"É só o amor que conhece o que é verdade!"(da música Monte Castelo-Legião Urbana)

Doutor Jorge Salomão estava  satisfeito quando veio dar a alta temporária para dona Eva.

_E então? A minha paciente preferida está pronta pra ir pra casa?_anunciou em uma bela manhã de sol.

Dona Eva sorriu com o coração aliviado, pois temia nunca mais ver o seu lar.

_Deus seja louvado! Todos os arcanjos e todos os santos do céu sejam louvados, doutor Jorge!_a idosa começou a chorar emocionada._O senhor realmente vai me liberar pra ir pra casa?

_Mas é claro que vou!_confirmou o médico sorridente.

João Pedro também ficou emocionado vendo a mãe tão feliz.

Ele também estava feliz, pois há dois dias não conseguia falar com Liam...os telefones mais uma vez haviam emudecido e ele reconhecia que quanto mais demorasse para encontrá-lo, mais difícil seria para pedir desculpas pelo que fizera.

Ainda  não entendia todo aquele nervosismo...toda aquela agitação que o havia levado a desconfiar daquele jeito do seu amor!

_Calma, minha mãe amada, ou vai subir a pressão e aí eles não vão permitir a nossa saída._alertou João Pedro imaginando se a pressão dele também já não tinha subido pela ansiedade.

_Não se preocupe._tranquilizou o médico._Ela está ótima! Mas quero que me prometa fazer a dieta que eu prescrevi e tomar direitinho os remédios que eu passei, dona Eva.

_Pode deixar que eu vou ficar de olho nela, doutor._prometeu João Pedro.

Amigas já haviam se oferecido pra ficar com a mãe dele enquanto ele trabalhava...dona Eva não ficaria um minuto sozinha, esclareceu João Pedro.

_Não precisa se preocupar, João Pedro! O pacote feito pelo Afonso inclui uma enfermeira pra acompanhar a dona Eva._informou o médico.

João Pedro inicialmente não ficou  confortável com aquilo...Sua casa era tão simples, tão humilde...ficaria constrangido com a presença da enfermeira.

_Conhece a Alice?_apontou o médico entusiasmado.

João Pedro sentiu um peso enorme sair de seu peito. A garota era muito fofa, também pobre e simples e não seria constrangedor recebê-la em sua humilde casa.

_Ela foi um anjo pra mim enquanto estive aqui._comemorou dona Eva beijando o rosto da garota que lhe sorria.

_E vai continuar sendo um anjo da guarda enquanto a senhora estiver na sua casa, dona Eva. E não se preocupe, porque a Alice tem parentes na sua cidade e poderá ficar na casa deles quando não estiver trabalhando.

Aquela notícia deixou João Pedro mais à vontade ainda. Estava tudo dando certo e acreditou que aquilo sinalizava que as coisas finalmente voltariam ao normal e que, como Liam dissera, a família voltaria a ficar unida.

_Quando posso ir? Agora?_perguntou dona Eva agitada.

O médico riu.

_Nossa! Fico até triste por ver que a senhora quer me ver pelas costas tão rápido...

_Mas fiquei aqui tanto tempo! Não se enjoou de mim?

_Não...claro que não...Da próxima vez que a gente se ver...

Ela suspirou com um sorriso agradecido:

_Receberei um rim novo!

João Pedro sentia o coração transbordar de felicidade vendo tanto carinho e paciência com a mãe dele.

_Pena o Afonso não estar aqui pra eu me despedir dele..._lamentou dona Eva.

João Pedro pensou o mesmo. Seria muito bom despedirem-se de Afonso...quem sabe novamente tentar agradecer...Mesmo sabendo que nunca seria o suficiente!

_Pois é, dona Eva...Afonso está lá do outro lado do mundo..._informou o médico._Mas prometo que direi  a ele  que a senhora deixou um abraço pra ele e aposto o que a senhora quiser que do jeito que ele é, assim que chegar irá visitá-la na sua casa!

João Pedro ficou nervoso com aquela possibilidade...Um homem tão rico, tão fino numa casa tão pobre...e dava pra perceber que Liam não estava gostando daquela ideia.

