capítulo 27
capítulo 27
A brisa da tarde acariciava meu rosto enquanto eu caminhava em direção à imponente mansão de Priscila. Cada passo parecia ecoar minhas dúvidas e anseios, como se o próprio chão estivesse questionando minhas escolhas. Ser o segredo de alguém nunca foi parte dos meus planos, mas ali estava
Enquanto subia os degraus da entrada, meu coração pulsava em sintonia com minhas incertezas. Será que eu merecia mais do que ser apenas um segredo escondido nas entrelinhas da vida de outra pessoa? Será que merecia ser amada sem medo, sem restrições, sem segredos?
Ao alcançar a porta de carvalho maciço, hesitei por um momento, as palavras não ditas ecoando em minha mente como um eco insistente.
A porta se abre lentamente, revelando um funcionário de Priscila, cujo olhar curioso me avalia por um momento antes de me convidar a entrar. Respiro fundo, reunindo toda a coragem que posso reunir, e adentro a mansão que tanto conheço, mas que agora parece estranhamente desconhecida.
Ao cruzar o limiar, meus olhos são imediatamente capturados por uma figura descendo elegantemente as escadas. Priscila, com seu sorriso cativante e seus olhos profundos, parece uma visão de outro mundo. Seu vestido verde escuro, justo ao corpo, realça cada curva, enquanto o tecido sedoso dança em torno dela com cada passo gracioso.
É impossível não notar como ela é linda, como sua presença domina o espaço ao redor. Mas enquanto a observo, uma sensação de desconforto se instala em meu peito. É como se cada elogio silencioso que ela recebe apenas reforçasse a verdade que tanto tentei ignorar: eu não quero ser apenas mais uma entre tantas admiradoras. Eu quero ser mais do que apenas um segredo escondido nas sombras da sua vida.
Enquanto Priscila se aproxima, seu sorriso se alarga ao me ver, mas mesmo assim, uma sombra de dúvida paira em seus olhos, como se ela soubesse que algo mudou dentro de mim. E então, enquanto ela estende a mão para me cumprimentar, eu sei que chegou o momento
Priscila inclina a cabeça levemente, seus olhos fixos em mim com uma mistura de surpresa e confusão.- "O que você quer dizer, Zoè?", ela pergunta, sua voz suave ecoando pelo salão.
Respiro fundo, sentindo o peso das palavras que estão prestes a sair. -"Precisamos conversar", digo, minha voz firme apesar do nó que se forma em minha garganta.
As duas nos sentamos lado a lado no sofá, a distância entre nós de repente parece insuficiente para conter todas as emoções que fervilham dentro de mim. Olho nos olhos de Priscila, buscando coragem em seu olhar sereno, mas também buscando respostas para as perguntas que atormentam minha mente.
-"Priscila, eu sei que já falamos sobre isso antes", começo, minha voz vacilando por um momento antes de continuar. -"Mas eu preciso saber até quando eu vou ser apenas um segredo para você. Eu não quero mais viver nas sombras, escondida do mundo como se minha existência fosse algo a ser escondido."
Priscila parece surpresa com minha franqueza, seus lábios se entreabrindo em uma expressão de perplexidade. -"Por que você está pensando nisso agora? Está tudo perfeito entre nós", ela diz, sua voz soando um pouco mais frágil do que o habitual.
Engulo em seco, reunindo toda a coragem que posso reunir para expressar meus sentimentos mais profundos. -"Porque, Priscila, para mim não está perfeito. Eu quero mais do que apenas migalhas de afeto escondidas nas sombras. Eu quero ser vista, reconhecida, amada publicamente por quem eu sou. Eu mereço mais do que ser apenas um segredo na sua vida."
O silêncio se estende entre nós, pesado e carregado de emoção. Priscila se levanta do sofá, uma mistura de frustração e raiva atravessando suas feições delicadas. Seus olhos, normalmente tão cativantes, agora brilham com uma intensidade que me faz recuar ligeiramente.
- Eu não sei, Zoè. Talvez um dia, quem sabe daqui alguns anos...", ela murmura, sua voz carregada de incerteza e um leve toque de raiva.
Eu a olho, sem piscar, absorvendo suas palavras com um nó apertado na garganta. Mas então, algo dentro de mim se fortalece, uma determinação que eu não sabia que possuía. Ergo-me do sofá, encarando-a com determinação.
- Priscila, eu te amo, mas eu não vou ser o segredo de ninguém", digo, minhas palavras soando mais firmes do que eu esperava.
As palavras de Priscila cortaram como facas afiadas, cada uma perfurando minha pele e penetrando fundo em minha alma. -"Zoè, por que você é tão egoísta?" Seu tom era acusatório, como se eu fosse o vilã da situaçãosituação.
Eu a encarei com fúria, minha voz carregada de ressentimento.- "Assumir o que somos pode afetar sua carreira?" Eu repeti suas palavras com um amargor que eu mal conseguia conter. -"Então, qual é o plano? Eu ser o segredo? As pessoas vão começar a se perguntar por que Priscila está solteira e sempre está acompanhada comigo. Elas vão descobrir eventualmente."
Priscila retrucou, seu próprio furor fervendo sob a superfície. "- E vou negar, se for preciso. Finjo, de boa." Sua voz soava cansada, mas também determinada, como se estivesse disposta a qualquer coisa para manter nosso relacionamento longe dos olhos curiosos do mundo.
E naquele momento, eu percebi que talvez nunca pudesse ser o bastante para ela. Que talvez, no fundo, eu sempre seria apenas o segredo que ela estava disposta a esconder.
