Enemies -friends- love
[...]
Após a festa na Academia Unicórnio, Isabel estava sozinha em seu quarto no dormitório Safira.
— Oi? Pessoal! — Ela gritou, mas não obteve resposta até que uma pessoa familiar surgiu no corredor com a expressão enraivecida.
— Que gritaria é essa? Ah... é você! — disse assim que a notou. — Posso saber por que você tá gritando?
— Cadê a galera? — Isabel virou-se lentamente. Ainda estava usando muletas, o que odiava já que não podia fazer nada divertido, e sempre estava precisando de ajuda, embora insistisse que não precisava.
— Bom, a "galera"... — ela fez aspa com as mãos. — Saiu para dar uma volta há meia hora. Eles até queriam te chamar, mas você tava dormindo feito uma pedra, então decidiram te deixar descansando.
— Quê! Ah, qual é! Por que eles não me acordaram? — Isabel reclamou, jogando a cabeça para trás e fazendo um bico.
— Você é surda? Não ouviu que eles não queriam te acordar? Enfim! — Val jogou o cabelo de lado, e dirigiu-se para o quarto.
— Por que não foi também? — perguntou a loira, tentando alcançá-la.
— Porque eu queria estudar em paz. Mas agora que você acordou, minha paz acabou. — ela respondeu, franzindo a testa.
— Hum... Tudo bem. Ei! Pode me ajudar a pegar um lanche? — Valentina a interrompeu, estendendo o braço para mantê-la afastada.
— Não, de jeito nenhum! Você que se vire. Eu tenho que estudar. — declarou, virando as costas e entrando em seu quarto, batendo a porta.
— Tá bom! Eu não preciso dela... — falou para si mesma, ouvindo a outra reclamar. Bufou, virando-se em direção à escada, contemplou a altura, olhou para as muletas, e deu uma última olhada para trás. Com determinação, balançou a cabeça. — Vamos lá, Isabel! Você não precisa de ajuda. Você consegue! — Segurou com cuidado o corrimão, colocou o pé bom no primeiro degrau e desceu com sucesso. — Ha! Eu disse que consigo...
Colocou a muleta no degrau, desceu com o pé bom, de alguma forma estava funcionando. Continuou dessa forma já vislumbrando o fim da escada, com um sorriso orgulhoso no rosto.
— Eu sou incrível! — Exclamou dando um soco no ar, perdendo o equilíbrio e quase caindo no chão se não fosse pela intervenção de Valentina.
— O que você pensa que tá fazendo? — Valentina a segurou pelo pulso, fazendo com que as muletas caíssem escada abaixo. Isabel forçou um sorriso para Valentina quando ouviram as muletas chegarem ao final da escada. Val franziu a testa irritada, puxando a loira devagar enquanto discutiam.
— Ei, ei! Não fique brigando comigo! — Disse agarrando-se ao corrimão, com Valentina ao seu lado na escada, colocando o braço sobre seus ombros.
— Você é tão teimosa! — Exclamou ajudando a descer as escadas, quase caindo novamente e segurando na cintura de Valentina, aproximando seus rostos. Valentina bufou desgostosa e retomou as broncas. — E se eu não estivesse aqui? Você teria se machucado mais ainda. E tudo isso só para ir ao refeitório!
— Eu te pedi ajuda e você recusou! Eu tô com fome! Teria trazido comida se eu tivesse pedido? — Perguntou ao sentar no sofá, Valentina virou a cara com irritação. — Foi o que pensei. Agora que estou aqui embaixo, consigo me virar. É só me dar minhas muletas que vou ficar bem. Obrigada! — Tentou alcançar a muleta no chão, mas Valentina cerrava os punhos e foi até elas, afastando-as da loira. — Mano, para de empurrá-las para longe! — Tentou esticar mais o braço, mas Valentina segurou seu pulso e a levantou, deixando-as cara a cara.
— Se tivesse me pedido, eu teria sim pego a comida! — Disse muito próxima do seu rosto, Isabel afastou a cabeça rindo sarcasticamente. — Que foi? Acha mesmo que eu não iria?
— Você não demostrou muita solidariedade... e não quero ser um fardo para a gloriosa senhorita Furi! Por favor, me dê as muletas logo. — Val murmurou ao soltar seu pulso, pegando as muletas do chão e entregando-as. Isabel levantou-se, suspirando aliviada, confusa com a presença da outra ali, como se esperasse por algo. — Que foi?
