Quando Soam As Trombetas

| AVISO DE CONTEÚDO: descrição gráfica de violência e mortes e linguagem forte |

O barulho de potes de água a cair e derramar-se sobre as lajes do beco onde estavam levou o jovem General a levantar a cabeça depois de estripar outro soldado do Império. Um par de crianças magras e bem vestidas encontrava-se encolhido contra a parede das traseiras da casa sumptuosa onde desembocava a viela. Os seus dedos agatanhavam as roupas uma da outra e os seus corpos tremiam com o pavor de terem um destino igual à meia dúzia de homens que jaziam trespassados, degolados ou decapitados à sua frente. Pela diferença das vestes, os mais velhos pareciam ser seus criados, mas talvez pudessem até ser seus parentes.  Vindo daqueles ratos cobardes, já pouco o espantava.

Link deu um passo na sua direção, sacudindo a espada com brusquidão para retirar da lâmina o sangue e as tripas que a tingiam. Na sua cabeça, não tinha duas crianças diante de si, tampouco dois civis. Tinha dois inimigos, tão culpados de todo aquele desastre como os demais. E se não fosse pela intervenção da Myriu, os pequenos não teriam sobrevivido para ver o dia seguinte.

A Trekari, lúcida, colocou o corpo entre o seu humano e as crianças, pedindo-lhe silenciosamente que subisse. Link, atordoado e de cabeça leve, recuperou o tino ao alternar o olhar entre os graves olhos topázio e as crianças que tentavam conter o pânico, numa tentativa de não o provocar. Subitamente assustado consigo próprio, ele embainhou a espada e subiu para a pequena sela, sem se atrever a soltar um único pedido de desculpas. Não havia palavras que pudesse proferir que remediassem a situação, mesmo se não existisse entre os dois povos uma barreira linguística que poucos superavam.

Enquanto subia de novo aos céus, agradeceu a Banna por ter Myriu do seu lado. Jamais se perdoaria se, quando voltasse a si, descobrisse ter ceifado duas jovens e inocentes vidas sem razão aparente. 

O Palácio de Mewar, construído em mármores brancos e granitos claros como o restante da capital, destacava-se do seu entorno pela sua escala e pelos detalhes em arabescos das suas colunas, pontes, arcos e cúpulas. Se não fossem os detalhes em azul safira e dourados e as ocasionais palmeiras de vários metros de altura a trazer cor e riqueza a uma base essencialmente branca, a moradia do Sol do Império poderia facilmente ser confundida com uma nuvem do céu azul num belo dia de primavera.

O par dirigiu-se à cúpula central, o ponto mais alto do Palácio, para obter melhor visão da batalha e dos pontos de acesso ao edifício. Com mestria adquirida nos anos consecutivos de aterragens nas reentrâncias traiçoeiras das apertadas galerias onde tinha feito ninho, Myriu serviu-se das poderosas garras para se agarrar à pedra em torno do pináculo da cúpula. Link, relaxando os joelhos em tensão para se sentar na sela, olhou em volta.

A cidade estava em alvoroço. Em todas as direções se viam escaramuças e confrontos, com o numeroso exército de Histalia em aparente vantagem. O retinir das lâminas e os choros de dor eram a sinfonia dominante, sobrepondo-se aos gritos de fúria e aos comandos de guerra. O sangue derramado e as vísceras a descoberto enchiam o ar com um odor pestilento, incapacitando o olfato dos mais sensíveis em poucos segundos.

Ignorando o caos, Link estudou o Palácio sob as garras da sua montada, em busca da forma mais eficiente de entrar. Havia um jardim no pátio interior, mais castanho do que propriamente verde, mas situava-se no piso térreo. O imperador de uma nação não teria os seus aposentos ou a sala de audiências privada num nível facilmente acessível a qualquer ameaça. 

Enquanto tentava localizar a varanda que Yda tinha descrito como a mais provável de conduzir à ala privada do imperador, outro estrondo cortou o ar. As trombetas de guerra do Deserto tocavam de novo, desta vez com um padrão diferente: um sopro longo, seguido de dois curtos.

