capítulo 12

capítulo 12
Caminhando com passos hesitantes, adentro o salão do desfile de moda, onde a efervescência da elite da moda é palpável. A luz dos holofotes reflete nos vestidos extravagantes, enquanto os flashes das câmeras capturam cada detalhe meticuloso das criações deslumbrantes. Entre uma multidão de fotógrafos ávidos por capturar a próxima tendência e jornalistas ansiosos por relatar cada movimento das celebridades, eu me sinto uma pequena peça em um grande quebra-cabeça de glamour e luxo.

Usando meu único vestido de gala, um simples longo sem mangas na cor vermelho vinho, sinto-me inadequada diante da exuberância ao meu redor. Enquanto as celebridades desfilam com suas criações deslumbrantes e os influenciadores exibem sua presença marcante

Enquanto me acomodo em uma cadeira próxima à passarela, uma música suave preenche o ar, criando uma atmosfera etérea que complementa a elegância do evento. Modelos esguias deslizam pela passarela com uma graça fluida, seus cabelos longos e desfiados ondulando em harmonia com seus passos confiantes. Cada uma está envolta em roupas deslumbrantes, exibindo designs inovadores e luxuosos.

No entanto, enquanto observo maravilhada a beleza das criações, não posso deixar de sentir um incômodo crescente. Entre todas as modelos, todas tão magras e tão parecidas umas com as outras, apenas uma se destaca pela sua singularidade: uma modelo negra, cuja presença destoa da homogeneidade predominante.

Enquanto ela desfila com uma elegância indiscutível, não posso ignorar o contraste gritante entre sua presença e a predominância de um único padrão de beleza. Sinto uma mistura de indignação

Após o final do desfile, decido seguir meu instinto e me encaminho em direção ao camarim das modelos. Ao adentrar o espaço reservado, Espelhos cercam as paredes, refletindo a imagem das modelos enquanto elas removem suas roupas deslumbrantes, revelando a simplicidade por baixo dos tecidos luxuosos.

O camarim está repleto de energia, com risadas e conversas animadas preenchendo o ar. Mulheres magras bracas com corpos sensuais

elegantemente decorado, com paredes revestidas de um tom negro profundo, criando um cenário de sofisticação e mistério. Espelhos adornam as paredes, refletindo a beleza das modelos enquanto elas se preparam para deixar sua marca na passarela.

Equipes de cabeleireiros e maquiadores movem-se com habilidade e precisão, trabalhando em conjunto para realçar a beleza natural das modelos. Seus gestos são suaves e precisos, transformando cada rosto em uma obra-prima única, enquanto penteados elaborados e impecáveis são criados com maestria.

O camarim está impregnado com o aroma suave de produtos de beleza de alta qualidade, misturando-se com a agitação silenciosa da preparação. Entre uma troca de roupa e outra, as modelos são auxiliadas por uma equipe atenciosa, garantindo que cada detalhe esteja impecável antes de retornarem à passarela.

Percebendo a urgência do momento, decido agir rapidamente e me aproximo das modelos com determinação. Com um sorriso amigável, introduzo-me como Zoè, uma repórter da revista Top Mode, buscando
Saber se vocês são magras porque vocês querem ou pôr Medo de não ter trabalhado

No entanto, minha abordagem direta parece desconcertar as modelos, que trocam olhares nervosos entre si. Diante do meu questionamento sobre seus corpos e possíveis distúrbios alimentares, o silêncio paira no ar, e sinto o desconforto crescente ao meu redor.

Respirando fundo para manter a compostura, tento suavizar a situação, ajustando minha abordagem. Com um tom mais gentil e compassivo, reformulo minha pergunta, buscando compreender suas experiências de uma maneira mais sensível e respeitosa.

Enquanto as modelos se recuperam do choque inicial, vejo um lampejo de compreensão em seus olhos. A tensão no camarim diminui gradualmente, substituída por uma atmosfera de abertura e confiança mútua.

Com paciência e empatia, continuo minha entrevista, reconhecendo a complexidade das questões que envolvem a imagem corporal na indústria da moda.

_ Pricila _

A brisa suave acariciava minha pele enquanto eu me aconchegava na maca do spa, imersa na tranquilidade que só um lugar como aquele poderia proporcionar. Ao meu redor, a atmosfera exalava luxo e serenidade, com toques de inspiração nos templos da Grécia antiga. O mármore branco reluzia sob a luz suave das velas, enquanto cortinas de seda flutuavam suavemente com a brisa, criando uma sensação de movimento tranquilo.

