16. Uma aposta e nada mais
Matt passou a semana toda falando na cabeça de Elisa, ela não gostava muito de dar detalhes, o que resultava no amigo inconformado e tagarelando até que ela abrisse a boca e falasse algo.
Ele conseguia ser persuasivo, para não dizer chato, quando queria, e naquela sexta-feira ele estava especialmente insistente. Isso porque no sábado já era a inauguração do parque, a semana havia passado muito rápido e Elisa não sabia explicar como o tempo passara tão rápido. Seus dias eram lentos e monótonos e agora que começara a sair com Gregory, eles passavam rápidos e às vezes agitados.
Naquela semana ela não o viu direito, especialmente porque faltara alguns dias na faculdade para tirar algumas fotografias para um trabalho e nos dias que restaram foi ele quem faltou.
— Me conta, mulher, não me faça usar a força. – Ameaçou Matt, enquanto Elisa colocava algumas armações de óculos na vitrine.
— Contar o que, Matt? Não tem o que dizer!
— Não tem. Não tem! Como assim? Você começa a sair com aquele deus grego, e que conste que odeio admitir isso, e não tem nada para contar? Para de me enrolar, sabe que odeio isso. Rolou alguma coisa? A mãozinha dele não é boba, não é? Caso contrário serei obrigado a ter uma conversa séria com ele.
— Já disse que foram só beijos. Relaxa, Matt!
— Não é possível isso. Nada além? Não trocam mensagens?
— Sim, mas não conversamos o dia todo. Gregory não é desses caras grudentos. Gosto disso nele.
— Hum... Pelo menos tem bom sendo, porque atitude já sabemos que não tem.
— Matt! – Repreendeu ela – Mesmo que ele quisesse, eu não quero agora. Conforme-se com isso.
— Tudo bem, não está mais aqui quem perguntou. – Respondeu ele, elevando as mãos em rendição – Só acho que vocês são enrolados demais.
Dizendo isso, ele caminhou para trás do balcão e se sentou para mexer no celular, deixando Elisa atônita. Matt conseguia mudar da água para o vinho às vezes, em uma hora insistia até torrar toda a paciência, na outra lançava um argumento sem volta e se conformava com a falta de informações. Quem poderia entender aquele homem?
Gregory não gostava muito de se vestir de jeito formal, mas como a ocasião pedia, ele se contentou em vestir uma calça, uma camisa azul, com gravata cinza e um colete da mesma cor que a gravata. Nicolas, como sempre, estava com o traje completo, enquanto as mulheres estavam magníficas em seus vestidos ou mesmo terninho, como era o caso de sua mãe. Agora Benjamin.... Ele era um caso sem volta, o máximo que o garoto se dignou a usar foi uma camisa polo. Era impossível fazê-lo vestir um traje social.
De tanto brigar com o filho, Nicolas acabou desistindo.
E Gregory não tirava a razão do sobrinho, toda aquela firula só serviu para um discurso rápido de Nicolas, já que ele não podia evitar gaguejar, e uma cerimônia toda só para cortar a fita na entrada do parque. Só.
Às vezes ele achava aquilo tudo uma perda de tempo, mas como a família real tinha algumas obrigações, era inevitável certas situações.
Pelo menos se passou rápido e ele poderia encontrar Elisa. Andou pelo parque, vistoriando toda a reforma que fizeram. O lago enorme ficava bem no centro do local, ao redor uma pista para as pessoas caminharem e correrem, era feita de paralelepípedos cor cobre, alguns bancos estavam dispostos no extenso gramado, onde várias árvores também estavam plantadas, alguns arbustos mais densos escondiam outras áreas verdes, o que pareceu ser feito de propósito para os encontros. Tudo ficara realmente muito bonito.
Ficou um pouco curioso quando viu Nicolas espiando algo que estava atrás de um dos arbustos, e se aproximou:
— O que está vendo? – Inquiriu.
Nicolas se sobressaltou, colocando a mão no peito e se virando para o irmão, respondeu:
— O Ben.
— Como assim?
— Está com uma garota ali atrás.
— Mentira! Essa quero ver.
Ele se aproximou do arbusto e ali os dois ficaram observando Benjamin sentado no gramado, enquanto conversava com uma garota loira e muito bonita, que por sinal parecia mais velha que ele.
— Acha que ele a beija? – Perguntou Gregory.
— Sem dúvida.
— Ele parece meio tímido.
— Quer apostar? – Perguntou Nicolas, com olhar desafiador.
— Está falando sério? Se garante?
— Ele é meu filho, eu o conheço.
— Aposto vinte e cinco.
— Deixa de ser mão de vaca! Cinquenta.
Revirando os olhos, Gregory acabou aceitando. Não acreditava que estava apostando se seu sobrinho beijaria ou não uma garota. O que foi uma péssima ideia, percebeu isso quando Benjamin se inclinou para frente e beijou a garota.
Nicolas encarou o irmão com um sorriso e estendendo a mão, disse:
— Vai passando.
