⁂ 03: Silêncio

Olá, queridos! Como vocês estão? ♡ Como eu meio que prometi, aqui estou eu, com mais uma atualização de Empty Heart no mesmo mês! Nem dá pra acreditar, KKKKKKKKKKKKK.

Antes de falar um tiquinho sobre o capítulo, quero muito agradecer por todo o feedback. Eu fico muito feliz de ver que vocês abraçaram a ideia e estão dispostos a ter paciência com outra slowburn. Escrever essa história anda sendo um desafio pra mim, desde que Universo Naruto está bem fora da minha zona de conforto. Mas ver que vocês estão gostando, com certeza me dá mais gás pra continuar dando o meu melhor. Obrigada, de coração, por todos os comentários, votos, mensagens privadas. Tá me incentivando demais! Vocês são maravilhosos, porraaaaaa! ♡

Comecei a responder os comentários, tenham paciência, que logo eu chego no seu, se ainda tá sem resposta! rs. 

Sobre o capítulo, devo avisar: ele está um tanto denso, e é proposital. Acho que alguns de vocês já devem imaginar que pela proposta da história, teremos muitos capítulos voltados para o emocional e psicológico dos personagens. Isso significa que constantemente, tanto o Sasuke como a Hinata, estarão refletindo sobre alguma coisa da vida deles. Também: tenho usado muitos elementos do canon e de fillers (anime) do Naruto também, vocês vão ver quando lerem.

Nos vemos nas notas finais!

INSTAGRAM: devilwishess

BOA LEITURA! 

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Quando fica quieto?

O tempo deveria extinguir o desejo

Mas as brasas não se apagam

Assombrada por seus sorrisos

A máscara continua ficando mais pesada

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As luzes brilhantes do bar fizeram Hinata semicerrar os olhos por um breve momento; o excesso de claridade começava a irritar sua visão sensível e, por um segundo, desejou sair dali. O efeito tardio das poucas doses de saquê fez sua cabeça começar a girar um pouco e sua língua parecia mais uma lixa; sentia-a áspera dentro da boca.

Encheu um copo de água e bebeu tudo sem sequer respirar.

Kiba tinha a arrastado junto com Shino para o que deveria ser uma festa de despedida. E embora Shino não bebesse, aceitou ir de boa vontade, já que era o último dia da amiga em Konoha, antes de ela partir sem previsão de volta.

— Você está nervosa? — Kiba perguntou depois de bebericar mais um pouco do seu saquê recém-servido. Como já estava um pouco alcoolizado, ele enrolou um pouco a língua e a voz saiu embolada.

— Hmm... — Hinata pensou, a mente estava enevoada por conta do álcool. — Acho que um pouco? Não tinha passado pela minha cabeça a possibilidade de Tsunade-sama pedir para Sasuke me treinar.

— Foi bem inesperado — Shino concordou, sério.

— Mais inesperado ainda foi ele ter aceitado — Kiba comentou, sentindo-se enjoado e sonolento. — Todo mundo sabe que ele não suporta ficar em Konoha, tenho certeza que se dependesse só dele, nunca mais Sasuke voltava. Deve voltar só por causa do Naruto e da Sakura.

— Não podemos julgá-lo, Kiba — o Aburame murmurou em seu típico tom sério demais. — Você sabe o que as pessoas falam dele.

— Eu não tava. — Deu de ombros. — Só me preocupo com a segurança da Hinata. — Diante do olhar inquisitório dela, ele se apressou em acrescentar: — Não me entendam mal, eu não acho que Sasuke faria algo ruim contigo de propósito, só que a gente sabe que ele ainda não está batendo bem das ideias. Lembra lá na guerra quando ele chegou falando que ia se tornar Hokage?

— Você também disse que queria ser Hokage e foi digno de pena. — As bochechas do Inuzuka ficaram vermelhas de constrangimento. — E nem por isso nós te achamos louco.

Hinata riu baixinho da expressão envergonhada do amigo diante das palavras de Shino. Com certeza sentiria falta desses pequenos momentos.

— Acho que é melhor irmos pra casa — ela disse com um sorriso bobo. — Está ficando tarde e preciso acordar cedo, não quero me atrasar logo no primeiro dia. — Levantou-se do banco e se espreguiçou brevemente. Os músculos das suas costas e ombros estavam um pouco tensos.

— Vamos te deixar em casa — Kiba falou, aproveitando a brecha para mudar de assunto completamente. — Eu vou pagar a conta dessa vez, hein? Mas quando você voltar desse seu treinamento, vai ser por sua conta.

— Pode deixar! — Hinata concordou sem pestanejar. — Vamos?

