🔹 Capítulo XV🔹

𓁭 Guilherme 𓁭

Mais uma vez estou preso por um bem maior em uma atividade que envolve uma ex namorada.

Eu nem ao menos processei direito essa informação. Eu tinha esquecido dessa parte trágica do papel do cara "par romântico de uma mulher mágica e poderosa". Assim que ela deu sua palavra final, acabando tudo entre nós eu vaguei até o quarto da Anna, Giovanna e Alice — no intuito de não ser um empata foda nos quartos dos meus melhores amigos e seus respectivos parceiros —, as três me receberam muito bem, disse que Ísis precisava de um tempo sozinha por causa da perda de seu filho e não mencionei o termino para elas.

Acho que no fundo eu só não quero afirmar que acabou. O nosso tempo permitido acabou e está acabando com uma parte do meu coração junto.

Mais uma vez eu fingi naturalidade, engoli as drogas dos meus sentimentos para mim mesmo e segui a diante — pelo menos até Gustavo e Felipe me questionarem porque eu estava com um semblante desanimado na volta do Parque na noite passada. Eu tinha esquecido do fato de ser um mentiroso horroroso —, mas uma pequena fagulha de esperança ainda acredita que podemos voltar, que ela virá até mim e poderemos conversar e resolver tudo. Até mesmo a loucura passa pela minha cabeça com a ideia de me jogar aos seus pés e simplesmente implorar para que volte comigo.

Seria humilhação demais? Porra, porque tenho que gostar tanto dela?

— Nosso voo foi adiado. — Moises vem até nós amontoados em um ponto do saguão do aeroporto. — O nosso avião deu defeito e vamos ter que esperar consertarem para partirmos. A moça disse que podemos esperar naquela sala, vai levar pelo menos umas cinco horas até que possamos partir.

Entre os resmungos de Giovanna e Alice caminhamos devagar até o espaço, um pequeno ombro esbarra comigo e olho para Anna ao meu lado com um olhar preocupado e doce para mim.

— Vocês brigaram? — ela é direta.

— Não.

— Mentiroso, o que aconteceu? — ela insiste e não consigo segurar minhas lamentações para mim mesmo.

— Ela terminou comigo. — Ela para abruptamente e agarra meu braço exasperada.

— O que? Por que?

— Ela ficou abalada por tudo que aconteceu e o fato de eu ser um humano pesou na balança junto com os medos... enfim, terminamos. — Dou de ombros, mas com o bolo se formando na garganta.

— Por que não tenta conversar com ela agora? De cabeça fria fica mais fácil, talvez ela possa voltar atrás e fique tudo bem.

— Não, eu a perdi. Tenho que aceitar isso.

— Não tem não senhor! Vocês não podem acabar com meu maior shipp da história assim. Vá conversar com ela.

— Anna...

— Anna nada, vai logo. — A mais nova simplesmente me empurra no assento de espera ao lado da deusa que evita me encarar e se senta em um banco à frente.

Eu não sei como iniciar essa conversa, não sei nem como abordá-la. Meus olhos focam em minhas mãos e por reflexo nas mãos dela também, o arame do pacote de pão ainda está lá. Quando assumi estar apaixonado por ela eu já imaginava que meus sentimentos evoluíram para algo mais, existe algo diferente nela, algo que sempre faz agir como se ela fosse o próprio sol e eu um reles planeta orbitando ao seu redor. É louco dizer isso, mas essa é a verdade. Parece que sempre foi ela, como se o destino fosse traçado para acontecer nessa mesma sequência de eventos que me levam a estar ligado a ela de uma forma incomum.

E eu a perdi.

E para piorar a situação, não sei se posso tê-la de volta.

Ela tem razão. Ela é uma deusa, eu sou um humano... Um humano estupido que conseguiu se apaixonar pela mulher mais impossível do mundo e não vai poder ficar...

Anna tenta chamar a minha atenção e fazer sinais para que eu tente puxar papo com a deusa, mas o que posso fazer? Levantar e fazer um chilique gritando aos quatro cantos do mundo que a amo? Me ajoelhar aos seus pés e implorar? Ou...

— Um simples olá está de bom tamanho para mim, não se jogue no chão por favor. — Ísis me surpreende falando comigo, ainda sem me encarar. — Desculpe, seus pensamentos são difíceis de ignorar...

