🔹Capítulo V🔹

𓁧 Ísis 𓁧

Sinto falta da minha vida no palácio dos deuses, mas o... século XXI como o Guilherme chamou é bem interessante. O humano me levou a um cômodo que ele nomeou de banheiro e a água simplesmente caiu por um espaço cheio de buraquinhos no alto da parede!

Eu demorei um pouco para entender o funcionamento da engenhoca, mas no fim foi um banho muito agradável. Guilherme me trouxe uma peça de roupa curta demais para ser considerado um vestido decente, algo que ele chamou de... camusa... calusa... ca... nao importa o nome, o que realmente importa é que o pedaço de pano deixava até pouco acima da minha coxa a mostra.

— Mortal, onde posso guardar meu vestido e minhas joias? — o loiro está de costas para mim arrumando algo no divã, ele se vira para mim e seu rosto congela ao visualizar minha imagem.

— Pode deixar que eu guardo no meu guarda-roupa — ele diz após coçar a garganta. O que é um guarda-roupa? — Eu não tenho uma cama extra, mas esse sofá é bem macio — ele bate no estofado cinza. — Não sabia se você tinha comida na sua prisão mágica, mas fiz um cuscuz com leite para nós.

Eu o sigo até o espaço onde pendurei o amigo dele no ar, sobre a mesa dois pratos bonitos e cheirosos chamam a minha atenção. Ele se senta à minha frente não demorando para desfrutar do alimento do seu prato e eu o imito.

A massa amarela hidratada com leite cria um sabor incrível que toma todo o meu paladar, é simplesmente maravilhoso.

— Você tem ótimos dotes culinários — digo ainda de boca cheia.

— Ah, imagina — ele diz sem graça. — Essa é a coisa mais básica que um nordestino aprende a cozinhar.

Mais uma vez caímos em mais um silêncio prolongado, com apenas o som da placa mágica em frente ao sofá. A presença de Guilherme me lembra a do meu primeiro avatar, Tarek. Ambos doces e tranquilos, sempre silenciosos e observadores. A meio contraditório que ele seja a reencarnação do senhor do Nilo do meu irmão Osíris. Tem apenas uma coisa que não sei se eles se identificam.

— Você gosta de homens? — Guilherme engasga com a comida.

— O que? — ele pergunta tentando respirar normalmente.

— Você gosta de homens? Meu primeiro avatar, Tarek, tinha um relacionamento com o guerreiro Jahi, o avatar de Osíris. Safyia era apaixonada por uma das damas da corte. Você pode ser como eles, afinal.

— Não, eu gosto de mulheres. Apenas mulheres.

Oh. Isso foi inesperado.

— Por que Safyia não é listada nas escrituras reais? Era pelo preconceito de gostar de alguem do mesmo sexo ou por que não teve atos considerados grandiosos? — ele questiona se levantando e tirando a louça suja.

— A verdade é que ela só estava no trono a pouco mais de três anos quando morreu e pelo que pude escutar dos mortais através do pequeno buraco que fiz aprisionamento um pequeno grupo de escribas pagos pelo seu primo que assumiu o trono após sua morte apagaram toda a sua existência da história para se auto declarar o faraó mais poderoso. Ele morreu um ano depois engasgado com um figo — ele dá uma breve risada do final patético do imbecil do primo de Safyia, enquanto lava a louça. — O quanto a humanidade sabe sobre o antigo Egito?

— Muitas coisas, mas não com tantos detalhes. As escolas nos passam apenas pequenas bases sobre tudo de magnífico que a história do Egito guarda, se você tem um interesse maior na coisa tem que se virar e estudar por si só.

— O que te faz ser um desses interessados?

— Sempre gostei muito de história e sempre estive fixo na ideia de me tornar um historiador, mesmo que meu pai insistisse que estava indo para uma área que não me daria um bom retorno financeiro e seguisse na área da saúde como ele ou na área de exatas como a minha mãe. Mas o que me fez me apaixonar mesmo pelo campo da egiptologia foi a riqueza de sua essência, os mistérios que circundam e as teorias que te fazem ficar acordado até tarde.

Ele é um estudioso nato, dá para ver pela forma que seus olhos brilham ao falar pela sua área de atuação. É Adorável.

— Você pode me contar mais histórias de tudo que aconteceu com a humanidade enquanto estava aprisionada? — questiono, um bocejo deixa minha boca revelando o cansaço que não notava estar acumulado no meu corpo. — Quero aprender a ser como vocês.