Depois de pagar, o Inuzuka se levantou e arrumou o casaco claro por cima dos ombros, Shino aguardou pacientemente, rezando para que ele não estivesse tão bêbado a ponto de não conseguir andar sem precisar de ajuda. Saíram do bar e assim que estavam do lado de fora, Kiba cambaleou para o lado, a cabeça girando e no segundo seguinte, abaixou a cabeça e vomitou.

Hinata ofereceu um olhar compadecido para Shino, porque era ele quem costumava levar Kiba para casa quando esse tipo de coisa acontecia; embora também acontecia de ela o acompanhar certas vezes. Mas como precisava acordar cedo no dia seguinte, não poderia ir junto.

— Está tudo bem, Hina — Shino murmurou e suspirou quando Kiba vomitou outra vez. — Eu levo ele pra casa. Você vai ficar bem?

— Vou, não se preocupe, Shino-kun. — Sorriu. — Tchau, Kiba-kun. Se cuidem, tá bom? Prometo que voltarei segura e mais forte! Por favor, mandem minhas despedidas para Kurenai-sensei.

O Inuzuka levantou o polegar para confirmar, já que não estava em um estado muito bom para falar. Hinata se aproximou e esticou os braços para dar um abraço nos dois ao mesmo tempo. Só durou alguns segundos, mas foi o suficiente para que ela fechasse os olhos e respirasse fundo, decidida a gravar aquela memória para quando se sentisse desamparada, sozinha e com saudade.

Ela se afastou na mesma velocidade que tinha se aproximado e ofereceu um sorriso saudoso, ainda que sequer tivesse partido de verdade. Deu as costas e seguiu para o caminho de casa, não queria que eles vissem as lágrimas gordinhas que começavam a se acumular no canto dos seus olhos bonitos. Não podia evitar de ser tão sentimental, era algo enraizado, duvidava que conseguiria mudar isso, mesmo que se passasse cem anos, continuaria sendo assim.

A Hyuuga levantou o olhar para o céu, apreciando os pontinhos brilhantes que se estendiam em um tapete fantástico bem acima da sua cabeça. As ruas vazias de Konoha trouxeram memórias agridoces de sua infância, em que ela corria por aí junto com o seu time e se preocupava demasiadamente com Naruto, enquanto ele só queria saber de Sakura. Também se lembrou de Neji e o coração pareceu falhar uma batida.

De repente, algo veio em sua mente, despertando a memória de quando seus olhos ficaram inutilizáveis por um tempo por conta do treinamento excessivo que teve com o primo. Eles ainda estavam no processo de aproximação e Hiashi encarregou-o de treiná-la: precisava de mil lutas para que fosse apta a receber os conhecimentos secretos do combate com senbon¹. Claro que ela tinha ficado muito surpresa e sua reação não tinha sido tão clara e Neji pensou que ela estava insatisfeita com o fato de ele ser a pessoa que iria treiná-la.

"Não está satisfeita comigo?"

Sentiu-se tão embaraçada por ele ter entendido tudo errado. Pelo menos Neji sempre tinha sido muito bom em cortar conversa fiada, o que tinha facilitado com que saísse daquela situação embaraçosa. E também, poderia se dizer que ele era muito duro com as palavras; o que ela se acostumou com o tempo e por isso não ficava mais magoada.

Ainda nessa época, Sakura tinha a chamado para ir no festival com fogos de artifícios, para comemorar a nomeação de Tsunade como Hokage. A kunoichi tinha planos de ficar a sós com Sasuke e precisava de alguém para distrair Naruto. Ela não pensou duas vezes em aceitar, naquele tempo não conseguia enxergar como era humilhante ser estepe de outra pessoa. A única coisa que pensava, era que teria uma chance de assistir os fogos de artifício junto com a pessoa que gostava.

Infelizmente não pôde ir — sua história com Naruto teria sido diferente se ela tivesse conseguido comparecer? —, mas depois Sakura e o próprio Uzumaki tinham lhe contado que Neji foi a procura da famosa e rara Megusurisō², que só crescia no Vale do Julgamento. Tudo isso para que ela conseguisse ver os fogos.

Neji além de um gênio e um ninja exemplar, era um homem maravilhoso e ela o amou — ainda amava — sem nenhuma restrição.

Hinata parou de andar e perguntou-se quando tinha virado alguém tão amarga para ficar revirando memórias que só serviam para machucá-la. Respirou fundo e fechou os olhos com força demais. Realmente não entendia porque fazia isso consigo mesma: cutucar feridas que nunca pareciam cicatrizar. Não deixava Neji ir, e muito menos o que sentia por Naruto.