Os olhos cinzentos do príncipe percorreram o campo de batalha com aflição, em busca do significado do sinal sonoro. E, para sua surpresa, descobriu os soldados de Mewar a depor as suas armas e colocar-se à mercê do exército histaliano, com braços levantados ou com um agitar de panos claros. Estavam a render-se.

A estranheza apoderou-se do seu corpo. Toda aquela operação militar tinha sido mais fácil do que estava à espera. Demasiado fácil, até. Metade das contingências para as quais tinha demorado horas de planeamento e preparação não aconteceram. A aproximação a Mewar foi dura, mas com menos obstáculos do que os seus batedores e soldados se lembravam de encontrar. As defesas antiaéreas surpreenderam-nos por instantes, mas tornaram-se ineficazes rapidamente. E agora, em plena capital, à porta do seu soberano, o povo do Deserto estava a depor as suas armas.

Alguma coisa não fazia sentido naquela história, mas o General não teve muito tempo para refletir sobre a causa do seu assombro.

Na entrada do Palácio, um séquito de criados e guardas trazia para diante da grande escadaria principal duas figuras. Uma delas, inconsciente, era transportada por um guarda extremamente magro, enquanto a outra era escoltada com uma dignidade régia, apesar de ser conduzida por uma corrente negra ligada a uma grilheta em torno do pescoço. Reconhecendo-as, Link levou Myriu a abismar-se, caindo com grande velocidade em direção ao solo. No último instante, um brusco abrir de asas amparou a queda, terminando num suave pouso depois de um par de batimentos.

A mulher foi depositada cuidadosamente no chão e o homem teve a coleira metálica retirada pelos criados que depressa desapareceram nas sombras. Em silêncio, também os guardas recuaram até à entrada do Palácio, oferecendo alguma privacidade aos histalianos para a tão aguardada reunião. Link desceu das costas da imponente Trekari para se vir ajoelhar perante o homem de vestes coçadas e barba por fazer que massajava o próprio pescoço. Porém, mesmo com tudo o que estava a sentir no momento, não se esqueceu de se servir do seu vínculo com Myriu e da sua inquietação para lhe pedir que se mantivesse alerta por ele a qualquer ameaça. Ele claramente não se encontrava em condições de o fazer.

— Majestade. — A sua voz mal manteve o decoro enquanto cumpria os formalismos. Depois, demasiado entusiasmado para conter a emoção, levantou-se e envolveu Tyredon num abraço que não sabia necessitar até sentir o corpo dele contra o seu. — Meu pai.

O Rei correspondeu brevemente. Quando as mãos do pai abandonaram o seu corpo, Link foi recordado das circunstâncias em que se encontravam, voltando a colocar uma distância respeitável entre eles. 

— Onde está o Kato?

O sangue do mais novo gelou. Myriu agitou-se atrás deles, causando um restolhar de penas. Ao longe, os soldados de Histalia gritavam com guerreiros do Deserto que se recusavam a seguir pacificamente as ordens do líder da sua nação e os diferentes capitães do exército histaliano tentavam disciplinar os seus homens, evitando mais derramamento de sangue.

— Pai, o Kato morreu — forçou, tentando que as palavras não se atropelassem na sua língua quando a vaga de dor o atingiu.

O semblante do monarca continuou inexpressivo. 

— Não. Isso foi a mentira que o Deserto me contou para me tentar desestabilizar — disse, com sarcasmo a permear o seu tom de voz. A mão gasta pelos anos subiu até ao ombro do mais novo, onde a ferida aberta tinha sarado sem que desse conta, apertando-o com força. — Onde é que está o teu irmão?

— Pai, o Kato morreu — repetiu, sério, com um par de lágrimas fugitivas a abrir caminho pelo sangue seco que lhe manchava a cara.

A notícia não atingiu Tyredon da forma que Link esperava que atingisse um pai que acaba de saber que a ordem natural das coisas se inverteu e que o seu primogénito partiu do mundo terreno antes de si. Em vez de exteriorizar o que quer que estivesse a sentir, o monarca congelou, deixando apenas que a mão sobre o ombro do mais novo voltasse a repousar junto ao seu corpo.