— Claro — ele diz com um sorriso singelo. — Amanhã vamos fazer uma troca de conhecimentos.

Eu aceno positivamente indo para o lugar onde irei dormir sentindo o sono me invadir assim que minha cabeça deita no travesseiro observando o jovem mortal terminar de limpar os pratos, meus olhos se fecham e apenas sinto quando Guilherme apaga as luzes e desliga a coisa mágica.

Amanhã conhecerei mais desse novo mundo.

Será divertido.

𓁧 𓁧 𓁧

Não é nada divertido.

Como a humanidade pode ser tão estúpida a cada tempo de sua existência? Duas guerras que dominaram todos os mortais do planeta, assassinatos em massa, regimes autoritários, escândalos de corrupção e outras infinidades de coisas feitas por seres tão pequenos e medíocres que se decidiram que era uma ótima ideia destruir todo um planeta apenas por poder e ganância.

Como esses seres podem ser tão ingratos? Destruir algo que deu tanto trabalho de ser criado, de simplesmente se deixarem seres dominados pelo mal e ignorar tudo que nós, deuses, tentamos para que vivessem em tranquilidade. Eles são estranhos e estúpidos.

— É melhor darmos uma pausa — Guilherme diz antes de se aprofundar mais na história do Brasil, que descobri ser o país em que estamos agora.

— Vocês, humanos, são muito estranhos.

— Você está usando um vestido longo e uma tonelada de joias em um calor de 30° C — ele retruca com cara de tédio. — Quem é o estranho agora?

— Em primeiro lugar, ainda continua sendo você, mortal. Em segundo lugar, é bem limitador quando você só tem uma roupa disponível e não pode usufruir de sua magia normalmente porque ela está estranha.

Sua expressão muda para a de alguém que sabe que perdeu em argumentos. A porta é aberta por Gustavo com Felipe em seu encalço. Os amigos dele não sabem bater na porta?

— Estamos indo ao shopping e você vai com a gente, não importa qual a sua desculpa tente arranjar, porque dessa vez você vai e...

— Está certo — Guilherme corta o monólogo do rapaz de olhos puxados. — Esperem só eu me trocar e arranjar algumas roupas da Giovanna para Ísis não parecer que acabou de sair do clipe de Dark Horse da Katy Perry.

— Você disse "está certo"? — Gustavo retruca atônito. — Foi mais fácil do que imaginei.

O loiro apenas dá de ombros risonho e me puxa para seu aposento. Ele abre um pequeno compartimento com algumas coisas.

— Minha irmã caçula às vezes esquece coisas aqui quando resolve dormir por aqui, está meio vazio porque mandei ela levar suas tranqueiras para casa, mas deve ter algo que te sirva.

— Você tem uma irmã? — questiono e ele me entrega uma peça de roupa estranha de tecido meio áspero.

— Uma não, três. Alice de 29 anos, Anna de 21 anos e Giovanna de 17 anos — ele anda pelo quarto pegando coisas que não tenho ideia do que sejam e me entregando. — E acho que as calças de Giovanna vão te servir e até comprarmos coisas para você vai ter que se virar com a minha camisa e chinelos. Pode se vestir no banheiro.

O loiro me empurra para um espaço que eu havia me banhado anteriormente, mas não deve ter entendido que eu não tenho a minima ideia de como usar roupas de mortais.

— Guilherme...

— Acho que é melhor eu fazer uma lista, acho que me lembro de algumas coisas que minhas irmãs usavam e...

— Guilherme...

— O que?

— Como que veste isso? — o tecido áspero se desenrola na minha mão e sua expressão se torna meio confusa.

— Hã... você deve passar cada perna por um dos buracos, isso se chama calça — eu faço como ele diz, quase me desequilibrado mais por fim colocando a tal calça. — Agora é só vestir a camisa como fez antes — eu dou de ombros e retiro o vestido sentindo a brisa fresca em meus seios livres. — Eita, meu Deus — ele se vira de costas rapidamente saindo pela porta e gritando para seus amigos — Precisamos levar Giovanna com a gente.

— Só anda logo, quatro olhos — Gustavo retruca alto.

Fiz como antes e passei a camiseta por minha cabeça e braços como tinha custado a aprender ontem, calcei os chinelos pretos que ele me entregou e vendo o resultado no espelho eu até parecia bem como uma humana normal vestida em calças azul escuro, uma camisa que chegava às minhas coxa cinzas com algum personagem que nao conheco estampada e chinelos. meus cabelos ainda meio rebeldes caindo pelas minhas costas, ninguém poderia dizer que não sou uma mortal como qualquer outra.

