Capítulo 12
Novamente senti aquela sensação estranha de que minha alma era separada do meu corpo, meu estômago se revirava loucamente e minha cabeça girava, mas mesmo assim mantive firme minhas mãos segurando nas de Ivy e Zein.
Assim que o frio da água tocou minha pele, senti um calor gélido partir das pontas dos meus dedos dos pés até logo abaixo do umbigo. Algo semelhante também ocorria nas laterais do meu pescoço e logo percebi que não havia mais a necessidade de prender a respiração.
Olhei para baixo em busca das minhas pernas, mas tudo que pude ver foi uma longa e escamosa cauda de peixe, assim como possuía Sarina. Abri minha boca no intuito de gritar pela surpresa, mas vi apenas algumas bolhas de ar saindo e bagunçando meus cabelos, que no momento enlaçavam meu rosto, desgovernados.
Certo, então não conseguíamos falar normalmente aqui. Por que isso me surpreendia tanto? Não era óbvio? Avistei Ivy e Zein alguns metros abaixo de mim e acenei para eles, tentando chamar sua atenção. Como faríamos para nos comunicar?
"Alessia, acalme-se. Se continuar assim irá atrair muitas criaturas marinhas até nós e nem todas são agradáveis e gentis". Era a voz de Ivy, mas notei que não movia os lábios ao falar, concluí que nos comunicávamos por telepatia.
Sereias conseguiam fazer isso? Zein conseguiria fazer isso? Assenti para ela e testei minha nova cauda, balançando-a para frente e para trás. Até que não era tão difícil, só que logo meu abdômen começou a reclamar do esforço que estava tendo que fazer. Com certeza nadar com as pernas era menos exaustivo.
"Pode até ser menos exaustivo, mas não conseguiria nadar tão rápido. Esperem por mim, vocês duas"! Esse era Zein, só então foi que percebi sua ausência a minha esquerda. Não conseguia nos acompanhar porque era obrigado a nadar com suas pernas de fantasma.
"Segure minha mão. Vou puxar você. Não podemos demorar muito, Undine disse que só temos algumas horas, lembra?" Estendi minha mão e segurei a dele com força, voltei a bater a cauda como já vi sereias fazerem em filmes e mal acreditei que era eu quem fazia aquilo naquele exato momento. Fui obrigada a rir da minha ingenuidade.
Nadávamos por uma parte escura e aparentemente sem vida do oceano. A única luz de que dispúnhamos era a da varinha mágica de Ivy, que felizmente lembrou de trazer. De alguma forma, havia conseguido um dos cristais da antiga Caverna de Cristal para colocar na ponta de sua varinha, e com as palavras certas fazia-o acender como uma lanterna, que brilhava num tom de verde parecido com seus olhos.
"Ivy, sabe quando conseguiremos sair dessa escuridão sinistra?" Senti um arrepio correr meu corpo e olhei ao redor como se algo estivesse nos espreitando neste exato momento. A luz de Ivy, para mim, era literalmente uma luz no fim do túnel.
"Infelizmente não, Alessia. Só posso dizer que percorremos uma boa parte do caminho até o meu palácio."
"E você vai saber como voltar ao poço?"
"Se não conseguir encontrar, peço ajuda para alguma das criaturas daqui."
"Ivy... tenho uma pergunta que está me perturbando faz um tempinho..."
"Pergunte."
"Todas as criaturas aqui no oceano são seus antigos súditos? Todas são criaturas que já foram... gente?"
"Imaginei que fosse perguntar isso em algum momento." E riu de leve sem me olhar. "A resposta é não. Nem todas são meus antigos súditos."
"E como conseguiremos diferenciar? Quer dizer, se um humano, por acaso, pescar um peixe, há a possibilidade de ser um dos seus súditos?" Senti meu estômago se revirar ao lembrar das vezes em que fui ao restaurante japonês perto da minha antiga e humana casa.
"Não, Alessia. Não há essa possibilidade porque os animais que já foram criaturas mágicas ainda possuem sua antiga racionalidade e são capazes de se comunicar exatamente como estamos fazendo agora. As únicas coisas que mudaram foram seus corpos, suas moradias e sua alimentação."
"Então, quer dizer que se um peixinho me cumprimentar não devo me assustar porque provavelmente deve ser alguma criatura mágica amaldiçoada?" Encarei-a como se tivesse acabado de me dizer que vacas podem voar. Sim, que comparação terrível.
"Exatamente. Por que acha isso tão inacreditável? Só por que são animais? Você não conversou com o Dust? Ele é um dragão. Não conversou com o Ruy? Ruy é uma quimera, que por sua vez é considerada um tipo de animal."