E quase como se fosse obra do destino, sentiu um chakra familiar e quando voltou a abrir os orbes perolados, encontrou Naruto parado na esquina, somente a alguns metros de onde estava. Algo lhe disse que ele não estava ali por acaso, entretanto, Hinata não se atreveu a pensar que o futuro Hokage estava ali por sua causa.

Já fazia um bom tempo desde que tinha falado com ele pela última vez. Conseguia ver a culpa dançar nos olhos azuis dele e ele mal conseguia encará-la diretamente. Seu olhar estava sempre procurando qualquer outra coisa que não fosse o rosto dela. Naruto olhou em sua direção e Hinata sentiu o corpo estremecer. E não era de um jeito bom igual antigamente, quando ele lhe dedicava o mínimo de atenção.

Foram poucas as vezes que a Hyuuga se lembrava de ver o ninja na sua frente hesitar. Só que foi justamente isso que ele fez antes de começar a vir na sua direção em passos que pareciam lentos demais. Ela ajeitou a postura, trazendo as duas mãos para o peito e as mantendo ali. Cada batida do seu coração parecia um tambor e ela sentiu o suor escorrer por suas costas de um jeito desagradável.

Naruto parou na frente dela, havia uma distância segura entre eles. Ele estava com uma mão no bolso da sua típica calça laranja e colocou a outra atrás da cabeça e sorriu, sem graça.

— Hinata, faz tempo que a gente não se vê. — Foi a primeira coisa que ele disse depois de vários segundos de um silêncio, no mínimo, constrangedor.

— Boa noite, Naruto-kun — Hinata desejou, agradecendo mentalmente por não ter gaguejado. Mas seu corpo continuava reagindo a ele, inevitavelmente, então, o rubor subiu para as bochechas rechonchudas. — Sim, faz um tempo. Você está bem?

— Estou. — Dessa vez, colocou a outra mão também dentro do bolso. Assim não era possível que ela visse como estava nervoso. Desde que soube que ela ia sair da vila junto com Sasuke, começou a procurar uma brecha para encontrá-la e dizer algo. Qualquer coisa. — Sasuke me disse que vai treinar você.

— Sim. — Balançou a cabeça levemente, concordando. Hinata olhou para os próprios pés, um sorriso pequeno e triste se desenhou em seus lábios carnudos. — Quero honrar a memória do Neji-nii-san.

— Tenho certeza que ele estaria muito orgulhoso de você — Naruto disse e também mirou um ponto qualquer no chão. — Hinata...

A voz dele falhou e o Uzumaki precisou pigarrear para limpar a garganta. Isso atraiu a atenção de Hinata, que dessa vez, ergueu os olhos para encará-lo.

— Olha só — ele tentou outra vez —, o teme pode ser meio complicado, mas ele não é uma má pessoa. Não leva pro coração se ele te disser algo ruim, tá bom? — Ela assentiu com a cabeça. — E... — Naruto engoliu a saliva com dificuldade. — Volte segura.

— Obrigada, Naruto-kun — Hinata murmurou o agradecimento e fez uma reverência curta.

No fundo ela sabia que Naruto se sentia muito culpado pela morte de Neji. No campo de batalha a Hyuuga precisou ser forte, porque a realidade que enfrentavam não deixava brechas para falhas e o sacrifício do primo não poderia ser em vão. Então ela se ergueu — e ajudou-o a fazer o mesmo — para lutar e garantir que o mundo dos shinobi tivesse um futuro.

"A Hinata-sama... Pretendia morrer por você, Naruto. Então tenha em mente... Que sua vida... Não é mais sua."

Era verdade. Ela estava disposta a morrer por ele pela segunda vez. Quem diria que depois de tudo que eles passaram juntos mal conseguiriam se olhar no rosto e falar com o outro?

"Seus ideias, suas palavras, seu desejo de não deixar os seus amigos morrerem... Essas são as coisas que valem a pena lutar. O que inspirou o nii-san e o fez ir tão longe... Foram esses princípios! Mas não é apenas você, Naruto. Cada um de nós aqui acreditamos nessas palavras e é por isso que nós lutamos para proteger uns aos outros."

Tinha sido os três anos mais rápidos da vida dela. Às vezes sentia como se tivesse proferido tais palavras ainda na semana passada. Entorpecida pela dor, lembrava-se de sentir como se fosse outra pessoa; quase como se estivesse vendo a si mesma do lado de fora enquanto tudo escapulia da sua boca.

Onde estava aquela Hinata agora?