As lágrimas começaram a se acumular em meus olhos, refletindo a dor e a incerteza que tomavam conta de mim. Encarei Priscila minhas palavras saindo em um sussurro embargado. - Você vai ter que fazer uma escolha, Priscila. Ou você me assume, ou nós terminamos."
Houve um momento de silêncio tenso entre nós, apenas o eco de nossas respirações pesadas preenchendo o espaço entre as palavras não ditas. Eu segurei sua mão, buscando desesperadamente por qualquer sinal de hesitação em seu rosto, qualquer indicativo de que ela ainda se importava o suficiente para lutar por nós.
Mas seus olhos desviaram dos meus, evitando o confronto direto com a realidade que eu estava exigindo. E foi nesse momento que eu soube. Eu soube que a escolha já tinha sido feita, muito antes de eu ter coragem de colocá-la em palavras.
As lágrimas finalmente escaparam de meus olhos, rolando livremente por minhas bochechas enquanto eu me afastava, deixando para trás tudo o que pensava que tínhamos. Porque, no final das contas, algumas escolhas são tão claras quanto a luz do dia, mesmo que doam mais do que qualquer escuridão.
O caminho de volta para casa foi um borrão, cada rua e cada esquina uma lembrança dolorosa daquilo que agora estava perdido. Os olhos inchados e vermelhos refletiam a tempestade interna que me consumia enquanto eu lutava para segurar o choro, não querendo dar à solidão o prazer de me ver quebrada.
Mas quando finalmente cheguei em casa e fechei a porta atrás de mim, a fachada de força que eu havia construído desabou. Meu corpo cedeu ao peso das emoções que eu havia guardado com tanto cuidado, e eu caí de joelhos no chão frio da sala, soluçando descontroladamente.
As lembranças de Priscila dançavam em minha mente, cada momento compartilhado, cada promessa feita, agora se transformando em cinzas diante dos meus olhos. Como ela poderia ter feito isso? Como poderia ter sido tão cruel, tão egoísta?
Eu me agarrei às almofadas do sofá, afundando meu rosto nelas na esperança vã de abafar o som de meu próprio sofrimento. Mas as lágrimas continuavam a fluir, um rio de tristeza e desespero que parecia nunca ter fim.
E ali, sozinha em minha dor, eu soube que o caminho à frente seria longo e tortuoso. Mas eu estava determinada a seguir em frente, mesmo que cada passo fosse um desafio, mesmo que a dor fosse insuportável. Porque no fim das contas, eu sabia que merecia mais do que alguém que me deixasse no escuro, escondido dos olhos do mundo.
_ Priscila _
Estou sentada na escuridão fria da adega, uma garrafa de vinho vazia ao meu lado, minhas mãos trêmulas segurando o celular enquanto tento encontrar coragem para discar o número de Zoè. Minha mente está uma confusão, minhas palavras se misturando em um borrão de arrependimento e desespero.
-"Merda, merda", murmuro para mim mesma, os efeitos do álcool tornando minha voz ainda mais rouca e desconexa. Como pude dizer aquelas coisas para Zoè? Como pude magoá-la daquela maneira? A dor em meu peito é avassaladora, uma ferida aberta que parece nunca cicatrizar.
Eu me seguro na esperança de que Zoè esteja bem, de que ela tenha encontrado conforto em sua própria solidão. Mas o pensamento de que ela possa estar sofrendo por minha causa é quase insuportável. Eu deveria ir até lá, verificar se ela está bem, pedir desculpas, tentar consertar o estrago que causei.
Mas minhas pernas parecem incapazes de me levar até lá, minha mente presa em um ciclo interminável de autodestruição. Eu me pergunto se devo ligar para ela, se devo invadir sua solidão com minhas palavras desajeitadas de desculpas e arrependimento.
Mas então, a dúvida se dissipa quando vejo a luz do telefone piscando, uma chamada perdida de Zoè. Meu coração pula uma batida, a esperança se inflamando dentro de mim. Ela está em casa. Ela está segura.
Com um suspiro de alívio, finalmente discando o número dela, as palavras de desculpas formando-se em meus lábios enquanto espero que ela atenda, rezando para que ela ainda esteja disposta a me ouvir.
As lágrimas continuam a escorrer pelo meu rosto enquanto ouço a voz embargada de Zoè do outro lado da linha. Ela não me dá chance de falar, suas palavras cortantes atingindo meu coração já dilacerado.
- "Por favor, Priscila, me dê um tempo", ela implora, sua voz repleta de dor e desespero. - Nós somos de mundos muito diferentes. Por favor, me esqueça."
Minha boca se abre, mas não consigo articular uma única palavra. A dor é esmagadora, o peso da realidade finalmente se abatendo sobre mim. Eu sempre soube que éramos diferentes, que havia um abismo entre nossas vidas e nossas realidades. Mas nunca imaginei que esse abismo pudesse ser tão profundo, tão impossível de atravessar.
Antes que eu possa dizer qualquer coisa, antes que eu possa implorar por sua compreensão, a linha fica silenciosa. Ela desligou. E eu fico ali, segurando o telefone como se fosse a única coisa que me mantém ancorada à realidade.
É só quando a solidão da adega começa a me envolver que percebo que talvez seja isso que Zoè quis dizer. Talvez seja melhor assim, cada uma seguindo seu próprio caminho, cada uma esquecendo a outra. Mas mesmo assim, a dor persiste, uma ferida que parece nunca cicatrizar.
Com um suspiro pesado, eu coloco o telefone de volta no gancho e me afundo ainda mais na escuridão da adega, sabendo que, mesmo que eu tente, nunca conseguirei me esquecer de Zoè. Ela sempre será uma parte de mim, mesmo que apenas como uma memória dolorosa do que poderia ter sido.
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