João Pedro pensara bastante na relação dele com Liam naqueles  últimos dias...

Mesmo sem querer admitir, Liam estava sim sentindo ciúmes de outro homem, João Pedro percebia...não um homem qualquer, mas um homem que estava devolvendo a vida a sua sogra!

Na cabecinha cheia de carência pela distância, com certeza Liam poderia ter criado fantasias absurdas de que João Pedro pudesse estar tão encantado por Afonso a ponto de colocar o namorado  em segundo plano.

Arrumaram as coisas de dona Eva enquanto ela saía pela clínica dando a boa nova pra todo mundo e falando que quando voltasse pra clínica novamente, receberia o rim novo.

Todo mundo, por onde passavam rumo ao heliporto, vinha se despedir de dona Eva, fazendo com que ela se sentisse importante e deixando o filho dela totalmente emocionado com o tratamento que era dado para a sua mãe.

Afonso realmente merecia todo o crédito...Afonso realmente era um homem caridoso, solidário, desapegado de seus bens materiais, de sua riqueza...Afonso realmente estava apaixonado por aquela velhinha com carinha de sapeca e um coração enorme e capaz de aninhar mais um filho, seu salvador,  dentro dele, admitiu João Pedro.

_Por favor, doutor Jorge...não se esqueça de dizer ao senhor Afonso que nós sentimos muito por não podermos nos despedir dele._disse João Pedro.

Do outro lado da tela, Afonso acreditou que aquilo também era efeito do que havia acontecido na lanchonete e mais uma indicação de que o romance dos dois estava ruindo. 

_Despedir pra quê, gostoso?_disse Afonso do outro lado da tela._Logo, logo estarei indo atrás de você e da sua mãezinha para pessoalmente dar um pé no rabo daquele seu namorado ridículo!

_Meu Deus do céu!_disse dona Eva sem acreditar no que via.

O helicóptero já estava com as hélices ligadas, o piloto sorridente esperando por ela, a enfermeira Alice logo atrás também sorrindo...será que todo mundo ali fora embebido no mel, ela perguntara ao filho um dia se referindo a tanto carinho que lhe dirigiam.

_Quem quer voar comigo?_chamou o piloto sorridente enquanto ajudavam a idosa a entrar.

João Pedro sentou-se ao lado da mãe e sentiu ela agarrar a sua mão quando o helicóptero saiu do chão.

_Estamos voando, estamos voando..._ela comemorou batendo palmas.

O filho secou uma lágrima, pois não mais acreditava que um dia veria a mãe sorrir feliz daquele jeito.

O piloto fora muito camarada voando um pouco mais com os passageiros. Dona Eva viu toda a sua cidade do ar!

_O senhor Afonso deixou ordens expressas de que a senhora deveria receber tratamento vip, dona Eva!_disse a enfermeira sorrindo.

_Aquele pudim de leite, João Pedro...e aquela carne de panela que só o Liam sabe fazer...é isso! Nós faremos um banquete quando o Afonso vier nos visitar!_disse a idosa entusiasmada.

João Pedro riu da empolgação da mãe.

_Ele virá visitar a senhora, mamãe...apenas a senhora._disse João Pedro corrigindo rápido temendo que ela viesse a falar aquilo perto de Liam.

Pousaram em segurança. Um carro já esperava para levá-los para casa. Realmente Afonso pensara em tudo.

João Pedro não se cansava de agradecer a Deus por ter colocado aquele anjo em suas vidas!

Ao invés de ter enterrado a mãe, agora a levava viva  pra casa!

O transplante poderia sair dali a um, dois dias, um mês...não importava...o médico dissera que só faltavam fechar alguns detalhes...que não deveria demorar...

João Pedro não precisaria de muito tempo...só o tempo de consertar as coisas entre ele e Liam...nada mais.

A casa estava limpinha...a pintura terminada...os jardins lindos...uma horta...dona Eva ficou encantada com tudo o que viu.

_É meu genro, sabe!?_explicou para a enfermeira._Ele é como um segundo filho pra mim. Ele e o meu filho têm uma linda história de amor!

