CAPÍTULO 7-FALTA DE MATURIDADE


" Tudo me é permitido, mas nem tudo me convém."


Afonso avaliou: qual era a diferença entre vício...mania...fissura...doença...TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo)? 

Ele não saberia dizer o porquê daquela ideia fixa de ir sempre observar os dois homens naquele ponto de ônibus, mas aquilo já  estava incomodando demais pra continuar.

No primeiro dia em que Afonso resistiu à tentação de ir observar os namorados, ele decidiu sair com Artur e se acabar durante a noite inteira, como costumava fazer antes de encontrar João e Liam.

_Bem-vindo de volta, filho pródigo!_disse Artur abraçando o melhor amigo com entusiasmo.

As garotas, já conhecendo Afonso, já vinham todas chegando com seus olhares insinuantes, com suas curvas sedutoras e cheias de más intenções na cabeça, jogando frases provocantes:

_Senti saudades, Afonso.

_Achei que tinha me esquecido, querido.

_Agora deu pra dormir sozinho, lindo? Naquela cama enorme é um pecado...

Afonso sorriu pra todas elas...deixou que lhe beijassem a boca, lhe apalpassem o sexo, lhe sussurrassem obscenidades nos ouvidos...tudo como sempre tinha sido...sonhando que tudo voltaria ao normal.

Aquela era a sua rotina enfadonha...puta rotina de merda, pensou Afonso sentando-se junto com os mesmos amigos, na mesma casa noturna, tomando as mesmas bebidas, ouvindo as mesmas músicas e cercado pelas mesmas mulheres que não lhe interessavam mais nos últimos tempos.

O cheiro dos perfumes caros que elas usavam provocara-lhe náuseas, repulsa, aversão.

Afonso virou dois copos da bebida que costumava tomar ali...conversou os mesmos assuntos...com as mesmas pessoas e levou pra casa o mesmo número de garotas que ele costumava levar quando ainda não era um compulsivo observador de ponto de ônibus...esperando alcançar o mesmo resultado de sempre: trepar e gozar até perder os sentidos!

Eram quase três da manhã. Foi  entrando pela mansão fazendo sinal para que as mulheres controlassem o tom de voz a fim de não acordarem os pais dele. Não estava a fim de ouvir sermão da mãe.

Logo as garotas já estavam nuas em sua cama de casal...logo elas lhe arrancaram as roupas e começaram a invadir o seu corpo com lábios quentes e úmidos...mãos ousadas...sufocando ele com seus seios enormes e siliconados...sacudindo os seus cabelos sempre lisos e batendo  no meio das costas...nada diferente e todas  tão iguais, ele avaliou entediado. Pareciam ser feitas em série e usando sempre a mesma forma! Perfeição artificial e cabeças vazias.

Afonso se deixou acariciar...chupar...mordiscar...deixou que as mulheres, como sempre, fizessem a mesma disputa idiota tentando, alguma delas,  ser escolhida como a namorada oficial do filho do rico empresário.

Neila...Agda...Valeska...Por que todo aquele trabalho em se apresentarem pra ele? Por que elas acreditavam que ele se lembraria dos nomes delas no dia seguinte?

Afonso sentiu a mente vagar vazia...seria por causa da bebida? Afonso sentiu o corpo relaxar aos poucos, mas percebeu que não passou daquilo. Não havia prazer...excitação...tesão.

Uma das garotas já tinha metido o pau do único homem naquela cama na boca e se esforçava para que o membro acordasse, mas não teve sucesso...Frustrada e com a mandíbula dolorida pelo esforço repetitivo, ela despistou e permitiu que a segunda e depois a terceira também viessem tentar acordar o fogo do dono da casa. Sem sucesso.

Esperançosas e determinadas, as três garotas montaram nele tentando acordar o corpo do homem que elas esperavam impressionar a ponto de serem convidadas a voltar àquela casa outras vezes.