Minha mãe, ao meu lado, também mergulhava na experiência, sua expressão serena enquanto desfrutava da massagem nos pés, realizada por uma mulher asiática habilidosa. O aroma suave de óleos essenciais envolvia o ambiente, acalmando meus sentidos e me transportando para um estado de relaxamento profundo.

Com uma máscara facial refrescante adornando meu rosto, eu fechei os olhos, entregando-me completamente ao momento. Cada toque da massagista parecia dissolver as tensões do meu corpo, enquanto minha mente vagava em pensamentos serenos.

- É então, filha, o que você acha da sua nova amiga?

- A Zoé, ela é legal, nós nos divertimos, saímos para festas e conversamos. Ela é incrível, mãe.

- Do jeito que você fala dela, parece até que você está gostando dela.

- Mãe! Ela é minha AMIGA, é muito bonita, engraçada e interessante. Às vezes, eu queria que a Zoé fosse homem; iria ser o homem perfeito para mim.

- Vai por mim, filha. Eu já namorei outras mulheres, e eu digo que é mais fácil namorar mulheres do que homens, mas eu me apaixonei pelo seu pai.

- Sério, me conta uma das suas aventuras, mãe?

Ela soltou um suspiro suave, como se estivesse viajando de volta no tempo. -Quando eu tinha 18 anos," começou ela, sua voz tingida de nostalgia, " - eu me aventurei em um bar e conheci uma mulher com cabelos tão rosas quanto as nuvens do amanhecer. Tínhamos algo em comum, algo que nos uniu instantaneamente."

Meus olhos se arregalaram com interesse enquanto eu a ouvia falar sobre essa mulher misteriosa que cruzou seu caminho. -"E então?" Eu implorei, querendo saber mais.

-"Bem, nós começamos a conversar, e antes que percebêssemos, estávamos mergulhadas em horas de diálogo profundo e significativo. E então, como em um conto de fadas moderno, nos encontramos entregando nossos corações uma à outra."

Eu mal podia acreditar no que ouvia. Minha mãe, uma jovem apaixonada por uma mulher de cabelos rosas! Era uma história que eu jamais poderia ter imaginado.- "E o que aconteceu depois disso?" Perguntei, ansiosa por saber mais.

Ela sorriu tristemente. -"Infelizmente, como muitos contos de fadas, nossa história teve um final não tão feliz. Uma semana depois, as chamas queimaram tão intensamente quanto haviam começado, e nós nos separamos. Mas essa experiência me levou a encontrar o verdadeiro amor da minha vida: seu pai."

Meu coração disparou com a ideia que brotou em minha mente como uma flor improvável em um deserto árido. Eu olhei para minha mãe, que ainda sorria suavemente enquanto relembrava seu passado,

E se... E se eu e Zoé formássemos um casal? A ideia era ao mesmo tempo assustadora e emocionante, como se estivesse dançando na beira de um penhasco, pronta para mergulhar

minha mente ainda girava em torno das mesmas perguntas intrusivas. Era possível que eu, uma mulher que sempre se sentiu atraída por homens, estivesse começando a descobrir sentimentos por outra mulher?

Eu me forcei a refletir sobre meus relacionamentos passados com homens. Embora tenha sentido conexões emocionais e até mesmo paixão, havia sempre algo faltando, uma lacuna que nunca conseguia preencher completamente.

Mas isso significava que eu era lésbica? Ou talvez bissexual? A ideia de rotular minha sexualidade parecia assustadora e limitadora, como se eu estivesse me encaixando em uma caixa estreita e inflexível.

E ainda assim, havia o desejo ardente que queimava dentro de mim sempre que me encontrava perto de Zoé. Era uma atração que não podia ser negada, uma força magnética que me puxava em sua direção mesmo quando minha mente resistia.

Enquanto lutava com esses pensamentos conflitantes, senti uma mão suave pousar no meu ombro, trazendo-me de volta ao presente. Olhei para cima e encontrei minha mãe dizendo

- vamos querida

_ zoè _

Eu entrei na sala de consultório, onde a luz suave destacava os tons de verde das plantas espalhadas pelo ambiente. A atmosfera era acolhedora, mas minha mente estava turva com preocupações. Hanna, a psicóloga, sentou-se em sua cadeira, sua postura ereta e seu olhar compassivo transmitiam confiança.