Hinata sentiu a garganta seca apertar e engoliu a saliva com muita dificuldade. Ergueu o rosto para ele, e talvez o álcool estivesse lhe dando coragem, porque foi em um tom muito firme, que voltou a quebrar o silêncio ao dizer:

— A morte do Neji-nii-san não é sua culpa, Naruto-kun. — Parou diante da surpresa nos olhos dele. — Tenho certeza que ele ficou feliz ao poder escolher o próprio destino.

Não esperou que ele respondesse; a Hyuuga passou por ele e não olhou para trás uma única vez. Caminhou com pressa até chegar nos arredores do seu clã. A angustia ameaçava consumi-la, o ar vinha com dificuldade e cada batida do seu coração era sôfrega. A kunoichi engoliu a angustia com força, e ela desceu como uma kunai afiada por sua garganta.

Desejou voltar no tempo e fazer as coisas de um jeito diferente. Para ser mais específica: para o dia em que tinha dito que o amava. Não se arrependia de ter se declarado, embora não tivesse sido o momento mais apropriado, Hinata achava que iria morrer. No ataque de Pain, estava convicta de que não sobreviveria, e sentia-se pronta para se sacrificar por ele.

Por Naruto; o herói de Konoha.

Mas ela não morreu, Naruto a salvou. E desde então, cansou de contar quantas vezes tinha repetido para si mesma que não desejava nada em troca pelo amor incondicional que sentia por ele — não era assim que amor incondicional devia funcionar, afinal?

Só que no fundo sempre soube que era mentira. Claro, seu amor era genuíno, mas ela queria ser correspondida. Queria que Naruto a amasse de volta do mesmo tanto que ela o amava.

Talvez não tivesse se declarado direito? Ele não tinha entendido que o amar não era de "eu te amo como um amigo" e sim "te amo como um homem"? O pensamento a confortava até certo ponto. Duvidava que Naruto tinha a magoado propositalmente, ele era bom demais para isso.

Antes de entrar de uma vez por todas dentro da mansão principal dos Hyuuga, Hinata desejou uma última vez que ele a enxergasse.

.

Um passo para frente

Dois passos para trás

Há um laço no meu pescoço

E quanto mais eu fico

É cada vez mais difícil respirar

Posso encontrar uma maneira

De cortar a corda?

.

Hinata acordou muito antes do amanhecer. A ansiedade sobre sair de Konoha, impediu-a de dormir como deveria. Hanabi, que tinha se enfurnado na sua cama, ainda dormia tranquilamente, faltava babar no travesseiro. A Hyuuga mais velha sentiu inveja do seu sono tranquilo e acabou se levantando para tomar um banho e checar se suas coisas estavam todas no lugar. Odiaria esquecer algo importante e se lembrar só quando estivesse muito longe de casa.

E não era como se Sasuke fosse ter paciência para esperá-la voltar e buscar, de qualquer modo.

Não se demorou muito no banho, sempre tinha sido muito prática, porque sabia que o mundo dos shinobis exigia que as coisas fossem assim. Vestiu-se com suas roupas típicas: a blusa cor lavanda, amarrou o obi roxo escuro em volta da cintura, a bermuda escura que ia um pouco além da metade das suas coxas. Depois as meias claras e as botas pretas. Amarrou o seu kit ninja na perna e conferiu mais de uma vez se estava bem colocado.

Já completamente vestida, sentou-se no espaço vazio ao lado de Hanabi e passou os dedos pelo rosto bonito da irmã em uma carícia leve, para depois tirar alguns fios do cabelo longo e castanho do rosto dela. Sorriu. Nem parecia que ela já tinha dezesseis anos, ainda a via como a garotinha de bochechas rechonchudas e olhar afiado.

Com certeza sentiria falta da irmã, elas tinham ficado muito mais próximas depois da guerra e não desejava que esse laço regredisse.

— Nee-sama? — Hanabi resmungou, mais dormindo do que acordada. — Já está na hora de você ir?

— Sim — respondeu com um sorriso e passou os dedos pelo cabelo dela outra vez. — Pode dormir, Hanabi.

Sonolenta, Hanabi se arrastou para o colo de Hinata e passou os braços ao redor dela, abraçando-a forte.

— Volte para casa em segurança, nee-sama — sussurrou. — Lembra que está me devendo um treino.

— Pode deixar, Hanabi. — Abaixou-se e beijou o topo da cabeça dela. — Tenho que ir. Cuide do otou-san.

— Uhum — Hanabi concordou e logo voltou a dormir quando Hinata se desvencilhou cuidadosamente dela.