— Você não vai ao refeitório? Vamos, eu vou com você. Fiquei com fome também. — disse Valentina, saindo primeiro e voltando logo ao perceber que Isabel não a seguia. — Tá esperando um convite?
Isabel resmungou, seguindo Valentina até a cantina. Era tarde, a noite se aproximava, alguns estudantes mais velhos se movimentavam pela escola, conversando, passeando a cavalo. Sentiu falta de River, mas aprendeu que não deveria pressionar, dando-lhe também um tempo. Mesmo que quisesse cavalgar, ela não poderia por causa da perna.
No refeitório, serviram-se do que desejavam e sentaram-se afastadas dos demais. Alunos entravam e saiam e continuaram a comer em silêncio. Isabela estava agitada por dentro, com a urgência de se expressar, de conversar, de qualquer coisa. Detestava ficar parada.
— Então... sobre o que estava estudando? — Quebrou o silêncio ao morder um pedaço da maçã.
— Sobre as fadas que vivem na ilha. Minha tia ensinou isso na sala, e vamos ter uma prova semana que vem. Você por acaso se esqueceu? — Perguntou, tomando sua bebida com um sorriso travesso. Isabela limpou a garganta, mesmo que tivesse esquecido, não iria admitir.
— Fadas? Lembro sim. — Respondeu, dando um gole em sua bebida e desviando o olhar.
— Nossa~ Que milagre. — Ela provocou a loira, arrancando risos de Isabel. A loira gosta quando ela faz isso. — Você tá inquieta e isso tá me irritando. Desembucha! — Disse, tirando-a de seus devaneios.
— Não é nada. Só detesto não fazer nada! Quero sair, cavalgar, treinar, mas não posso fazer nada por causa dessa perna idiota! — Reclamou, batendo a cabeça na mesa.
— Bem, você só está assim porque teimou com a professora dizendo que poderia fazer aquele salto. — Disse retirando a casca da maçã, Isabel inclinou a cabeça para o lado soltando um risinho.
— Touché! — Suspirou, observando ao redor. — Por que não saiu com os outros? A prova ainda está longe. Tirar um dia de folga não vai te matar.
— Sou uma Furi! Preciso ficar em primeiro nas provas para honrar minha família.
— Papo de nerd~ Saquei! — Brincou sendo atacada por uma batata frita, pegou a batata e comeu enquanto encarava Valentina.
— Nerd ou não, eu tenho que manter minha posição como melhor aluna. — Disse, separando a casca da maçã de um lado e a maçã do outro, mantendo seu prato organizado. Isabel achou aquilo frescura, notou que ela estava encarando a maçã e o prato procurando um espaço para cortar, mas não encontrava.
— É só colocar na mesa e cortar. — Comentou, fazendo-a franzir a testa.
— Não vou colocar minha comida nessa mesa suja! — disse tentando cortar a maçã na mão, mas sem sucesso, o que a deixou frustrada. A loira suspirou, levantou-se com cuidado, trouxe a cadeira mais perto e estendeu a mão. — O que foi? — perguntou a outra confusa, levantando as sobrancelhas.
— A maçã. Me dá. Eu corto para você, ou você vai acabar se machucando com essa faca. — afirmou com um sorriso provocador. Valentina bufou, virou o rosto e encarou a maçã em sua mão.
— Não sou criança...
— Argh! Meu braço já tá doendo! — reclamou segurando-o com a outra mão. Contrariada, Valentina entregou a maçã, observando-a sendo cortada rapidamente em pedaços. Em seguida, Isabel colocou os pedaços na bandeja de Valentina e entregou para ela. — Agora estamos quites! Você me ajudou a não cair da escada e eu te ajudei cortando a maçã. Troca justa!
— Humph! Isso não foi justo. Você ainda me deve por estar aqui contigo em vez de estar no meu quarto estudando. — Dizendo enquanto come os pedaços cortados. Após terminarem de comer, voltaram para o dormitório e, no caminho, encontraram com Ms. Furi.
— Olá, Valentina. Senhorita Armstrong. O que estão fazendo? — Perguntou ao descer do unicórnio.
— Só enchendo a pança! — Respondeu, sorrindo para a mais velha e levando um tapa na cabeça de Valentina.
— Entendo. Deveria está descansando se quiser voltar a ativa logo.
