Nora

A inquietação de Nora não passou despercebida por Elisa. Desde que sua mãe vira Ailan chegando a cavalo, parecia diferente: os olhos brilhavam de emoção e as mãos tremiam ligeiramente. Elisa se aproximou, tocando-lhe o braço com delicadeza.

— Tudo bem, mãe? — perguntou, preocupada.

Nora balançou a cabeça em afirmação, mas o sorriso que tentou oferecer não dissipou as dúvidas de Elisa. Algo estava acontecendo.

Com uma leve pausa, Nora virou-se para Ailan, que ainda estava parado perto da varanda, e Elisa aproveitou para apresentá-los.

— Mãe, este é Ailan.

Ailan inclinou a cabeça em respeito, observando Nora com uma expressão gentil.

— É um prazer conhecê-la, Nora. Agora entendo de onde Elisa herdou tanta beleza.

A fala fez Nora abrir um sorriso maior, mas, para surpresa de todos, ela deu um passo à frente e tocou o rosto de Ailan com uma das mãos. O gesto foi tão inesperado que todos na varanda pararam.

— Você é ainda mais lindo do que nos meus sonhos — disse Nora, com a voz carregada de emoção. — Obrigada por salvar minha menina.

A memória veio à tona como uma onda. Elisa e Ailan se lembraram do dia em que se conheceram: ela havia caído do cavalo enquanto cavalgava sozinha perto do lago, e ele a encontrara desacordada. Sem pensar, Ailan a carregara até sua casa, onde a deixara sob os cuidados da mãe.

Ailan pigarreou, tentando dissipar o calor que subitamente subiu ao rosto.

— Não precisa agradecer. Hoje entendo que foi Deus que me levou até o lago naquela manhã. Mesmo sem conhecê-Lo na época, Ele falou comigo. — Ele lançou um olhar para Elisa, — Sua filha é muito amada...— ela arregalou os olhos ao perceber o que ele estava prestes a dizer. Então, ele limpou a garganta e completou —  por Deus.

Elisa não entendeu bem o desapontamento que sentiu. Mas Ailan se regozijoi em seu íntimo ao notar a mudança na feição dela.

Nora sorriu, satisfeita com a resposta, mas antes que pudesse falar, Micai interrompeu.

— Com certeza, Elisa tem um coração lindo e imenso. Sabia que faria a diferença. — Ele deu um passo à frente, ficando perto demais de Elisa. — Agora que realizou seu propósito, espero que reconsidere meu pedido.

Elisa ficou visivelmente desconcertada. Ficou vermelha, abriu a boca para falar, mas nenhuma palavra saiu.

Ailan cerrou os punhos ao ver a cena. Era óbvio que Micai estava reivindicando algo, e ele não gostava nem um pouco disso.

Nora, percebendo a tensão no ar, entrou no meio com a calma que só uma mãe poderia ter. Abraçou Elisa, protegendo-a da pressão.

— Minha filha ainda tem muito a realizar, Micai. E você também. Agradeço muito por me acompanhar, mas não quero prendê-lo aqui sabendo que há tanto a ser feito lá fora.

Micai tentou insistir.
— Eu também queria ver a Elisa, então...

Mas desta vez, foi Elisa quem o interrompeu.

— Obrigada por acompanhar minha mãe, Micai. Estava com saudades de todos e foi muito bom ver você. — Sua voz soou educada, mas firme. Ela olhou para baixo por um momento, arrumou a postura, então virou-se para Ailan antes de voltar a olhar para Micai. Com um olhar direto, completou: — Mas nada mudou.

Ailan teve que morder a lateral da boca para não sorrir. Ele viu a mandíbula de Micai se contrair enquanto o homem desviava o olhar e, sem dizer mais nada, saía.

— Desculpa por isso — disse Elisa, virando-se para Ailan com o rosto ainda corado.

— Namorado antigo? — perguntou ele, cruzando os braços com um olhar que era ao mesmo tempo inquisitivo e divertido.

Elisa arregalou os olhos, ficando ainda mais vermelha, mas antes que pudesse responder, Nora interveio.

— O que Deus reservou para minha menina não estava na antiga vida dela, rapaz.

A frase pairou no ar, fazendo Elisa e Ailan se virarem para Nora ao mesmo tempo. Mas, como se não tivesse acabado de soltar uma revelação, ela apenas sorriu e mudou de assunto.

