Era o auge do verão e o sol ardia com intensidade inigualável. Devia estar fazendo uns quarenta graus em Belo Horizonte, mas não nos importávamos, pois tínhamos refrigerantes de laranja, nossos favoritos. Ela era minha melhor amiga.Qual era mesmo o seu nome? Mariana? Giovana? Ana? Havíamos perdido o ônibus e precisamos andar muito para chegar aquele lugar. Valeria a pena, no fim das contas. O que é a vida sem poder fazer algumas loucuras? Minha amiga já sabia qual tatuagem queria fazer, mas eu levei muitos minutos para me decidir. Por fim, acabei escolhendo fazer uma pequena borboleta entre meu dedo médio e o anelar. Não havia nenhum motivo específico, eu apenas gostava de borboletas. Elas eram belas e, com suas longas asas coloridas, eram irremediavelmente livres. Eu as inveja. Me lembravam da beleza da vida. Deus sabe como eu precisava lembrar que a vida poderia ser bela. A tatuagem ficou bem pequena, mas acabou cumprindo seu propósito.Naquela noite, enquanto ele me tocava com seus dedos sebosos e seu corpo ia e voltava de encontro do meu, eu olhei para as minhas mãos apoiadas na pia e a borboleta estava lá. Então eu soube, com uma estranha certeza, que tudo ficaria bem outra vez e que um dia tudo aquilo ia acabar. As lágrimas pararam de cair. Um dia eu também teria asas para voar.