguiu em um silêncio pesado. Rodrigo achou melhor assim, pois, para ele, era extremamente difícil suportar a falsidade de César.

Assim que chegaram ao andar das reuniões, Alberto e Rodrigo seguiram diretamente para a sala de conferências. César, com um sorriso falso no rosto, os acompanhou, sem perder a oportunidade de manter um olho atento em Rodrigo. Sabia que a presença do filho de Alberto significava um desafio direto à sua posição e influências no hospital. Além disso, significava que seu cargo como residente chefe do hospital estava ameaçado. E ele não queria pagar para ver, de jeito nenhum, Rodrigo roubando o cargo que era seu por direito, por puro nepotismo da alta direção do hospital e de Alberto.

Na sala de conferências, já estavam reunidos alguns dos membros do conselho do hospital. Eles cumprimentaram Alberto e Rodrigo calorosamente, comentando sobre como o jovem médico havia feito um excelente trabalho no exterior. César, tentando não demonstrar sua insatisfação, tomou seu lugar na mesa, ao lado dos demais.

Alberto deu início à reunião, fazendo uma breve introdução sobre a volta de Rodrigo e os planos que ele tinha para o futuro do hospital. Ele destacou a importância de manter um ambiente profissional e seguro para todos os funcionários, um ponto que claramente visava a César.

─ Tenho um imenso prazer em apresentar a todos vocês o meu filho, Rodrigo Bittencourt. A partir de hoje, ele será o cirurgião geral do hospital com a aprovação e decisão do conselho do São Lucas. ─ Alberto anunciou, olhando de relance para César.

Rodrigo se levantou, cumprimentando a todos e parou ao lado do pai, com um leve sorriso nos lábios.

─ Eu nasci e cresci vendo meu pai dedicar anos como um dos melhores médicos do São Lucas e eu me sinto imensamente orgulhoso e feliz por hoje estar aqui, prestes a trabalhar junto com ele e com todos os outros médicos tão excelentes e competentes quanto meu pai. Espero que possamos criar um ambiente de trabalho saudável e ético como em tantos anos em que o hospital se encontra funcionando.

Sob os aplausos dos demais, Rodrigo voltou a se sentar, encarando rapidamente César e vendo que a cara do outro parecia ter piorado após suas breves palavras. A reunião seguiu com discussões sobre novas diretrizes e melhorias no hospital, sempre enfatizando a importância de um ambiente profissional e seguro. César permaneceu calado na maior parte do tempo, mas seus olhos estavam fixos em Rodrigo, analisando cada movimento e palavra do novo rival.

Ele agora tinha certeza que seu cargo, antes estável e intocável, estava por um fio.

Sofia seguiu para a sala de descanso dos enfermeiros para tentar relaxar um pouco após o plantão exaustivo da noite anterior e a manhã relativamente agitada. Seus pés estavam doendo e ela mal via a hora do término do turno para ir para casa descansar e ter uma boa noite de sono. Para a sorte da morena, a sala estava sozinha e com isso, ela poderia aproveitar alguns minutos de silêncio enquanto se servia de um pouco de café ainda quente para tentar se manter acordada e com disposição.

Contudo, Carmem não parecia disposta a deixar que Sofia descansasse tão facilmente. Com passos pesados, a mais velha entrou na sala, fechando a porta e sentando-se no confortável sofá cinza que tinha ali. Ao ver a outra ali, Sofia quase praguejou, mas se conteve e foi se sentar na poltrona marrom de frente para o sofá onde Carmem estava.

─ Bom dia, Carmem. Se quiser café, ele ainda está quente. ─ Sofia fez um esforço para tentar ser simpática, mesmo não querendo.

Carmem, porém, apenas a olhou de cima para baixo, como se estivesse avaliando Sofia e aquilo incomodou a moça. Um silêncio tenso seguiu no ambiente, até Sofia decidir questionar, já desconfortável.

─ Aconteceu alguma coisa?

─ Eu acho que sou eu que deveria perguntar isso, não acha? ─ Carmem cruzou os braços e um sorriso irônico e frio brotou em seus lábios secos e murchos.

─ Eu não sei do que você está falando, Carmem. ─ Sofia franziu o cenho.

