CAPÍTULO 8-O SUSTO!
"Precioso e sagrado é o segundo anterior à descoberta de alguma desgraça, pois foi o seu último segundo de felicidade."
Foi sorte Liam ter escutado um barulho no quarto ao lado! Algo pesado havia caído no chão!
Alarmado, Liam correu ao quarto da sogra mesmo antes de chamar o namorado que estava totalmente apagado ao seu lado.
Haviam trabalhado demais nas véspera, pois com a proximidade do Natal, as pessoas aproveitavam o décimo terceiro e encomendavam salgados e o dono da lanchonete resolvera incrementar o cardápio adicionando algumas iguarias. O serviço praticamente dobrara!
Apesar de terem contratado mais dois funcionários para dar conta do recado, ainda sobrecarregava os funcionários mais antigos, porque os novatos ainda eram lentos demais., por estarem em processo de experiência.
Liam já havia desconfiado que talvez Eva estivesse disfarçando algum sintoma a mais naqueles dias, pois os dois haviam insistido com ela se tudo estava bem e ela sempre dizia que sim. Com um tratamento tão severo e tomando tantos remédios, era impossível ela estar sempre bem!
Vésperas de Natal, todo mundo no clima do amor ao próximo e se preparando pra dali a alguns dias agradecer a Deus pelo ano que haviam tido e fazer pedidos para o ano novo...Eva não queria ser estraga prazeres. Porém, a pobre mulher não acreditou que poderia piorar tanto assim de uma hora pra outra.
Eva havia acordado com um certo mal-estar e sentou-se na cama. Talvez, por estar ainda meio tonta pelo sono ter sido interrompido tão bruscamente, ela não saberia dizer o que aconteceu. Apenas se viu de repente caindo no chão sem mesmo conseguir aliviar a queda. Perdeu os sentidos imediatamente, após sentir forte dor quando o corpo bateu forte no chão!
Liam viu que o caso era sério...ela estava desacordada, totalmente pálida...por isso voltou ao quarto e acordou o namorado.
_Amor, acorde!_disse aflito. _É a sua mãe que está passando mal! Ande logo, vida!
João sentiu o baque característico de todos que acordam de supetão! Horrível sensação de ter o espírito que estava longe envolvido em algum sonho bom de repente ser puxado com violência para retornar ao corpo que precisaria enfrentar aquele incidente cruel!
_Jesus, não!_gritou João agoniado sentindo o ar lhe faltar já imaginando o pior._O que aconteceu, Liam...pelo amor de Deus...
Jogou os lençóis longe e saltou no chão.
Venceram rapidamente os poucos passos que separavam os dois quartos e os dois rapazes colocaram a idosa na cama, ainda completamente sem dar sinal de vida...Liam já ligando para uma ambulância...João Pedro já ligando para os bombeiros...O que chegasse primeiro levaria dona Eva ao hospital!
Vésperas de Natal...como esperar que viessem rápido? Tentaram reanimar Eva, mas os sinais vitais estavam muito fracos e ela não recobrou a consciência.
_Meu Deus, meu Deus..._gemia João Pedro totalmente fora de si andando em círculos em volta da cama como se temesse tocar o corpo da mãe e descobrir o pior!
Na cabeça dos dois, diagnósticos precoces pipocavam sem dó. Não descartavam infarto, AVC...talvez uma embolia pulmonar!
Os bombeiros chegaram primeiro. Fizeram os primeiros exames ali mesmo e constataram que ela ainda tinha vida!
Os socorristas foram muito solidários ao permitirem que os dois acompanhassem dona Eva dentro do veículo.
Não era a primeira vez que tinham que sair às pressas com ela, mas cada vez parecia sempre pior do que as anteriores.
Os bombeiros já haviam avisado ao hospital que já esperava dona Eva na porta.
A maca avançando pelo corredor branco do hospital parecia gritar para que abrissem alas para salvar a vida de uma mãe muito amada!
Estressante estadia num hospital à noite, especialmente quando alguém que se ama está lá dentro lutando pela vida.
O dono da lanchonete, já simpatizante do relacionamento dos dois funcionários homossexuais, não se opôs a que Liam ficasse ao lado de João Pedro naquele momento delicado. Ele em pessoa iria substituí-los, caso precisasse e ainda chamaria um dos filhos.
_Nossa, amor, nem sei o que seria de mim se você não estivesse aqui!_gemeu João Pedro trêmulo e agarrado às mãos do namorado.
Liam não podia dizer que era ele quem deveria agradecer, pois já perdera a mãe, o pai e não sabia se aguentaria perder também a sogra amada que ele colocara no lugar de mãe.
Também dona Eva havia colocado o namorado do filho no lugar de um segundo filho e aí tudo ficava mais intenso ainda.
Liam não queria pensar...não queria imaginar...não queria arriscar pensar o que seria da vida de João Pedro e mesmo da vida dele se perdesse dona Eva numa época como aquela.