Depois dessa fiquei em silêncio. Não havia como argumentar, tinha mesmo razão. Não aguentava mais puxar o Zein e passei-o para Ivy um pouquinho, enquanto isso, fiquei encarregada de segurar a varinha mágica luminosa.
Fiquei tão completamente encantada com o cristal brilhante que não percebi para onde estava nadando e acabei esbarrando numa criatura. Meu coração imediatamente disparou e percebi que as bolinhas de ar que acompanhavam minha respiração através das novas guelras em meu pescoço se tornaram mais numerosas. Seja uma criatura boazinha, por favor.... Como faço para apagar essa coisa?
"Ivy? Zein? Onde estão os dois? Ah, não! Perdida no oceano, não! Já posso até sentir a falta de ar tomando conta de meus pulmões! Já posso sentir a água salgada se infiltrando através das minhas vias aéreas! Socorro!" Apertei as guelras em meu pescoço com as mãos como se estivesse mesmo me afogando, mas esse não era o caso. Ouvi um som engraçado, como quando a água ferve na panela, e usei a luzinha da varinha para iluminar ao meu redor. "Ai. Meu. Deus". Queria nadar para longe daquela coisinha diminuta e assustadora, mas não consegui. Algo me mantinha ali, observando aquela forma bizarra.
"Olá. Você não parece uma sereia. Se fosse, não teria medo de se afogar. O que é você?"
O peixe fala. Ok. A Ivy me avisou. É normal. O PEIXE FALA! Aquela coisinha tinha o que? Dez, quinze centímetros? Era minúsculo e ao mesmo tempo mais horrível que um monstro alienígena.
Tinha uma cabeça pequena e cheia de espinhos, o corpo era longo e achatado de uma coloração marrom escura, quase preta. Tinhas olhos grandes no alto da cabeça, que o faziam parecer curioso ou assustado. Suas barbatanas eram pequenas e possuíam espinhos também, seu corpo robusto e de aparência desfigurada era recoberto por uma pele fina. Na mandíbula, era possível ver seus enormes dentes caninos. E, é claro, o monstrinho falava.
"Não sou uma sereia. Sou uma humana híbrida, quase uma criatura mágica por completo. Estou numa missão para encontrar o palácio de Enchantment e acabei de me perder das duas pessoas que estavam comigo." Fitei a criatura horrenda por um longo tempo. "E o que é você?"
"Acredito que no seu mundo, humana, seja chamado de Peixe-Ogro ou algo assim. Acha que me conhece agora?" O olhar da criatura fazia meu sangue gelar e meu estômago dar voltas, porém não parecia a fim de me atacar.
"Já ouvi falar, mas não o conheço."
"Quer ajuda para encontrar seus amigos?"
"Você me ajudaria?"
"É claro. Só me deixe chamar alguns de meus amigos." E saiu nadando sem nem me deixar responder.
Não sabia muito bem se deveria esperar o peixinho retornar, mas tentar nadar a esmo sozinha também não iria ajudar muito, portanto, aguardei. Quando a criaturinha voltou quase tive um ataque cardíaco ao vê-la ao lado de seus "amigos", que eram tão estranhos quanto a mesma. E não pareciam nada amigáveis. Constatei isso de fato quando todos se moveram em conjunto abrindo e fechando suas bocas, vindo em minha direção com um olhar assassino.
Quase deixei a varinha para trás. Só não fiz isso porque não era minha e porque sem ela, não enxergaria mais nada. Nadei o mais rápido que pude, mas o cardume do peixe-ogro não parecia querer desistir tão facilmente. Quando já não sabia mais para que lado seguir e os peixes de alguma forma conseguiram me cercar, pensei que morreria ali no fundo do mar, devorada por criaturas amaldiçoadas.
"Você fica com ela e eu falo com os peixes!" A voz de Ivy soou em minha mente e no mesmo instante uma figura passou nadando por mim, atingindo boa parte dos animais que me cercavam.
"Alessia, você está bem?" Zein estava ao meu lado e me puxava pelo braço para o lugar acima de nossas cabeças. Ajudei-o a ir mais rápido com a minha cauda e logo Ivy se juntou a nós. Não parecia nada feliz.
"O que você pensou em fazer se afastando de nós assim? Sabe o trabalho que deu encontrar você de novo? Só percebemos que ficou para trás porque a luz já não iluminava mais nosso caminho."