— Tudo bem, já estou acostumado com tudo isso...

caímos em um silencio mórbido.

Você é uma boa pessoa, Guilherme, mas é muito inseguro. Às vezes é bom deixar a pose de bonzinho de lado. Precisa acreditar mais em você.

O que ela disse no dia que inventou ser minha namorada na frente da Janaina e do Roberto vem a minha mente. Eu até melhorei desde aquele dia até agora, aos poucos deixando de ser inseguro e me garantindo um pouco mais. No entanto não deixo de me questionar a seguinte coisa: Se eu fui um humano estupido o suficiente para me apaixonar e me envolver com uma deusa, porque não posso ser estupido um pouco mais e insistir em nós mais um pouco.

— Preciso falar com você a sós. — É tudo que digo antes de pegar sua mão e a guiar comigo até fora da sala, ela não se opõem em nenhum momento. E entro com ela em um espaço vazio, logo atrás de uma grande pilastra, a morena fica de frente para mim, o rosto livre e brilhante preso em um alto rabo de cavalo dando uma vista incrível de seu belo rosto. Meu peito se enche de coragem e esperança, eu não vou deixar ela ir assim tão fácil. — Eu sei que terminou comigo e que tem motivos para isso, mas eu não posso deixar acabar assim.

— Guilherme, por favor, não torne as coisas mais dif...

— Eu te amo. — não a deixo completar sua fala e simplesmente solto a confissão. Ela me olha atônita, como se não fosse o que esperasse ouvir agora. — Eu sou só um humano, mas eu te amo e não posso mudar isso. Eu não quero mudar isso. Se até o Percy Jackson olhou para o deus da guerra e perguntou se ele estava com medo de enfrentá-lo, porque eu não posso olhar no fundo dos olhos dessa deusa incrivelmente poderosa e pedir para pensar melhor e me deixar ter o prazer de ser seu par romântico de poder miserável, mas com muito amor no coração? — Seus olhos lacrimejam e ela solta uma risada anasalada. — Por favor, não deixe isso acabar conosco.

— Eu só quero te manter seguro...

— Eu sei que quer e sei que fará isso, mas não pode me deixar seguro depois de usar meu doce coração e delicioso corpinho como fez, para então terminar comigo assim. Isso vai me machucar muito mais. Está machucando a nós dois muito mais. — chorosa, ela gargalha. — Você é o meu grandioso raio de sol e eu tenho uma grande deficiente de vitamina D. Você torna minha vida muito mais interessante, perigosamente interessante devo detalhar, e eu amo muito o quanto você me faz feliz.

Eu me aproximo dela e encosto minha testa na sua, a deusa não recua. Suas mãos alisam delicadamente minha bochecha, nossas respirações se misturando quando a morena dá um passo colando mais nossos corpos, o sinal para que meus braços circundem sua cintura e a traga para meu peito em um abraço carinhoso.

— Você nunca facilita para mim... — ela sussurra em meu ouvido, logo se afastando e olhando no fundo dos meus olhos, transmitindo carinho e doçura. Ela cola seus lábios nos meus, um beijo carregado de saudades e sentimentos complexos demais para serem detalhados em meras palavras. Nossas línguas dançam em fervor e nossos corpos quase se fundem tentando cada vez mais acabar com a distância que antes predominava. Quando o ar nos falta, ela se afasta selando brevemente nossos lábios.

— Eu também te amo, shaghaf. Se você ousar morrer vou te ressuscitar apenas para... — ela para abruptamente levando as mãos a boca como se desse conta de algo. — Ressuscitação! É isso!

— Eu acho que não entendi.

— Levante os oito! Não posso levantar os oito senhores do Nilo sem firmar a ligação com o seu deus patrono, como eles mortos não posso fazer isso, mas tenho os poderes deles e a minha magia, então só preciso fazer o ritual de ressurreição, trazer todos de volta e oficializar a enéade de reencarnados. Quanto Giovanna, posso usar o nome de Rá para moldar um poder semelhante ao de Seth e firmar a ligação. COMO NÃO PENSEI NISSO ANTES?

— PUTA MERDA!

