19. Monte Parbevi

Na quinta-feira, Gregory fez algo que não faria nem mesmo por seu irmão... Se levantar às cinco da manhã. Não sabia onde estava com a cabeça quando aceitou aquilo, mas não poderia mais voltar atrás, se trocou rapidamente, colocando uma calça cinza de moletom e uma blusa por cima da camiseta, na mochila colocou alguns sanduíches e frutas, além de cadernos e lápis.

A estrada até chegar ao pico não era nada favorável, por isso, resolver ir de moto, assim chegou ao local em meia hora. O sol já começava a dar seus primeiros sinais de que iria nascer, então se ele quisesse ver um pouco daquele espetáculo, teria que andar mais depressa. Deixou a moto e os dois capacetes que levara, na entrada da estrada, onde havia uma guarita com um guarda, e começou a subir. O ponto onde iria era perto, então em quinze minutos ele tinha subido e o que restara era descer novamente até o grande lago.

Chegando ao local, estava mais ofegante do que imaginara que estaria, era um pouco difícil respirar, e ficou mais difícil ainda quando avistou Elisa.

Ela já estava lá, não sabia há quanto tempo, mas estava. Sua pose, no entanto, era incomum aos olhos de quem não estava acostumado com meditação, ela estava em pé em cima da grande rocha, com uma das pernas dobradas e a apoiando na outra, as palmas das mãos unidas e os olhos fechados, atrás dela o sol já nascia, o que gerava uma cena linda de se ver.

Com poucos movimentos, ele se sentou ali perto, tirou o caderno e o lápis de dentro da mochila e começou a desenhar o que via.

— Espero que não esteja tirando suas roupas. – Disse ela, ainda na mesma posição.

— Sua percepção é muito boa.

— Não é porque estou de olhos fechados que não sei o que está acontecendo. – Saindo da posição, ela se voltou para ele e perguntou – O que está fazendo?

— Te desenhando.

— Sério?

— Sim.

Elisa voltou à posição de antes e declarou:

— Pois bem, espero que não deixe minhas pernas tortas então.

— Suas pernas são tortas.

— O quê?!

Apesar de transparecer surpresa, Elisa quase não conseguia esconder a risada, e mais uma vez ela saiu da pose, o encarando incrédula.

— É quase imperceptível, mas elas parecem dois ganchinhos.

Ela não esperava por aquilo, simplesmente começou a gargalhar sem conseguir se controlar, e acabou escorregando na pedra, indo de encontro à água. Mais que rapidamente, Gregory largou suas coisas e correu para ver se Elisa estava bem. Poucos segundos depois ela emergiu e disse:

— Anda, Moranguinho! Venha nadar com minhas pernas tortas, a água está ótima.

Gregory não esperou outro pedido, tirou as roupas e os óculos e atirou de lado, pulando na água em seguida. O pior erro que cometeu, a água estava gelada, o que era de se esperar, mas ele mal pensou nisso. O inverno logo começaria e o sol não esquentava muito, consequentemente a água estaria congelante.

Percebendo que ele tremia um pouco e até batia o queixo, Elisa se aproximou o colou o corpo ao dele, a fim de transmitir um pouco de calor.

— Melhor? – Perguntou.

— Melhor. – Respondeu ele, com um sorriso. Passando a mão pelo rosto de Elisa, completou – Você é o borrão mais bonito que eu já vi.

Ela apenas sorriu e tomou a boca de Gregory na sua, se deliciando com aquele beijo suave como a brisa daquela manhã. As mãos dele ao redor de sua cintura, seus braços grandes e fortes a rodeando e aquela proximidade entre os corpos... Tudo aquilo gerava um frenesi diferente a fazendo querer ficar ali para sempre. Porque nos braços dele, ela se sentia confortável, não sentia vontade de ir embora, de sair correndo, ela sentia que estava em casa, e aquilo de alguma maneira a assustava porque jamais havia se sentido daquele jeito.

Seu primeiro instinto seria fugir, mas seu coração gritava por continuar ali e sentir um pouco mais.

Retomando a consciência, Elisa se afastou um pouco e disse:

— Eu estava na mais perfeita paz, você tirou a minha concentração.

— Mas foi por uma boa causa! – Respondeu ele, com um sorriso travesso – Agora que estamos aqui, vamos aproveitar para nadar um pouco.

— Até que alguém nos flagre aqui. Sabe que é proibido nadar aqui, não é?

— Que graça teria se vivêssemos sem alguma adrenalina, não é mesmo?

