𝟎𝟏. 𝗍𝗁𝖾 𝖿𝗂𝗋𝗌𝗍 𝗍𝗂𝗆𝖾.
001. ⠀⠀⠀␥⠀⠀𝓕𝙴𝙻𝙸𝙿𝙴 𝒟𝚁𝚄𝙶𝙾𝚅𝙸𝙲𝙷
❆⠀𓈒 ׁ ˖⠀𝗍𝗁𝖾 𝖿𝗂𝗋𝗌𝗍 𝗍𝗂𝗆𝖾.. ⠀֪ ʾ
ELA ERA LINDA. E NÃO, eu não estava julgando ela, exatamente. Bem, talvez um pouco. Mas era aquele tipo de julgamento que você só consegue fazer enquanto olha para a beleza dela. Algo que te tira toda a lógica da cabeça, como se o mundo inteiro girasse em torno daquele rosto.
Ela era linda, ponto. Aquele cabelo castanho caindo pelos ombros de uma forma tão despreocupada, mas ao mesmo tempo tão perfeita que parecia um trabalho de estilista. A pele dela, com aquele brilho natural, parecia não precisar de nada para ser atraente. Era como se ela tivesse saído de uma foto de revista. Mas, não. Ali estava ela, na minha frente.
E então, por um segundo, me peguei pensando... pena que ela parece ser ignorante. Não estou falando só da aparência, não. Era o jeito dela, a atitude que exalava sem querer. Aquele distanciamento, como se o mundo fosse só dela. Não estou falando do que ela posta nas redes sociais ou da imagem que ela projeta. Era só a sensação que ela me passava naquele momento, ali no voo. Fria. Desinteressada. Como se tudo o que acontecesse ao redor fosse irrelevante.
Eu tentei não me importar. Sério. Mas, por alguma razão, a maneira como ela olhava para mim, como se quisesse desaparecer a cada troca de olhares, estava mexendo comigo de um jeito que eu não sabia explicar. Será que ela se achava superior? Ou só estava cansada de tudo? Eu não sabia, mas algo me dizia que por trás daquela fachada havia mais do que a aparência mostrava. Só não sabia o quê.
O que realmente me irritava, por enquanto, era a impressão de que ela não dava a mínima para o que eu tinha a dizer. Eu estava ali, sentado ao lado dela, e ela mal me olhava. Nem sequer fingia interesse. E eu, no fundo, esperava que ela fizesse pelo menos isso.
Chegamos em Bahrain e o calor era tão forte que parecia que a gente tinha caído direto em um forno. O aeroporto estava aquele caos usual de chegada, com gente apressada, turistas perdidos e uma quantidade absurda de malas. Eu estava cansado, já pensando nas corridas e no quarto do hotel. Só queria chegar logo, tomar um banho gelado e cair na cama.
O problema veio quando chegamos no hotel. O saguão era tudo o que eu imaginava: luxo demais, cheiro de hotel cinco estrelas que já te prepara para uma conta bem salgada. Eu estava lá, tranquilo, me preparando mentalmente para a próxima etapa, quando o recepcionista, com aquele sorriso amarelo de quem já sabia que ia dar ruim, entregou a chave e soltou a bomba.
— O senhor e a senhora estão no mesmo quarto.
Eu fiquei parado, tentando processar o que ele acabara de dizer. Olhei para ela, e a expressão dela era a de quem tinha acabado de engolir um limão azedo. Não disse nada, mas o olhar dela dizia tudo: Ah, não. Isso não vai dar certo.
— Ah, ótimo. Dividir o quarto com essa Dilma. — Ela murmurou em português. — I no stay with him in room, I make no vote in elecshon.
A mulher ergueu a sobrancelha ao ouvir o inglês impecável. Por pouco não ri, mas...
Dilma? Sério isso? Eu parecia com a Dilma? Ok, ela foi presidente do país, mas eu tenho 24 anos, e ela... bem, ela não estava mais exatamente na flor da idade. O que exatamente levou ele a achar isso, eu não sabia. Mas já estava começando a me sentir desconfortável.
Antes que eu pudesse retrucar, a atendente, completamente perdida, começou a gaguejar:
— Podemos... trocar os quartos, é... o senhor Bortoleto pode... é...
Ela parecia tão nervosa que eu até me senti mal. Mas só um pouquinho.
Respirei fundo e, antes que ela se afogasse em mais palavras, falei, tentando manter a calma (ou pelo menos parecer que estava mantendo).
— Não, tudo bem. A gente divide o quarto, sem problema.
Ela me olhou como se eu tivesse acabado de salvá-la de um incêndio. Eu quase ri da cena. Sério, eu poderia ter feito uma cena, pedido um quarto separado, mas... para quê? Eu estava mais me divertindo com a reação dela do que realmente me incomodando com a situação.
Eu podia sentir o desconforto de Filipa, mas ao invés de ficar incomodado, estava mais me divertindo com a maneira como ela parecia tentar se manter o mais distante possível de mim. Era como se a presença dela fosse um campo minado e ela tivesse medo de pisar no meu lado do quarto. E aquilo, de alguma forma, só tornava tudo mais engraçado.