Carmem se pôs de pé, sem deixar de olhar para Sofia. Os olhos castanhos da mais velha estavam frios e duros feito pedra. Ela olhava para Sofia com um mix de sentimentos. Raiva, ressentimento, rancor e a morena podia sentir que tinha um pouco de inveja no olhar dela.

─ Você acha que pode me enganar, não é? Logo eu, que tenho muito mais anos de experiência do que você?

─ Meu Deus do céu! ─ Sofia explodiu, agora também de pé. ─ O que eu fiz dessa vez? Deixei de dar atenção a algum dos pacientes? Esqueci do soro? O que foi agora, Carmem?

─ Não se faça de desentendida, Sofia. ─ Carmem retrucou com um tom acusador. ─ Eu vi você e o doutor César no corredor. Vi a maneira como ele te olhou, como te segurou. Você não acha que está passando dos limites?

Por um momento, Sofia quis rir daquela cena patética que Carmem estava fazendo. Mas depois, ela sentiu ódio. Carmem estava a acusando sem provas nenhuma de que ela teria algo com César. Então ela se lembrou de que até mesmo algumas enfermeiras do hospital se colocavam a favor dele enquanto as vítimas eram invalidadas e até mesmo prejudicadas por quem não acreditava em suas palavras. E Carmem era exatamente uma das muitas pessoas que trabalhavam ali que faziam isso.

Para Sofia, não era segredo que Carmem a odiava por ela ser o novo objeto de desejo de César. Assim como tantas outras mulheres que já passaram por ele que também sofreram com o ódio de Carmem por elas. Sofia conseguia ver, nos olhos da outra, a raiva e o rancor que sentia por nunca ser notada, admirada e desejada como ela era. E a questão da idade era um dos principais fatores para isso.

─ Carmem, se você realmente viu o que aconteceu, então deve saber que eu não fiz nada de errado. ─ Sofia respondeu, tentando manter a calma. ─ Ele me abordou e eu recusei o convite dele. Aliás, não acho apropriado discutirmos isso aqui. Foi uma situação desagradável, sim, mas não fui eu quem provocou se é isso que você está querendo insinuar.

─ Eu não estou insinuando, eu estou afirmando. ─ Carmem retrucou, dando um passo à frente e encarando Sofia de perto. ─ Você se acha muito boa, não é? Só porque tem alguns anos a menos que eu, é bonita, sedutora.

Sofia sacudiu a cabeça, rindo de incredulidade. Cansada, ela passou as mãos pelo rosto e voltou a encarar Carmem, sem deixar intimidar pelo olhar penetrante dela.

─ Carmem, eu achava que era coisa da minha cabeça, mas agora eu afirmo com toda a certeza que você é totalmente louca.

─ Eu teria muito cuidado com as palavras se eu fosse você, Sofia. Você não está falando com alguém da sua laia. Com um estalar de dedos eu posso muito bem fazer queixa de você para o doutor César e ele te chutar pra fora desse hospital em questão de segundos. ─ Carmem rosnou.

─ Antes ser chutada para fora do hospital do que ir para cama com ele. Coisa que você está louca pra fazer mas não pode porque ele nunca nem olhou pra você, Carmem.

O rosto de Carmem ficou vermelho. Sofia não sabia se era de raiva ou humilhação, mas talvez fosse os dois, já que percebeu que tocou na ferida da rival quando viu que os olhos dela pareciam estar lacrimejando.

─ Você vai se arrepender dessas palavras, Sofia. ─ Carmem sibilou, sua voz carregada de ódio. ─ Ninguém fala assim comigo e sai impune.

Sofia conteve a vontade de revirar os olhos. Ela não tinha mais paciência nenhuma para os dramas e chiliques de Carmem, e se ela quisesse a entregar para César, naquele momento tanto fazia para ela, desde que Carmem a deixasse em paz.

─ Faça o que quiser, Carmem. Eu não tenho mais tempo para esse tipo de drama. Tenho pacientes para cuidar. ─ Com essas palavras, Sofia saiu da sala, deixando Carmem sozinha com sua raiva.

De algum jeito, sem Sofia saber, Ruan conseguiu entrar no hospital. Inicialmente pensou em ir atrás da ex-namorada, ainda irado por ela ter o bloqueado no WhatsApp, mas então lembrou-se de que Keyla estava internada e decidiu visitar a loira.

