Tumulto interior
O salão estava se esvaziando lentamente. Elisa permanecia com as mãos unidas e os olhos fechados, murmurando uma oração. Ela sentia no coração o peso das revelações daquela noite, especialmente o quanto tudo deveria estar sendo difícil para suas amigas. Enquanto as pessoas saíam aos poucos, ela respirava fundo, tentando manter a calma.
O espaço estava carregado de emoção. As luzes suaves das lâmpadas pendentes criavam sombras alongadas nas paredes, e os murmúrios de despedidas se misturavam ao ecoar dos passos. Elisa, ainda absorta em sua oração, abriu os olhos lentamente e sentiu o coração disparar ao perceber um movimento vindo da escada.
Seu olhar foi automaticamente atraído para lá, e quando finalmente focou, viu Ailan sentado nos degraus. Ele parecia exausto, como se carregasse o peso do mundo nos ombros.
— Ailan! Oh, meu Deus! — exclamou Elisa, levando as mãos à boca enquanto lágrimas se formavam em seus olhos.
Ela não conteve o choro. Apesar de vê-lo ali, vivo, o que era uma bênção, seu coração apertou ao notar a tristeza em seu olhar. Ele havia ouvido tudo. Elisa teve certeza disso. Descobrir que seu melhor amigo era, na verdade, seu irmão, deveria ser uma revelação devastadora. E ainda havia tantos detalhes a serem digeridos.
O grito de Elisa chamou a atenção de todos que ainda estavam no salão. Em segundos, o olhar coletivo se voltou para Alan.
— Filho! — Alana e Jaynes correram até ele, a ansiedade estampada em seus rostos.
Alana o abraçou com força, soluçando:
— Você acordou, glória a Deus!
Os que estavam por perto prenderam a respiração, emocionados com a cena.
Aila foi a próxima a se aproximar, jogando-se ao lado de Ailan e envolvendo-o em um abraço apertado.
— Obrigada, Deus! — disse ela com a voz embargada. Após um momento de alívio, tentou aliviar o clima com um tom mais leve: — Antes de recuperar suas forças, vou te apresentar meu namorado!
Um sorriso tímido e cheio de lágrimas surgiu no rosto dela, e até Ailan, em meio à confusão que sentia, não pôde evitar um breve sorriso.
Alana, no entanto, observou o filho com preocupação. Ele permanecia quieto, imóvel, como se sua mente ainda estivesse tentando processar tudo.
— Vamos voltar para o quarto, filho — pediu Alana, colocando a mão em seu ombro.
Ailan suspirou profundamente, mas não resistiu. Permitiu que o ajudassem a levantar, enquanto o pequeno grupo ao redor observava a cena com olhos marejados. A reconciliação e o entendimento levariam tempo, mas Elisa sabia que Deus havia iniciado uma obra naquela família.
Elisa observava enquanto Ailan subia os degraus ao lado de sua família. Cada passo dele ecoando em seu peito como um chamado ao qual ela queria responder. Seu coração gritava para que corresse até ele, mas seus pés permaneceram firmes no chão. Ela sabia que não era o momento.
Sentiu a presença antes de ouvi-la. A mão trêmula pousou em seu ombro, trazendo uma calma inesperada.
— Ah, menina... Você passou por tantos maus bocados. — A voz rouca da anciã carregava o peso de décadas. Quando Elisa virou-se, e a encontrou com o olhar marejado . O abraço que se seguiu foi apertado e acolhedor. Depois, a velha mulher afastou-se ligeiramente, segurando os ombros dela com firmeza. — Levar a Palavra nunca é fácil. Estou tão orgulhosa de você. Eu deveria ter feito isso.
Elisa balançou a cabeça, os olhos marejados, no entanto antes que pudesse se pronunciar Vick foi mais rápida.
— Vovó, não diga isso...