— Claro, claro~ Eu já tô voltando para meu quarto! Tchau professora Furi! — saiu apressadamente e quase tropeçando.
— Cuidado! — Gritou Valentina, pronta para ajudar, mas parou ao ver que estava tudo bem.
— Relaxa! Eu cuido disso! Tá tudo belezinha! — Respirou fundo ao vê-la se afastar. Sua tia riu baixinho, apreciando a evolução da sobrinha.
— Algum problema tia? — Perguntou, acariciando o unicórnio da mais velha.
— Nada para se preocupar. Apenas patrulhando a Ilha. Pelo visto você já tem outras coisas para lidar. — Ao se referir a Isabel, Valentina soltou um suspiro e revirou os olhos. — Sabe, estou feliz que você tenha se desenvolvido mais socialmente. Fazer amizades na sua idade é muito importante; e manter aqueles leais ao seu lado é melhor ainda.
— Ela não é minha amiga... — Ela falou, fazendo um bico.
— Talvez não, mas vocês têm muito em comum. Eu vejo isso. A maneira como vocês exibem orgulho e competitividade. Contudo, a lealdade e coragem que emanam de vocês é realmente admirável. Fico feliz que tenha encontrado alguém parecida com você.
Valentina não respondeu, pois não havia o que dizer. Sua tia estava correta, durante toda a sua vida, fora apenas ela. Nunca havia encontrado alguém que rivalizasse consigo ou fosse tão competitivo.
— Enfim, vou voltar à patrulha. Nunca se sabe o que pode acontecer. Afinal...
— Uma Furi nunca baixa a guarda! — Completou, sorrindo para sua tia, que retribuiu o gesto, despedindo-se.
Ao retornar ao dormitório, deparou-se com Isabel encarando a escada com apreensão. Ela tossiu para chamar sua atenção, e imediatamente Isabel fingiu estar tudo bem.
— Ei! Valentina! Tudo bem? — Perguntou, forçando um sorriso.
— Vamos lá, vou te ajudar a subir. Mas é a última vez! Se tentar descer de novo, vou te empurrar escada abaixo. — Segurou o braço da loira, colocando sobre seus ombros, e envolveu sua cintura.
— Puff! Não está falando sério. — Com um ar de deboche, ele apoiou a muleta no primeiro degrau para obter apoio, enquanto Valentina a encarava de lado. Se viu hipnotizada por seu olhar profundo, que antes não havia percebido.
— Estou falando muito sério! — Sussurrou ela próximo ao rosto da loira. Subiram lentamente até o topo, e então Val se afastou dela e seguiu para seu quarto. Antes que pudesse dizer algo, fechou a porta em seu rosto. Ela suspirou, olhando para o corredor vazio, antes de ir para seu quarto.
Após tomar banho com dificuldade, já vestida com seu pijama, ela agora estava deitada na cama olhando para o teto. Queria dormir para fazer a noite passar mais rápido, mas não conseguia. Não era tão tarde para estar com sono, e tentar forçar-se a dormir só a deixava mais agitada. De repente, Layla entrou no quarto, abrindo a porta com força.
— Oi, Isabel! Desculpa pelo sumiço. Encontramos algo incrível em uma caverna e agora estou em busca de livros que possam nos fornecer informações sobre essa descoberta. Provavelmente iremos demorar para retornar, mas não se preocupe, aproveite seu descanso. Tchau~!
A porta do quarto foi fechada, deixando a loira boquiaberta. Ela balançou a cabeça em frustração, afundando o rosto no colchão. Sentindo-se entediada, percebeu que não conseguiria dormir após ouvir aquela mensagem confusa.
Respirou fundo e se sentou na beira da cama. Ao verificar o relógio, viu serem apenas sete horas e tinha certeza de que não seriam retornar tão cedo após a descoberta na caverna. Decidiu então procurar a única outra pessoa presente, e mesmo falando para não lhe incomodar, seria divertido irritá-la um pouco.
Caminhou lentamente em direção ao quarto de Val, carregando um livro debaixo do braço. Com cuidado, segurou-o com uma mão para manter o equilíbrio, batendo à porta até que alguém atendesse. Valentina abriu a porta e se deparou com a visitante sorridente.
— O que você quer Isabel? — perguntou, apoiando-se na porta com uma mão na cintura.