Sorrindo, segui os rapazes passando pelas portas do apartamento e indo direto para um espaço que parece um espaço semelhante ao de um caixão cinza. A sensação desse local se assemelha a quando estava presa, me sinto sufocada e desconfortável, sinto o ar deixar meus pulmões e meu pulso se acelera como louco. Minhas mãos tremem e as vozes, as malditas vozes julgadoras, retornam a minha cabeça fazendo o pânico florescer em meu corpo.

Estou morrendo... Preciso de ar...

As portas da caixa se abrem antes que eu sinto meu coração parar e deixarmos o espaço. Guilherme bate os polegares em frenesi em uma coisa brilhante quadrada, enquanto os outros dois rapazes seguem na frente, sem pensar muito os sigo para longe da caixa metálica voltando a respirar.

Nós caminhamos por um espaço cheio de engenhocas estranhas, Gustavo aperta um dispositivo e uma das coisas apita em resposta.

— O que é isso? — cutuco Guilherme.

— Um carro — ele responde abrindo a porta e me fazendo entrar.

— Carro?

— Você não conseguia enxergar o mundo através da sua prisão mágica? — Felipe questiona falando pela primeira vez em um tempo.

— Não, o máximo que eu conseguia era escutar coisas aqui e ali.

— Parece solitário... — Guilherme murmura.

O silêncio recai no pequeno ambiente e vejo a paisagem mudar à medida que nos deslocamos, grata pelo incômodo de estar em um espaço pequeno ser analisado pela vista.

2500 anos.

Ainda tenho lembranças vividas de como o número mortal era, mas especificamente do Egito que eu costumava observar através de um lago mágico no paraíso de juncos. Isso é muito diferente do que presenciei, é bonito a forma como os humanos tornaram suas civilizações grandiosas apesar de todo o caos que infligiram a sua própria espécie.

Antigamente eu os via como seres feito a imagem e semelhança dos deuses, eu os podia ler facilmente assim como lia os outros 71 deuses do paraíso, mas depois de traída e abandonada até mesmo por Osíris e Hórus vejo que fui tola ao acreditar que compreendia meus laços familiares, dessa mesma forma cheguei a conclusão que seria tolice acreditar cegamente em seres magicamente inferiores a mim.

Meus olhos vão até Guilherme. Ele me tirou do cativeiro e me deu guarita, me sinto mal por ainda ter um pé atrás com ele. seus olhos castanhos encontraram os meus. Ele reflete inocência e bondade, ele cheira a confiança. Talvez eu possa abrir uma exceção a ele... em nome do que fez por mim... ou do meu coração mole... certo?

Alguém bate na janela ao seu lado, nos assustando e fazendo o rapaz cortar o contato visual.

— Então é por isso que ficava me expulsando do seu apartamento, não é seu vagabundo?! — uma garota parecida com Guilherme, de pele branca e olhos meio azulados diz se sentando ao seu lado. O carro volta a andar. — Olá, cunhadinha, sou a Giovanna, irmã desse panaca.

— Ela não é minha namorada, é uma... amiga que vai passar um tempo lá em casa.

— Conta outra idiota — ela faz cara de tedio para o irmão. Não sei como reagir a tal coisa, ela então se vira para mim e sinto a aura oculta. A reencarnação de Ménes, avatar de Seth.

— Então por que me chamaram assim do nada para o shopping?

— Precisamos de uma vela para o nosso encontro duplo — Gustavo diz risonho.

— Ahhhh, seus filhos da... — ela se debate indignada.

— Não é para isso — Guilherme intervém. — É que Ísis precisa fazer compras e nós não vamos ser muito úteis nessa questão. Ela sofre de uma leve amnésia.

amnésia?

Que humano petulante.

— Vai me comprar uma peça de roupa? — ela diz chantagista.

— Duas. Se você não contar a ninguém que ela está no meu apartamento — ele retruca, ela abre um breve sorriso cúmplice e eu apenas observo a trupe de mortais me arrastar para esse tal lugar.

— Prepare-se para ficar gatíssima, cunhadinha — a garota pisca para mim.

Em que meio eu fui me meter...