— Agora, sente-se aqui, Ailan. Quero conhecê-lo melhor.

Ainda intrigado e com o coração acelerado, Ailan obedeceu, sentando-se ao lado de Nora enquanto Elisa observava tudo, ainda se recuperando. Não imaginou que Micai a abordaria novamente, ainda mais na frente de outras pessoas.

Aila acenou em despedida e saiu com seu noivo.

Disfarçadamente observava sua mãe e Ailan. A forma respeitosa com que a tratava e respondia todas as perguntas, os gestos , até o arquear de sombrancelha era conhecido dela. Podia dizer que ele estava a vontade com sua mãe e isso a aqueceu fazendo um sorriso brotar em seu rosto.

Mas derrepente a postura dele mudou fazendo ela se ater a conversa.

- Meu pai já decidiu. - ouviu a resposta e piscou olhando para sua mãe em busca de entendimento.

- A vingança é como um veneno que corroi por dentro.

O entendimento a acertou tirando seu ar. Não acreditava que sua mãe havia tocado naquele assunto.

- É verdade, por isso meu pai depois de conversar com Aron e meu tio decidiu banir os dois. E fez Struan prometer que controlaria Sonja e nunca mais iram aparecer por esses lados.

A boca de Elisa se abriu. Ela piscou rapidamente. Não tinha ouvido nada até aquele momento.

- Sei pai é um homem sábio.

- Ele é!, mas e a senhora como chegou até aqui? - inqueriu apontando para as cadeiras e os três se sentaram.

- Estava com muita saudade da minha filha,  mas quando a carta do missionário Neemias chegou não  consegui ficar quieta. Fui para sua vila. - aperta uma mão na outra e olha para o colo envergonhada - sinto dizer que briguei com eles.

Elisa escondeu o rosto nas mãos e Ailan gargalhou.

- Compreensível. - confortou e ganhou um sorriso de agradecimento antes dela voltar a contar.

- Fiquei lá por um tempo,  o missionário contou sobre um sonho e que sua avó imediatamente tinha partido com a família.
Todos estavam em oração. Até que um rapaz mandado por sua avó chegou com notícias.  Pedi para me guiar até aqui, Micai se ofereceu para vir também. E aqui estou.

Ela estendeu a mão e apertou a mão da filha. Seus olhos brilhavam com lágrimas não derramadas.

- Estou feliz de ter a senhora aqui. - A jovem falou com voz falha.

A senhora largou a mão da filha arrumou a postura se virando novamente para Ailan que prendeu o fôlego.

- Agora me diga, rapaz, já se batizou?

- Mãe!

- Vamos preparar um batismo então.

- Ótima ideia senhora. Estava lendo sobre o batismo de jesus.

E assim Elisa resolveu se calar já que os dois pareciam ter esquecido dela. E pelo que pareceu horas ouviu com alegria sua mãe e Ailan falarem sobre a palavra de Deus. Até que Alana e Jaynes se juntaram a eles.

- Mãe vamos marcar um batismo, eu vou me batizar. - contou todo empolgado.

- Eu também quero. - respondeu Alana emocionada se juntando a conversa.

Jaynes logo depois entrou, Elisa o acompanhou com o olhar orando em espírito.

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A notícia do batismo  se espalhou pela vila como um incêndio que tocava a alma. Cada hora, mais e mais pessoas chegavam até ela e sua mãe, Nora, pedindo para ser batizadas, sentindo-se tocadas pela fé renovada que o gesto representava. A vida na pequena comunidade  parecia ter sido transformada, e a esperança parecia renascer a cada novo rosto que se aproximava com um olhar cheio de fé.

Alana, com o coração cheio de alegria e gratidão, decidiu organizar um jantar especial, uma festa que celebraria não apenas o batismo, mas a nova fase que todos viviam. No dia escolhido, o salão estava repleto de flores do campo, seus ramos suaves e delicados, espalhados pelo ambiente, criando um cenário de paz e harmonia. O aroma das comidas que estavam sendo preparadas no forno se misturava ao perfume das flores, e a alegria, como uma onda, contagiava todos que ali estavam. Era impossível não sentir a muda  no ar.