— Ah, droga! – Respondeu ele, pegando a carteira e dando uma nota de cinquenta para Nicolas.
— O que estão fazendo? – Soou a voz de Micaela, atrás deles.
Ambos se viraram rapidamente e ficaram estáticos, parecendo ter a mesma ideia, esconder Benjamin. Estavam ao lado um do outro, como se formassem uma barreira para impedir Micaela de ver.
Desconfiada como era, ela logo plantou as mãos na cintura e elevou uma sobrancelha, um gesto típico seu, inquirindo:
— Podem ir dizendo o que vocês estão aprontando.
— Nada. – Respondeu Gregory.
— Sei... Vocês não me enganam. – Ela tentou erguer os pés e ver por cima deles, mas era baixinha demais para conseguir, nem mesmo dando pulinhos ela conseguia ver – Me deixem ver também.
— Não tem nada demais. – Disse Nicolas, se espremendo mais contra Gregory.
— Parem com isso. Me deixem ver!
— Amorzinho, não tem nada.
Micaela parou de tentar passar por eles e encarou Nicolas fixamente, aqueles olhos azuis se estreitaram e demonstraram extrema desconfiança, e Gregory sabia o que vinha pela frente, seu irmão não deveria ter dito aquele apelido.
— Nicolas Vicenzo Lambertini. – Acusou ela – Se quer mentir para mim jamais use esse apelido porque ele te entrega.
— Mas... E-eu não...
— Está até gaguejando! Sai da minha frente.
Quando Gregory pensou que Micaela faria algo a Nicolas, sentiu sua orelha ser agarrada pela cunhada,
— Aaahhh, minha orelha! – Reclamou ele.
Ela o puxou para baixo o tirando do seu caminho e olhou através do arbusto, imediatamente os olhos dela se arregalaram e Micaela arfou, parecendo ofendida.
— O que...? Meu bebê...
— Micaela, ele não é mais um bebê. – Resmungou Nicolas.
— É meu bebê sim. – Respondeu ela, furiosa.
— Ele já tem quinze anos.
— Continua sendo meu bebê. E aquela sirigaitazinha está se aproveitando dele. Eu vou lá!
Ela ameaçou atravessar o arbusto, mas Nicolas a abraçou por trás, a segurando e fazendo Micaela se debater, irritada.
— Pelo amor de Deus, para com isso.
— Me solta! – Respondeu ela – Eu vou lá, ela não vai se aproximar do meu filho assim.
— Micaela, se você for lá agora, ele vai te odiar.
— Exato, Micaela. – Apoiou Gregory – Eles só estão conversando, não há nada de errado nisso, sei que está com ciúmes e preocupada com ele, mas tem que aceitar que o Ben cresceu.
Micaela parou de tentar escapar do marido e abaixou a cabeça, fazendo um biquinho e resmungando:
— Eu só quero proteger meu menino.
— Proteger do quê? – Inquiriu Nicolas, a soltando – É só uma garota! Tem que deixá-lo crescer, Micaela.
Ela permaneceu em silêncio alguns instantes, era claro que ela lutava um conflito interno, não parecia ser fácil para ela aceitar que os filhos estavam crescendo. Quando levantou a cabeça, sua expressão estava séria e ela proferiu:
— Se meu filho se magoar com essa menina, se ele sair machucado disso, saibam que é atrás de vocês dois que eu vou.
Ela não esperou por uma resposta, saiu pisando duro parecendo furiosa. Nicolas encarava as costas da esposa, de forma perplexa, depois se voltou para o irmão e disse:
— Vou atrás dela, com certeza agora ela vai chorar em algum canto por aí.
— Também vou ver se encontro Elisa. Vamos deixar o Ben curtir.
— Tem razão.
Assim eles se separaram e não demorou muito para Gregory encontrar Elisa, parada em frente a um carrinho, com um algodão doce nas mãos. Ele sorriu e caminhou em sua direção, mas antes que se aproximasse foi interpelado por Benjamin, que se prostrou à sua frente, dizendo:
— Tio Greg, me ajuda!
— Aconteceu alguma coisa? – Perguntou preocupado.
— Esqueci meu dinheiro em casa, tenho que pagar alguma coisa para a Eduarda.
— É sério isso?
— Muito sério.
Gregory respirou fundo e tirou a carteira do bolso, parecia que sua família resolvera o "depenar" naquele dia. Contou o dinheiro e tirou algumas poucas notas e estendeu para o sobrinho, deixando o maço maior para ele. Benjamin olhou inconformado para o pouco dinheiro que lhe era oferecido e alternava o olhar entre ele e o tio. Rapidamente ele pegou o maço maior da mão de Gregory e saiu correndo, sem dar chances ao tio para reagir, e dizendo:
— Te devo uma!
— Que garoto pilantra! – Esbravejou.
Sem que percebesse, Elisa se aproximou e o surpreendeu com um beijo, depois abriu aquele belo sorriso, que fazia Gregory praticamente se derreter.
— Agora está mais calmo? – Questionou ela.
— Agora sim.