"Então, vocês tiveram que segui-la... não me parece muito difícil. Que tal você carregá-la outra vez?" Encarei-a com o mesmo olhar que dirigia a mim, Zein apertou meu braço de leve e virei-me para encará-lo também. "O que você acha? Que eu quis me afastar por vontade própria? De repente, vocês dois sumiram!"
"Tudo bem, já chega. Foco no que viemos fazer aqui." Ivy ergueu as mãos ao alto, depois pegou a varinha de volta e voltou a nadar. Segurei a mão de Zein outra vez, seguindo-a de perto. Os peixes haviam se dispersado.
...
Finalmente chegamos ao que antes havia sido o reino de Ivy, mas que agora era apenas um monte de corais, algas e outras plantas marinhas que serviam de abrigo para os peixes-criatura que viviam por ali. Imaginei que o fundo do mar fosse mais colorido, mas enquanto passávamos a luz da varinha nos mostrava apenas cores que variavam do cinza a um tom de roxo bem apagado. Era até deprimente ver aquilo.
"Isso está pior do que pensei..." Era visível em seu rosto a tristeza que sentia por ver seu reino daquele jeito.
"Tenho certeza de que Undine fez o que podia para..."
"A culpa não é dela, sei disso. A culpa é minha. Minha ausência causou isso a este lugar."
"Como assim?"
"Esse lugar é alimentado pela minha energia, até que minha sucessora ou sucessor tome posse definitiva da coroa do palácio. Como estive ausente por muitos e muitos anos, o lugar se deteriorou. Antigamente era magnífico! Cheio de cores! Cheio de vida! Mesmo estando tão fundo no oceano e estando amaldiçoado." Ela tocou um dos corais, que ao sentir seu toque ganhou um brilho diferente e mudou de cor automaticamente, assumindo um tom de verde parecido com o das folhas das árvores no verão.
Este lugar respirava a magia que provinha de Ivy. Minha mente começou a vagar tentando imaginar como era aqui antes da deterioração e antes mesmo da maldição ter sido lançada. Deveria ter sido um lugar realmente magnífico....
"É tão triste ver um dos maiores reinos mágicos que já existiu estar com esse aspecto completamente catastrófico e morto." Zein observava ao redor com o mesmo olhar triste de Ivy. Teria conhecido este lugar antes da maldição ter sido lançada?
"Vocês têm certeza de que Enchantment é mesmo o maior reino?" Ainda não havia soltado a mão dele e a apertei para chamar sua atenção. Ele olhou para mim com ar divertido, apesar da sombra de tristeza que envolvia as águas deste lugar.
"Sei que deve estar pensando que Fantasy é bem maior, mas... bem, como posso te explicar? Vou utilizar a geografia do seu mundo, está bem? Magic é uma ilha, Fantasy é como um país e Enchantment seria como um continente. Entendeu?"
"Sim. É uma pena que não vou poder conhecer todo este terceiro reino... não respiro embaixo da água e mesmo com poções, não posso ficar aqui por muito tempo. Queria que houvesse uma maneira de quebrar a maldição. Assim, pelo menos as criaturas voltariam a ser o que eram e imagino que este lugar seria envolto por uma espécie de domo mágico que as permitiria respirar, não?"
"Está certa. Antigamente, havia mesmo uma capsula mágica que protegia todo o reino de Enchantment, assim como o feitiço que protege Fantasy e Magic agora."
Começávamos a nos aproximar de nosso destino. Ivy nos alertou que logo chegaríamos em seu castelo. Senti que as águas ao nosso redor começavam a se agitar e, de alguma forma, tornavam-se mais claras, mais iluminadas. Como isso era possível? Estaríamos nos aproximando da superfície outra vez? Não. Não estávamos subindo....
Nadamos por mais alguns intermináveis minutos, sempre mantendo o mesmo ritmo e comecei a imaginar quando me sentiria cansada. Será que a poção-pomada de Undine também prevenia o cansaço corporal? Duvido, mas que outra explicação teria? Geralmente humanos como eu ficam muito cansados após horas nadando em uma piscina, num lago ou no mar. Então, como me sentia tão cheia de energia apesar das horas que passei aqui embaixo?
Uma vozinha na minha cabeça também me dizia que humanos como eu não conseguiriam chegar à profundidade em que estávamos sem que seus corpos acabassem sendo vítimas da pressão submarina. Certo. Talvez a poção-pomada de Undine tenha mesmo feito alguma modificação no meu corpo.
Minha visão foi ofuscada de repente por uma luz muito intensa que brilhava alguns metros a nossa frente. O que era aquilo? Seria outro animal? Mas para brilhar assim tão intensamente devia ser um animal muito grande! Senti meu coração disparar de medo e apertei a mão de Zein um pouco mais forte do que deveria. Ele me lançou um olhar confuso.