Depois, findos os momentos de choque silencioso, afastou-se sem proferir uma palavra.

Ainda a processar o comportamento do pai, Link deu atenção a Elisha. A sua pele visível estava coberta de marcas recentes mal cicatrizadas, a maioria delas auto infligidas, a julgar pelo padrão similar a arranhões e pela acumulação de tecido e sangue seco sob as unhas da mulher desmaiada. Porém, algumas marcas eram mais fundas, como se algo irregular e contundente tivesse escavado a sua pele.

— Link, como está a Elisha? — perguntou Atticus, que se tinha aproximado do amigo depois de prestar a devida reverência ao seu monarca.

Atticus contornou-o. Agachado no chão com Elisha nos braços, o príncipe olhou para cima. O líder da sua cavalaria tinha retirado a couraça que lhe protegia o peito, deixando à vista um lenho recente no pescoço. O corte era profundo o suficiente para se perceber que foi vítima de uma tentativa de decapitação, mas estava razoavelmente cicatrizado, não sendo, por isso, preocupante. Mais abaixo, uma das coxas estava enfaixada com um qualquer tecido que, pelo aspeto, não estava ensopado. Ou a lâmina que o tinha ferido não estava encantada ou, à semelhança da sua situação, o responsável pelo encantamento tinha sido eliminado.

— Quem é que lhe fez isto!? Merda! Filhos da puta! Se os apanho, mato-os! — ameaçou Atticus, irado, ao compreender o que a Mestre de Segredos tinha sofrido no seu cativeiro. — Ratazanas do deserto! Vivem como vermes a vida toda e só porque não lhes damos atenção, pensam que podem entrar pelos esgotos nas nossas casas e fazer o que bem lhes apetece! Espero que a Deusa da Clareza que eles adoram os mergulhe na escuridão, porque se eu os apanho, devolvo-os aos ventres das putas das mães deles que nunca deveriam ter parido aberrações destas! 

Atticus bufava e caminhava em círculos, gesticulando furiosamente enquanto Link se colocava de pé, tentando ajeitar o corpo de Elisha no processo. A mulher era incrivelmente alta para os padrões do reino, superando até figuras proeminentes do seu exército, tanto masculinas como femininas. Além disso, o facto de ser dona de uma constituição similar à de Rue, uma clara denuncia de trabalho ocasional para manter uma forma física preparada para enfrentar qualquer eventualidade, tornava a tarefa de a equilibrar nos seus braços doridos um desafio.

— Eu devia apanhar os responsáveis e estripá-los para os enforcar com as suas próprias entranhas nas muralhas da cidade! São tão podres que os seus restos não vão servir nem para palitar os dentes! Não merecem nem o ar que respiram, quanto mais a nossa clemência! Fizemos um favor ao mundo ao matar os que se atravessaram no nosso caminho, mas foi pouco! Muito pouco!

O ataque de cólera ainda durou um par de minutos. Quando terminou de soltar todos os impropérios e obscenidades entalados na garganta, Atticus recolheu a mulher dos braços do seu General. Estava visivelmente mais calmo, mas o seu semblante ainda espelhava a dor e o rancor mudo que o corpo desfigurado de Elisha lhe provoca. Havia um brilho de carinho nos seus olhos ao embalar a Mestre de Segredos no seu colo, afagando docemente o braço mutilado numa das poucas zonas intocadas, mas era praticamente ofuscado pelo ódio que borbulhava, latente, à espera de nova oportunidade para vazar.

— Como é que ficaram as coisas? — perguntou Link num suspiro cansado. Ainda estava desconfiado com a rendição do Deserto e só esperava que as consequências das más notícias iminentes não o arrasassem.

— Conseguimos que todos se rendessem. Alguns filhos da puta tiveram a bela ideia de insistir em lutar, mas acabaram por perceber que era melhor para a sua saúde estarem quietinhos e caladinhos. — Um esgar adornou as suas faces salpicadas de vermelho antes de voltar a exibir um ar colérico. — Mas também não foi fácil controlar os nossos. Perdemos demasiada gente, hoje e não só, para que os sobreviventes se livrem do rancor e da sede de vingança com facilidade.