— SIM! SIM! Se vocês tiverem as ligações diretas com os deuses, serão mais fortes do que os oito terem uma ligação apenas comigo. Além de ter sete deuses como aliados, o que já me dá uma vantagem minúscula, mas significativa em uma provável batalha. Eu vou ter meu filho de volta!

Ela me abraça eufórica e rodopiamos juntos, até uma pequena questão passar pela minha cabeça.

— Espera, então estamos bem? Tipo, você é minha namorada de novo, estamos em um relacionamento e...

Ela me cala me beijando novamente, apaixonada, esperançosa.

— Isso responde a sua pergunta?

— Acho que eu preciso de uma declaração mais formal. — retruco e ela acerta um tapa brincalhão em meu ombro.

— Guilherme Alves, eu reivindico você como meu parceiro, meu amor. Tenha ciência de que você me pertence até a eternidade da mesma forma que você tem meu amor por toda a eternidade, a partir desse dia você nunca mais irá se livrar de mim e nem a morte será capaz de nos afastar.

A cada palavra meu coração bate mais forte. Porra, eu amo essa deusa. Ela me beija novamente e a vida parece muito mais colorida do que estava na noite passada.

𓁭 𓁭 𓁭

O Cairo é sem dúvidas a coisa mais linda que já presenciei, é mágico a forma como me sinto na terra que abrigou uma das mais antigas e poderosas do mundo, o ar misterioso e belo das paisagens, os ornamentos magníficos que vemos a cada quilômetro andado pelo carro até o nosso hotel.

Depois de cinco horas de espera no aeroporto e mais um voo de quase dez horas, finalmente o solo egípcio nos traz uma sensação incrível. Ísis parece estar em casa, leve e menos tensa com nossa situação resolvida, um novo plano em mente e a familiaridade com o lugar.

— Eu me lembro desse espaço... — a deusa diz com um pequeno sorriso nos lábios, olhando para um canal próximo do Nilo. — Está muito diferente, claro, mas sei que esse foi o lugar de quando firmamos a ligação com os primeiros Senhores do Nilo.

— Como eles eram? — Felipe questiona no banco mais a frente da van.

— Um bando de loucos, a coisa mais divertida com certeza era ver Tarek e Jahi se alfinetando a cada minuto do dia, enquanto Seth e seu avatar entravam na milésima discussão sobre a aposta de qual deus da enéade se envolver primeiro com algum mortal.

— Sério que eles discutiam isso? — Anna diz desacreditada.

— Quem ganhou a aposta? — Giovanna pergunta. — Anda, conta a fofoca milenar.

— Menes, o avatar de Seth, apostou em Hórus, mas Seth discordava fielmente dizendo que meu filho era excêntrico demais para conseguir se deitar com um mero mortal e apostou fielmente em Sekhmet. No final de tudo nenhum dos dois ganhou, porque foi Anúbis que se envolveu com uma sacerdotisa de um dos templos em minha homenagem.

— O Anúbis? — o choque me percorre. Eu acreditava que eu era o primeiro humano de sanidade duvidosa que se envolvia com um ser divino, mas existiu um outro?

— Espera, você não é a primeira deusa a se envolver com humanos? — Gustavo questiona.

— Ísis, que fofoca é essa e porque não contou antes? — questiono. Poxa, fofocas mitológicas são a minha maior área de interesse.

— Por que não sei de todos os detalhes, oras. — ela dá de ombros. — Anubis e eu nunca fomos exatamente muito próximos, temos um respeito mútuo um pelo outro e ele nunca se abre de verdade. Mas uma vez, pouco tempo depois dos senhores do Nilo estarem ativos em nossas terras protegendo o povo, eu estava caminhando pelas dependências de um dos meus templos e vi quando ele estava em sua forma completamente humana aos beijos com uma das minhas sacerdotisas. Depois disso nunca mais consegui os flagrar juntos e o deus da mumificação sempre escapou das minhas perguntas sobre a jovem.

— Estou passada. — Bianca diz desacreditada.

— Não acredito nisso... — Alice também esta igualmente desacreditada. — Achei que o Gui fosse o primeiro idiota a se envolver com um ser divino.

— Não fala assim dele, ele pode ser um idiota, mas é o meu idiota.