— Estou entediada. Layla disse que eles vão demorar a voltar, então pensei que poderia me ajudar a estudar. — Valentina levantou uma sobrancelha desconfiada, observando o livro nas mãos da loira. — Tudo bem! Eu esqueci da prova. Pode me dar uma força, Ms. Furi? Estou ansiosa para aprender mais com a melhor aluna da academia unicórnio. Não, não! A melhor da Ilha unicórnio!
— Bajulação. Humph! Você é boa. Está bem, vou te ajudar. Mas se você dormir eu te chuto do meu quarto. — Ameaçou, permitindo que ela entrasse.
— Nem ouso! — Respondeu com uma risada animada, dirigindo-se à cama e jogando-se nela.
— Ei, o que pensa que está fazendo?
— Ah, qual é cara! É bem mais confortável estudar deitada. — Disse ao se aconchegar na cama.
— Há muitos estudos que indicam que estudar na cama pode causar... Ai! — Isabel atirou uma almofada nela, interrompendo-a.
— Você não vai querer mesmo me fazer sentar em uma cadeira desconfortável nessa situação, né? — Ela fez um gesto dramático com seus olhos grandes.
— Tá! Mas se você dormir eu vou te acordar a base de porrada! — Isabel riu ao bater na cama para que ela se sentasse também. Valentina pegou suas coisas, as colocou na cama e sentou em frente à loira.
Inicialmente, Isabel tentou estudar, mas durou apenas cinco minutos. Logo, ela começou a brincar com o lápis, a folhear o livro rapidamente, a pegar o caderno e começou a desenhar. Apoiou a cabeça no encosto da cama, olhando fixamente para um ponto no quarto, mas logo seus olhos se voltaram para a figura vermelha e mal-humorada à sua frente.
Valentina registrava informações no caderno, relia e achou engraçado ver a outra franzindo a testa enquanto lia. Internamente, achou graça da situação e deixou a cabeça cair levemente para o lado, sorrindo de leve ao admirar a sua companheira de estudos. Não sabe por quanto tempo a observou, mas parou assim que a outra percebeu.
— O quê foi? Por que tá me olhando desse jeito? — Perguntou, levantando uma sobrancelha. Isabel desfez o sorriso, escondendo o rosto atrás do livro.
— Nada. — Mentiu. Valentina largou o lápis, sentindo a visão embaçar um pouco. Suspirou, cansada, balançando a cabeça, e retornou à leitura. Obviamente, Isabel percebeu isso. — Ei, er, estou confusa nessa parte. Pode me explicar? — Pediu, e Valentina bufou, arrastando-se na cama para ficar ao seu lado.
— O que é? — Mostrou o trecho do texto para ela, que leu rapidamente e riu. — Isso aqui é muito simples! Se nem o livro esta te ajudando, vou tentar explicar de uma maneira que entre nessa sua cabeça dura. Presta atenção! — Colocou o livro na frente das duas, e começou a explicar. Isabel segurou o sorriso ao ver Valentina gesticulando enquanto fala.
Isso continuou por um tempo até que Valentina percebeu que a outra não estava prestando atenção. Na verdade, ela estava apenas olhando com o mesmo sorriso de antes. Isso não a incomodou, mas ela não entendeu por que Isabel continuava fazendo aquilo e acabou ficando irritada.
— Ok, já chega. Você nem tá me ouvindo.
— Claro que estou!
— Então o que foi que eu disse? — Isabel ficou sem palavras, suspirou derrotada, aguardando um sermão que não veio. — Vá para o seu quarto agora. Se não quer estudar, não atrapalhe quem quer.
— Mas todo mundo saiu! — exclamou.
— Isso não é problema meu! Eu preciso estudar. Então-não-me-atrapalhe! — disse pausadamente, encarando-a severamente. Bufou irritada e se afastou dela. Sentiu a falta do calor dela, balançou a cabeça olhando para a perna engessada.
— ... Sabe, eu tinha uma amiga que se parecia muito com você. Bem, talvez um pouco mais bonita. — Brincou. Valentina se preparou para dizer algo, mas foi interrompida. — Ela era como nós duas. Sempre competindo para estar em primeiro lugar. Ser a número um! Mas, não importava o quanto ela se dedicasse e se esforçasse, mesmo quando estava no topo, nunca era suficiente para ela. Parecia que nada era realmente o bastante...