Desde muito novos os três viviam juntos, ora brincando pelo bairro e estudando juntos na mesma escola, ora quando Sofia e Ruan engataram um namorico de adolescência que durou no máximo três meses, terminando quando Ruan começou a andar com gente barra pesada que fez com que Sofia se negasse a aceitar aquilo para ela.

Contudo, Keyla permaneceu do lado do amigo, mesmo sabendo que Ruan estava se metendo em um buraco que seria muito difícil de sair. O moreno era grato a ela por isso, pois Keyla era uma das raras ou senão a única pessoa a entendê-lo. Talvez pelo fato de que assim como ele, Keyla vinha de um lar desestruturado e problemático.

Passando pelos corredores, Ruan tentou encontrar Sofia no meio do caminho para o quarto onde Keyla estava, mas para sua frustração, ela não estava por ali. Porém, ele pensou, ele poderia se contentar em ver várias enfermeiras gatas. Por um momento Ruan sentiu que poderia estar no paraíso vendo tantas mulheres bonitas passando por ele.

Finalmente, após alguns minutos, ele encontrou o quarto da amiga. Bateu na porta suavemente e entrou.Keyla estava acordada, mas ainda parecia frágil e cansada e sua face ainda estava marcada pelos hematomas da surra. Quando viu Ruan, um sorriso sarcástico surgiu em seu rosto.

─ Quem é vivo sempre aparece! Eu já estava começando a achar que você se esqueceu de mim.

─ Tá me tirando, é? ─ Ruan riu se aproximando da loira. ─ A gente é parça, pô. Eu não ia te deixar na mão. Nunca. E aí? Como você tá? Tá feio mesmo, hein?

─ Agradeço pela parte que me toca. ─ Keyla debochou, rindo junto com o moreno. ─ Falando sério mesmo, poderia ser pior. Aquele filho da mãe poderia ter me matado de tanto me espancar. Mas sobrevivi e estou aqui. Vaso ruim não quebra.

─ Pô, também não precisa falar assim.─ Ruan repreendeu batendo de leve na perna de Keyla. ─ Tu tá viva, isso importa bastante.

─ Não pro velho que se diz meu pai. ─ A loira respondeu com amargura. ─ Ele arrebentou o meu rosto, Ruan. Olha o estrago que ele fez.

Ruan observou as marcas no rosto de Keyla com um olhar sombrio. Joel tinha realmente arrebentado com o rosto da filha.

─ Eu te juro, Keyla, que se eu pudesse, eu daria uma surra nesse filho da puta do mesmo jeito que ele te espancou. ─ Ruan passou a mão pela barba preta. ─ Mas a polícia tá em cima de mim, sacou? Um deslize e eu volto pro xadrez.

─ Nesse momento eu nem me importo com o que vai acontecer com aquele velho cachaceiro. Tô mais preocupada pra onde eu vou depois que eu sair daqui.

─ Tu não tem pra onde ir, não? ─ Ruan cruzou os braços, surpreso. ─ A Sofia não pode te levar pra casa dela? Ou a Joana...

─ A Sofia bem que queria, mas se a casa dela já é pequena pra ela e pra família, imagina comigo lá pra incomodar? E a Joana acho bem difícil me querer morando com ela e a Gabriela. ─ Keyla bufou. ─ Ainda mais que a filhinha exemplar dela não vai deixar de me cutucar. Ela não perde a chance.

─ Pô, Keyla, se tivesse um jeito de eu poder te ajudar... ─ Ruan passou a mão pelos cabelos bagunçados, sentindo-se impotente por não saber como ajudar Keyla.

Os dois ficaram em silêncio, pensando. Até que os olhos de Keyla brilharam com um pensamento que passou por sua cabeça.

─ Ruan, você ainda mora com a tua galera naquela casa no final da rua, né? ─ Keyla perguntou, interessada.

─ Assim, mais ou menos, gata. Por quê?

─ Eu tenho uma proposta pra te fazer. ─ Keyla sorriu.

Demorou, mas finalmente atualizei. E aí? Qual vcs acham que é a proposta da Keyla? 👀

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