— Eu gostaria de lembra-las que eu estou bem aqui e eu não sou um idiota. — retruco, fazendo a deusa e os demais rirem com deboche.

Eu mereço...

A van para na porta de uma pousada um pouco mais afastada do centro mais populoso da cidade. O local é aconchegante e que carrega um pouco de história em suas paredes. Nós não tardamos em adentrar o local com nossas malas e cansaço da viagem, Moisés como sempre tomando a frente das nossas questões burocráticas de hospedagem e mais uma vez estamos nos dividindo na mesma organização dos últimos dois hotéis.

Nossa última hospedagem antes da peregrinação até o espaço onde possivelmente vamos encontrar mais dois deuses e correr para salvar Rá da morte iminente pelas mãos de Seth. Pensar nesse confronto faz meu estômago embrulha só de imaginar estar frente a frente com o deus do caos, guerra e desertos. Teoricamente estamos no meio do deserto e o cara é a porra do deus dos desertos, o que lhe dá uma técnica vantagem sobre nós, mas gosto de me apegar a ideia de que Ísis é muito mais poderosa do que ele — o que é considerado um fato — e que será molezinha acabar com a fuça desse deus com cara de bicho desconhecido.

Eu só não espero estar errado sobre isso.

Nosso quarto é grande, desposando de uma cama dossel grande vestido em lençóis que tenho certeza ser de linho na tonalidade branca, uma vasta varanda nos dá a vista perfeita da pirâmide de Quéfren e Quéops bem ao fundo. Largo nossas malas na beira da cama, me dirigindo a paisagem majestosa da nossa varanda. As duas pirâmides mais altas de todo o Egito, se estivéssemos no quarto vizinho possivelmente poderíamos ver a pirâmide de Miquerinos. Simplesmente deslumbrante.

— Gostou da vista? — Ísis abraça a lateral da minha cintura, se aconchegando para apreciar a vista.

— Eu amei... É magnífica... — Me sinto estasiado com toda a coisa, parecendo até que minha ficha realmente caiu. Estou no Egito, olhando para as pirâmides de Gizé, uns dos maiores cartões postais e grandiosos túmulos reais. — Será que se a gente não morrer podemos fazer um tour por cada mínimo detalhe desse país?

— Quando tudo isso acabar vou te mostrar tudo com direito as maiores histórias não contadas. Quem sabe eu não consiga um passe especial pela morada dos deuses no paraíso de junco...

— O palácio dos deuses? o lar de todos os deuses da mitologia egípcia? Isso é possível?

— Tudo é possível para mim, meu amor. — ela me lança uma piscadela, logo traçando um caminho de beijos em meu ombro. — Você vai ficar lindo em trajes divinos e sob o esplendor da luz de Rá.

— Isso até Osiris tentar me matar.

— Eu vou fazer questão de torná-lo um defunto primeiro se ele ousar algo e dessa vez sem vida após morte para aquele corpo moribundo. — sua ameaça velada me arranca uma sincera gargalhada. Meus braços a envolveram em um abraço forte. — Já posso até mesmo imaginar nós dois de mãos dadas por lá, vou te mostrar cada mínimo detalhe da minha vida como você fez comigo.

— Mal posso esperar por isso, minha deusa.

𓁭 𓁭 𓁭

Tone, tan, fit and ready; Turn it up 'cause it's getting heavy; Wild, wild West Coast; Thare the girls I love the most; I mean the ones, I mean, like, she's the one; Kiss her, touch her, squeeze her buns; The girl's a freak, she drives a jeep... — a água cai sob minha cabeça, enquanto canto uma das musicas da minha playlist da Katy Perry.

Ao sair do banheiro enrolado em minha toalha de banho e ainda cantarolando a melodia da música, me deparo com Ísis sentada na cama no meio de um livro muito antigo e vários papiros ao seu redor, mas o que a destaca é seu sorriso divertido em minha direção.

— Que humano cantor eu fui arranjar. — ela diz risonha.

— Dá um desconto, é a Katy Perry, não consigo resistir às músicas dela.

— Pareceu meio presunçoso e confiante demais para um humano no meio de uma guerra divina.

— Mas eu estou realmente confiante da nossa vitória, a maior deusa feiticeira está ao meu lado. — me sento ao seu lado, beijando sua têmpora, enquanto a deusa murmura o quão puxa saco eu sou. — O que é isso?