Entre os convidados, algumas pessoas da vila de Sharon também estavam prestes a se batizar, trazendo consigo uma aura de renovação e esperança. Quando Elisa e sua mãe chegaram ao lago, a visão diante delas era avassaladora. O cenário sereno e imenso do lago refletia o céu claro e azul, e, ao longe, a família do líder estava reunida, trazendo consigo uma multidão de rostos desconhecidos para Elisa.
O som das águas e os louvores que começavam a ecoar no ar tornavam tudo ainda mais sublime. Abadia, Maria e Aron se aproximaram com sorrisos largos, os olhos marejados de emoção. Abadia, com sua voz cheia de carinho, abraçou Elisa e, com o lenço, enxugou as lágrimas que insistiam em cair.

— A menina, estou tão feliz! — Abadia exclamou, sua voz embargada pela emoção.

Aron, sempre com sua postura firme e séria, olhou para Elisa e, com um leve sorriso, disse:

— Você conseguiu, menina teimosa.

Cora, esposa de Aron, passou o braço por sobre o dele, suavizando o tom com um sorriso afetuoso.

— Pare de implicância, homem — ela repreendeu, sem conseguir esconder a ternura em suas palavras. Ela então apontou para a família do líder, que estava ali, de novo reunida, e disse com um brilho nos olhos: — Olha lá, não era isso que seu coração mais queria.

Elisa olhou para a multidão, sentindo seu peito apertar. Era uma visão tão grandiosa e tão cheia de significado que a emoção tomou conta dela. Pensava consigo mesma como Deus deveria estar sorrindo diante de tudo aquilo, como Ele devia se alegrar ao ver tantos corações se rendendo à Sua vontade.

— Deve estar acontecendo uma festa no céu hoje — ela murmurou, mais para si do que para qualquer outra pessoa.

Nora, com os olhos brilhando de orgulho, colocou a mão sobre o ombro de Elisa e, com a voz suave e cheia de amor, respondeu:

— Com certeza, filha. Você faz parte disso tudo. A cada dia admiro mais sua força e fé. Seu pai... ele estaria exultante. Você seguiu seu propósito, ouviu a voz de Deus mesmo quando ninguém acreditou. Plantou a boa semente, minha filha.

O céu refletia no lago, criando uma atmosfera celestial, como se os próprios céus estivessem comemorando. À medida que o batismo prosseguia, os louvores se intensificavam, e o nome de Jesus era exaltado com toda a força. A cada novo batismo, as palmas e as felicitações preenchiam o ar, marcando o momento de grande transformação para todos.

Quando Ailan se levantou das águas com o maior sorriso que Elisa já havia visto, um sorriso que iluminava seu rosto e seu coração, Elisa não pôde deixar de sorrir também. Mas o momento de maior emoção foi quando Jaynes entrou nas águas. Um silêncio tomou conta da multidão, e então as lágrimas começaram a cair. Quando ele saiu, foi recebido por sua mãe, que, emocionada, não conseguia controlar o choro. Logo, seus filhos e esposa o abraçaram, e, um pouco depois, Marck e Vick também se juntaram, oferecendo seu carinho. O líder, que até então se mantinha impassível, não conseguiu segurar as lágrimas diante da cena. O poder do momento tocou a todos profundamente.

De volta ao salão, Nora cantou hinos que pareciam vir diretamente do céu, sua voz suave e doce se misturando à de Elisa, que a acompanhava com a alma. A música reverberava pelo ambiente.

Já tarde da noite, Elisa estava sozinha em seu quarto, olhando pela janela. Lá fora, a imensidão azul do céu se estendia, e as estrelas pareciam brilhar mais intensamente. Lágrimas de alegria desciam por seu rosto, contrastando com o sorriso enorme que não conseguia esconder. Ela estava em paz, plena. A emoção a tomava por dentro, mas seu coração, mais leve que nunca, sabia que havia cumprido sua missão.

Ailan, que havia saído para tomar um ar, caminhava , sentindo-se eufórico. O vazio que sentira por toda a sua vida agora havia desaparecido. O medo da escuridão se dissipara, e ele se sentia pleno, como se algo profundamente transformador tivesse acontecido dentro dele.

Quando o olhar dele encontrou Elisa, ao longe, a sensação de completude tomou conta de seu ser. A emoção o invadiu com força, e ele sorriu, entendendo finalmente. Desde o momento em que a carregara, algo nela o havia cativado. O brilho do Espírito Santo nos olhos dela o atraíra. Sua escuridão reconheceu a luz que ela emanava. E naquele instante, ele soubera que seu coração era dela, há muito tempo.

Ali traçou um plano...

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