Eram duas garotas muito jovens, lindas...pareciam ter menos de vinte anos e uma parecia ter mais de quarenta, mas tinha um corpo que certamente fazia inveja às outras duas.

Com sua cabeça ébria, Afonso não viu quando a mais velha assumiu o controle da situação e dispensou as duas mais jovens e finalmente ficou sozinha com o filho do empresário.

Afonso, quando percebeu que estava com apenas uma das garotas, riu sem mesmo saber por que, não sabendo se era de embriaguez, ou mesmo porque estava enfadado demais delas insistirem tanto para agradá-lo. 

Foi apenas naquele momento que o filho do empresário se deu conta de que pela primeira vez na vida não conseguira, apesar de tantos esforços, ficar excitado com uma mulher! No caso, nem com três!

O filho do dono da casa admitiu que talvez tivesse cochilado por diversas vezes, já que ali não havia nada que lhe interessasse. Arriscou pensar que em dado momento as três tentaram não desperdiçar aquela noite e aquela cama enorme e elas mesmas trocaram carícias entre si a fim de não saírem dali sem gozarem.

Afonso sentiu o corpo melado e suado do gozo das mulheres que, com certeza, haviam feito merda roçando seu sexo no pau dele sem encontrar receptividade alguma.

Sentiu-se frouxo...sentiu-se broxa...sentiu-se impotente em sua masculinidade de garanhão pegador que nunca havia negado fogo pra mulher alguma que levasse pra cama!

De repente, fato inédito, Afonso se sentiu um estranho no próprio quarto...sentiu nojo da  própria cama...sentiu-se sujo com aquele cheiro de suor de fêmea que não se valoriza a ponto de não aceitar ser rejeitada pelo corpo do homem com quem deseja transar.

Não havia rolado a menor química entre os quatro, ele percebeu, mas parecia que elas se recusavam a perceber. Talvez tivessem  o orgulho ferido também.

Afonso não sabia o que estava acontecendo com ele. Ele  só sabia que sentia nojo do próprio corpo, sentia repulsa por se lembrar do quanto o sexo feminino havia sido comprimido contra o seu rosto insensível, o seu  pau sem vida  e o quanto aqueles seios, aquelas nádegas, aqueles lábios haviam se pressionado contra os dele.

Ele não havia gozado...nem mesmo  havia ficado de pau duro, percebeu logo se sentindo arrasado e machucado em seu orgulho de macho!

Uma mistura de surpresa...decepção...depressão o invadiu.

As luzes da manhã começavam a invadir o quarto por uma pequena fresta que ele podia ver na cortina black out mal fechada.

De repente, Afonso, que tinha se esquecido completamente da terceira mulher, assustou-se com ela sentada completamente nua aos pés da cama, pernas cruzadas debaixo do corpo, olhando para o seu rosto como se ainda não pudesse acreditar no que havia ocorrido ali.

_Você broxou, cara...broxou feio..._ela disse com a expressão entre safada, com desprezo e parecendo se sentir vingada.

Afonso sentiu-se revoltado pela mulher ter  esperado para  jogar na cara dele o que ele com certeza iria querer apagar da memória.

_Duas gatas gostosas se esfregando no seu cacete sem que ele reagisse realmente era algo que eu nunca esperava ver acontecer na cama do garanhão Afonso Castro Ribeiro Moraes._ela sorriu de maneira debochada.

Afonso sentiu um murro em seu orgulho de homem, orgulho de macho, orgulho de uma fama que ele sabia que sempre o precedia onde quer que ele chegasse.

_Saia daqui, sua vadia!_disse ele se cobrindo como se quisesse esconder a sua vergonha.

A garota, ainda completamente nua e com um corpo bronzeado e com curvas de tirar o fôlego de qualquer homem não se mexeu.

_Você se lembra de mim, Afonso? Sabe qual é o meu nome?

Ele não se lembrava dela...assim como não se lembrava também de nenhuma das garotas que iam e vinham pra sua cama, pois ele não queria ficar mais do que uma noite com nenhuma delas.