Hinata recolheu a mochila no canto do quarto, deu uma última olhada no cômodo, para a irmã, e deixou a mansão em passos silenciosos; afinal, ainda era muito cedo e não queria fazer barulho a toa. As ruas vazias de Konoha reforçavam esse ponto, com exceção de pouquíssimos ninjas que pareciam voltar de missões, tudo estava deserto.

Andou tranquilamente até os portões da vila, ainda estava alguns minutos adiantada. O sol começava a nascer e ela se sentiu aliviada quando alcançou o destino e viu que Sasuke ainda não estava ali. Sentou no banco em uma postura ereta demais, balançando um pouco as pernas, ansiosa para ir embora.

Alguns ninjas passaram por ela e Hinata os cumprimentou com um leve aceno de cabeça e a cada minuto que passava, começou a se perguntar se por acaso Sasuke teria a audácia de ter partido e simplesmente ter a deixado para trás. O pensamento não a agradava muito, na verdade, podia até dizer que a deixava chateada.

Um ninja nunca volta atrás da sua palavra.

Entretanto, logo essas paranoias foram deixadas de lado quando olhou pro lado oposto dos portões e viu Sasuke andando em sua direção. Quando ele estava perto o suficiente, Hinata se levantou e fez uma reverência breve.

— Bom dia, Sasuke-kun — desejou e olhou bem para o rosto dele. Havia olheiras debaixo dos olhos escuros e a aparência dele era de alguém cansado.

— Hm, Hyuuga — resmungou. — Vamos.

O ex-nunekin mal olhou para ela, apenas passou direto. Ela não demorou a segui-lo, reparando que ele não levava mais do que uma bolsa média com cor de pano de chão. Outra coisa muito óbvia era que ele não parecia nem um pouco a fim de conversar.

O silêncio entre eles era sepulcral enquanto andavam pela estrada de terra batida rodeada por árvores. Ainda era primavera em Konoha e por isso fazia tanto calor, que a cada dez minutos, Hinata precisava ficar passando a mão no rosto para se livrar do suor incômodo que pontilhava sua testa.

Por um longo tempo, ela ficou apenas atrás dele, observando-o cuidadosamente. Sasuke estava mais alto do que ela se lembrava, não era como se tivesse muitas memórias dele de qualquer modo; só que tinha certeza que ele tinha crescido mais um pouco. Também ficou pensando se enquanto eles estivessem fora, se seria dessa forma: silencioso.

E solitário.

Não fazia ideia do que podia estar passando pela cabeça do ninja naquele momento. Gostaria de perguntar para onde eles estavam indo, se tinham um destino acertado ou simplesmente vagariam por aí. Uma vez, em uma noite de garotas, Sakura tinha mencionado que não sabia ao certo o que Sasuke ficava fazendo em suas viagens, mas que Naruto falou que ele tinha o costume de ajudar quem precisava; sem nunca se mostrar, mas também sempre deixando uma dica de que o responsável tinha sido ele.

A Hyuuga admitia que não parecia ser muito a cara dele de ser um herói tão óbvio como Naruto era, por exemplo. Principalmente porque as pessoas ainda tinham muita dificuldade de aceitar quem ele era, e muitos não sabiam que Sasuke não passava de uma vítima de um sistema cruel e político dentro de Konoha.

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Eu estive esperando o amanhecer

Mas a luz se foi

Não sei se eu já sou cego

Posso deixar tudo para trás?

.

Durante os últimos três anos, o silêncio tinha sido sua única e fiel companhia. Sasuke sempre soube que ia ser difícil abrir mão disso, mesmo quando ocorria dos momentos silenciosos darem espaço para as vozes e os demônios que viviam em sua cabeça. Por isso, ele ficou impressionado quando se deu conta que a presença de Hinata era simplesmente ignorável.

Houve alguns momentos em que ele tinha se esquecido que ela estava ali, seguindo-o de perto.

Isso fez com que o ninja se esquecesse, momentaneamente, que não desejava que ela estivesse ali com ele. Sua mente ainda estava muito ocupada processando o que tinha acontecido com Sakura mais cedo. Ele não queria ter a magoado outra vez, isso estava muito claro para ele agora. Só que também não poderia dar o que ela necessitava.

Talvez nunca pudesse.

Depois que Sakura sumiu um pouco da sua mente, Naruto tomou o lugar dela. Ficou se lembrando do amigo enchendo a cabeça dele.

"Não seja mal com a Hinata. Ela é uma boa kunoichi, uma boa pessoa. Por favor, não seja um cuzão com ela. Ela sabe o que é perder, seja "gente", Sasuke."

