Conversas
A manhã seguinte trouxe um ar mais leve ao casarão , mas o peso dos últimos dias ainda pairava sobre os corredores. A luz do sol filtrava-se pelas cortinas de renda no quarto onde Ailan estava. Ele acordou sentindo uma melhora discreta, como se uma força invisível estivesse renovando suas energias. Ainda assim, sua mente estava um turbilhão de perguntas e sentimentos.
Ele pediu para ver Marck. Poucos minutos depois, o som hesitante de passos no corredor foi ouvido, e a porta se abriu devagar. Marck entrou cabisbaixo, as mãos fechadas em punho ao lado do corpo, o semblante carregado de culpa.
— Eu não sabia... — começou, com a voz trêmula. — Não sei nem como me desculpar...
Ailan, sentado na cama, ergueu uma sobrancelha e o interrompeu com firmeza, mas sem agressividade:
— Pode parar, irmão!
Marck levantou o olhar de repente, os olhos arregalados, surpreso com o termo.
— Você sempre foi um irmão para mim, Marck, e não precisa se desculpar por algo que não é culpa sua.
— Mas minha mãe... — Marck tentou argumentar, mas sua voz vacilou.
Ailan suspirou profundamente e balançou a cabeça.
— Exatamente, foi sua mãe. Sempre soubemos que ela não era flor que se cheire, mas isso... — ele gesticulou vagamente, como se fosse difícil colocar a magnitude dos fatos em palavras — era muito pior do que qualquer coisa que imaginávamos.
Marck assentiu, desviando o olhar para a janela. Ele caminhou até lá, os ombros tensos, encarando a paisagem lá fora. O brilho nos olhos traiu a tempestade dentro de si. Ele não queria que Ailan visse. A vergonha e o peso da realidade de quem sua mãe realmente era o sufocavam.
— Você já falou com sua... — Ailan parou, esfregando a nuca com a mão enquanto procurava as palavras certas. — Com nossa irmã?
Marck soltou um suspiro pesado, sem se virar.
— Não tive coragem... — admitiu em voz baixa. — Ela sofreu tanto, deve me odiar.
Ailan meneou a cabeça, um meio sorriso surgindo em seus lábios.
— Pelo que conversei com ela, acho bem difícil. – disse Aila abrindo a porta do quarto de repente, e entrou segurando a mão de um rapaz desconhecido. A curiosidade fez os dois homens se virarem ao mesmo tempo, franzindo a testa de forma quase idêntica. Aila riu, percebendo o gesto.
— Como nunca suspeitei? — provocou, revirando os olhos. — Vocês dois se parecem até nos gestos.
Ela respirou fundo, tentando conter o riso.
— Querido irmão... — disse, encarando Ailan antes de piscar rapidamente e olhar entre os dois. — Queridos irmãos! Isso vai levar um tempo para me acostumar.
Marck cruzou os braços, enquanto Ailan arqueou uma sobrancelha.
— Enfim, — continuou Aila com um brilho nos olhos — quero apresentar meu namorado.
Os dois praticamente rosnaram ao mesmo tempo, e Aila gargalhou, ignorando a tensão evidente. O rapaz cumprimentou os irmãos com um sorriso nervoso, mas a atmosfera permaneceu carregada. Aila, no entanto, parecia completamente alheia à rigidez dos dois homens, seu sorriso contagiante iluminando o quarto.
— Agora que já se conheceram, vou dar um conselho. — Aila apontou para Marck. — Você devia conversar com a Vick. Ela é um amor de pessoa e ficou muito feliz em descobrir que tem três irmãos.
Ela então virou-se para Ailan.
— E você precisa falar com a Elisa. Ela sofreu um bocado enquanto você estava desacordado.
Antes que qualquer um dos dois pudesse responder, Aila se retirou do quarto, deixando um leve rastro de perfume e uma energia vibrante.
Marck suspirou profundamente e passou as mãos no rosto.
