Capítulo 18

Toda a bagunça causada por Leslie, Ária e as Trevas foi arrumada da melhor maneira possível. Pedi à Dahlie e Cristian para fazermos um túmulo para o corpo de Daniel e um memorial para o colar de Ivy, que foi tudo o que sobrou dela. Também fizemos um memorial para Carla e usei para representá-la o colar de fada que me enviou logo após sua morte. 

Os colares de Leslie e de Ária foram destruídos para sempre, assim como as Trevas. Novos cargos também foram concedidos, já que agora haviam lugares vagos na assembleia de fundadores que regia as leis gerais de todos os três reinos mágicos.

Cameron foi promovido a Líder do Conselho de Bruxos e Feiticeiros, por causa da morte de Ivan. A professora Stella passou a ser a Líder das Ninfas, além de dar aulas em Magic. Noah foi coroado o novo Rei dos Vampiros, mesmo que fosse metade elfo. Julie passou a ser a professora de música de Fantasy e Camilla acompanhou a amiga, mas como professora de feitiços, no lugar de Havena. 

Lewis quis assumir as aulas de camuflagem em Magic. Cristian abdicou de seu posto como Líder dos Fantasmas e deu seu cargo à Zein, que, após relutar um pouco, finalmente aceitou a oferta. Sarina seguiu para Enchantment junto com Undine, mesmo que sereias não gostem de água salgada, para juntas governarem o reino aquático e tentarem achar uma solução para o encantamento amaldiçoado. Dahlie e Cristian foram coroados Rainha e Rei de Fantasy e por votação unanime, Ethan e eu assumimos o governo de Magic.

Utilizando a Pedra do Poder, conseguimos fazer com que os três reinos se interligassem novamente pela magia dos portais nos poços e marcamos um dia especial para refazer o feitiço de proteção em torno dos reinos, que seria um dia depois de meu casamento com Ethan para assumirmos legalmente a coroa de Magic.

Visitava constantemente o túmulo de Daniel e o memorial de Ivy. Derramei tantas lágrimas que pensei que morreria por desidratação, mas Ethan estava sempre comigo e conseguia, por incrível que pareça, me fazer sorrir de novo com seu sarcasmo e ironia.

Senti-me muitas vezes tentada a sair da ilha, seguir para Fantasy e aparecer em qualquer continente humano novamente, para que, assim, pudesse ir atrás da minha antiga família e saber como estavam se saindo sem mim após tanto tempo. A saudade ainda apertava meu peito, embora soubesse que não fazia mais parte daquele lugar. Ainda me culpava por ter matado tantas criaturas, mas sempre que fazia isso os Poderes vinham conversar comigo.

A Pedra se transformava em uma coroa, um anel ou um colar, dependendo do que precisasse usar. Arrumei uma maneira de apaziguar os ânimos dos híbridos da ilha e vivíamos todos em paz agora. Dust reapareceu após toda a guerra ter acabado e se ofereceu para viajar por Fantasy, avisando quem seriam os novos soberanos e quais as mudanças nas regras da sociedade, que se tornara um pouco mais justa do que antes.

Lembrei-me de contar à Undine sobre seu gênio estar perdido em algum lugar do oceano e, quando fiz isso, o Poder da Água se ofereceu para nos ajudar a procurá-lo. Conseguimos encontrar a lâmpada mágica em menos de uma semana e o novo casal estava tão feliz que não cabiam em si. 

O grande amor de Undine tinha a pele da cor das areias de um deserto, olhos azuis como a água de um oásis e cabelos tão pretos quanto jabuticabas. Era um homem muito bonito. Seu nome era pronunciado de uma maneira estranha, talvez fosse outra língua. Por isso, acabamos por batizá-lo com o nome de Amir. De certa forma, era uma homenagem ao irmão de Maia, que morreu durante a batalha contra as Trevas. O corpo dele só foi encontrado bem depois, quase irreconhecível.

Quando Undine viu Maia pela primeira vez depois da batalha, teve um pequeno sobressalto e chegou mais perto, curiosa. A criatura, então, fez uma revelação que chocou a todos: Maia, aparentemente, era a reencarnação da amada de Ruy. Undine sabia disso porque o poder da alma, que se uniu a ela depois de tudo, contou. Todos sentiram seus corações pesados ao notar que agora era ela quem sofreria com a morte não apenas do irmão, mas também de seu antigo grande amor.

...

— Quando encontrei vocês, Alessia, pude sentir algo especial dentro de mim. Era como se soubesse que Ruy estava ali, mesmo sem vê-lo. Acho que meu coração sabia que foi e que seria novamente meu grande amor.

— Talvez vocês ainda voltem a se encontrar....

— Tenho certeza de que voltaremos. Nossas almas pertencem uma a outra por toda a eternidade e em alguma vida conseguirão finalmente ficar juntas.

— Realmente sinto muito por ter deixado ele morrer.

— A culpa não foi sua. Aconteceu o que era para ter acontecido. — E me lançou um sorriso gentil e compreensivo. — Muitas criaturas perderam pessoas que amavam e não foi diferente com você. Não se culpe por isso.

— Não perdi muitas pessoas próximas, mas sinto como se cada criatura que morreu fosse um parente meu que partiu. É doloroso pensar que não pude salvá-los.