"Não se preocupe. Acho que não é nenhuma criatura, do contrário, a luz estaria se movendo e não está. Acho que pode ser algum recife de corais que sobreviveu à maldição, ou talvez..."
"É o castelo! Alessia, Zein, chegamos!" O sorriso de Ivy era tão sincero e alegre que não conseguimos não retribuí-lo com entusiasmo, mas toda essa alegria não durou muito.
Agora, conseguíamos ver tudo ao nosso redor, ou boa parte do que nos rodeava, e além do castelo, havia muitos e muitos corais coloridos, diferentes dos outros que vimos anteriormente. Era tudo tão bonito, brilhante e cheio de vida que ficamos encantados demais para perceber a criatura que se aproximava de nós pelas sombras que ainda cercavam toda aquela luz. Enquanto procurava respostas que me indicassem como os corais sobreviviam ali, o bicho se aproximou e se aproximou, e quando o notei já era tarde demais para desviar.
"Cuidado!" Tentei gritar usando minha voz, novamente esquecendo que não conseguiria me comunicar, a não ser por telepatia.
A enorme e bizarra serpente marinha já avançava em minha direção soltando faíscas pelo imenso corpo escamoso. Sua bocarra estava aberta e os finos e afiados dentes se projetavam para me engolir. Tentei, em meio ao desespero, empurrar Zein para longe, mas alguma coisa atingiu a criatura antes que pudesse completar seu ataque.
Meu coração batia tão rápido agora que pensei que fosse desmaiar pelo choque, mas Zein me tirou do estado de paralisia e me puxou para perto de onde Ivy havia disparado seu ataque, aquele salvou nossas vidas.
"Vocês dois estão bem?" A varinha que segurava faiscava com um brilho esverdeado e o caminho pelo qual seu feitiço havia percorrido na água piscava com o mesmo tom. A criatura estava atordoada e tentava se livrar das plantas que a envolviam, para isso, se debatia nas pedras e corais ao seu redor.
"Estamos. O que era aquilo?" Zein falou por nós dois, já que me sentia incapaz de dizer qualquer coisa.
"Aquilo era o guardião do castelo de Enchantment. Provavelmente foi Undine quem o colocou de guarda." Ivy encarava a criatura como se analisasse seus movimentos e seu poder.
"Ah, que maravilha! E por que ela não nos avisou?"
"Deve ter esquecido..."
"Ivy, não pode conversar com ele como fez com os peixes que queriam me engolir?" Finalmente encontrei minha voz. Encarei a criatura da mesma maneira que Ivy fazia, pois a coisa estava conseguindo se libertar das plantas. Por que não fugíamos logo de uma vez?
"Não vai adiantar, Alessia. Essa criatura não é uma das amaldiçoadas, não posso simplesmente falar com ela."
"Então, esse bicho existe no mundo humano também?" Não consegui disfarçar a surpresa, nunca havia ouvido falar de uma criatura assim antes.
"Provavelmente. Sua espécie não conhece muito sobre as criaturas abissais, esta deve ser uma delas."
"Vamos aproveitar que está atordoada para fugir!"
"Teremos que matá-la ou imobilizá-la de vez, do contrário, ela irá nos perseguir. Somos sua presa agora."
"E estamos esperando o quê?" Zein se adiantou em direção a criatura no mesmo instante em que esta conseguiu se livrar da última planta. Senti meu estômago revirar e meu coração bateu tão forte que pensei que estouraria as costelas.
"Volte aqui! O que está pensando? Ela já se soltou!" Era tão frustrante não poder usar minha voz de verdade para gritar. Pensar não surtia o mesmo efeito.
"Ele está sem o medalhão, Alessia. A criatura não pode machucá-lo, é uma excelente distração. Cabe a nós agora descobrir o que conseguirá feri-la." Ivy segurou uma de minhas mãos e me arrastou para atrás de um dos enormes e brilhantes recifes de coral. "Aqui não conseguirá nos ver, podemos analisar seu comportamento e descobrir como atacá-la de forma mais eficiente."
Fiquei em silêncio, assim como Ivy, apenas observando o jogo de gato e rato que a criatura fazia com Zein. Isso era completamente frustrante e várias vezes Ivy foi obrigada a segurar minhas mãos para que não lançasse nenhum feitiço para ajudá-lo. Mesmo que a criatura não pudesse feri-lo, ainda era desconfortável vê-la atacando-o.