Ele sabia que sempre seria uma grande perda, sabia que a sogra tinha a saúde muito frágil, mas parecia que doeria mais se fosse justamente na época de Natal...próximo ao final do ano.
_Será que ela nos chamou, Liam? Será que ela tentou pedir ajuda?_perguntou João Pedro aflito._Como eu não pude escutar nada, meu Deus? Minha mãe precisando de mim e eu não pude socorrê-la! Tadinha...nos chamando e a gente não ouviu...deve ter sido isso...pobre mamãe...
_Não, anjo...eu não ouvi nada antes do barulho da queda._Liam torcia para que aquilo fosse realmente verdade, pois temia a sogra ter chamado e ele não ter ouvido.
_Eu durmo pesado demais, meu Deus...devo nem ter ouvido a minha mãe pedir socorro, meu Jesus! Tadinha, meu Deus..._João Pedro começou a chorar se sacudindo todo._Que aflição...ela lá fraquinha gritando pela gente e a gente dormindo tranquilo sem lhe prestar socorro...
Liam tentou consolar:
_Não fale assim, meu querido. Como a gente poderia adivinhar que ela iria passar mal assim do nada?
Liam sabia que aquela era a mentira mais esfarrapada que poderia usar, somente para consolar João Pedro. A quem eles queriam enganar? Claro que Eva estava mentindo todos aqueles dias e era claro que eles fingiam acreditar justamente temendo terem que passar por um pesadelo como aquele.
_Eu estava desconfiado que ela poderia estar passando mal e escondendo da gente..._disse o o filho chorando e ainda apertando forte as duas mãos do namorado._ Por que eu não insisti com ela? Por que eu não vigiei pra ver se ela estava com alguma expressão de dor quando achasse que não estávamos vendo?
_Não, minha luz...você não tem culpa de nada. O que poderia fazer? Obrigar a sua mãe a falar o que ela não queria? Além do mais, de repente ela estava sendo sincera e estivesse mesmo bem. Pra que iria inventar alguma dor?
João Pedro torceu para que o outro tivesse razão. No fundo, porém, ele avaliava a possibilidade de voltar a dormir na cama da mãe, o que significaria por fim as suas noites de amor ao lado de Liam. Recriminou-se acreditando ser um egoísta por pensar apenas nele naquele momento!
João amava Liam com todas as suas forças...também amava a mãe tão forte quanto. Ele não queria pensar que estava entre dois amores, mas sim junto com dois amores...que o amor que sentia por um não era averso ao outro ou mesmo lhe fazia concorrência...muito menos um anulava o outro.
Eram as duas pessoas mais maravilhosas que alguém poderia querer ao seu lado no mundo, ele admitiu.
Eva era a melhor mãe do mundo! Tanto carinho, tanto amor, tanta compreensão, tanta bondade...
Liam era o melhor namorado do mundo! Carinhoso, amoroso, compreensivo, bom pra João Pedro...fiel, cúmplice, protetor, confidente...
O filho de Eva reconhecia que Deus tinha sido muito generoso por ter colocado os dois em sua vida e rezou para que assim continuasse.
Os dois se completavam na vida de João Pedro e viver sem um dos dois era um pensamento tão insuportável quanto pensar em deixar de respirar ou mesmo obrigar o coração a parar de bater, João sabia muito bem.
Passaram a noite sentados na cadeira do hospital, após o médico vir avisar que fariam alguns exames, antes de dar algum diagnóstico preciso.
O mais importante, ele ressaltara, era que Eva estava viva. O médico elogiou a pasta que os dois haviam trazido e entregado com todas as informações médicas sobre a idosa.
Felizmente, Liam, sempre muito atento, pegara agasalhos para os dois, visto que João estava totalmente descontrolado e não se lembraria daquilo. Hospitais sempre são frios e aquele não era diferente.
Cochilaram um pouco apesar do ir e vir das pessoas chegando pra pedir socorro.
Já era quase onze da manhã quando o médico veio dar a notícia.
_Felizmente, foi só um susto._disse com um sorriso tímido em seu rosto cansado.
Os dois homens relaxaram como se um peso enorme tivesse sido retirado de seus ombros.
_Ela está bem agora. Teve algumas escoriações e talvez se assustem com alguns hematomas devido à queda e à pele dela ser muito sensível e branquinha.
_Mas o que levou a minha mãe a cair deste jeito, doutor?
_Um dos remédios precisa ser trocado, nada mais._ele sorriu.
_Mas a gente leva a minha mãe ao médico com regularidade..._disse João aflito.
_Não é nada disso. Simplesmente não há como a gente adivinhar quando um medicamento desses irá deixar de funcionar. Mesmo sendo um medicamento eficaz, as doses são praticamente individuais para cada caso. No caso da sua mãe, vou apenas aumentar a dosagem.