Revirou os olhos e olhou de esguelha para Hinata, que há uns minutos, tinha parado de andar atrás dele e começou a segui-lo lado a lado. Esperava que ela fizesse mil perguntas: para onde estamos indo? Quando começamos o treinamento? O que vamos fazer? Qual é o seu objetivo?

Só que ela ficou absolutamente calada por sete horas inteiras. A única coisa que ele ouviu foi sua respiração profunda em alguns momentos, como se ela estivesse muito empenhada em decifrar algo dentro da própria mente. Sabia muito bem que ele não era uma das melhores companhias, e ela já devia saber disso também.

Duvidava que ela se sentia feliz em estar ali com ele. Não precisou perguntar para saber que Hinata procurou Tsunade para treiná-la. Esperava por uma sennin e recebeu um Uchiha todo fodido.

Hahá. A vida era uma completa vadia.

Bem, não podia se ter tudo que desejava. Pensando sobre isso, nem percebeu o pequeno sorriso irônico que tinha se desenhado em seus lábios.

Os dois já estavam andando na direção do sul há algum tempo. Sasuke desejava ir para a Ilha Nagi para continuar seguindo um dos rastros, que ele acreditava ser do Zetsu branco. Por isso, precisavam ir até a costa e pegar um barco. Se não parassem para dormir, conseguiriam chegar no porto até o fim da noite.

O clima estava muito quente quando alcançaram uma das pequenas cidades no caminho para o litoral. Embora não estivesse com fome, Sasuke pensou que Hinata deveria estar, e bem, ele tentaria não ser um completo idiota com ela — ia seguir o conselho de Naruto.

— Vamos parar aqui — ele anunciou. — Nos encontramos daqui uma hora na outra saída da cidade.

— Certo — Hinata concordou e balançou a cabeça ao mesmo tempo. Sua voz saiu um pouco rouca, por estar calada há tanto tempo, e pigarreou para limpar a garganta. — Até mais, Sasuke-kun.

Por educação, ela esperou que ele se retirasse primeiro, o que Sasuke fez sem dizer mais nenhuma palavra. Hinata suspirou e começou a andar em direção ao centro da cidade a procura de um restaurante. Já estivera ali algumas vezes, porque o clã Hyuuga constantemente ia a missões diplomáticas para estreitar os laços com o País do Chá. Geralmente era Hanabi que ia, já que Hinata não foi reconhecida como digna de ser herdeira do clã por muitos anos.

Enquanto andava, começou a pensar sobre o que faria para contornar aquela situação com Sasuke. Não pretendia invadir o espaço pessoal dele, só que também não queria continuar no escuro, sem saber o que fariam, pra onde iriam, e pior: quanto tempo ficariam fora. O humor dele parecia ter melhorado nas últimas duas horas e quem sabe depois de comer alguma coisa, ele estivesse ainda melhor e ela poderia tentar puxar assunto com ele.

Sabia pouquíssimo sobre Uchiha Sasuke.

Quando eles eram crianças, alguém espalhou o boato de que ele gostava de garotas com cabelo grande, e basicamente todas as meninas com quem estudava na época deixaram o cabelo crescer somente para agradá-lo. Agora parecia muito idiota que meninas daquela idade já tivessem essa mentalidade — mas quem ela era pra julgar, desde que tinha deixado o cabelo curto para querer destacar que não estava interessada. Bem, o cabelo dela estava grande agora, mas não era como se fosse chegar e dizer: e aí, o que você acha do meu cabelo?

No mínimo ele acharia que ela já estava delirando. No primeiro dia! Seria mais fácil se ele tivesse simplesmente se juntado para fazer uma refeição junto com ela. Entretanto, as coisas nunca seriam fáceis assim, não era?

A distância entre eles era, no mínimo, palpável. Desejava que eles construíssem uma boa relação, algo de mentor e aprendiz pelo menos. Só não fazia ideia de como começar esse laço, considerando que era muito óbvio o desejo de Sasuke em querer ficar longe de tudo que lembrava Konoha. Não precisava conhecê-lo muito para saber disso.

Imaginava que o ex-nunekin desejava deixar muita bagagem sentimental para trás, e eles tinham ao menos isso em comum. Porque a kunoichi sabia que tinha mais de um par de coisas na sua vida que ela precisava deixar ir. Deveria parar de se preocupar tanto com assuntos que estavam fora do seu controle.

Talvez só assim ela finalmente seria livre daquela tristeza insistente que, de vez em quando, ameaçava dominá-la.

