passeio, cabanas e conversas

 

    A manhã estava agradável. O céu, azul cheio de nuvens branquinhas que se moviam lentamente. Como sempre Elisa faz seu devocional ao acordar e ao abrir a janela decide ir ao estábulo.

Passa pela cozinha pega um pãozinho e cenouras para Nuvem.

Chegando ao estábulo cumprimenta o criado do lugar e vai até a baia do seu cavalo. Ele relincha e passa a cabeça por cima da cerca...

- Oi Nuvem. Como estão te tratando por aqui garoto? – ela acaricia seu focinho e ele balança a cabeça fazendo Elisa rir – calma, sentiu o cheiro da cenoura né? Aqui. – Nuvem abocanha o lanche.

- Ele é um belo cavalo. Ailan fala a assustando, pois não o viu entrar.

- É sim. E forte também né garoto. Fala pensando no trajeto feito pelos dois até ali.
Nuvem relincha e pisoteia o chão agitado.

- Ele está precisando gastar energia. Constata Ailan sorrindo ao ver Elisa se afastar.

- Vamos cavalgar! Grita Aila entrando no estábulo fazendo os dois pularem de susto e ela gargalha. – Tinha que ver a cara de vocês, mas falando sério vamos cavalgar, assim ele se exercita.

- É uma boa ideia. Concorda Ailan.

- Vai ser bom. A alegria se alastra pelas feições da jovem missionária. Amava cavalgar.
Ailan com ajuda do criado cela os cavalos e os três saem trotando. Elisa fecha os olhos e respira fundo ao sentir o vento em seu rosto.

Chegando na praça ouve Ailan resmungar e olhando para frente revira os olhos e por pouco não resmunga também. O trio ao vê-los começa a acenar energicamente e chamar o nome de Aila. Essa faz o cavalo galopar e para rindo ao lado das amigas.

- Aila, você anda sumida. Nos trocou pela forasteira pelo que vejo. -Cora, diz olhando feio para Elisa se aproximando com Ailan. – Bom dia Ailan! - ao olhar para Ailan sua feição muda drasticamente, ela destila doçura fingida. Elisa tosse para encobrir a risada ao ver Aila revirar os olhos.

- Bom dia meninas! Responde neutro.

- Também quase não te vi nos últimos dias, Ailan. Lyta diz colocando uma mecha de seu lindo cabelo negro cacheado atrás da orelha.

- Estive muito ocupado.

- Lógico que esteve, alguém como você não estaria fazendo sala para essa forasteira. O que me faz perguntar o que ainda faz aqui Elisa?  Elli diz o nome com desprezo escorrendo em cada letra.

- Meninas, basta! Aila intervém percebendo as mãos de  seu irmão se fecharem sobre aa rédeas e trincar o maxilar.

- Me espanta ver logo sua família mantendo uma forasteira dentro de casa. Não aprenderam a lição com a avó de vocês. Fala Cora com maldade e Aila fecha a cara.

- Acho melhor cuidar da sua vida Cora! Elisa diferente de vocês não é venenosa e será bem vinda em nossa casa o quanto ela quiser ficar.  Agora nos deem licença que temos um passeio para fazer e uma linda manhã para aproveitar. Ailan sorri ao ouvir a reprimenda de sua irmã. Já Elisa se mantem em silêncio.

- Querida irmã vivi  até hoje só pra te ver por aquelas meninas no lugar delas. Viu a cara delas? Gargalha.

- Cora não tinha o direito de colocar nossa vó na conversa. Esse ciúme dela é absurdo. Diz com raiva.

- Nunca dei motivos para ela, nem para as outras a ponto de acharem que tenho interesse. Balança a cabeça inconformado.

Elisa franze a testa ouvindo os irmãos conversarem. “ Ele nunca deu motivos? Será que nunca namorou? Qual o motivo  dessas meninas não gostarem de mim? ”  Dispersa em pensamentos mal se deu conta de onde estava, até ouvir Aila.

- Então foi aqui que meu irmão super prestativo te encontrou!?
Elisa pisca e olha a sua volta e como a primeira vez a paisagem a sua frente a impactou. Um sorriso apareceu em seu rosto.

- É lindo né? Gosto de vir aqui quando estou com a cabeça cheia. Aila diz interpretando corretamente  o deslumbramento da jovem missionária.

- Você sabe que é perigoso vir aqui sozinha irmã! Já falamos sobre isso. Ailan diz saltando do cavalo e  balançando a cabeça. Respira asperamente e levanta as mãos para o alto em um gesto cansado.

- Quem disse  que venho sozinha? Responde Aila erguendo e abaixando as sobrancelhas. Elisa pode ver perfeitamente que ela se segura para não rir. Sempre quis um irmão, essa dinâmica entre eles a divertia.

- Como é? Ele diz se alterando e se aproxima do cavalo da irmã. Elisa acaba rindo levando Aila a rir também.

- Como é fácil implicar com você irmão. Não que fosse mentira. A última frase fala sussurrando, contudo Elisa escuta e foca na jovem que sorri para ela desmontando.

    - Aila, Aila meus cabelos logo ficaram brancos e a culpa será toda sua.

   - Acho que aquelas moças também terão um pouquinho dessa culpa. Elisa solta quase sem pensar e quando se da conta do que disse leva a mão a boca.

Os irmãos gargalham, então Elisa relaxa novamente. Ela desmonta e mais uma vez observa o lugar. O lago cristalino parece brilhar.

- Como não acreditar em Deus com uma visão como essa? Tudo se encaixa com perfeição. Declara admirando toda a complexidade da natureza. Os irmãos se olham. Aila da de ombros e vai conversar com Elisa já seu irmão leva os cavalos para beberem água e depois os amarra em uma árvore.