𓁧 𓁧 𓁧

Eles me trouxeram para um lugar chamado shopping que é o verdadeiro formigueiro de humanos, cada um mais diferente do que o outro, com vestes ainda mais diferentes. Os rapazes foram comprar algumas coisas e Giovanna ficou com a tarefa de me vestir como eles, o que é mais difícil do que esperei devido aos vários nomes para cada peça existente aqui.

Quem teve a brilhante ideia de chamar cada camada por um nome? É muito para lembrar.

No final de tudo, eu e Giovanna saímos com sacolas de três lojas diferentes com coisas que ela julgou serem necessárias para a vida de uma mulher. Eu acreditei que seria a coisa mais difícil esconder minha aura celestial da jovem reencarnada do avatar de Seth, mas ao que parece ela — assim como Felipe e Gustavo — está totalmente alheia a sua ascendência espiritual, o que torna as coisas mais simples para mim.

a loira me fez abandonar as calças jeans que a pertenciam e a camisa de Guilherme para me cobrir com uma blusa cinza de mangas curtas, uma mini saia preta — que mesmo sendo curta demais para meu gosto, não apagava a sensação de que eu estava extremamente bela nela — e coturnos pretos. Não demorou muito para me arrastar para um salão de beleza onde ela instruiu aos profissionais do recinto que me deixassem com uma "vibe egípcia" e lhe fizessem uma hidratação capilar.

Estamos nesse salão a pouco mais de três horas e ela não parou de fofocar um único minuto. Estou bem a par da vida de pessoas que nem conheço e também da vida do Guilherme.

Não sei explicar a sensação de Giovanna ter gostado de mim e confiado em contar tantas coisas.

— Então eles namoraram por quase um ano e perto do aniversário de namoro ele descobriu o par de chifres na cabeça que estava sendo cultivado há pelo menos um mês — a garota terminou de me contar a história do primeiro relacionamento do irmão.

— Ele não teve outra namorada depois disso? — questiono no mesmo momento que o rapaz do salão avisa que meu novo visual estava pronto. Estou muito bonita.

— Aquele lá? — ela dá um sorriso de escárnio. — Só para começar a namorar a ex dele foi a maior lenga lenga.

— Bem que eu imaginei que ele era bem estudioso para ser alguém de muitos amores.

Ela paga ao rapaz e começamos a caminhar em direção a saída. eu imaginei que Guilherme não fosse alguém desse tipo, mas também não imaginava que ele não teria feito nenhum tipo de atrocidade depois do sofrimento da traição.

— Ele vai ficar babando te vendo gata assim — Giovanna diz de repente. — Você é uma pessoa de muitos amores?

— Só tive um grande amor e também fui traída por ele, isso é tudo — não quero pensar nisso. — E quem vai babar se me ver assim?

— O Guilherme é claro! Você jà tem nome de deusa egipcia, agora parece uma versão moderna de uma — Será que conto a ela? — Se ele não babar em você vai ser tão idiota quanto a pessoa que te traiu.

— Obrigada. Você também está linda — abro um pequeno sorriso amarelo sentindo uma breve vergonha tomar meu corpo. — Para onde vamos agora?

— Como eu disse que íamos demorar um pouco, eles foram assistir um filme no cinema, então vamos encontrá-los por lá.

Não faço ideia do que é isso.

— Deve ser legal ir ao cinema.

— Podemos vir juntas qualquer dia, posso até chamar minhas outras irmãs e fazemos um dia das garotas.

— Sério?

— Claro, eu gostei bastante de você, cunhadinha. Olha que isso não é tão comum. Acho que seremos boas amigas.

Amigas... Isso não é uma coisa comum na vida de um ser celestial. A empolgação toma meu corpo. Eu tenho uma amiga...

Passando pela imensidão de corpos, em frente a um estabelecimento os três rapazes conversam risonhos.

— Observem e fiquem de queixos caídos com a versão moderna da deusa Ísis que é a minha cunhadinha — Giovanna diz convencida e os garotos olham entre si impressionados. Os olhos de Guilherme me examinam com cuidado sem deixar nenhum detalhe, quando enfim nota o silêncio e a atenção de seus amigos e irmã sobre si se endireita e coça a garganta.

— Ela não é minha namorada — ele retruca e posso ver uma pequena coloração rosada em suas bochechas.

— Ah, para, você me deixou fazer o que eu quisesse com seu cartão de crédito para gastar com ela. Você é o maior pão duro que conheço, isso é praticamente uma declaração de amor.