— Ela parece ser alguém que entende o que é ser uma vencedora. Eu super entendo! É difícil manter-se no topo quando há outros buscando o seu lugar. E é por isso que nunca parece ser o bastante. — Com um sorriso orgulhoso, jogou o cabelo para o lado. Isabel riu suavemente, mas logo tornou-se séria novamente.
— Ela compreendia o que significava ser uma vencedora. Mas, nem troféus, medalhas ou as melhores notas conseguiram salvá-la... — Disse baixinho, fazendo Valentina virar-se para encará-la confusa. — Ela estava voltando de mais uma competição quando o carro se envolveu em um acidente e bateu. Ela não resistiu.
Com a voz trêmula, proferiu a última frase, abaixou o olhar mais uma vez e o quarto foi tomado pelo silêncio. O único som audível era a respiração delas, os risos dos estudantes do lado de fora e o vento que adentrava o cômodo pela janela.
Valentina acomodou-se lentamente na cama e encarou-a novamente, à espera de mais palavras, mas nada foi dito. Ela ponderou se deveria falar, porém, aquilo não era da sua conta; no entanto, ao fitá-la novamente, seu coração disparou descontroladamente. Abriu a boca para falar, mas as palavras não saíram. Em vez disso, cerrou os lábios e mordeu o beiço com força.
— Eu curto ser competitiva, adoro estar em primeiro... mas se isso significar colocar em risco minha vida ou a dos meus amigos, então não adianta ficar em primeiro lugar. Por isso, você não deveria se esforçar tanto. Seria bom descansar um pouco antes da prova, para manter a mente relaxada na hora. E, mais uma coisa, eu não queria te falar, mas suas orelhas estão bem feias, hehe!
— Quê! — Ela correu até o espelho para examinar seu rosto, bufando de raiva por ter que admitir que a outra estava certa. Isabel caiu na gargalhada e deitou-se de barriga para cima na cama, tentando conter o riso. Quando Valentina se aproximou com determinação, ele parou de imediato.
— Ei, ei, ei! Calma lá, Valentina! — Ela pediu enquanto era atingida várias vezes por uma almofada. — Tudo bem! Chega, eu entendi! — A loira segurou o pulso dela, fazendo-a perder o equilíbrio e cair.
Valentina usou a outra mão para se apoiar e não cair de cara nela, ficando muito próxima do seu rosto. Ambas ofegantes, nenhuma das duas conseguia dizer nada; estavam paralisados e, estranhamente, nenhum deles fazia menção de se afastar.
Valentina retornou à realidade e saiu de cima de Isabel, que permaneceu imóvel. Pela primeira vez, sentiu medo de se mover, receio de falar, mesmo que quisesse, as palavras não saíram, ficaram presas em sua garganta.
— Acho que você está certa. Talvez seja melhor fazermos uma pausa por hoje. A prova ainda está longe. — Falou, acariciando uma mecha de cabelo.
— Você concordando comigo? Uau! — Surpreendeu-se Isabel, levantando o braço em defesa, mas não foi atacada. Val caminhou até o outro lado, sentou-se perto da loira novamente, roçando seus braços. Isabel arrepiou-se da cabeça aos pés. Enrubescida, balançou a cabeça e focou-se. — Só para esclarecer... eu estava sim ouvindo. Se não se importa, pode continuar explicando? — Pediu simplesmente, ajeitando-se e fazendo seus braços roçarem mais. Valentina permaneceu próxima, mas evitava encará-la. Apenas concordou e voltaram a estudar.
[...]
— Ai, estou exausto~! Perdemos completamente a noção do tempo. — Comentou Rory ao espreguiçar-se e bocejar. Acabaram se distraindo na biblioteca e só saíram de lá quando a professora Furi os mandou embora.
— Pelo menos encontramos novas pistas sobre aquela caverna e a magia nas pedras. Estou tão empolgada~! — Layla abraçou o livro que trouxera com entusiasmo, balançando-o nos braços como se fosse um tesouro. Sophia e Ava riram da animação da amiga.
— Espera. Não devíamos verificar como está a Isabel? Passamos praticamente o dia todo fora nos divertindo, e ela ficou aqui sozinha. — Disse Ava, preocupada.
— Vish! Sei não, ela pode ficar brava conosco por não acordá-la. — Rory encarou as amigas, colocando as mãos na cintura.
— Vamos checar como ela está, perguntar se precisa de algo antes de irmos dormir. — Sophia adiantou-se, seguida de perto por Layla, que abriu a porta com cuidado para não fazer barulho. — Pessoal... ela não tá aqui.