     Ele volta para perto delas que tiraram os sapatos e estão com os pés na água. Não interrompe a conversa, apenas escuta. Sua irmã faz muitas perguntas e a jovem missionária responde com firmeza e convicção. Suas respostas vão de encontro a Ailan como marreta derrubando suas incertezas.

    Elas voltam para perto dele e juntos vão se sentar na sombra.

    - Como pode ter tanta certeza? Ailan questiona.

    - Como pode duvidar?  Olhe a sua volta você acredita que tudo isso surgiu do nada, que assim de uma hora para outra sem uma ordem divina, eles se conectaram? Em Genesis e em outras partes da Bíblia descreve o milagre da criação. Como Deus criou tudo com perfeição. Os animais aquáticos para viverem na água. Os terrestres, as aves. As plantas e as frutíferas tudo repleto de detalhes.

O silêncio se estendeu. Elisa orava em Espírito. Aila olhava em volta. E Ailan meditava nas palavras da jovem.

Ele faz mais algumas perguntas enquanto sua irmã se levanta e caminha por perto. Até que Elisa faz a pergunta que ele já esperava. E até achou que ela demorou a trazer o assunto.

- Me desculpe se vou ser indelicada e não precisa responder se não quiser, mas já ouvi outras vezes falarem de sua avó. Ou melhor do sumisso dela. O que aconteceu? Ela aperta uma mão na outra e ao ver que Ailan fecha a cara abaixa a cabeça.

- Você já ouviu sobre nossos costumes. – ele começa a falar baixinho fazendo com que ela levante o rosto e olhe para ele. -Minha vó foi contra as regras, as desobedeceu e a na noite de escuridão desapareceu sem deixar rastros. Meu tio culpou Struan e consequentemente meu pai. A coisa ficou feia a ponto de dividir a vila. Então meu pai pediu ao meu tio para ir embora da Vila e ele foi, no entanto, não foi sozinho. Várias famílias os acompanhou. E desde então aquele rio faz divisa das terras.

     Elisa pisca enquanto sua mente processa o monte de informações que ele soltou. Ailan não só havia respondido sua pergunta ele foi além.

   - Então do outro lado pertence ao seu tio? – tenta entender e Ailan balança a cabeça concordando. - Mas isso foi a tanto tempo, e até hoje não se reconciliaram? Como dois irmãos deveriam se apoiar e não lutar. - Elisa diz inconformada.

    - O problema Elisa é que não parou por ai, sempre a ataques em nossas plantações, roubo ou envenenamento  de animais e outras coisas que vêm acontecendo desde então. E meu pai e Struan dizem ser obras de meu tio. Por isso patrulhamos a fronteira.

    - Meu Deus! Esses anos todos se passaram e ainda continuam brigando.

    - Não, meu pai nunca fez nada, Elisa. Nunca! É proibido atravessar a fronteira.

    - Como nunca fez nada?

    - Desde o dia que meu tio partiu ninguém está autorizado a falar  com alguém do outro lado.

     - Você está me dizendo que nesses anos todos seu pai nunca foi procurar o irmão? Nem para saber o porquê dos ataques? – Elisa não entendia como os homens podiam ser tão orgulhosos. Uma boa conversa resolve tantas coisas.

    - Struan o aconselhou assim. Era melhor deixar quieto. Já que foi ele que partiu. Ele que deveria recorrer a uma reconciliação. Ailan fala com tamanha convicção que Elisa suspira.

    Cada vez mais ela tinha mais motivos para desconfiar do conselheiro. Porém agora seus pensamentos se atropelavam entre si, mas não conseguia entender... Não via o que Struan poderia ganhar com a contenda dos irmãos.

    - E você Ailan, o que pensa sobre isso? Não acha que poderia conversar com seu tio,  e entender o porquê das atitudes dele já que é unilateral e vocês não revidam?

    Ela percebeu que ele foi pego de surpresa pelos seus questionamentos. E deu um pequeno sorriso.

     - Nunca pensou sobre isso? Mas você será o novo líder não é?  E aproveitando do assunto porque você não faz nada para ajudar as cabanas afastadas? Eles não aceitam seu pai ou Struan, mas talvez não se oponham a você. – Ela percebe que ele fecha o punho, então continua rapidamente – Aron e Cora por exemplo, precisam com urgência de um telhado novo. Nem quero pensar no que aconteceria se chovesse.

- O que tanto falam? - Aila se aproxima e coloca uma coroa de flores que teceu em Elisa e está usando outra também. – Ficou ainda mais linda! Concorda irmão?  Pergunta e ao reparar na postura dele puxa Elisa e a leva com desculpa de mostrar onde achou as flores.

- O que falou para deixar ele assim? Pergunta sussurrando.
- Nada demais. Responde e percebi Aila gesticulando discretamente. E logo entende sorrindo.

- Vamos voltar! Ailan fala se aproximando com os cavalos. Tudo que Elisa falou o deixou pensativo. Estaria ele sendo negligente? No entanto ao ver ela montada, com a coroa em seu cabelo e os raios de sol fazendo eles reluzirem esqueceu de tudo. “ como é linda!”

- Vamos irmão. Aila fala e sai galopando com Elisa rindo logo atrás.  Já ele olha para o céu, passa as mãos no rosto respirando profundamente tentando clarear a mente.
“- Que Deus me ajude!”  ele para ao perceber o que disse e um calor gostoso começa a aquecer seu coração. Ailan monta e sai trotando atrás das jovens. Todavia seus pensamentos estão acelerados, suas crenças entrando em choque com novas descobertas...

    - Preciso falar com Alaric e Mark. Assim ao ver que as duas estavam seguras na vila, volta seu cavalo e sai galopando.

-

   Muitas informações nesse capítulo!
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O que acham que ele vai falar com os amigos???
    

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