Hinata segurou o ímpeto de suspirar pesadamente e entrou em um dos restaurantes. A hora do almoço já tinha passado, então não tinha muitas pessoas ali. Ela fez uma refeição simples e bebeu chá; aproveitou esse pequeno momento, porque só Deus sabia quando poderia tomar chá outra vez.

.

O que é isso realmente?

Se não é seu e nem meu?

Essa vitória não era o que eu esperava

Como eu ia saber que

Tudo acabaria assim?

Sobrevivência dos mais aptos

.

No fim das contas, Sasuke decidiu fazer uma pausa para que eles pudessem descansar da longa caminhada. Ele e Hinata estavam caminhando desde seis horas da manhã, e não tinha motivo para tanta pressa agora. Se estivesse sozinho, não se importaria em continuar a viagem, mesmo exausto, porque sabia que seriam pouquíssimas as pessoas que se atreveriam a se meter com ele. Sem contar que ele era muito mais forte do que qualquer oponente que viesse a enfrentar.

Havia somente vilas pesqueiras por aquela região e para alcançá-las, ainda demoraria mais duas horas de viagem. Apesar de Hinata não soltar um pio, podia ver que ela começava a demonstrar sinais de cansaço. Foi por isso que eles pararam em uma clareira no meio da mata e fizeram um acampamento simples.

— Eu posso ficar com o primeiro turno de vigia, se não for um problema para você, Sasuke-kun — Hinata disse, as mãos entrelaçadas nas costas. Ela tinha acabado de arrumar os sacos de dormir no meio da clareira.

Sasuke fixou os olhos nela por alguns segundos, procurando qualquer sinal de que ela estivesse apenas tentando agradá-lo de algum modo; e diferente do que esperava, ela sustentou o seu olhar, evidenciando que seu pedido era genuíno. Ele não se lembrava de ninguém além de Kakashi e Naruto sustentar sua famosa encarada daquela forma.

— Certo. Daqui quatro horas, trocamos. Partimos uma hora depois do amanhecer — ele anunciou, mal percebendo o leve rubor que se espalhava pelas bochechas dela.

— Hm... Sasuke-kun? — ela o chamou antes que ele fosse se deitar. O Uchiha apenas virou a cabeça na direção dela, para indicar que a ouvia. — Temos um destino?

— Ilha Nagi — respondeu rapidamente. Estava demorando que ela perguntasse. — Espero que não tenha problemas com viagens pelo mar.

Hinata assentiu de leve com a cabeça, esforçando-se para não engolir em seco. Na verdade, ela ficava extremamente nauseada por conta do balanço do mar. Óbvio que não diria isso a ele, não queria parecer uma fracassada. Olhou para Sasuke, que arrastou o próprio saco de dormir até uma árvore solitária e se enfiou ali, fechando os olhos em seguida.

A Hyuuga desejava ficar com o primeiro turno de vigia, porque assim poderia treinar um pouco a distância do seu Byakugan e descansaria os olhos depois. Em três anos, ela tinha conseguido expandir de dez quilômetros para doze. Não considerava ser uma grande melhora, entretanto, fazia o que dava com o que tinha.

Ficando do lado oposto ao de Sasuke, não demorou muito até que ela começasse o seu treinamento, ao mesmo tempo em que vigiava.

Já do lado do Uchiha, ele não tinha ciência do quanto estava cansado até se enfiar no saco de dormir. Foi como se sua mente tivesse desligado por completo e ele simplesmente dormiu, sem nenhum esforço. O que era estranho, se fosse para considerar o seu histórico.

Era impossível saber quanto tempo fazia que estava dormindo, mas em algum ponto, o pesadelo veio.

Claro. A cereja do bolo não poderia faltar.

Óbvio que Sasuke já estava acostumado com os pesadelos, eles vinham com certa frequência. Variavam sobre o dia que tinha matado Itachi e com ele matando Naruto, na fatídica batalha no Vale do Fim, que tinha feito os dois perderem o braço. Ele nunca sabia dizer qual dos dois pesadelos era pior, porque ambos o deixavam absurdamente angustiado e com medo.

Tinha um em específico, que fazia muito tempo que não o tinha. Este vinha com mais frequência nos primeiros meses posteriores a morte do irmão: sempre começava com ele parado no meio de uma floresta densa, o céu queimava em vermelho, sem lua ou sol, como se estivesse preso no Mangekyou Sharingan novamente. E estava completamente sozinho. Até que uma multidão de bestas com dentes pontudos e garras afiadas começavam a surgir de trás das árvores e ele as destruía com shurikens e elas se transformavam em milhares de corvos, que cobriam todo o céu em um tornado violento de preto e vermelho.

E Deus, fazia tanto barulho.