Seus olhos escuros encontraram os meus enquanto eu me sentava, e eu me vi perdida na profundidade de sua expressão. Hanna tinha um nariz grande, mas isso só acrescentava à sua beleza singular. Sua pele morena era como porcelana polida, e seu cabelo escuro caía em cascata sobre os ombros.

- o"Zoè Williams", ela disse suavemente, sua voz carregada de calma e compreensão. -"É um prazer conhecê-la. Como posso ajudá-la hoje?"

Respirei fundo antes de começar, tentando reunir minhas palavras.- "Eu trabalho para a revista Top Mode e estou escrevendo uma matéria sobre distúrbios alimentares", expliquei, desviando o olhar brevemente. -"Você pode me explicar como isso acontece e como podemos identificar quem sofre com esses distúrbios? E, mais importante, como podemos ajudar essas pessoas?"

Hanna assentiu, seus olhos transmitindo empatia genuína.- "Claro, Zoè. Vamos

Hanna apoiou-se confortavelmente em sua cadeira, preparada para abordar um assunto tão delicado e complexo. Ela começou com uma voz suave, carregada de compaixão:

-Os distúrbios alimentares podem se desenvolver de várias maneiras, Zoè. Às vezes, eles surgem como uma resposta a eventos traumáticos ou estressantes na vida de alguém, como problemas familiares, pressões sociais ou experiências de bullying. Outras vezes, podem estar ligados a questões de imagem corporal distorcida, influências da mídia ou padrões de beleza irreais."

Ela pausou por um momento, permitindo que suas palavras se instalassem no ar entre nós antes de continuar.

- "Quanto à identificação, é importante estar atento a sinais como mudanças drásticas no peso corporal, comportamentos alimentares obsessivos, evitação de situações sociais que envolvam comida, e uma preocupação excessiva com calorias, exercícios e imagem corporal. Além disso, sintomas físicos como tonturas, fraqueza e irregularidades menstruais podem ser indicadores de um possível distúrbio alimentar."

Seus olhos escuros transmitiam uma mistura de determinação e esperança enquanto ela passava para a parte mais importante da conversa: como ajudar.

- "Para ajudar alguém com um distúrbio alimentar, é fundamental oferecer apoio incondicional, compreensão e empatia. É importante ouvir atentamente sem julgamento, incentivar a busca por ajuda profissional, e estar presente durante todo o processo de recuperação. A terapia individual, a terapia familiar e o apoio de grupos de suporte podem ser recursos valiosos. E, acima de tudo, é crucial lembrar à pessoa que ela não está sozinha e que há esperança e caminho para a cura."

Hanna terminou sua explicação com um sorriso gentil, transmitindo a confiança de que, com amor e apoio, aqueles que enfrentam distúrbios alimentares podem encontrar o caminho para a cura e a paz interior.

Após a conversa esclarecedora com Hanna, agradeço-lhe com um aceno de cabeça e um sorriso grato. Levanto-me da cadeira,

Ao sair do consultório, o sol da tarde acolhe-me do lado de fora, envolvendo-me em seu calor reconfortante. Enquanto caminho pelo corredor do hospital, meu celular vibra freneticamente no bolso. Com curiosidade, retiro-o e atendo a ligação.

-"Alô?", digo, minha voz transbordando de expectativa.

Do outro lado da linha, uma voz animada responde:- "Zoè! Sou eu, Suzana.
Desculpe pela demora em responder sua ligação anterior."

Meu coração salta de alegria ao reconhecer o nome. Suzana é uma pessoa crucial para a minha matéria sobre distúrbios alimentares, e sua disposição em colaborar é uma bênção.

-" Suzana! Que ótimo ouvir sua voz", respondo, mantendo a calma apesar da empolgação. -"Estou realmente ansiosa para conversar contigo."

Suzana ri do outro lado da linha, seu tom radiante de entusiasmo contagioso.- "Eu também estou ansiosa, Zoè! Estou com um tempo livre agora. Posso te encontrar em um café perto da minha casa. O endereço é..."

Anoto rapidamente o endereço que ela me fornece, agradecendo-lhe com efusão pelo convite. Combinamos um horário e desligamos a ligação, deixando-me com um sorriso no rosto e a expectativa palpável de uma conversa reveladora pela frente.

Com passos decididos, dirijo-me ao café.

Chego à cafeteria indicada por Suzana, com mesas de madeira dispostas de forma harmoniosa pelo espaço, cada uma decorada com pequenos vasos de flores coloridas. O aroma delicioso de café fresco paira no ar, misturando-se com o cheiro tentador de bolos e pães recém-assados.