— O livro dos mortos.

— O mais antiga livro sagrado com os encantamentos, feitiços e ritos fúnebres... Puta merda... Esse é o real, tipo, o real livro usado por Anubis em como senhor da múmias e embalssamador divino? — estou sem palavras vendo a relíquia tão antiga quanto a existência diante de mim. Os hieroglifos feitos em tinta pedra no que antigamente era o mais avançado papel da terra.

— Esse mesmo. Apesar de muitos outros existirem em meio aos humanos com algumas coisinhas que ensinei aos antigos, esse aqui é o primeiro com segredos exclusivos que descobri com ajuda de Neftis.

— Espera, você trabalhou com ela mesmo depois dela ter dormido com o seu antigo marido?

— Bem... Sim. Mas era por uma boa causa, mesmo tendo me traído da pior forma possivel, minha irmã é uma habilidosa feiticeira funerária, Anubis puxou isso dela, mas meu sobrinho estava ocupado demais guiando os mortos para me auxiliar nas pesquisas por novos feitiços que pudessem agregar o livro dos mortos.

— Não acredito.

— Pois é... Você trabalha com a pessoa que te traiu pelo bem da historia e eu trabalho com quem me traiu pelo bem da magia. Estamos mais ligados do que imaginava.

De acordo com os escritos antigos e encantamentos escritos nas paredes das piramides Ísis e Neftis sempre aparecem juntas como as ajudantes das almas pela jornada no mundo dos mortos. A gêmea de Ísis apesar de não deter de poderes tão mais complexados, sempre foi associada as questões mortuárias e curativas, ela dava alivio aos coitados que estavam a sofrer perto da morte. Ela é de fato poderosa, mas nunca imaginei que ela estaria tão atrelada aos trabalhos de feitiçaria do livro dos mortos.

— Ele será a nossa chave para ressuscitar os outros deuses?

— Tecnicamente... O primeiro feitiço para ressuscitar um deus foi quando trouxe de volta a vida o idiota do Osiris, só que eu tinha os pedaços do seu corpo para extrair seu poder da carne e combinar a minha magia para traze-lo de volta a vida. Agora tudo que tenho são os seus poderes atrelados ao meu, eu teria que "cria-los" do zero, isso precisa de um encantamento completamente diferente e muito mais poderoso que envolve um dos nomes secretos de Rá. — ela deixa sua cabeça cair em suas mãos, sua cabeça trabalhando tão engenhosa ao ponto de que eu quase possa ver as engrenagem do seu cerebro. — Nem sequer posso proferir em voz alto para não correr o risco de criar algo completamente diferente e destruir o mundo.

— Parece um trabalho dificil. — infelizmente não posso ajuda-la nessa questão nem mesmo se eu quisesse muito. Uma pequeno desenho em uma das paginas do livro me chama a atenção.. — O que é isso?

— O levante das múmias. É um encantamento criado por Neftis no tempo em que Seth batalhava contra Horus para vingar o pai e derrotar o usurpador do trono. — ela responde olhando nostálgica para o desenho de uma especie de foice ao lado de uma mumia meio deitada. — Me lembro bem do estrago que esse encantamento fez na batalha.

— O que ele faz?

— O feitiço faz com que as múmias dos maiores guerreiros se levantem de seu descanso profundo com o mais puro odio sanguinário. Ela o recitou logo no inicio da primeira batalha e o campo de batalha foi invadido por pelo menos cinquenta mil mortos encantados, foi uma vitoria gloriosa para nosso exercito.

Em minha cabeça a imagem é perfeita e nitida, arrepiante e empolgante. Mortos vivos batalhando ao lado dos deuses para destruir Seth e suas criaturas de caos. Ísis parece então ter uma ideia e se levanta me puxando para o centro do quarto. Ela está tramando algo, sua mente estratégica extasiada com as opções do que pode fazer no meio dessa guerra declarada e silenciosa para meu mundo.

— O que está pensando? — É tudo que digo, sentindo um sorriso surgir em meus labios quando ela coloca o livro dos mortos entre os meus pés e os dela.