João Pedro esperou ansiosamente a mãe se instalar direitinho até que pode finalmente sair de casa e ir ao encontro de Liam, na lanchonete.

Um dos funcionários viu quando João Pedro entrou pela porta da lanchonete com o rosto vermelho, ofegante  parecendo que viera correndo até ali.

_Corre lá dentro, Guilherme, e diga ao Liam que o João Pedro está de volta!_disse o funcionário que estava ocupado servindo uma mesa.

Guilherme olhou alarmado para a porta vendo finalmente João Pedro ao vivo e a cores!

Realmente ele era muito bonito, por isso Afonso estava tão apaixonado!

Guilherme torceu para que Afonso não estivesse vendo quando ele saiu rapidamente para procurar Liam.

_Melhor você ir lá fora, Liam!_disse afogueado._O seu namorado...ele está aqui!

Liam que fritava pastéis ficou sem ação...será que estavam brincando com ele?

_Vai logo lá, homem, e deixe que o Guilherme cuida disso aí!_disse o dono da lanchonete dando tapinhas nas costas de Liam.

Guilherme respirou aliviado por ter uma desculpa para não sair dali, pois intimamente torcia para que os dois reatassem, mesmo que aquilo significasse ele perder o apartamento...mesmo que aquilo significasse deixar Afonso infartando em algum lugar em frente a uma câmera vendo aquilo!

João Pedro viu o seu homem aparecer com os olhos arregalados vindo do fundo da lanchonete...abatido...parecia bem mais magro...sofrido...

O coração de João Pedro doeu, sentindo-se culpado por aquilo e ele veio rapidamente ao encontro do seu amor.

Não precisaram de palavras...muito menos de discrição diante dos funcionários e de meia dúzia de estudantes que já conheciam a história dos dois.

As duas bocas se tocaram famintas uma da outra, enquanto os braços se entrelaçaram unindo  os corpos como se temessem ser separados novamente.

Aplausos encheram a lanchonete, fortes e entusiasmados.

_Me perdoa, amor...me perdoa..._implorou  João Pedro sendo puxado por Liam  para os fundos  da lanchonete.

Sabiam bem para onde poderiam ir para terem privacidade...para o depósito da lanchonete e foi pra lá que se dirigiram!

Entraram, fecharam a porta...se abraçaram novamente, se beijaram ansiosos como se precisassem daquele contato...daquele calor para sobreviverem!

Tanta coisa pra falarem um com o outro, mas a necessidade de se tocarem, de se sentirem, de se completarem era maior!

_Eu senti ciúmes, amor...eu senti ciúmes, confesso..._dizia Liam também agoniado.

_Eu também, vida...eu senti ciúmes também e só posso dizer que a distância que nos afastou mostrou-se filha do diabo a nos pregar peças!_soluçou João Pedro.

Liam beijou as lágrimas que caíam sem parar do rosto de seu amado.

_Eu preciso explicar...naquele dia..._gaguejou Liam rouco de emoção por perceber que não perdera o amor de sua vida.

João Pedro colocou a mão sobre os lábios do amado.

_Não...não precisa explicar nada! Fui um idiota, um ignorante...não sei o que deu em mim...de repente, estava eu ali desconfiando do meu amor...Acho que as saudades me enlouqueceram, sei lá...

Liam teve urgência em não permitir que João se culpasse tanto:

_Também eu confesso que senti ciúmes do tal Afonso...

Agora foi a vez de João Pedro tampar a boca de Liam, pois estava ansioso demais para que pudessem sair logo dali!

_Pare, amor, está tudo bem...não falemos mais nada...foi tudo um grande mal entendido, eu sei! Que horas você pode sair? 

_Eu não sei...E sua mãe, amor?_Liam lembrou-se de perguntar.

_Ela está ótima. Está lá em casa com uma acompanhante...não se preocupe...

Liam agarrou o rosto de João Pedro e deu um beijo rápido naqueles lábios que ele tanto amava,  antes de pedir:

_Fique aqui...deixe que eu falo com o nosso patrão...volto logo, vida...