Escolho uma mesa próxima à janela, onde posso desfrutar da suave luz natural que banha o ambiente. Acomodo-me confortavelmente em uma cadeira almofadada e observo os clientes ao meu redor, perdendo-me nos murmúrios das conversas animadas e no tilintar das xícaras de café.

Enquanto aguardo a chegada de Suzana, folheio o menu da cafeteria, embora minha mente esteja mais concentrada na entrevista que está por vir. Sinto uma mistura de nervosismo e entusiasmo borbulhando dentro de mim, ansiosa para conhecer melhor a história de Suzana e compartilhá-la com o mundo através da minha matéria.

Ao avistar Suzana adentrando a cafeteria, ergo-me de minha cadeira com um sorriso caloroso e a cumprimento. Ela retribui o gesto, seus olhos carregados de emoção contida enquanto se acomoda na cadeira em frente à minha.

- Oi, Suzana. Que bom vê-la", digo, tentando transmitir conforto através das palavras.

Ela responde com um aceno leve, um sorriso frágil brincando em seus lábios.- "Sim, tudo bem, obrigada", murmura, sua voz carregada de sentimentos difíceis de expressar.

Percebendo sua hesitação, ofereço-lhe o menu da cafeteria, mas ela balança a cabeça em recusa. Em vez disso, Suzana vai direto ao ponto, suas palavras carregadas de uma dor profunda e palpável.

- Olha, Zoè, eu vi sua outra matéria sobre Priscila e gostei", começa ela, desviando o olhar brevemente antes de prosseguir.
- "Mas há algo que nunca contei a ninguém. Quando minha filha morreu..."

Seus olhos se enchem de lágrimas, e eu estendo minha mão em um gesto de solidariedade. Ela continua, sua voz embargada pela tristeza e arrependimento.

-...ela não era magra o suficiente. Era tão linda, tão bonita, no auge de sua carreira como modelo de beleza. Mas os padrões mudavam constantemente, e em um momento ela deixou de ser o padrão por não atender aos requisitos de magreza."

O peso de suas palavras ecoa na sala silenciosa, o vazio deixado pela perda de sua filha pairando entre nós. Suzana continua, sua voz ganhando força à medida que compartilha sua angústia.

- Os agentes, os publicitários... todos a pressionavam para emagrecer mais. Eu me arrependo tanto de não ter feito nada. Minha filha morreu em uma noite de desfile, no meio de toda a agitação. Foi um escândalo, mas logo todos esqueceram dela..."

Meu coração se aperta diante da dor insondável de Suzana, e eu estendo minha mão para segurar a dela, oferecendo-lhe o apoio silencioso que suas palavras clamam. Em meio ao silêncio carregado de emoção, eu a ouço, profundamente comovida pela história de sua filha e determinada a honrar sua memória através da minha escrita.

Após uma conversa longa e reveladora com Suzana, onde compartilhamos lágrimas, sorrisos e memórias, chega o momento da despedida. Nos abraçamos com ternura, compartilhando um momento de conexão que transcende as palavras. Prometemos manter contato e nos apoiamos mutuamente antes de nos separarmos.

Ao chegar em casa, encontro Félix imerso em seu videogame, alheio ao turbilhão de emoções que carrego dentro de mim. Ele ergue os olhos, curioso, ao me ver entrar, e pergunta como foi a entrevista.

- "Reveladora", respondo com simplicidade, sem entrar em detalhes. Não quero sobrecarregá-lo com os pesares do mundo que enfrentei fora de casa.

Dirijo-me ao meu quarto, fechando a porta atrás de mim, e me deixo cair na cama. Com o notebook aberto em meu colo, encaro a tela em branco, perdida em pensamentos sobre os relatos das modelos e, especialmente, sobre a história comovente de Suzana.

A inspiração parece fugir de mim, esquiva como uma sombra evasiva, enquanto tento encontrar as palavras certas para dar vida às histórias que ouvi hoje. A memória da dor de Suzana ecoa em minha mente, ecoando como um lembrete contínuo da responsabilidade que carrego como escritora.

Respiro fundo, fecho os olhos e permito-me mergulhar nas lembranças e reflexões daquele dia. Aos poucos, as palavras começam a tomar forma em minha mente, como peças de um quebra-cabeça se encaixando lentamente. E assim, com determinação renovada e um coração cheio de compaixão, começo a escrever, esperando que minhas palavras possam dar voz àqueles que enfrentam esses distúrbios

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