.

Então eu me tornei

O portador da morte

[...]

Aquele que guarda

A escuridão da noite

Eu serei o martelo da guerra

Justiça e Misericórdia

Não vivem lado a lado

.

Aquela versão dele se agachava, contorcendo o próprio corpo em agonia, as mãos nos ouvidos para não ouvir os gritos esganiçados dos corvos. Um garoto desconhecido surgia um tempo depois, e ele sempre dizia a mesma coisa:

Eu sou você, eu sou o Itachi, a única testemunha que o clã Uchiha nunca se reerguerá.

O garoto desaparecia e dava lugar a uma escuridão esmagadora. Sasuke andava sem rumo, incansavelmente, até encontrar o corpo de Itachi ao relento, sem olhos, uma poça de sangue ao redor dele. Depois, as risadas de Kakashi, Sakura e Naruto preenchiam o escuro e ecoavam infinitamente, sem parar, sem parar...

— Sasuke-kun!

O som do metal sendo aparado fez com que ele abrisse os olhos imediatamente, o Sharingan e o Rinnegan ativados. Encontrou os olhos claros de Hinata, as veias saltadas pelo Byakugan, enquanto ela segurava uma kunai com força, bloqueando o ataque inconsciente dele a poucos centímetros do seu rosto.

— Você está bem? — A voz dela era suave e doce, e ele percebeu como ela respirava pela boca, devagar. — Sasuke-kun?

Ele abaixou a kunai, devagar, os lábios apertados em uma linha reta e tensa. Desativou sua linhagem e limitou-se a balançar a cabeça, assentindo. Hinata também desativou o Byakugan e ele se deu conta que estavam razoavelmente perto quando ela se sentou no chão, o rosto pontilhado por gotinhas de suor.

O que diabos ela estava fazendo?

— Vamos trocar. — Não tinha sido um pedido, foi uma ordem. — Acordo você quando estiver na hora.

Como todas as outras vezes que tinha acontecido naquele dia, a Hyuuga apenas assentiu sem contestar. Enrolou-se no seu saco de dormir e não se atreveu a dizer nada sobre como ele tremia violentamente no meio do seu sono perturbado, ou como ele repetiu "Itachi" pelo menos uma centena de vezes, ou mesmo como ele esteve muito perto de lhe dar um golpe fatal se não tivesse sido rápida o suficiente para apará-lo.

E o silêncio voltou.

Mais esmagador e brutal do que antes.

.

Eu simplesmente não consigo ver

Esse ciclo terminando

Como posso corrigir o dano causado

[...]

Eu estive esperando amanhecer

Mas a luz se foi

Não sei se eu já sou cego

Posso deixar tudo para trás?

(The Guardian — Shawn James)

.

1) Senbon  faz parte do grande grupo de armas básicas de arremesso, juntamente com a Kunai e o Shuriken, são pequenas agulhas com variadas finalidades para além de apenas projéteis.

2) Megusurisō é uma erva medicinal rara e é dita sendo ótima para fadiga muscular.

O episódio que o Neji cuida da Hina "escondido" igual um fofo, é o 306 do Shippuden, "Olhos do coração". Mesmo que seja filler, é muito maravilhoso e merece ser assistido um montão de vezes; ♥

O que mencionei sobre usar elementos do canon? Pois então. Voltei pro filler em que o Neji é um anjo com a Hinata, depois para a morte dele e o discurso dela para pôr o Naruto na linha. A Hinata, é sem dúvidas, uma ninja excepcional, corajosa e inteligente. Sempre vai me doer o fato de não terem trabalhado ela de uma forma decente. Como vocês puderam ver, ela remói o que sente pelo Naruto, e ainda tem sentimentos por ele... O que será que isso pode significar?

Há uma novel de Naruto chamada "Naruto Jinraiden: Okami no Naku Ni", que é sobre o Sasuke logo depois que ele "mata" o Itachi e o Obito conta a verdade pra ele. Recomendo a leitura, porque nela, a gente vê que o Sasuke não é esse cara absolutamente frio (que costumamos retratar nas fanfics hahahaha), ele é muito sentimental e humano. Ele pensa demais, sofre demais. Na novel, ele tem esse pesadelo (eu só o descrevi mais e tentei pôr mais emoção) e procura por respostas sobre a doença que o Itachi tinha.

Vou continuar usar coisas do canon ao meu favor, algumas ficarão inalteradas e outras, nem tanto, pra podermos desenvolver nosso casal da melhor forma. 

Espero que tenham gostado! Obrigada por lerem! Votem e comentem o que acharam. ♡

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