𝐂𝐀𝐏𝐈𝐓𝐔𝐋𝐎 • 01
O acordo
𖥦𖥦𖥦
Um dia eu estava na aula e o tema era sobre feminismo dentro da história, foi uma ótima aula, me lembro como se fosse ontem, um infeliz da sala falou uma merda que não agradou nem a mim e muito menos a outras meninas presentes na sala, acabei me irritando e joguei um livro na cabeça do muleque. Bom, foi nesse dia que o diretor decidiu dar um basta nisso. Quer dizer, o garoto mereceu, acho que nem devia ser tudo isso...
- Sério que eu tenho que fazer isso toda vez? - Digo frustada
Já é a terceira vez que eu faço isso, tô achando que ela manda esses áudios para o diretor, o que tem problema, porque eu falo algumas merdas por aqui.
- A senhorita sabe que sim, já conversamos sobre isso - Diz ligando o gravador de voz.
- Olá, meu nome é Ângela, mas meus amigos me chamam de Angie, eu sou fotógrafa do jornal da escola e me enviaram aqui por ter problemas com socialização com os demais - Falo desanimada.
- Aconteceu algo diferente hoje?
Na verdade, sempre acontece algo novo todo dia e se não acontece, é que tem alguma coisa errada...
- Eu discuti com um professor hoje de manhã.
- Pode me dizer o motivo?
Motivo? Esses professores e alunos, principalmente alunos, são uma merda, um bando de idiotas.
- Eu só sou uma pessoa com um ponto de vista diferente da dele, os professores não gostam quando falamos nossos pontos de vista, pelo menos alguns. Ele me mandou até para a direção foi super desnecessário.
- O que o diretor falou sobre isso? - Falou ajeitando seus grandes óculos redondos no rosto.
- Nada, eu nem fui pra direção, eu fui pra sala do jornal editar algumas fotos.
- E por que não foi falar com o diretor - Fala, sempre séria.
- Ele é uma pessoa muito ocupada, e também eu iria falar com você de qualquer jeito hoje e eu sei que você manda essas gravações diretamente para ele - Comentei me levantando
- Como soube disso? - Me seguiu com os olhos.
- Eu ouvi falar - Falo andando de um lado para o outro.
- Na verdade, eu só gravo pra tomar nota em casa.
- Ah, sim.
- Você está agitada hoje, o que está te incomodando?
- Nada...
Não é nada. Nunca acredite em mim.
- Veja s-
- Na verdade tem uma coisa sim - Eu a interrompo - Eu discuti com a Melanie hoje...
Melanie foi minha amiga, melhor amiga, a uns anos atrás, só que quando entramos na High School ela virou uma vadia de primeira, eu não gostei nem um pouco e ela não gostou que eu não gostei disso. Agora ela sempre implica comigo, mas eu não deixo passar, não foi desse tipo.
- Sim? - Se ajeitou na cadeira, talvez para prestar mais atenção no que eu falava.
- Eu estava a caminho do bebedouro para encher minha garrafinha e ela sempre arranja um jeito de me menosprezar na frente das suas amigas, isso me irrita.
- Por que?
- Pelo fato de que ela já foi minha amiga intima, isso exigia pelo menos um pouco de respeito.
- Talvez você esteja mal por não ser mais amiga dela
- Não! Eu estou feliz com o Nath e a Maxie, eles são ótimos amigos.
- Você tem medo de algo? - Prestava atenção a minha expressão.
- Sei lá, eu não sei. Quem sabe ela fala os meus segredos para essas meninas que segue ela por onde quer que ela vá.
- Você tem algum segredo obscuro que não quer que ela revele?
- Sim... Quer dizer, não!
- Se você diz - Fala se levantando - A sessão está quase acabando então vou direto ao que eu queria te falar. Eu e o diretor andamos conversando e vamos fazer uma proposta pra você...
- Sou toda ouvidos - Falei me deitando na cadeira.
- Eu e o Diretor Adam entramos em um acordo, você poderá vir uma vez na semana para cá, sendo que não poderá fazer nenhum tipo de confusão e também terá que andar com alguém escolhido pelo diretor, alguém com uma boa postura na escola e na vida pessoal.
[...]
- E ai?! - Nath perguntou curioso.
- Eu tive que dizer sim. Era isso ou me convidariam a sair da escola - Falo guardando minhas coisas no armário.
- To querendo saber quem foi que ele escolheu.
- Johnny...
- O sobrinho do diretor? - Ficou chocado.
- Sim sim. Eu até insisti falando que eu poderia fazer isso sozinha, mas diz ela que "faz parte do acordo" - Falei imitando a voz dela.
- Pelo menos ele é bonitinho vai - Deu um sorriso malicioso.
- Então pode ficar pra você Nathanael, ele é um menino riquinho a besta - Falo andando em direção a sala do jornal - E outro, por que raios o diretor acha que ele tem uma boa postura? Ele fuma dentro da escola.
- Eu quase não vejo ele - Falou me acompanhando.
- Ele fica atrás da sala dos professores com um amigo dele - Falei revirando a bolsa procurando a chave da sala - Que droga perdi a chave de novo.
- Já é a quarta vez esse mês - Se sentou no chão encostado na parede.
- Não vai me ajudar? - Me ajoelhei jogando tudo que tinha dentro da bolsa no chão.
- Eu não vou nem perder meu tempo.
- Nathanael, me ajuda - Falo com atenção nas coisas.
- Vai logo na diretoria pegar a chave ou pede pra alguém do jornal.
- Já foram pra casa - Desisti de procurar - Vou ter que ir na direção mesmo, eles vão brigar comigo. De novo - Me levanto e sigo o corredor em frente.
- Você já está acostumada! - Gritou de longe.
Pior que ele está certo, já perdi a chave tantas vezes que já até acostumei. Eu posso até ser uma pessoa independente, mas sou um completo desastre.
- Oi tia - Sorri ao vê-la.
- Perdeu a chave de novo né menina? - Diz com aquela voz de velha fumante e me olhando sério.
- Acontece né? - Sorri tentando aliviar a situação, ela podia jogar o telefone na minha cara, essa mulher me causa arrepios, com o olhar sinistro dela, seus cabelos soltos já grisalhos, quase branco e suas mãos enrugadas com as unhas pintadas de vermelho sangue.
Atrás do balcão da diretoria tinha duas salas, uma era a sala dos arquivos e a outra era a do diretor. No momento em que eu olhei para porta, ela se abriu. Eu poderia me abaixar rapidamente, se o diretor me olhasse iria querer falar comigo ou brigar comigo, mas eu preferi ficar quieta e não fazer contato visual, assim não teria chances de ele querer falar comigo.
Mas o formato que apareceu na porta não parecia nada com o diretor baixinho e barrigudo. Era o Johnny, sobrinho do diretor, ao sair da sala fechou o cenho.
Duas caras.
Ele me olhou e serrou os olhos, eu até poderia ficar com medo e ir para a defensiva, porém não sou esse tipo de pessoa. Eu poderia pegar essa cadeira e jogar nele, numa boa.
Johnny passou direto por mim e seu cheiro masculino amadeirado ficou no ar. Pelo menos ele não fede.
- Aqui está a chave, por favor não perca - Apareceu a mulher me tirando do transe.
- Obrigada - Me retirei rapidamente.
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