Gustavo e Felipe começam a rir juntamente de Giovanna do rosado que se tornou uma vermelhidão estranha no rosto do pobre rapaz. Ele é fofo. Guilherme é um rapaz muito formoso e viril, ele é definitivamente alguém que eu facilmente cederia a tentação carnal.

A curiosidade me toma, para canto que olho tem uma luz diferente, uma engenhoca curiosa e muitas pessoas de diferentes formas e tamanhos. Os quatro começam a conversar algo que não dou muita importância e apenas os sigo caminhos pelos corredores de olhos bem atentos para não perder nada, mas paramos em frente a uma daquelas caixas metalizadas.

Um arrepio toma minha espinha, minhas pernas paralisam e o ar se esvai da minha caixa torácica.

Não. De novo não.

— Ísis? Vamos entre — a voz de Guilherme soa abafada.

— Não consigo — minha voz sai em um sussurro. Minhas mãos tremem e meu peito se afunda mais me impedindo de respirar. Estou morrendo.

Guilherme parece enfim se dar conta do que estou sentindo e se afasta da engenhoca, ele vem em minha direção com um olhar preocupado. Estou de volta aquele confinamento infernal, as palavras de acusação domando a minha mente. Meu peito dói como o inferno e tudo ao meu redor começa a girar.

O mundo se apaga por minutos e a imagem de Rá diante de mim faz meu estômago embrulhar. Suas mãos envolveram meu pescoço e os olhares dos outros deuses me fuzilam, as risadas de Seth é o que posso ouvir e ninguém tem a clemência sobre mim.

"Você vai apodrecer em solidão."

Meio embaçada a imagem de Guilherme retorna ao meu campo de visão, seus olhos preocupados e parecendo dizer coisas que não entendo. Eu desmaiei? O loiro passa os braços em meu entorno me passando uma sensação de tranquilidade.

— Aqui, beba um pouco de água — ele diz colocando uma garrafa em minha frente. Estamos de novo naquele espaço onde se guarda os carros de onde Guilherme mora.

— O que ela teve? — Gustavo questiona.

— Ataque de pânico — Felipe constata, segurando todas as sacolas em cima da parte traseira do carro.

Passei tanto tempo desacordada?

— Eu estou bem.

— Desde quando você é claustrofóbica? — Guilherme ignora minha afirmativa e não tenho energia nenhuma para por esse enxerido no lugar.

— Depois de vários séculos em um lugar fechado, estar em um lugar semelhante é como caminhar para a morte — isso parece bastar para ele e o loiro balançou a cabeça para os amigos que entendem o sinal e caminham com todas as sacolas para dentro do prédio. Guilherme me ajuda a ficar de pé ainda com seus braços protetores ao meu redor e me guia na mesma direção que os garotos.

— Onde está a sua irmã? — questiono sentindo falta da pequena loirinha.

— Deixamos ela na casa dos meus pais antes de virmos para cá. Tem certeza que está bem?

— Estou bem, só não queria passar por esse vexame na frente de tantas pessoas e me despedir corretamente da minha nova amiga.

— Nova amiga? — ele repete risonho.

— Sua irmã é muito legal e inteligente, nos entendemos bem apesar dela me lembrar muito Seth sem a parte de ser um grande traidor — noto que estamos na área que dá para a grande caixa metalizada, mas estamos indo em outra direção. — Para onde estamos indo?

— Não quero que minha amiga tenha outro ataque de pânico, então vamos de escada — sua fala me faz parar no lugar. Eu sou sua amiga? — São 5 andares, mas se ficar cansada pode deixar que o senhor do Nilo aqui te carrega. Estava precisando mesmo parar de ser sedentário — ele para de caminhar quando vê que não estou acompanhando. — O que foi?

— Eu sou sua amiga?

— Bem, é mais fácil pensar assim do que lembrar a cada minuto que tem uma deusa na minha casa e afinal essa vai ser a história que contaremos para as pessoas — ele dá de ombros. — Tudo bem por você, amiga?

— Tudo ótimo, amigo — um grande sorriso é impossível de ser contido.

Eu inveja alguns humanos que tinham esse sentimento de amizade quando os observava de longe. Deuses não tem amigos, somos naturalmente seres não confiáveis e na maior parte do tempo estamos atacando uns aos outros por pura inveja. "As mentiras são o mel que adoça a boca dos de maior poder", esse é o nosso lema e da última vez que não levei-o tão à risca acabei aprisionada por século.

Essa é uma sensação nova, ter amigos... Isso é empolgante.

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