— Estranho. Quando vim buscar um livro mais cedo, ela estava deitada na cama. Será que foi para algum lugar? — ponderou. Deixou o livro na cama, saindo do quarto com os outros.
— Não acredito que ela vá longe com a perna machucada. Vamos checar... Esperem! Estão ouvindo? — disse Sophia em tom baixo, olhando ao redor enquanto os demais ficavam confusos, trocando olhares entre si.
— Ouvindo... o que exatamente? — perguntou Ava.
— Vocês não acham que o dormitório está muito silencioso? — Todos se entreolharam nervosos. — Vamos ver a Valentina. — Decidiram ir imediatamente para a frente do quarto de Valentina. Sophia estava prestes a bater na porta, mas Ava a interrompeu, apontando para a maçaneta. A porta, que normalmente ficava trancada, estava entreaberta. Com cautela, Sophia abriu a porta devagar. Entraram em silêncio, deparando-se com a cena na cama, deixando todos boquiabertos.
— Isso é... — murmurou Layla.
— Elas duas... — continuou Ava.
— Cara! Eu tô pasmo! — Exclamou Rory, de boca aberta.
— É, isso explica o silêncio. — Sophia só conseguiu sorrir ao ver a cena de Valentina e Isabel deitadas juntas de qualquer jeito, com vários livros espalhados na cama.
Valentina adormeceu apoiada no ombro de Isabel, que descansou a cabeça na amiga e também adormeceu.
— Pelo menos elas não colocaram fogo no quarto. — Brincou Rory, fazendo-as rirem baixinho.
— Vamos deixá-las descansar. — Disse Ava, fazendo sinal com as mãos para que todos saíssem. Ela foi a última a deixar o quarto e, antes de fechar a porta, sorriu de orelha a orelha.
[...]
Na manhã seguinte, Valentina acordou na cama sozinha. Isabel já havia saído e, para sua surpresa, seu quarto e livros estavam todos arrumados. Ela ergueu a cabeça e notou que estava coberta também.
Ao escutar Sophia bater à porta, avisando que já estavam de saída, foi então que ela percebeu que estava atrasada. Após conferir minuciosamente sua maquiagem e penteado três vezes, finalmente se sentiu satisfeita e saiu do quarto, trancando a porta atrás de si. No refeitório, juntou-se às suas colegas habituais, enquanto observava seus colegas de dormitório se divertindo em uma mesa próxima. A ausência de Isabel chamou a sua atenção, e ela procurou discretamente por ela sem sucesso.
Sentiu algo estranho. Uma sensação de vazio se fez presente. Sacudiu a cabeça e terminou sua refeição antes de dirigir-se à sala.
~Três dias depois~
— E aí Isabel! Você vai tirar o gesso daqui a dois dias, né? Que tal uma corrida? — Aproximou-se da loira que conversava com Sophia.
— Huh... Bem que gostaria de te fazer comer poeira, mas tenho uns assuntos para resolver com a Sophia. — Respondeu ela, afastando-se rapidamente com Sophia.
~Seis dias depois~
— Cadê a Isabel? — Perguntou ao entrar no dormitório e avistar apenas Ava e Layla jogando cartas no sofá.
— Saiu com a Sophia e o Rory. — Informou Ava, Valentina bateu o pé no chão, saindo irritada.
~Vários dias depois~
— Pois é Cinder, ela claramente me evitando! — Exclamou frustrada. — Não entendo. O que será que essas duas estão fazendo de tão importante? Passei a semana inteira tentando falar com ela e sempre arranja uma desculpa, mas quando vou olhar, puf! Lá vai ela para algum lugar com a Sophia ou os outros! — Suspirou profundamente batendo na própria cabeça, Cinder segurou sua jaqueta para fazê-la parar. Encolheu-se abraçando as pernas e escondendo o rosto.
Inúmeras dúvidas invadem sua mente, mas uma em especial se destaca, persistente, ecoando em seus pensamentos. Uma incerteza que foi crescendo ao longo da semana. "E se Isabel e Sophia estiverem...". Sacudiu a cabeça, batendo nas próprias bochechas.
— Pare com isso, Valentina! — Murmurou consigo mesma enquanto se erguia e sacudia a poeira de suas roupas. Avistou a loira ao longe, montada em River. — Para onde ela vai agora? — Indagou, ordenando que Cinder também se levantasse.