— Que bom, porque quero que saiba que hoje o sorvete é por minha conta.
— O quê?! Nem pensar! Ainda tenho dinheiro suficiente para isso.
— Moranguinho, eu sou uma mulher moderna e não aceito você pagar hoje. Já pagou das outras duas vezes.
— Mas...
Ela enfiou um pedaço de algodão doce na boca dele e respondeu:
— Já disse que eu pago.
Gregory se controlou para não rir da expressão séria que Elisa tentava fazer, engoliu aquela "nuvem" fofa e doce e sorriu, depositando um beijo nela em seguida.
— Tudo bem. A senhorita que manda.
Se encaminharam para um banco e se sentaram apenas apreciando a companhia um do outro e observando as pessoas passarem por ali. Parecia que todos estavam tão animados e encantados com o lugar, que sequer os notavam ali. Alguns pais corriam ali com seus filhos e Elisa ficava admirada com aquilo, dava para notar como seus olhos brilhavam observando aquela cena.
— Eu sempre quis ter um pai. – Disse ela, de súbito.
— Não teve ninguém que considerou pai?
— Não. Nem quando meu padrasto veio morar com minha mãe. Na verdade, acho que ele fez o papel contrário.
— Como assim?
Percebendo que tinha falado demais, Elisa balançou a cabeça, procurando desanuviar os pensamentos, e sorriu dizendo:
— Nada, esquece. Acho que vou comprar um sorvete. Que sabor gosta?
— Baunilha.
— Está bem, já volto.
Ela se afastou rapidamente, quase como se quisesse evitar dar explicações. Gregory notou que ela ficara desconfortável com a menção àquele assunto, e ficou curioso quanto ao que tinha acontecido com Elisa. Teria sido algo ruim ou traumático?
Percebeu que começara a se preocupar com Elisa, e ele só se preocupava com pessoas que realmente eram importantes para ele... Estava ferrado.
Sentiu o toque leve de Nicolas em seu ombro e logo a voz dele soou:
— Nós já estamos indo embora, mas o Ben vai ficar com a menina. Pode levá-lo embora depois?
— Claro! Se ele colaborar...
— Ele já está avisado de que se fizer alguma gracinha ficará de castigo.
— Então pode deixar comigo.
— Obrigado.
— Não por isso.
Seu irmão se apressou a se afastar ao perceber que Elisa se aproximava novamente, ele queria dar o máximo de privacidade para Gregory. Assim que ela se sentou no banco novamente, entregando uma casquinha para ele, disse:
— Eu quero sair de novo.
— Está gostando da minha companhia mesmo, hein. – Respondeu Gregory petulante, com um sorriso convencido nos lábios.
— Digamos que aprecio estar com você.
— Ora, não era a resposta que eu esperava, mas agradeço.
— E o que esperava?
— Ah, quem sabe que sou um bom partido ou bonito. – Ele elevou uma sobrancelha por detrás dos óculos.
Elisa gargalhou com a resposta dele, o tamanho do ego de Gregory subia de mais às vezes, na verdade, parecia oscilar o tempo todo.
— Tudo bem, alteza, você é bonito e um bom partido.
— Assim fico mais contente. Mas onde quer ir dessa vez? – Perguntou Gregory lambendo o sorvete.
Observar ele passar a língua pelo gelado daquele jeito fez Elisa ter ideias bem pecaminosas e indevidas para aquele horário. E se ele passasse aquela língua no sorvete e depois... Ela balançou a cabeça procurando jogar os pensamentos de lado, e respondeu:
— Ao monte Parbevi.
— Mas... É muito longe. O acesso lá é somente de moto.
— E tem pernas para quê?
— Quer ir a pé?
— É uma caminhada tranquila, Gregory. Fora que de qualquer forma terá que deixar a moto na entrada na trilha. Qualquer coisa tem um lago para se refrescar.
— O lago fica abaixo do monte, teria que subir e depois descer novamente.
— Mas é lá que quero ir. Soube que tem uma rocha enorme em frente ao lago e de lá dá para ver o nascer do sol.
Foi a vez de Elisa lamber o sorvete, que já estava derretendo, e olhar Gregory com um olhar pidão. Ele jamais poderia negar aquela proposta, ele mesmo já quisera ir ao monte, mas tinha mais preguiça do que coragem dentro de si.
Por fim ele lambeu o sorvete também e respondeu:
— Tudo bem, nós vamos. Mas não garanto que vou acordar cedo para ir.
— Eu te espero lá, que tal?
— Tudo bem.
Gregory se aproximou de Elisa e lambeu a orelha dela, na clara intenção de provocar, só que saiu pela culatra, a provocação nela surtiu outro efeito, enviando ondas de pequenos choques que atravessavam o corpo, da cabeça aos pés. A sensação que a língua gelada dele, causara sentimentos novos nela. Ela apenas se encolheu e se calou, tentando não dar muito nas vistas o que sentira.
Terminaram os sorvetes e permaneceram aconchegados um ao outro, com Gregory passando o braço ao redor dos ombros de Elisa.
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