_Então ela está bem realmente?_perguntou João querendo ter certeza do que ouvira, pois a imagem da mãe no chão ainda não lhe saía da cabeça.
Liam poderia responder aquela pergunta sem precisarem da ajuda do médico, pois já sabia que o caso da sogra era grave e o médico falava que ela estava bem dentro do possível, claro.
_Bem dentro do possível, se tratando de uma pessoa que se encontra dentro deste quadro tão grave, eu quis dizer. _o médico se apressou em esclarecer.
João pareceu enfraquecer ao ouvir o médico não tornar o seu sonho de cura pra mãe realidade.
_Ela está fazendo hemodiálise num bom hospital, mas o que realmente daria a ela uma qualidade de vida melhor seria ser submetida a um tratamento de ponta que estamos utilizando em pacientes como a sua mãe, que não suportaria a cirurgia para um transplante. Dona Eva seria uma ótima candidata para tentar este novo caminho para resolver a falência renal que ela tem. Temos tido excelentes resultados e tenho muitas esperanças para o caso dela. Posso dizer que ela teria quase oitenta por cento de chances de melhorar._disse entusiasmado.
Eles sabiam que havia sim um tratamento melhor, mas que era caríssimo. Nem o colocavam em discussão, pois para eles era impossível e o convênio não cobria.
_Talvez quando o convênio dela cobrir..._disse João Pedro esperançoso.
Viram o entusiasmo do médico desaparecer imediatamente. Será que ele estava pensando que os dois tinham condições de arcar com aquelas despesas?
_Não acredito que o convênio irá cobrir. É um tratamento caro demais, mas é o mais indicado pra sua mãe. Melhoraria a qualidade de vida dela cem por cento, eu garanto e sendo assim, lhe renderia mais anos de vida. Caso não desse certo, ela voltaria pra hemodiálise e ficaria tudo como está, mas, infelizmente ela...
Aquele era o momento em que o profissional falaria quanto tempo de vida dona Eva ainda tinha.
João não queria ouvir falar em prazos...nem mesmo Liam, por isso interromperam o médico com rispidez.
_Quando ela poderá ir pra casa?
O médico olhou os dois desconsertado. Acreditava que todos tinham o direito de saber quanto tempo de vida lhes restava para que decidissem o que melhor fazer com ele. Dona Eva não deveria ser exceção.
_Agora mesmo poderei dar a alta dela, se quiserem, mas alerto que ela deverá ficar em observação pelas próximas vinte e quatro horas e se precisarem voltar, me procurem. Doutor Jorge Salomão Arantes. Tenham um bom dia.
Sentaram-se novamente para aguardar a liberação de Eva.
Um enfermeiro, que estivera observando os dois a noite toda, aproximou-se e falou em tom de cumplicidade:
_Não caiam na deste médico. Ele trabalha em uma clínica particular chiquérrima e fica aí tentando conseguir pacientes.
Liam olhou para o rosto do rapaz desconfiado:
_O que quer dizer com isso? Acha que ele está mentindo quanto ao tratamento mais apropriado para a minha sogra?
O rapaz olhou em volta temendo que alguém escutasse o que ele iria dizer:
_Não é nada disso. O doutor Jorge Salomão é um excelente médico, mas cobra os olhos da cara pra prolongar a vida das pessoas. Tipo, se a sua sogra tem apenas três meses de vida do jeito que está, ele dá um jeito de estender para dez!
João Pedro sentiu uma dor no coração ao ouvir aquilo! De onde ele tirara três meses? Teria sido aleatório?
_Mas deveria dar um jeito de fazer isso aqui, com algum convênio e não lá na clínica particular dele e cobrando horrores só de internação! Quem dá conta? Ninguém. Uma fortuna este tratamento! Mas já vi salvar muita gente que já estava completamente desenganada!_o rapaz ergueu os ombros e suspirou._Por isso, aproveitem estes últimos momentos com a senhorinha...Triste demais, não é?! Também perdi a minha mãe numa máquina de hemodiálise há dois anos. Tivesse eu este dinheiro todo e ela estaria ainda aqui, pobrezinha.
Liam olhou severamente para o rapaz que entendeu o recado quando viu que João Pedro começava a chorar tampando a boca para abafar o som.
O enfermeiro foi embora percebendo que falara demais. Apelara feio!
Ele e o médico tinham um acordo: a cada paciente que o enfermeiro conseguisse mandar para a clínica do doutor Jorge Salomão, ele ganharia uma recompensa em dinheiro e era aquilo que ele estava fazendo. Tentando se dar bem.
Felizmente, quando dona Eva recebeu alta, Liam já tinha conseguido fazer João Pedro recuperar o controle.
O sorriso que a idosa deu quando viu o filho e o genro a esperando com os olhos úmidos fez os dois rapazes acreditarem que tudo era possível! Até mesmo um milagre de Natal para manter aquela alma iluminada perto deles por muito mais tempo.
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