A imagem do cadáver de Yda assaltou a mente de Link e este viu-se obrigado a comprimir os olhos com os dedos manchados. Tinha de fazer o tio saber que a sua primogénita e herdeira tinha perdido a vida.

— Onde está o Duque?

— Isso vai depender de onde estiver a minha irmã — respondeu Eligos de repente. A sua pequena estatura aproximava-se deles com passos decididos, o cabelo negro empapado apesar do asseio da face, um olho inchado, o nariz partido e um braço ao pescoço. — O meu pai faleceu.

A ira que o tinha cegado anteriormente voltou em força só de imaginar as lágrimas da mãe e da tia, ateando o ódio que ele julgava ter domado. Todos à sua volta sofriam por causa das escolhas de um só indivíduo. Deveria matar o Sol do império para o fazer pagar pelos seus crimes.

— A Yda está morta — cuspiu Link, virando-se de frente para o Palácio, com sangue no olhar. — E o imperador é o próximo!

Ao ouvir aquela declaração exaltada, os guardas do Deserto cruzaram as suas lâminas, deixando claro que não iriam permitir nenhum atentado à vida do seu soberano. Se tinham realmente entendido as palavras gritadas à aragem cálida, era um mistério que ninguém se daria o trabalho de resolver. A intenção de Link tinha ficado de tal maneira demarcada que nenhuma barreira linguística a conseguia ocultar.

Atticus, ainda com a Elisha nos braços, colocou-se entre o General e os portões principais do edifício imperial. Parecia dividido com o seu próprio gesto, contrariado até, mas fê-lo na mesma. Eligos, recuperado do choque, aproximou-se o suficiente para segurar o pulso do primo, detendo o desembainhar da espada de Link.

Na orla da escadaria, Tyredon estudava a situação, o brilho avaliador dos seus olhos mascarado pela distância a que se encontrava. A seu lado, Myriu trocava o peso de pata, sentindo no corpo aquilo que consumia o seu humano.

— Solta-me!

— Não posso fazer isso — afirmou Eligos, a voz natural a contrastar com as lágrimas de tristeza que desciam serenamente pelas suas faces. — Não enquanto não desistires desta ideia absurda. 

Ofendido, Link tornou a embainhar a espada, libertando-se do aperto do primo. Porém, ninguém à sua volta baixou a guarda.

— Absurda? O Imperador merece pagar por todas as mortes, Eligos! — barafustou, as mãos vazia a ser atiradas em todas as direções ao gesticular. — Pela morte dos civis e dos soldados que nunca saberemos o nome. Pela morte de metade dos príncipes de Histalia. Pela morte da nossa família! — rosnou.

A sua cabeça estava inundada de memórias de infância desconexas. A nomeação da Yda e do Tahel como príncipes, os primeiros passos das irmãs, a disputa pela coroa, os seus momentos com Kato, as traquinices que os seis príncipes faziam pelo palácio com Eligos a reboque, as corridas desequilibradas entre Trekaris e cavalos pelos trilhos que serpenteavam as montanhas de Ghíscar. Tudo se misturava na ordem errada, criando imagens artificiais de momentos que se lhe desvaneciam lentamente da memória, preciosas efemeridades que jamais recuperaria. 

Aquelas recordações eram tudo o que lhe restava dos defuntos, mas também elas lhe queriam fugir. Se as coisas continuassem assim, em breve não sobraria nada. 

— Link...

— Merda, Eligos, não! O Kato e o Tahel morreram por causa disto. O teu pai e a tua irmã também. Todos morreram por causa das decisões do Imperador! — rematou, apontando para edifício atrás de si. — E se ele não sair do Palácio para se submeter à nossa mercê e assumir as consequências, terei de ser eu mesmo a arrastar o seu traseiro cobarde cá para fora antes de o executar!