Afonso olhava aquilo sem acreditar...Afonso queria esganar Guilherme...Será que o idiota não sabia improvisar para impedir aquele encontro? Tinha que estar a todo momento seguindo um roteiro?

Ligou para Guilherme, mas ele permanecia concentrado em fritar os pastéis!

_Maldição...maldição!_gritou Afonso arremessando um enfeite de sua mesa na parede mais próxima, onde ele foi feito em pedacinhos.

Onde fora que eles haviam errado? Ele iria matar o estrategista!

Afonso ficou em pânico vendo os dois, Liam e João Pedro, saindo pelos fundos da lanchonete e ele sabia que certamente eles, aproveitando a acompanhante que o próprio Afonso fornecera para olhar dona Eva, estavam fugindo para transar!

Afonso continuou a ligar para o telefone de Guilherme...que ele se virasse, inventasse qualquer coisa...que ele inventasse que a enfermeira tinha ligado para a lanchonete dizendo que dona Eva estava passando mal...mas que ele impedisse aqueles dois de ficarem sozinhos! 

Guilherme não atendeu o telefone e continuou fritando os pastéis sem erguer o rosto da fritadeira, para desespero de Afonso.

O prostituto despistou o observador e sorriu sadicamente imaginando que Afonso estava possesso vendo o seu plano indo por água abaixo!

Liam e João Pedro não precisaram ir longe...o motel modesto era o único da cidade e ficava bem próximo da lanchonete.

_Mas é claro que podem pagar depois!_disse a atendente sorrindo ao reconhecer os dois.

Liam sabia que estava cheirando  à gordura e tempero, mas não se importou, pois sabia que João Pedro não ligaria pra aquilo.

João Pedro sabia que Liam estava carente dele...sabia que Liam estava sedento de seu corpo, tanto quanto ele mesmo...o que o excitava mais ainda!

Livraram-se das roupas sem pensar se precisariam delas pra saírem dali mais tarde!

O corpo de João Pedro já estava em chamas preparado para receber o corpo de seu amado...

O corpo de Liam também já estava em chamas pronto para entrar fundo e com tesão, muito amor e muito  carinho no seu amado!

Corpos suados...bocas sedentas...sexos famintos...foi um encontro delicioso que permitiu que os dois comungassem mais uma vez da carne um do outro como se fosse a primeira vez!

_Você está gostoso demais...cheiroso demais..._gemeu Liam mordendo o corpo do seu amado ofegante.

João Pedro sorriu satisfeito sentindo o quanto era desejado...o quanto o seu macho estava necessitado dele...o quanto ele o amava! 

João era só  de Liam e Liam era só de João, não havia dúvida e não havia chance alguma de ser diferente!

Liam não conseguiu dizer uma palavra sobre o que acontecera na lanchonete da última vez em que tinham se falado pelo telefone...também não deixou que João Pedro dissesse nada sobre o que acontecia na clínica.

_É nosso momento de perdão._disse Liam ainda dentro de João Pedro que respirava ofegante sentindo aquela posse tão desejada...tão deliciosamente íntima.

_Não tem o que perdoar..._disse João Pedro._ Quem ama não tem o que perdoar...O amor perdoa tudo...limpa tudo...purifica tudo...Hum...Meu corpo estava com saudades desta presença dentro dele...Sou seu...só seu...

Liam acreditou que iria entrar em combustão quando sentiu que iria gozar dentro do homem amado!

_Eu te amo, Liam! Eu te amo, meu amor, minha vida, minha luz, meu tudo!_gemeu João Pedro também gozando junto com Liam.

_Te amo muito mais...muito mais!

Liam sentiu que não se perdoaria se perdesse  aquele momento maravilhoso pra falar o que já ia em sua alma!

_Case-se comigo, amor...case-se comigo e me faça o homem mais feliz do mundo!

Pego de surpresa, João Pedro apenas assentiu sentindo  o seu corpo ser inundado por aquele líquido maravilhoso de seu macho que tomava posse dele...era o seu homem lhe enchendo de amor e lhe prometendo que seria seu pra sempre!

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