— Sim, minha filha — interrompeu, com uma determinação que só o tempo pode ensinar olhando para a neta . — Conheci a verdade há muitos anos, mas... sabia que os meus viviam com traves nos olhos, presos no engano. E ainda assim, não me dispus a voltar. — O suspiro que escapou parecia carregar décadas de arrependimentos. Ela passou os olhos pelo salão, detendo-se em memórias invisíveis. Abraçou-se como se buscasse conforto. — Acho que, no fundo, eu não tinha perdoado meu filho.
Elisa apertou suavemente as mãos marcadas pelo tempo, buscando acalmá-la. — A senhora fez o que podia. Minha amiga está aqui por causa disso. — A jovem sorria com ternura. — Creio que esse era o tempo de Deus. Não consigo imaginar Jaynes ouvindo ninguém antes disso.
As palavras pairaram no ar, e o silêncio se instalou entre elas. Elisa lançou um último olhar em direção da escada, desejando saber como ele estava, enquanto a anciã parecia perdida nas lembranças.
Quin permanecia em pé, uma figura de apoio ao lado da esposa, cujas lágrimas escorriam silenciosamente. Era como se o momento carregasse cada pessoa para um lugar diferente, mas com um propósito comum.
E mesmo em meio ao caos contido de suas emoções, Elisa soube que algo estava mudando.
No quarto de cima, as janelas batiam, ecoando o tumulto dentro da casa. O som do vento parecia sussurrar as angústias que pairavam no ar, alimentando o clima de tensão. Alana estava ao lado de Ailan, insistindo para que ele tomasse um pouco mais do caldo quente. Ele mal conseguia manter os olhos abertos, e a exaustão da curta caminhada de volta o derrubou. Logo ele adormeceu, os traços do rosto marcados por um cansaço que ia além do físico.
O silêncio era pesado, quase palpável. As pessoas evitavam se olhar nos olhos, temendo que qualquer palavra desencadeasse mais dores. Aila desceu as escadas às pressas, buscando um refúgio, talvez apenas um momento para respirar longe de tudo aquilo.
Dentro da casa, porém, a verdadeira tempestade estava em curso. Não era feita de trovões ou relâmpagos, mas de sentimentos: convicções despedaçadas, medos expostos, dúvidas que haviam despertado das profundezas, e o ardor da traição que queimava como fogo em cada coração.
Jaynes estava no quarto, sentado na beira da cama, perdido em pensamentos. Ele observava a esposa com olhos cheios de preocupação.
— Querida, você está bem? — perguntou com a voz baixa, hesitante. Ele não sabia como agir, incapaz de assimilar tudo o que havia acontecido. Mas sabia o quanto seu passado havia ferido Alana , e o medo agora apertava sua garganta como uma mão invisível.
Quando ela rejeitou o toque dele com um gesto rápido, foi como levar um tapa na cara.
— Agora não! — respondeu Alana, com a voz embargada, antes de sair do quarto sem olhar para trás.
Jaynes suspirou, passando as mãos pelo rosto, tentando conter a frustração e a culpa que começavam a se acumular dentro dele. Mas seus pensamentos foram interrompidos por um som fraco, quase um gemido.
Ele virou-se para a cama e percebeu que Ailan murmurava algo em meio ao sono.
— Elisa... Elisa... — balbuciava o jovem, as palavras saindo de forma confusa, como um eco de algo que o perturbava profundamente.
A visão do filho, tão frágil e vulnerável, trouxe consigo uma onda avassaladora de culpa. O povo tinha razão. Ele, Jaynes, não era digno de liderar a vila. Não havia conseguido proteger nem a sua própria família, quanto mais aqueles que dependiam dele.
Num rompante, levantou-se e foi até a janela. A mão encostada no parapeito tremia. Por um momento, Jaynes quis gritar, mas conteve-se, sentindo que o peso que carregava era maior do que podia suportar sozinho.
“Senhor, você é mesmo real? Tenho vivido uma mentira toda minha vida? o que eu faço agora?” pensou, desesperado, com o olhar fixo no céu. Lágrimas ameaçavam cair, mas ele as segurou, assim como vinha segurando todos os seus sentimentos. Por quanto tempo mais conseguiria?
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Me perdoe gente!
Prometo terminar essa história o mais rápido possível 👀😅
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