— Está assim mais por causa da Ivy, não é? Da irmã das feiticeiras más.

— Acho que sim... precisei matá-la, sabe? Não foi como se morresse apenas pela batalha. Tive que enfiar o cetro em seu coração. Fui a causa de sua morte.

— Não. Não diga isso. A causa da morte dela foram as Trevas. Elas que escolheram as três irmãs para serem suas materializações. Para serem suas mestras.

— Isso não tira da minha mente a imagem de quando enfiei o cetro em seu coração.

— Talvez isso nunca saia da sua cabeça, mas aprenderá a aceitar. Acha que os Poderes, em todas suas eternas existências, nunca fizeram nada de errado? E para eles é pior. A não ser que se extingam por completo, como as Trevas, lembrarão de absolutamente tudo para todo o sempre.

"Ela está certa, Alessia. Nós nos lembramos de muitas coisas que nossos mestres nos fizeram fazer. Até mesmo coisas que nossas irmãs, as Trevas, fizeram." As Sombras me envolveram num abraço protetor e me permiti sorrir de verdade pela primeira vez nesses últimos tempos. Maia se levantou e bateu um pouco na saia para retirar a areia, já que estivemos sentadas na praia todo esse tempo.

— Tenho que voltar para a vila e ajudar Suelen com os ensinamentos para as crianças que ainda não frequentam o castelo. Até mais.

— Obrigada pela conversa Maia. — E sorri ao acenar. 

Decidi que ficaria ali observando as águas por mais um tempo. Minha mente tornou a recordar todas as criaturas que tinham morrido e lembrei-me do rosto de Lewis, quando descobriu que Leslie mandou matar sua quimera de estimação, Lully.

Por outro lado, algumas coisas boas também aconteceram, como a reabertura das bibliotecas de Fantasy e Magic, que agora funcionavam sobre a proteção dos híbridos, os antigos amigos do Ruy. Todos conseguiram se reerguer após o terror e as mortes causadas pelas Trevas, então... por que ainda me sentia mal? Por que ainda não havia conseguido superar nada daquilo?

"Seu coração, Alessia. Seu coração humano a impede de aceitar as mortes." Senti novamente o abraço gélido das Sombras.

"Mas há humanos que aprendem a aceitá-las como parte natural da vida. Por que eu não consigo?"

"Porque ainda se culpa por tudo. Precisa parar de fazer isso. Os outros Poderes já conversaram com você e continua não aceitando. Precisa entender de uma vez por todas que cada um fez a escolha por si só. Você compreendeu isso quando Carla morreu, por que não consegue entender agora?"

"Porque a Ivy não tinha qualquer escolha!"

"É claro que tinha. Poderia ter escolhido não dizer a você ou poderia ter escolhido se arriscar a lutar contra as Trevas mesmo sabendo que perderia, mas não quis fazer isso e sabe por quê? Ela quis proteger os outros exatamente como você fez. Então, se você pôde escolher esse caminho, por que não aceita que ela também o tenha escolhido?"

"Vocês..." Soltei um suspiro profundo e abracei os joelhos. "Vocês têm razão. Não posso ficar me culpando pela escolha dela. Sinto muito por incomodar vocês com esse tipo de pensamento."

"Você não nos incomoda, Alessia, mas seus amigos podem acabar ficando tristes ao vê-la desse jeito. Tente se animar. Afinal, você se casará em dois dias, não é mesmo?"

"Sim. Realmente preciso demonstrar minha felicidade. Ethan pode pensar, ao me ver assim, que não estou me casando por amor e isso não é verdade. Eu o amo e exatamente por isso, vou me obrigar a esquecer o que passou. Tenho que deixar o passado exatamente onde está: lá atrás."

"É assim mesmo que deve pensar. Este é um ótimo começo. Boa sorte e pode contar conosco para o que precisar. Sempre."

"Vocês também. Muito obrigada por tudo."

...

Ethan e eu nos casamos no salão do castelo de Magic e permitimos que todos os habitantes da ilha presenciassem nossa união. Unimos nossas almas por meio de um feitiço, como mandava a tradição, e agora estávamos conectados pela eternidade, assim como a flor que me ele deu previu há um tempo.

Era chegada a hora de refazer o feitiço de proteção. Os representantes dos reinos se uniram aos seus súditos nos respectivos salões de festas de cada um dos castelos. Naquela noite, todos estariam ligados uns aos outros para proteger seus reinos da maldade humana e das Trevas que ainda podiam estar escondidas lá fora. 

O Poder das Trevas havia sido extinto com a morte de suas três mestras oficiais, mas ainda havia a chance de alguma parte sombria e má estar rondando o mundo humano. Quanto a isso não podíamos interferir. Unimos nossas vozes, nossos corações e nossas almas para efetuar o cântico que nos manteria a salvo até que o destino assim quisesse:

"Trium Regnorum

Et sunt unita,

Et in aternum

Protegebat

Animus nostris,

Nostra corpora,

Cordibus nostris

Praesidio

Qui nos

Malitiae

Hominius

Ignorabat,

Exilium perpetuum

Si aspersusque

Non dimittam

Nisi commutationem

Sanitas tua pretis

Per voluntatem Potestates

Hoc hanc et

Protegat nos!"

~ Fim ~

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