Isabel cavalgou até a praia do lado oposto da ilha, um local pouco frequentado e por isso ideal para relaxar. A loira desceu de River e caminhou junto com ele, até parar e observar o pôr do sol, sentando-se na areia.
Valentina, que estava escondida, apenas observava enquanto ela brincava com River, o que a irritou. Um sentimento incomodava Valentina desde aquela noite, e era hora de buscar respostas.
— Então é aqui que você se esconde de mim. — disse Valentina, surpreendendo Isabel, que se levantou rapidamente.
— Oi, mana! O que cê tá fazendo aqui? Calma, tava me seguindo...? — Valentina desceu de Cinder e se aproximou de Isabel, dando um chute em sua canela. — Ai! Por que fez isso?! — Isabel pulava em uma perna só, massageando a canela e reclamando de dor.
— Eu tava acordada... — disse Valentina com a voz arrastada. Assim que Isabel tentou firmar o pé no chão, suas pernas fraquejaram.
— O quê? Então você...
— Por que você me beijou? — Valentina perguntou, avançando em direção a Isabel. Por que está me ignorando? Por que parou de falar comigo? Ou sei lá, me desafia para alguma coisa? Sabe como fiquei de cabeça cheia fazendo aquela prova? Não consegui me concentrar por sua causa! — disse, empurrando a outra pelos ombros.
— Espera... Estou super confusa! Não. Calma. Você estava acordada? — perguntou, com a mão na cabeça, incrédula.
— É claro que sim! Você não pode simplesmente beijar alguém e fingir que nada aconteceu. Ou ficar conversando com as outras alunas por aí! Estava fazendo isso para me provocar? Porque conseguiu me irritar! — Valentina acertou Isabel, que fugiu e se escondeu atrás de River, que a protegeu.
— River! — gritou, com lágrimas nos olhos.
— Se acalma, tá! Posso explicar, mas você precisa se acalmar! — tentou argumentar, mas Valentina estava tão furiosa que não quis ouvir. Respirou fundo, cansada, deu um toque em River para ele sair da frente. Ele entendeu e, no momento em que saiu, Valentina pulou, caindo em cima de Isabel. — D-Droga... — Isabel grunhiu de dor, encarou Valentina sobre ela com o rosto completamente ruborizado. — Por que você está tão vermelha?
— Suas mãos... tira suas mãos da minha bunda! — Ela gritou e Isabel rapidamente percebeu onde estava tocando.
— Desculpa! Foi mal, foi mal! — a loira se desculpou enquanto retirava as mãos rapidamente, prestes a se levantar, mas é impedida quando Isabel a segura pela cintura. — Escuta! Sinto muito mesmo por aquilo. Aconteceu no calor do momento. Nem sei por que fiz isso, só... Não sei! Desculpe por ter te ignorado, não era minha intenção, mas estava muito confusa! Como eu poderia falar sobre isso com você? Você teria me ouvido?
— Eu... — Ela mordeu o lábio, uma lágrima escorrendo, escondendo o rosto no pescoço de Isabel.
— Você tá chorando? — Perguntou, erguendo um pouco a cabeça e acariciando a costa dela involuntariamente.
— Por que você pediria desculpa? Não foi bom? — Val levantou a cabeça, Isabel nunca imaginou ver Valentina chorando, foi a primeira vez, e nunca se sentiu tão apaixonada. De repente, impulsionada por coragem de origem desconhecida, Isabel a puxou e selou seus lábios, surpreendendo os três presentes: Valentina, River e Cinder.
Os dois unicórnios trocaram olhares chocados, mas logo relaxaram, virando-se para o lado a fim de proporcionar privacidade. Enquanto Valentina, ainda atônita, permitia-se render-se ao beijo, a falta de ar os obrigou a se separar.
— Uau... — Isabel murmurou, ofegante e corada.
— Fizemos mesmo isso? — perguntou Valentina, igualmente corada e ofegante, enquanto acariciava o rosto de Isabel. Não resistindo, soltou uma risada fraca, contagiando Isabel.
— Eu não te ignorei porque foi ruim. Eu só precisava entender o que estava sentindo. Se era genuíno ou apenas passageiro. No entanto, quanto mais te evitava, mais eu pensava em você. Não consigo tirar você da minha cabeça. Foi muito bom beijar você e eu só pensava quando poderia fazer isso de novo porque agora eu sei, sei que gosto de você e não posso mudar esses sentimentos.