_Não guardo nome de piranha! Agora saia do meu quarto e leve este seu rabo pra bem longe daqui, sua vaca!_ele explodiu irritado.

Afonso viu a mulher se arrastar languidamente para fora da cama rindo de maneira irritante. 

Ele queria que ela fosse embora logo e levasse com ela a sua vergonha por ter falhado de maneira tão escandalosa!

_Eu te desejei desde a primeira vez em que eu te vi, Afonso...eu cheguei a sonhar com você..._sussurrou a mulher de maneira sedutora.

_Sua débil mental, você está surda?_ele falou impaciente, pois com certeza aquela não era a primeira mulher que ele havia rejeitado um dia._Saia daqui!

Mas a garota parecia disposta a lavar a alma.

_Eu te seguia nas festas...te seguia nos eventos...ficava na sua cola esperando que você me chamasse para a sua cama, mas você sempre chamava as novinhas...me descartava por ser velha demais, não é mesmo?

_Por acaso tenho cara de psicólogo, piranha? Acha que vou curar a sua baixa autoestima diante das garotas mais novas?_disse sem se sensibilizar pelo discurso magoado.

Novamente ela não pareceu ouvi-lo.

_A primeira vez em que eu tive a oportunidade de ficar com você, tive que ouvir você me olhando uma segunda vez e dizendo que eu era velha demais pra você...que você queria apenas as novinhas...Meu coração sem vergonha não demonstrou ter amor próprio e mais uma vez jurou que iria ficar com você algum dia...tornou-se uma questão de honra. Trabalhei feito uma escrava, juntei dinheiro...me repaginei...fiz lipo, silico, botox...comprei roupas caras...investi pesado em mim só pra você, Afonso...

_Vai à merda, garota!_Afonso jogou um travesseiro na mulher.

Será que ela começaria a persegui-lo pra não deixá-lo se esquecer daquela noite de fracasso?

_E, finalmente, depois de observar você por meses, tive a oportunidade de me misturar a duas amigas e passar despercebida aos seus olhos exigentes de só trazer ninfetas pra sua cama. Só novinhas  para o filho do rei do petróleo!_ela jogou dramaticamente os braços para o alto.

Afonso não acreditava que estava deixando aquela mulher acabar com ele bem ali, dentro de sua própria casa e na sua cama!

_Todas as garotas que já estiveram aqui me diziam que a mulher que não passasse pela cama de Afonso não podia se considerar satisfeita, pois você era a melhor foda das vidas delas! 

Ele resolveu apelar... tentar atingi-la para que ela saísse logo dali:

_Quer dizer o quê, putinha vadia? Quer dizer que eu vou ter o quê? Que te indenizar por ter frustrado os seus planos, é isso? Não rolou química, garota! Ainda não percebeu? Talvez justamente porque tinha uma velha na cama!

A garota calmamente pegou as  roupas e  se vestiu olhando pra ele de cima abaixo...olhos que demonstravam desprezo...repulsa...pena...se sentindo vingada!

_Há quantos anos você não é mais o menininho mimado do papai e da mamãe, hein?! Quando você vai começar a assumir os seus cabelos brancos, cara? A vida passa pra todo mundo e também pra você!_ela sorriu sadicamente se sentindo poderosa._Age feito um garotão de dezoito cheio de porra ainda pra gastar quando, na verdade, já passou dos quarenta e ainda não sabe o que quer da vida. Não respeita as mulheres, não respeita os desejos das mulheres, os sentimentos...apenas usa e descarta uma a uma como se todas fossem objetos que você  subjuga e joga fora porque você pensa que  ainda tem munição pra décadas!

Afonso viu a mulher jogar a cabeça pra trás de forma arrogante.