— Acho que vou falar com essa Vick. — Sua voz soava como se estivesse convencendo a si mesmo. — Mas é estranho pensar em atravessar para o outro lado. — Ele estremeceu. Anos de crenças e preconceitos não se dissolvem facilmente.
Ailan o encarou, os olhos estreitos.
— Não vai sair daqui sem me contar o que aconteceu com a Elisa.
Marck hesitou, mas acabou relatando o que sabia. À medida que contava, o ranger dos dentes de Ailan tornou-se audível. Sua mandíbula estava tão tensa que parecia prestes a estourar.
— Meu pai... — Ailan começou, mas sua voz transbordava indignação. — Ele não tinha esse direito.
Marck se virou para a porta, suas costas rígidas.
— Não se esqueça que minha mãe e Struan estavam por trás disso também. — Ele saiu antes que o ambiente explodisse.
Mais tarde, Alana apareceu no quarto de Ailan com uma tigela de sopa quente. Sentada ao lado dele, começou a falar sobre sua conversão, sobre como havia entregue sua vida a Deus. Descreveu os momentos em que Ailan esteve doente e como ela, Elisa, Bel e Aila se uniram em oração por ele.
— Foi Elisa quem descobriu tudo e elaborou o plano para enviar Aila até seu tio — contou Alana, seus olhos brilhando com emoção. — Mas Deus é Deus todo-poderoso. Sua avó chegou lá exatamente na hora certa. Tudo aconteceu como tinha que acontecer.
Ailan escutou em silêncio, mas seu coração estava inquieto. Ele olhou para a tigela de sopa, as sobrancelhas franzidas. Por que Elisa teve que suportar tanto? Essa pergunta queimava dentro dele como uma brasa, sem respostas claras à vista.
Mais tarde, Alana apareceu no quarto de Ailan com uma tigela de sopa quente. Sentada ao lado dele, começou a falar sobre sua jornada de fé, sobre como havia entregue sua vida a Deus. Descreveu os momentos em que Ailan esteve doente e como ela, Elisa, Bel e Aila se uniram em oração por ele.
— Foi Elisa quem descobriu tudo e elaborou o plano para enviar Aila até seu tio — contou Alana, seus olhos brilhando com emoção. — Mas Deus é Deus todo-poderoso. Sua avó chegou lá exatamente na hora certa. Tudo aconteceu como tinha que acontecer.
Ailan escutou em silêncio, mas seu coração estava inquieto. Ele olhou para a tigela de sopa, as sobrancelhas franzidas. Por que Elisa teve que suportar tanto? Essa pergunta queimava dentro dele como uma brasa, sem respostas claras à vista.
Ailan vai ao encontro do pai no escritório. Já chega reclamando da forma que tratou e julgou Elisa enquanto ele estava desacordado.
Jaynes se desculpa e diz que temia pela vida dele e fez o que achava certo.
- Mas já me desculpei com ela – surpreendeu Ailan com essa afirmação.
- Sabe filho tenho pensado muito esses últimos dias. Tanta coisa aconteceu, tanta coisa caiu na minha cabeça. – passa a mão pelo cabelo e se levantou indo até a janela. Ele põe as mão no parapeito e sua cabeça pende pra frente.
- Sua mãe ainda não está falando comigo. Mais uma vez meu passado a feriu e não só ela.
Aila poucas vezes viu tanta vulnerabilidade na voz de seu pai. Mas antes que pudesse falar algo ele continuou.
- Sabe tive um sonho que mexeu demais comigo. Depois pedi o livro sagrado a Elisa e tenho lido. – apontou o livro aberto na mesa surpreendendo Ailan mais uma vez. – chamei seu tio para vir essa noite com sua família. Precisamos nos acertar filho.
Ailan saiu do escritório com mais coisas na cabeça do que entrou. Pelo pouco que tinha ouvido naquele dia, temia por essa noite.
