10. Tudo o que me mata, me faz sentir mais vivo
"Velho, mas não sou tão velho
Jovem, mas não sou tão ousado
Eu não acho que o mundo seja vendido
Por fazer o que nos disseram pra fazer
Eu sinto algo tão certo
Fazendo a coisa errada
E eu sinto algo tão errado
Fazendo a coisa certa
Eu não poderia mentir, não poderia mentir, não poderia mentir
Tudo que me mata me faz me sentir vivo"
Counting Stars - One Republic.
Ele estacionou em uma vaga ao lado do restaurante que iriam e logo entraram no local, Gregory tomou o cuidado de reservar uma mesa para eles, sabia como o Rock You era muito frequentado e se deixassem para a última hora, era capaz de nem acharem lugar para sentar.
O ambiente era harmonioso e aconchegante, o piso xadrez dava um certo ar de retrô, as mesas de madeira espalhadas pelo local, discos de vinil e guitarras penduradas nas paredes de tijolos expostos, a jukebox posicionada em um canto perto do bar, que ficava nos fundos. O balcão do bar era vermelho, com um espaço amplo atrás para os bartenders trabalharem, atrás deles ficava uma parede cheia de bebidas e as banquetas pretas e altas, davam conforto para os clientes.
Se sentaram em uma das mesas no canto e logo um garçom se aproximou com dois menus, que continham os pratos oferecidos, cada prato tinha o nome de uma banda ou cantor de rock. Juntos eles decidiram o que iriam comer e logo já estavam sendo servidos.
— Então. – Começou Gregory – Ainda não sei muita coisa sobre você.
— Gosto de me fingir de misteriosa de vez em quando. – Respondeu ela rindo.
Gregory acabou rindo também, mas retomou:
— Que curso faz?
— Fotografia. Adoro tirar fotos.
— É um ótimo curso. Nunca tinha te visto por lá.
— Entrei esse semestre, nunca paro por muito tempo em um lugar.
— É basicamente uma nômade então? – Brincou ele.
— Por assim dizer. – Ela deu de ombros – Ou uma cigana. Não gosto de me prender, sou um espírito livre.
— Não se prende a lugares e nem pessoas?
— Muito menos pessoas, já tive experiências o suficiente para não me apegar às pessoas.
— Fala isso como se fosse muito experiente.
— No auge dos meus vinte e seis anos, já vivi o suficiente para afirmar que sou. – Respondeu Elisa, o encarando com intensidade.
— Tem vinte e seis então. – Comentou ele, apoiando os braços na mesa e se inclinando para frente.
— Algum problema com mulheres mais velhas, alteza?
— Nenhum.
— E quanto a você? Não me disse nada sobre sua vida também.
— Ela é pública o suficiente para você saber tudo o que acontece. – Gregory abriu um sorriso brincalhão, fazendo Elisa o acompanhar.
Eles ficaram em silêncio alguns segundos, até ela se aproximar dele e o encarar com divertimento nos olhos, dizendo:
— Essas suas bochechas são coradas naturalmente ou só está com vergonha?
— Ah, isso... – Ele desviou os olhos, constrangido. Odiava falar sobre as bochechas – Elas são assim. Sempre ficam com essa cor, não sei porquê.
Elisa começou a rir sem conseguir se conter, recebendo um olhar reprovador de Gregory. Ele cruzou os braços e esperou até a crise histérica de riso de Elisa passar.
— São muito fofas! – Disse ela, secando uma lágrima que escorria no canto dos olhos – Não vou negar te deixa com um ar infantil, mas ainda assim é fofo.
— Escuto essa frase minha vida inteira. É horrível ser chamado de fofo, sabia?
— Mas é o que parece. Não é de todo ruim... Acho que vou te chamar de moranguinho.
Ele fez uma careta de desgosto, seu rosto não demonstrava nenhum contentamento com aquele apelido, era constrangedor.
— Moranguinho? – Rebateu – Aí já passou dos limites. Me chame de qualquer coisa, menos isso.
— Tarde demais, Moranguinho.
— Eu não gostei.
Gregory voltou a cruzar os braços e virou a cabeça em outra direção, a fim de evitar o contato visual com Elisa. Naquele momento ele parecia ainda mais infantil, principalmente quando fazia aquele bico.
— Ah, não fique assim, foi um elogio. Quanto mais faz essa carinha, mais vontade de apertar suas bochechas eu tenho. – Respondeu ela, esticando o corpo por cima da mesa e depositando um beijo no rosto de Gregory.
Ele continuou na mesma posição, mas a olhou de soslaio, não conseguindo se conter e abrindo um sorriso. Era fácil arrancar sorrisos de Gregory.