— Olha só, você está se revelando uma péssima pessoa, Gregory Lambertini.

— Sempre fui o bonzinho a maior parte da minha vida.

Dizendo isso, ele mergulhou indo o mais fundo que conseguia e emergiu, segurando as pernas de Elisa e a levantando. Ela, por sua vez, soltou um gritinho agudo e logo se jogou na água de novo, o puxando para baixo.

Ficaram cerca de dez minutos nadando, brincando e se deliciando com a água refrescante. Depois saíram e se secaram com as toalhas que Elisa tinha levado, Gregory colocou suas roupas de volta e ela se contentou em ficar exposta no sol para tentar se secar.

— Já que você tirou minha concentração, vou ter que recomeçar. E nem pense em me atrapalhar agora.

— Tudo bem, você quem manda, mas estava fazendo errado.

Ela plantou as mãos na cintura e abriu a boca inconformada, dizendo:

— Quem disse? Estava fazendo muito certo.

— Estava errado. Se estava praticando yoga, sua posição estava errada. Não muito, só um pequeno detalhe.

— Ah é, sabichão? Então vem aqui me mostrar.

— Com prazer.

Gregory subiu na grande pedra, onde Elisa estava, e caminhou até ela, na ponta. A virou de costas para ele e com as mãos leves começou a ajuda-la, a respiração dele estava muito perto de Elisa, ela conseguia sentir o calor dele em sua nuca e de repente sua concentração foi para o espaço. A voz grave perto de seu ouvido fazia o coração retumbar em um ritmo diferente e sua respiração se acelerar.

— Você tinha começado a fazer certo. Uma perna fica flexionada, com o pé apoiado na parte interior da outra coxa. – Disse ele, elevando a perna dela e colocando na posição que falava – A coluna tem que ficar ereta, as palmas das mãos juntas. – A cada frase que Gregory falava, suas mãos ajudavam Elisa e executar o movimento, passando delicadamente por sua pele. Chegando mais perto do ouvido dela, ele cochichou – Feche os olhos. Agora seus braços vão se elevar acima da cabeça, ainda com as mãos juntas.

Assim, Elisa fez exatamente o que ele disse, sentindo um arrepio percorrer o corpo todo, quando Gregory elevou seus braços acima da cabeça e passou as pontas dos dedos por toda a extensão deles, depois ele abaixou as mãos e elas rodearam sua cintura, parando sobre sua barriga, enquanto ele continuava sussurrando:

— Respire devagar, sinta o ar entrando. Não abra os olhos, apenas respire devagar e se concentra... Isso, assim.

Logo ela sentiu as mãos dele deixarem seu corpo, a fazendo desejar, com certa urgência, que elas retornassem para onde estavam. Mas não retornaram. Pelo contrário, Gregory se afastou e se sentou um pouco mais atrás na pedra, pegou o caderno e o lápis e retomou o desenho que estava fazendo. Talvez não fosse um grande artista, mas guardaria aquele retrato de Elisa com grande afeto.

Ela tentava de todas as formas se concentrar e fazia certo esforço para manter os olhos fechados, mas o som do lápis roçando no papel, só a fazia imaginar o que Gregory estava fazendo. Longos minutos de silêncio e paz se passaram, até a voz dele soar:

— Não está cansada de ficar na mesma posição?

— Na verdade, estou. Mas esperava que acabasse logo esse desenho.

— Já acabei.

Ela relaxou, voltando a sua postura normal e se virou, se aproximando dele. Se sentou ao lado de Gregory e olhou bem para o desenho que ele tinha feito. Arfou ao ver aquela perfeição colocada no papel. Estava tudo preto em branco, mas o sombreado que Gregory fizera, conseguia transmitir a imagem perfeita daquela paisagem, com naturalidade.

E lá estava Elisa... Naquela pose incomum, não havia detalhes, apenas sua silhueta em frente ao sol, mas ela sabia que era ela mesma naquele desenho. Olhou para Gregory e se deparou com aquelas órbitas castanhas repletas de expectativa, embora ele tentasse não transparecer isso.

— Ficou lindo. Eu adorei. – Disse ela.

— Então é seu. – Respondeu ele, arrancando a folha e estendendo para ela – Guarde como recordação.

— Obrigada.

Depois de comerem os lanches que Gregory havia levado, juntamente com o suco de Elisa, optaram por descer novamente, e foi mais demorado do que imaginaram. Talvez já fosse reflexo do cansaço que estava sobre eles, além disso, não tinham pressa alguma, queriam aproveitar todo aquele tempo juntos. 

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