Capítulo Um:
“Ana, vamos logo, já disse que vai se atrasar para o colégio!”,
minha mãe gritou, do andar de baixo. “Ou você entra no carro
em cinco segundos ou vai a pé!”.
“Já vou, mãe! Estou pegando os livros!”, gritei de volta. Mi-
nha mãe, sempre pontual! Tudo bem que eu estava em cima da
hora, mas em New Winter nós levamos praticamente dois minu-
tos para ir da minha casa para a escola de carro. Entrei no carro
e minha mãe deu a partida.
“O fim do ano letivo está difícil?”, ela perguntou, soltando
um risinho, me olhei no espelho retrovisor, meu cabelo estava
todo bagunçado, na pressa de sair de casa nem o tinha pentea-
do, e para falar a verdade não estava pegando os livros quando
minha mãe me chamou e sim acabando, às pressas, um dever de
química que eu tinha esquecido.
“O que acha, dona Laura?”, perguntei me virando para ela,
fazendo cara de brava, estávamos na segunda semana de junho,
eu ainda tinha seis semanas de aula e, acredite, faltava alguns
pontos em matemática e física para eu conseguir passar de ano,
nunca fui boa com exatas.
“Acho que deveria dar um tempo naqueles livros que você
lê e dar mais importância para a matemática e a física”, ela disse,
e eu fiz uma careta de desagrado. Eu era apaixonada por livros, a estante do meu quarto já estava lotada, gostava muito de ler, e
quando gostava muito de um livro não conseguia largar ele até
acabar, e foi exatamente isso que acontecera na noite anterior,
virara a noite na cama terminando um livro que estava amando,
e o dever de química simplesmente me fugiu da cabeça. Sabe,
pensei que o primeiro ano do ensino médio era difícil, mas o se-
gundo era mil vezes pior, não me leve a mal, eu sempre adorei
estudar, sempre gostei da escola, mas naquele ano estava contan-
do os dias para as férias chegarem logo.
“Vou pensar na sua proposta, mãe”, disse, me virando para a
janela do carro e olhando para a paisagem, New Winter era uma
cidade rodeada de florestas, além disso ali quase nunca há sol,
todo dia é frio e úmido, e na maioria das vezes neva; por isso o
nome da cidade, todo dia é inverno, e quando achávamos que o
sol ia brilhar um pouco, a neve caía iniciando um novo inverno.
A cidade em si não era muito grande, tinha cerca de 12 mil ha-
bitantes. Eu moro aqui desde pequena, minha mãe é brasileira,
já meu pai é americano, por isso meu nome Ana Millie Albu-
querque, uma mistura com sobrenomes ingleses e portugueses
e, é claro, uma tremenda confusão de pronúncia entre as pesso-
as, quando dizem meu terceiro nome.
Meus pais se conheceram
durante o intercâmbio da minha mãe (embora a cidade não seja
muito grande, as escolas são muito boas), eles se apaixonaram,
e quando a minha mãe voltou para o Brasil foi só para fazer as
malas e avisar aos meus avós que estava voltando para os Esta-
dos Unidos, mas desta vez para morar.
A princípio meus avós
ficaram meio receosos, mas perceberam que o futuro da minha
mãe seria muito bom aqui, já que as faculdades também são ex-
celentes, o que eles não sabiam é que além dos estudos havia ou-
tro motivo pelo qual minha mãe queria mudar para cá... Bom, no fim deu tudo certo, minha mãe se formou em direito e se ca-
sou com o meu pai, depois de dois anos eles deram à luz a mim,
e quando eu tinha seis anos ganhei um irmãozinho (responsá-
vel pelas minhas constantes dores de cabeça) que hoje tem 11
anos. A cada dia que meus pais me contam com mais detalhes
a história deles eu suspiro, é realmente muito romântica, pelo
menos para mim.
Logo chegamos ao meu colégio.
“Já decidiu como vai ser sua festa de aniversário? Faltam ape-
nas três semanas”, minha mãe diz, antes que eu desça do carro.
“Nem sei se quero festa, mãe, quero usar todo o tempo livre
para estudar, não estou com ânimo para planejar nem uma sim-
ples comemoração”, digo, desanimada.
“Mas é seu aniversário de 18 anos, não pode passar em bran-
co”, ela insiste; dou um leve sorriso, lhe dou um beijo no rosto e
digo: “Prometo que vou pensar, mas agora preciso ir, vou che-
gar atrasada.”
Dizendo isso, entro no colégio. O que eu não sabia era que
estava prestes a conhecer a pessoa que mudaria completamente
o curso da minha vida.
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