Ele se voltou para ela de novo e deram continuidade a outros assuntos. Não tinham tanta privacidade como queriam, afinal Gregory era alguém conhecido, mas ainda assim não eram incomodados. No entanto, nem todas as pessoas naquele lugar pareciam ser sensatas, em certo momento da noite, Elisa reparou que estavam sendo fotografados. Ela ficou um pouco incomodada com a situação, ficando mais séria do que o comum. Gregory acabou reparando nisso e perguntou:
— Algum problema?
— Eu tinha me esquecido de como você é conhecido. – Respondeu ela, virando os olhos na direção do paparazzi.
Ele acompanhou o olhar de Elisa e se deparou com um homem tentando esconder a câmera, mesmo tentando tirar algumas fotos.
Gregory fechou os olhos, com impaciência e suspirou. Olhou para Elisa como quem pede desculpas e se levantando, disse:
— Com licença.
Ele se direcionou para a mesa onde o homem estava e calmamente se inclinou na frente do homem, ali permaneceu alguns minutos conversando amigavelmente, Gregory parecia estar acostumado com aquilo, sabia lidar muito bem com a situação, mas não pareceu obter sucesso, pois voltou para perto de Elisa, com uma expressão incomodada no rosto. Segurando a mão dela, a puxou para junto de si e sussurrou em seu ouvido:
— Vamos embora, o ambiente já não está favorável.
Pagou a conta rapidamente e a puxou para fora do restaurante, entrando no carro ele suspirou e se voltou para Elisa. Seus olhos não demonstravam raiva com a situação, demonstravam um pouco de culpa.
— Me desculpe. – Disse ele – Não queria que passasse por essa situação ou fosse exposta. Tinha me esquecido que situações assim podem acontecer.
— Acho que nenhum de nós dois pensou nisso, de qualquer forma a culpa não é sua. Você não pediu para nascer na realeza, não é?
— Não, não pedi. Gostaria de ser um anônimo uma vez na vida, não é confortável ter a privacidade invadida assim... Infelizmente acho que a noite acabou mais cedo do que imaginávamos.
— Quem disse que precisa acabar agora? – Inquiriu Elisa, com um olhar divertido – Ainda podemos esticar o programa, conheço um lugar bem legal e acho que seria difícil o reconhecer.
Os olhos de Gregory se iluminaram diante daquela nova perspectiva de poder passar mais tempo com ela, abrindo um sorriso, ele perguntou:
— Onde?
— É uma boate aqui perto. Acho que na escuridão e com todas aquelas luzes piscando será difícil te reconhecer, além disso, podemos ficar mais à vontade lá.
Gregory não gostava de boates ou baladas, nisso ele tinha que ser sincero, a mínima ideia de passar horas em pé, balançando num ritmo descoordenado, com luzes fortes piscando, pessoas se aglomerando ao seu redor, se esbarrando e fedendo a bebida, não era nada atraente. Mas ele também tinha que reconhecer que nunca sequer tentara passar mais de duas horas em um ambiente como aquele, talvez devesse abrir uma exceção naquele dia.
E foi justamente isso que fez, ligou o carro e saiu dirigindo na direção que Elisa explicou. Pelo caminho acabou ligando o rádio que tocava uma de suas músicas favoritas, enquanto isso, ele ia batendo o dedo no volante. O silêncio dentro do carro era constrangedor, mas logo ele se dissipou quando outra música começou e Elisa praticamente, gritou:
— É minha música! Adoro ela! Posso aumentar?
— Claro!
Ela aumentou em um volume absurdo e fazia uma dancinha engraçada, enquanto acompanhava o cantor na letra, os olhos estavam fechados e mesmo que sua voz fosse um pouco desafinada, a empolgação da moça cativou Gregory.
Estava começando a ficar um pouco quente ali dentro e ele sequer sabia o motivo, sendo assim, abriu o teto solar, fazendo Elisa se empolgar com aquilo e soltar o sinto para se esgueirar para a abertura e sentar no teto.
— Elisa, pelo amor de Deus, desça agora!
— Relaxa, Moranguinho. Não vou cair.
— O teto não foi feito para fazer isso, eu vou ser multado.
— Se permita se divertir pelo menos uma vez na vida, Gregory. Aproveite o momento e não seja tão certinho. Acelera esse carro!
— Já estou no limite de velocidade, Elisa.
— Mas que covarde! – Bradou ela, soltando um riso zombeteiro.
— Droga!
Gregory pisou no acelerador, aumentando a velocidade do carro, fazendo Elisa gargalhar de felicidade, enquanto abria os braços, sentindo o vento refrescante atingir seu corpo e fechava os olhos.
Quando a música chegou no refrão, Elisa começou a cantar a plenos pulmões, dizendo:
— Tudo que me mata me faz me sentir vivo.
Gregory gargalhou dentro do carro contagiado pela alegria da moça, nunca havia se sentido tão bem, se sentido tão vivo como se sentia naquele momento.
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