Eu tentava não rir toda vez que ela desviava o olhar rapidamente, como se estivesse tentando não se envolver com a minha realidade. E eu, por outro lado, estava ali pensando se ela achava que estava numa comédia romântica em que tinha sido jogada sem querer. Tipo, alguém que entrou na sala errada e agora estava sendo forçada a viver essa situação absurda.
Mas tudo bem. Eu estava tranquilo. Ela estava se achando no centro de um drama e eu estava só tentando aproveitar a piada interna de toda aquela confusão. Era isso que mais me fazia rir: nós dois, dois completos estranhos, dividindo um quarto no meio de Bahrain, com ela fazendo tudo para não me olhar e eu me divertindo com a tensão.
No final, o calor de Bahrain já estava começando a se infiltrar pela janela do quarto, e a corrida estava começando a ficar mais real. Mas, por enquanto, tudo o que eu conseguia pensar era como a situação parecia ridícula e engraçada. Eu estava ali, vivendo a minha vida de piloto, e ela... bem, ela parecia estar participando de um reality show de desconforto e negação. E eu? Eu estava adorando.
Caminhávamos até o elevador, e a tensão no ar era tão pesada que eu jurava que se alguém soltasse um pum, o prédio inteiro desabava. A cada segundo, a sensação de desconforto aumentava, como se o elevador fosse de vidro e todo mundo estivesse prestes a ver o quão desconfortáveis nós realmente éramos. Não sabia se ela estava tentando ignorar minha presença ou se estava medindo qual seria a distância ideal entre nós dois sem parecer que estava me evitando descaradamente. De qualquer forma, o silêncio estava gritando, e eu sentia que a tensão estava prestes a me sufocar. Mas, antes que a gente morresse de vergonha, decidi quebrar o gelo.
Olhei para ela, com aquele sorriso simpático de quem quer salvar a situação (mas sabe que vai sair daqui parecendo um palhaço).
— Meu nome é Felipe Drugovich, prazer. — Falei, tentando ser o mais casual possível.
Ela me olhou sem expressão, o que só aumentou a sensação de desconforto. Pensei que ela ia dizer algo tipo "Legal, mas quem é você mesmo?" e me ignorar completamente. Mas não. Ela simplesmente falou com aquele tom de quem já viu o meu nome escrito no Wikipedia, na parte “quem é esse cara e por que ele está falando comigo?”
— Eu sei.
Ah, tá. Agora, eu realmente me senti uma celebridade mundial. Não sabia se ficava chocado ou lisonjeado. Pelo visto, a Filipa aqui tinha o Google aberto no celular, como se fosse o meu biografista oficial.
— Ah... eu sei seu nome, sabe disso?
Ela me olhou, sem nenhuma emoção. Eu comecei a achar que ela era uma especialista em me fazer sentir um idiota. O pior é que ela nem precisava fazer muito esforço para isso.
— Sabe?
— Sei… olha, a corrida é a chance da minha vida e eu não quero entrar em encrenca. Então, por favor, me ajuda a não fazer papel de idiota aqui, ok?
Eu falei isso tentando parecer sincero, mas já estava imaginando o quanto esse pedido parecia ridículo vindo de um piloto de Fórmula 1. Tipo, sério, quem eu estou tentando enganar? A Filipa devia estar ali pensando: “Ok, Felipe, conta outra, estou morrendo de curiosidade”. Ela me olhou por um segundo, e foi aí que eu percebi: ela não estava me ignorando. Ela estava apenas com o olhar de quem já viu esse filme antes. Mas, então, de repente, ela fez algo que eu realmente não esperava.
A expressão dela suavizou, e pela primeira vez ela realmente parecia... humana. Quase que como se tivesse descido do pedestal onde estava. Mas não muito, claro.
— Meu nome é Filipa, Filipa Ferreira. Prazer, Felipe Drugovich. É um prazer.
Eu quase soltei um “Uau, o prazer é todo meu”, mas me segurei. Eu estava tentando não parecer um idiota completo. Mas, de alguma forma, eu senti que ela ainda estava me analisando, tipo "Será que você é realmente tão legal quanto parece ou é só mais um piloto querendo ser um bom moço?".
Fui ali com a intenção de ser simpático, mas parecia que a Filipa estava fazendo uma análise tipo "Estudo de Caso Felipe Drugovich" em tempo real. Era a sensação de estar em uma série de investigação. Eu só queria sair dessa história sem ser aquele cara que as pessoas comentam no final do episódio, tipo: "Ah, lembra daquele piloto que achava que era engraçado? Pois é, nunca mais apareceu."
Mas, no fundo, eu estava pensando... se isso fosse uma comédia romântica, esse seria o momento de algo épico acontecer. Tipo uma explosão de fogos de artifício ou uma música emocionante tocando ao fundo. Em vez disso, eu só sentia que o ambiente estava mais leve, mas não tão leve quanto uma pluma. Talvez só um pouco mais que uma pedra.
────────────⭑ ֗ 💍 Ai, esse é um dos meus capítulos favoritos da história 🤭. Espero que tenham gostado (críticas sempre aceitas!) Votemm e comentem!
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