Ele respirou fundo, encostando-se na porta fechada do escritório. O que acabara de ouvir parecia um turbilhão. Ele não sabia se ficava aliviado, surpreso ou preocupado. Seu pai, Jaynes, lendo a Bíblia? Pedindo perdão? Chamando o tio para se reconciliar? Era algo que ele nunca imaginara presenciar.
Enquanto caminhava pelo corredor, os pensamentos se misturavam. “Será que seu pai realmente mudou? Ou isso é só mais uma tentativa de controlar a situação?” A lembrança do tom vulnerável de Jaynes, algo tão raro, o fez hesitar em julgá-lo.
Mais tarde naquela noite, Ailan estava no jardim, esperando os convidados chegarem. Ele se aproximou de Elisa, que estava ao lado de sua mãe, conversando de maneira descontraída.
— Elisa... posso falar com você? — pediu, a voz carregada de seriedade.
Ela olhou para ele com curiosidade e um toque de preocupação, mas assentiu, afastando-se para que conversassem a sós.
— Meu pai... me disse que pediu desculpas a você. É verdade?
— É, Ailan — respondeu Elisa, cruzando os braços. — Foi inesperado, mas... pareceu sincero. Ele estava diferente, sabe? Como se realmente quisesse mudar.
— Isso é surreal. Ele disse que teve um sonho e que está lendo a Bíblia agora. — passou a mão pela nuca, ainda tentando processar. — O que você acha disso?
Elisa sorriu levemente, mas seus olhos estavam cheios de compreensão.
— Olha, não sei o que aconteceu, mas às vezes Deus usa os momentos de maior fraqueza para transformar as pessoas. Pode ser o começo de algo bom... mas só o tempo vai mostrar.
Ailan assentiu, mas a ansiedade ainda o consumia. Ele não teve tempo de continuar a conversa, pois os convidados começaram a chegar.
No escritório, Jaynes ajustava os punhos da camisa enquanto esperava seu irmão. Ele mal reconhecia a própria postura. Aquele livro aberto sobre a mesa parecia pesado, mas ao mesmo tempo trazia uma sensação de paz.
Quando a porta se abriu, revelando seu irmão mais novo, o ambiente ficou tenso. Ailan entrou logo atrás, ficando de lado, observando com atenção.
— Jaynes. — A voz do irmão era firme, mas carregada de anos de mágoa.
— Sharon... — Jaynes respirou fundo, tentando manter a calma. — Obrigado por vir. Eu precisava falar com você.
Houve um silêncio longo antes que ele cruzasse os braços e perguntasse, seco:
— E o que você tem a dizer?
Jaynes deu um passo à frente, a mão tremendo ligeiramente.
— Eu errei. Errei com você, com a nossa família, com muita gente. Meu orgulho, meu jeito de querer controlar tudo... isso só machucou as pessoas que eu deveria proteger. — Ele fez uma pausa, olhando para o irmão nos olhos. — Quero consertar isso. Sei que não posso apagar o passado, mas... quero tentar recomeçar.
Sharon ficou em silêncio, avaliando as palavras do irmão. A tensão na sala era palpável. Finalmente, ele suspirou.
— Eu esperei anos para ouvir isso de você, Jaynes. Mas ainda vai levar tempo para eu acreditar.
Jaynes assentiu, os olhos brilhando com emoção contida.
— Eu não espero que seja fácil. Só espero que possamos tentar. A divisão da vila foi culpa minha fui cego demais, e acreditei em quem não devia.
Ailan observava tudo, o coração apertado. A noite estava apenas começando, mas ele sabia que, independentemente de como terminasse, ela marcaria um ponto de virada para todos.
⛰️⛰️⛰️⛰️⛰️⛰️⛰️⛰️⛰️⛰️
Espero que tenham gostado desse capítulo.
Vou acelerar um pouquinho 👀
Ficou claro?
Votem e comentem por favor 🥹🥹
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top