Capítulo Único
A visão da luz do sol tocando as escadas gastas do hospital indicava que mais um dia estava começando, e, com ele, uma nova rotina de atendimentos.
Sem pressa, Alessa empurrou a porta de madeira, adentrando o ambiente já barulhento mesmo àquela hora da manhã. O dia estava quente e, apesar do lugar representar uma imagem não muito alegre, o canto dos pássaros que viviam em seu entorno ajudava a espantar, ou pelo menos deixar o ambiente mais leve, junto do cheiro de tinta que se espalhava pelo ar por conta das paredes recém pintadas. O resto do hospital, no entanto, não possuía o mesmo nível de cuidado, porém, ela já estava acostumada a essa realidade.
Ao caminhar pelos corredores, ecos da conversa amarga que tivera como sua mãe durante o jantar de família da noite anterior ainda rondavam sua cabeça. "Como você consegue trabalhar em um lugar como aquele?", perguntara ela. Já seu pai não era de argumentar, apenas expressava sua opinião quando necessário.
Desde que decidiu se formar em enfermagem, Alessa tinha enfrentado resistência de sua família, que consideravam seu trabalho pequeno. Mas, quando viram que não conseguiriam fazê-la mudar de carreira, eles mudaram a tática, tentando convencê-la a trabalhar em um hospital particular, onde seu salário seria maior, já que a ideia original de agregá-la ao hospital da família havia sido descartada quando ela não escolheu a medicina.
Quando mais nova, Alessa concordaria com eles. Na verdade, naquela época, ela nem ao menos saberia da existência do hospital público no qual trabalhava, quanto mais entraria nele. Contudo, durante o último ano da escola, sua perspectiva mudou. Ela viu na enfermagem sua vocação e, na faculdade, percebeu que trabalhar em um lugar como aquele por amor valeria muito mais que ganhar um salário incrível por obrigação.
E não era nada fácil. Ela não trabalhava com especialização em apenas uma área, seu trabalho era atender todos os pacientes que adentrassem o local, sua vida era ajudá-los a melhorar. Além disso, a falta de equipamentos básicos para o tratamento dos pacientes era enorme, sem contar que havia menos funcionários que o necessário, então todos sempre ficavam sobrecarregados. Esse era um dos motivos para ela querer continuar exatamente onde estava. Se já havia pouco pessoal, o que seria deles com mais uma falta? Se ela deixasse de ajudá-los, quem o faria?
Agora, com os pés doendo depois de um plantão de longas 36 horas, Alessa observou o corredor principal, o qual encontrava-se da mesma forma que no dia anterior: cheio de pessoas à espera de atendimento, como acontecia em todas as 24 horas do dia.
Seu turno havia acabado, mas na manhã seguinte ela estaria de volta. Pois Alessa realmente queria ajudar as pessoas e faria isso daquela forma: como “uma simples auxiliar” ou qualquer outra besteira que usassem para descrever sua profissão, que, independente de qualquer coisa, ela sabia ser importante.
É como dizem: você muda as pessoas e então elas mudam o mundo.
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