— Não posso ressuscitar minha avatar, sua alma já está velda em seu descanso e ela sofreu demais em vida para que eu interrompa sua calmaria mortuária. Mas nada me impede de fazer de você meu avatar ao mesmo tempo que é de Osiris. Você aceita esse cargo e me autoriza a fazer o ritual de ligação com você?

— Vai doer?

— Vai ser... desconfortável, mas vai ser rapido e depois você mal vai se lembrar do que sentiu. — ela tenta mascarar a verdade de que vai doer, posso ver em seu olhos de que isso vai doer para um caralho, mas a ideia não me parece ruim.

Avatar de dois deuses. Estou até parecendo um grande protagonista foda de fantasia e ser a avatar de Ísis talvez seja uma coisa a mais para me proteger do possivel ataque de Osiris quando descobrir meu real relacionamento com a deusa da magia...

Já estou aqui mesmo... Por que não?

— Sim, eu aceito.

Ela não diz mais nada, suas mãos se posicionam nas minhas têmporas e começam a brilham intensamente. algo toma meu corpo me fazendo arquear o corpo, minha cabeça se levanta involuntariamente e meus braços se abrem para receber algo desconhecido. Ísis pronuncia palavras que não entendo e uma dor crescente toma conta do meu peito se espalhando por todo meus corpo, minha boca se abre para manisfestar a agonia que cresce parecendo quebrar meus ossos e revirar minhas entranhas, mas nenhum som deixa minha garganta. Eu sinto algo como nevoa entrar pela minha faringe, queimando meu corpo lentamente por dentro.

Porra.

Meus olhos estão tomados pela escuridão e meu corpo parece ser apertado por mil cobras, o ar deixa de entrar por meus pulmões, minha caixa torácica queima, meus ossos latejam. E então como se algo tivesse explodido dentro de mim tudo para.

Minha visão retorna gradativamente e Ísis ainda está a minha frente. Ela me observa com um sorriso grandioso, quase como se sentisse honrada por tal feito que ainda me deixa tonto.

— Guilherme Alves, Avatar de Ísis e Osiris. Senhor do Nilo, guardião da magia e da nova Enéade de Ísis. Eu o saúdo. — Meu ombro brilha e faz com que eu me vire para o espelho ao lado para ver o que está acontecendo. No lugar onde antes apenas a marca de Osiris desenhava minha pele, tem um novo simbolo. O cajado e o mangal ainda continuam, porém o tyet¹ está desenhado sob eles e uma hieróglifo trono² está sobre eles. É bonito e poderoso. — Anda, fala alguma coisa.

Ela chama novamente minha atenção e apenas uma coisa passa pela minha mente.

— Porra, isso doeu para um caralho! — exclamo ainda sentindo a agonia que passei e ela apenas gargalha.

— Você continua o mesmo pamonha. — ela sorriso zombeteira, me fazendo sentar no chão ainda de frente para o livro. — Vou te ensinar encantamentos importantes para batalha e proteção.

— Esses vão quase me matar no processo? Se for eu estou me demitindo desse negocio. — ela gargalha mais forte, mas dessa vez puxa meus labios carinhosamente até os seus em uma tentativa de consolação.

— Não vai te matar, exagerado, vai ter tornar um senhor do Nilo poderoso. — mantenho a pose desconfiada com pequenos pedaços do meu coração ruindo por te-la tão perto da minha boca. Ela beija brevemente, um sorriso pecaminoso dançando nos labios fartos. — Não se preocupe que depois, vou te recompensar por ter passado por tamanho desconforto com o ritual de ligação...

A luxuria dança no ar pela suas palavras se juntadas a pequenas imagens maliciosas que ela faz escorrer para dentro da minha mente, ela solta um risinho me lembrando que ainda estou apenas de toalha e sinto o ardor tomar um pouco das minhas bochechas.

— Eu te odeio... — murmuro meio sem jeito.

— Eu também amo você, shaghaf. — ela me lança uma piscadela. Ela ainda vai me matar desse jeito e eu com certeza vou morrer com um sorriso no rosto por ela ser a causa.

Notas finais:

1. Símbolo de proteção de Ísis

2. Esse trequinho normalmente é colocado na cabeça de Ísis, seguindo o que seria de referência que seu nome faz ao trono e sua posição como rainha

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