O novo Duque de Solatus suspirou. Era capaz de entender e simpatizar com a dor do primo. Porém, tinha lucidez de espírito suficiente para avaliar e julgar as consequências daquela ação imprudente. O Deserto necessitava de alguém à frente da nação para assumir a compensação do pós-guerra e, dada a rendição, era possível deduzir que o atual imperador fosse a pessoa mais indicada para o cargo. Apesar de tudo, tinha tido o bom senso de proteger a sua população de um completo massacre. E isso tinha de valer alguma coisa.

— Link, já chega de mortes. O imperador do Deserto terá o seu momento para tomar responsabilidade sobre as suas decisões e responder por tudo, seja com a sua vida, seja de outra forma que se ache mais adequada. Mas não aqui, não agora — disse, suavizando o tom de voz para evitar antagonizá-lo e agravar a situação. — Pensa um pouco. A morte do imperador do Deserto não vai ser a única coisa que vais alcançar se cortares a sua cabeça. 

O príncipe olhou o pai atrás do primo antes de concentrar a sua atenção em Eligos. A mente de Link ensurdecia-o com a sua intenção sanguinária. E ainda que para si aquela fosse a ação mais lógica, o seu corpo não se movia. Talvez fosse uma réstia de sanidade e racionalidade, talvez fosse o instinto. Talvez fosse a pressão dos olhares e da passividade de todos à sua volta. Talvez até fosse o próprio Banna que o estivesse a guiar através das suas intenções contraditórias naquele momento de desespero. Fosse o que fosse, a verdade é Link continuava imóvel.

E, no fundo, ele sabia que era melhor ficar por ali.

De olhos fechados, a mão esquerda subiu para o lóbulo da orelha, onde uma argola metálica pendia, praticamente esquecida. Protegendo o brinco do irmão mais velho entre os dedos, que tinha assumido o lugar da garra de Trekari por ser mais pequeno e discreto, Link rodou a argola ao pensar. O Kato teria dado ouvidos a Eligos. Mesmo depois de vivenciar todas as mortes e toda a destruição, Kato teria guardado o castigo do Imperador para algo mais adequado que a morte imediata. O Kato teria tomado a decisão correta.

Link olhou de relance o Palácio de Mewar antes de começar a caminhar na direção oposta, confundindo os presentes com a sua desistência.

Ele gostava de ser um pouco mais como Eligos. O primo mais novo estava obviamente devastado com a desgraça que se abateu sobre a sua família e as abundantes lágrimas que deixava correr livremente desde que soube do falecimento de Yda, sem se dar ao trabalho de as secar, eram mais do que prova suficiente para os poucos que quisessem discordar daquele facto. Porém, numa frieza incaracterística para a sua idade e para alguém na sua situação, o jovem Eligos era capaz de manter a calma e a racionalidade. Era capaz de meter as necessidades dos outros à frente das suas, mesmo num momento de fraqueza.

Talvez Banna não soubesse o que estava a fazer quando negou ao novo Duque de Solatus a ligação com um Trekari e, por conseguinte, uma hipótese de ser o monarca que Histalia precisava.

O jovem General fintou todos os que se aproximavam de si, ignorando o pai e a própria Trekari ao se afastar. A mão subiu para ombro novamente ensanguentado, vítima do aperto de seu pai, enquanto atrás de si, a voz que sempre lhe tinha prometido segurança e concelho ditava as próximas ações dos seus súbitos. As dores no corpo estavam a dar cabo de si e, havendo alguém para assumir as rédeas, Link só queria desfalecer no conforto de uma cama e voltar para o plano onírico, onde pouco o afligia. 

Se aquilo fosse uma armadilha arquitetada pelo Imperador, agiria em conformidade quando se revelasse a verdade. Até lá, seria fiel aos princípios que lhe incutiram desde criança e não atacaria uma nação desarmada.

Os seus pés conduziram-no às escadarias que o levariam à cidade no patamar inferior e aos homens e mulheres que esperavam as suas instruções. Mas não ia nem sequer a meio quando a perda de sangue excessiva e o cansaço, alimentados pela evaporação da adrenalina nas suas veias, desferiram o seu golpe, levando o General a cair desamparado e sem sentidos diante de um Palácio que jamais tinha sonhado conquistar.

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