Acabei por reparar, e acho que Ivy também, que a criatura conseguia nadar tanto na horizontal quanto na vertical, fazendo seu corpo serpentear pela água como se fosse feito do próprio elemento que a rodeava. Sussurrei para as Sombras que mantivessem Zein seguro e senti quando me abandonaram por completo, seguindo até ele.
Desde que havia decidido deixá-las com ele, constantemente voltavam para verificar se também estava bem, e, na verdade, nunca me abandonavam de fato. Exceto se mandasse que o fizessem, como agora.
Também pudemos perceber que a criatura, quando atacava, se esticava completamente e não conseguia se desviar do caminho até que tivesse completado sua investida. E, quando investia, seu corpo brilhava e faiscava como se fosse uma nuvem de tempestade soltando raios para todos os lados.
"Ivy... diga que já sabe como fazer para matá-la. Não aguento mais assistir isso." A criatura havia chegado tão perto de atingir Zein que ele saiu rodopiando com a agitação da água, por causa do movimento do animal.
"Alessia, você já pescou alguma vez?" Ela tinha um brilho brincalhão no olhar e isso me deixou completamente confusa.
"Já. Algumas vezes... por quê?"
"Então, vamos participar de mais uma pescaria! Ao meu sinal quero que saia do esconderijo, nade até Zein e conduza-o até o vão entre aqueles dois corais alaranjados ali, está vendo?"
"Sim, estou. Que sinal devo esperar?"
"Vou acenar para você, está bem?"
"Sim."
Ela se afastou, nadando furtivamente por detrás dos corais. Segui-a com o olhar sem saber se permanecia olhando a luta ou se desviava minha atenção para continuar acompanhando-a. Decidi acompanhá-la com o olhar, até que já não mais pudesse vê-la.
Durante alguns longos minutos procurei-a com o olhar, mas não consegui encontrá-la. Então, surgiu por detrás dos corais que havia me indicado e deu o sinal. Assenti, saí do esconderijo e nadei até onde Zein estava.
Ele não viu minha aproximação e teve um pequeno sobressalto quando agarrei forte sua mão e o puxei comigo, nadando o mais rápido que consegui. Como Ivy previu, a criatura estava nos seguindo em um de seus ataques descontrolados e assim que chegamos perto do vão entre os corais, ela lançou um feitiço que nos empurrou para baixo, fazendo com que a criatura passasse direto por cima de nossas cabeças e seguisse em direção à armadilha.
O feitiço de Ivy fez com que alguns cortes mínimos aparecessem em nossos corpos, já que Zein ainda segurava minha mão e podia ser ferido. Batemos as costas em uma das pedras e observamos enquanto uma enorme rede se enrolava cada vez mais na criatura, que ainda estava presa em sua posição de ataque, completamente esticada. A rede faiscava com o brilho da criatura, mas havia também faíscas vermelhas que pareciam fogo. Ivy nadou até nós.
"Tudo bem com vocês? Não os machuquei, certo?"
"Não. Tudo bem, só alguns arranhões." Sorri ao perceber que o plano dela havia dado certo. "Que plano fantástico!"
"Como conseguiu pensar nisso?" Zein a encarava, confuso.
"A criatura possuía em seu corpo aquelas faíscas elétricas, que me deram a ideia de combatê-las com o fogo, já que a criatura gosta de águas mais frias. Os ataques dela também me ajudaram a inventar uma maneira de prendê-la em pleno ataque, quando estaria automaticamente mais vulnerável por não conseguir se desviar. E, por fim, a pescaria que aprendi com os humanos há tanto tempo: fiz uma rede com meus poderes e usei as algas para mantê-la mais firme." Se adiantou em direção à luz do castelo e a seguimos rapidamente, então, parou e nos olhou séria. "Preciso que alguém fique aqui para cuidar da criatura e impedir que outras tentem matá-la. Não posso matar as criaturas que vivem em meu reino injustamente. Não é culpa dela ter sido colocada como guardiã."
"Tudo bem, Ivy. Posso ficar aqui e proteger a criatura, mesmo porque, se Alessia não estiver me tocando não poderei ser ferido por qualquer outro bicho que apareça. O que não me impede de desviar a atenção dele para que não ataque o que está preso." Zein nadou até a criatura amarrada e se posicionou ao seu lado. Quando percebeu meu olhar preocupado, apenas sorriu tentando me passar confiança.
"Vamos, Alessia." Ivy segurou uma de minhas mãos e me puxou com ela, não consegui desviar o olhar de Zein, que estávamos de certa forma deixando para trás. "Ele vai ficar bem, não se preocupe". Mantive o silêncio enquanto me arrastava até o luminoso castelo subaquático.
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