_Se mantém preso em sua Síndrome de Peter Pan acreditando que como membro da realeza nesta cidade tem juventude eterna. Imaturo, imbecil, arrogante, desprezível...Não vê que seu reinado acabou, Afonso?_ela o encarou ainda rindo sadicamente._Acha que ainda pode escolher? Você broxou...negou fogo...Acho que daqui pra frente, só pagando pra manter a dignidade, porque a mulherada não perdoa...Já devem estar passando B.O. (boletim de ocorrência) umas pras outras!

_Fora daqui, sua vaca...fora!_explodiu Afonso  ficando cada vez mais irritado por se ver numa situação que ele mesmo havia criado ao levar aquela mulher atrevida pra sua cama.

Talvez ela estivesse certa e ele realmente fosse imaturo e inconsequente por deixar que sua vida corresse tão solta e tão sem controle.

_Você era lindo...você era gostoso, mas agora virou um bosta, isso sim! Acabou o reinado de Afonso Castro Ribeiro Moraes...literalmente..._riu apontando para o pau do homem que se sentia humilhado entre os lençóis._Tudo o que sobe...aliás, tudo que sobe tanto assim...mais rápido cai e...pelo jeito...isso aí...e com a idade que você tem...talvez nem Viagra resolva mais, cara! Você já era! Está acabado!

Afonso viu a garota sair com o seu corpo sensual andando com elegância e altivez para fora do seu quarto, o deixando sozinho com sua vergonha e humilhação.

O herdeiro de Élio e Cátia não precisou ser gênio pra saber quem era aquela mulher que acabara com ele. Aquela era apenas uma, dentre tantas, que ele com certeza já desprezara quando ao sair de alguma festa apontava qual das garotas  teria a honra de dormir com ele, ignorando  todas as outras.

Reconheceu que fazia parte de uma classe privilegiada da sociedade...reconheceu que tinha não só aquelas garotas naquela noite, como todas as outras que desejasse, mas que ainda assim...especialmente agora...também o seu corpo reconhecia que não adiantava mais fingir.

Ele não queria mais mulheres em sua cama...muito menos em sua vida!

Afonso não queria se casar...não queria ter filhos...não queria perpetuar o nome Castro Ribeiro Moraes, porque admitiu que a artificialidade da vida que estava levando até aquele momento lhe fora jogada na cara por uma mulher que finalmente tivera coragem de desmascarar o falso príncipe encantado.

Afonso sentiu-se sozinho naquele quarto enorme e as palavras daquela mulher retumbavam em sua mente.

Levantou-se meio tonto com tudo aquilo  e foi ao banheiro.

Estava horrível! Ela tinha razão...ele não era mais o garotão que costumava ser na juventude. Aquela aparência parecia carecer de viço...parecia carecer de energia...parecia carecer de desejo, de adrenalina...de essência de vida!

Ele parecia realmente um ancião naquele momento...com uma vida vazia...sem sentido...sem planos para o futuro...sem expectativas.

Afonso pegou o próprio pau flácido e sem vida...onde estava todo aquele vigor, todo aquele tesão, toda aquela potência? Mais do que nunca ele sentiu a urgência em dar um novo rumo a sua vida. Mais do que isso, ele precisava dar um novo sentido a sua existência, ou talvez devesse tomar coragem e  por um fim naquilo!

O suicídio era uma opção que nunca havia pensado, mas se fosse pra continuar a viver porcamente daquele jeito...não teria escolha.

Pensou em todos os livros de filosofia que ele havia enfileirado nas estantes da biblioteca...frases que agora ele pensou em lançar todas dentro do vaso e dar descarga, já que não adiantava ter o conhecimento e não saber usá-lo.

Deitou-se novamente na cama...encolheu-se todo, posição fetal...cobriu a cabeça...talvez a mulher estivesse coberta de razão...ele era imaturo, infantil...talvez ela devesse ter lhe dito que ele era um completo deficiente mental por não conseguir nem pensar em algo que fazer com o resto de sua droga de vida!

Mais uma vez sonhou com a única referência de felicidade que tinha naquele momento: dois homens num ponto de ônibus aparentando estarem felizes, muito felizes!

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