Ao se declarar, surpreendeu-a, mas não totalmente. Valentina já pressentia seus sentimentos por Isabel. Desde o primeiro momento, percebeu que era algo especial e único. As discussões e provocações constantes entre elas alimentavam a conexão que tinham. Era isso que tornava a relação delas tão singular. E, naquele momento de confissão, o beijo se tornou o ápice de sua existência. Melhor do que qualquer competição ou troféu que já tenha ganho.
As duas se levantaram, ainda de mãos dadas. Valentina se afastou delicadamente para arrumar sua roupa e ajeitar uma mecha de cabelo atrás da orelha. Em um silêncio constrangedor, nenhumas das duas sabia o que dizer.
— Então, e agora? — arriscou Isabel.
— Não faço ideia. — respondeu Valentina, abraçando a si mesma.
Isabel tentou falar, mas mordeu o lábio para se conter. Aproximou-se dela e tocou seu ombro suavemente, trocaram olhares intensos, pensativas.
O que significava aquilo? O que deveriam ser? Estariam fazendo a coisa certa? Será que isso poderia dar certo?
Era difícil raciocinar naquele momento. Isabel segurou o rosto dela, acariciando sua bochecha corada. Um frio na barriga tomou conta das duas, Valentina sentiu arrepios ao ser tocada por Isabel. Esta sorriu timidamente. Valentina não resistiu à saudade dos lábios da outra e os selou novamente. Isabel ficou surpresa, mas não recusou e abraçou sua cintura, aproximando seus corpos.
As duas permaneceram juntas até o ar faltar, porém, mesmo assim não queriam se separar e tiveram que se afastar.
— Nossa... — exclamou Isabel, deixando Valentina confusa.
— O que foi? — questionou Val, enquanto a loira continuava com um grande sorriso. — Por que você está sorrindo? — perguntou um pouco irritada.
— Porque antes, nunca conseguiria imaginar esse momento. Eu sei que estamos em uma ilha mágica, com unicórnios mágicos e já enfrentamos magia sombria, mas... agora tudo parece ainda mais mágico quando olho para você. — disse sorrindo com os olhos brilhantes. Valentina corou intensamente e escondeu o rosto entre as mãos, dando um leve impulso em Isabel antes de caminhar até Cinder. — O que foi? Não gostou?
— Achei bem brega. — disse com um sorriso discreto.
— Mais brega do que a sua dança no baile? — Brincou com um olhar travesso.
Os dias passaram e Valentina e Isabel permaneceram as mesmas. Brigando por coisas pequenas aqui e ali. Discutindo sobre quem realmente venceu determinada corrida. Ou inventando novos desafios para ver quem é a melhor na academia. Tudo estava normal como sempre. Mas para Sophia e os outros, a situação era ligeiramente diferente.
Para os mais atentos, certamente já teriam notado que as duas estavam muito mais próximas. Tão próximas que até saíam escondidas, indo cavalgar juntas sozinhas após as aulas. E não podiam ignorar o detalhe crucial; os olhares nada discretos que trocavam o tempo todo.
— Eu até apoiei no começo, mas se elas vão continuar agindo como se não estivessem num relacionamento, juro que pulo de um penhasco! — disse Rory encarando as duas amigas. Ao seu lado, Sophia, Ava e Layla também observavam as duas que nem sequer perceberam.
— Eu acho isso maravilhoso! Mas já está me deixando ansiosa. Por que elas não falam logo que estão juntas? — suspirou Ava, apoiando a cabeça no ombro de Sophia.
— Tenho que concordar. As escapadas nada discretas da Isabel estão atrapalhando meu sono. — disse Layla.
— E se falarmos com elas? Uma hora ou outra terão que admitir. — sugeriu Rory, e Sophia ficou pensativa. Realmente, é um pouco chato, especialmente depois das revelações feitas por Isabel a ela, mas é um assunto delas, não se pode forçá-las a falar. O jeito é aceitar como esta. Fechou os olhos por um breve instante, suspirando e colocando sua mão sobre a de Ava.
— Não. Vamos ficar na nossa. Em algum momento elas conversarão conosco. E mesmo que conversem, duvido que algo irá mudar. — Os três concordam, suspirando profundamente.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top