⁂ 01: Culpa

Oláaaaaaa, nenis. ♡

Antes tarde do que nunca é definitivamente o meu lema. Era pra eu ter atualizado na quinta-feira, mas infelizmente tive uns problemas técnicos (leia-se: travei na metade do capítulo) que me impediram. Passei sexta-feira inteira tentando terminar, mas aí quando tava pronto, faltou luz KKKKKKKKKKKKKKKKKKK. Pqp. Agora voltou esse cu e tamo aqui, né.

Quero muito agradecer a toda recepção em cima de Empty Heart. Eu ainda estou meio nervouser, por conta de toda a história que eu falei de essa ser a minha melhor história em questão de fidelidade de personalidade e seguindo a maior parte do canon possível. Ando fazendo muita pesquisa pra deixar o plot o mais amarrado possível. Então ver o entusiasmo de vocês com a fic me deixa muito feliz mesmo. Obrigada. ♡

Agora chega de falar, espero que apreciem o capítulo, até as notas finais!

INSTAGRAM: devilwishess

BOA LEITURA! ♡


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Meditando através de memórias

Me perdendo no cinza

Entorpecendo os sentidos

Eu sinto que você está escorregando

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Sasuke não precisou de muito para perceber que tinha algo esquisito acontecendo quando entrou no escritório do Hokage. Normalmente, Kakashi não exigia sua presença assim que chegava em Konoha; ele tinha tempo para ir no seu pequeno apartamento, tomar um banho, comer e descansar antes de precisar reportar algo ao seu ex-sensei.

Ainda era de manhã quando chegou em Konoha e, particularmente, ele odiava esse horário, porque as pessoas estavam começando a sair de casa para os seus afazeres e isso significava que o veriam e começariam com os comentários petulantes, que faziam com que ele sentisse vontade de explodir aquele lugar. Estava trabalhando em cima do seu temperamento hostil, mas os habitantes daquele lugar tornavam tudo mais difícil.

— Bom dia pra você também, Sasuke — Kakashi desejou, sentado na cadeira, sem levantar os olhos dos pergaminhos que lia.

O Uchiha quis dizer "bom dia pra quem", mas limitou-se a respirar fundo, sabendo que provavelmente teria um motivo para que Kakashi o quisesse ali logo que chegasse.

— Hm, bom dia — disse por fim e continuou de pé na frente da mesa grossa de madeira, repleta de papelada inacabada. — O que foi?

— Como foi a sua viagem? — O Hokage levantou os olhos dos papéis e mirou Sasuke, os cotovelos apoiados na mesa e as mãos unidas sustentando o queixo coberto pela habitual máscara. — Encontrou alguma coisa interessante?

Além de procurar pela sua paz de espírito ficando fora de Konoha, Sasuke também queria saber mais sobre Kaguya, sobre o passado do clã Uchiha.

— Nada fora do habitual, mais alguns pergaminhos perdidos — respondeu, esperando que o outro dissesse logo porque o chamou ali.

— Tenho uma missão pra você — Kakashi anunciou ao se levantar da cadeira. Andou até a janela aberta e se encostou ali. Embora o silêncio de Sasuke fosse sepulcral, sabia que ele ouvia, então, continuou: — Rank... S.

Rank S? — Com uma sobrancelha arqueada, Sasuke inquiriu, desconfiado. Missões desse nível não eram muito comuns agora em tempos relativos de paz. — Por que está pedindo pra mim em vez do Naruto ou um dos seus ninjas?

— Porque a recompensa é algo que vai te interessar. — Isso chamou a atenção do Uchiha, porque Kakashi bem sabia que estava pouco interessado em dinheiro. Então para que o ex-sensei julgasse ser algo interessante...

— O que é? Por que você só não fala de uma vez em vez de ficar nesse mistério? — Sasuke quis saber, carrancudo. Um sorriso brotou nos lábios de Kakashi cobertos pela máscara, mas dava para perceber que sorria por conta dos olhos fechados. O ex-nunekin revirou os olhos.

— Se você completar essa missão, vai poder reaver o Distrito Uchiha.

O Hatake esperou por alguma reação, de forma discreta, observou seu antigo pupilo o encarar avidamente sem nenhuma hesitação. Era óbvio que tinha conseguido o que queria, assim como esperava, aquilo era algo que importava para Sasuke. As raízes do clã Uchiha, suas últimas lembranças do pai e da mãe — por mais dolorosas que fossem — estavam todas ali.

— De repente? Não estava interditado por tempo indeterminado? — Embora não fosse normalmente curioso, Sasuke estava interessado em saber os motivos por trás disso. Era no mínimo estranho que algo assim fosse lhe concedido tão de repente. Principalmente quando ele ainda estava em processo de sou-habitante-de-Konoha.

— Estava, está na verdade. Mas podemos dar um jeito nisso, desde que você comece a ficar mais por aqui.

Ainda desconfiado, o Uchiha estreitou os seus olhos bicolores, procurando por alguma coisa que talvez tivesse perdido nas entrelinhas da fala de Kakashi. Mas não achou nada, ele parecia sincero.

— Que missão é essa?

— Tsunade-san vai te explicar. Você vai precisar ir até o consultório dela. — Kakashi voltou a se sentar, a papelada ganhando sua atenção outra vez. Conseguia sentir o olhar cético de Sasuke em si. Vamos dizer que Tsunade enchia muito a paciência do Uchiha. — Hoje, lá pelas 16h, um pouco antes disso. Ela vai estar esperando por você.

— Certo — Sasuke concordou e sem dizer mais nenhuma palavra, foi embora em direção ao seu pequeno apartamento.

Durante o trajeto, ficou imaginando que tipo de missão seria essa. Para Kakashi fazer algo para recuperar seu distrito, com certeza deveria ser algo muito importante. Depois de se irritar mais com os comentários sussurrados, ele tentou evitar o caminho que passava entre as pessoas e optou por andar pelos telhados de Konoha. O apartamento em que ficava quando parava na vila fazia parte das novas construções feitas depois do ataque de Pain e foi providenciado pelo próprio Hatake.

Assim que chegou, já retirou as roupas sujas e colocou-as na área de serviço, para depois entrar no chuveiro e tomar um banho de água gelada. Sentiu o estômago roncar e lembrou-se com desagrado que precisava ir ao mercado se quisesse comer algo fresco; desde que na sua casa só tinha alimentos enlatados. Podia admitir para si mesmo que sentia falta de comer uma boa salada de tomates.

Depois que terminou, pegou uma muda de roupas limpas e vestiu-as rapidamente, já se preparando para sair de casa e fazer compras para alguns dias. Foi então que ele se deu conta que tudo estava incrivelmente limpo. O que significava que Sakura estava indo ali com certa frequência.

Com os lábios crispados, ele se perguntou porque ela continuava esperando por ele de forma tão devota. Toda vez que estava em Konoha, ela vinha visitá-lo, trazia comida, lavava a sua roupa, era muito óbvio como a Haruno tentava agradá-lo de todas as formas possíveis. Ele conseguia ver nos olhos esmeraldinos — tão bonitos! — como ela aguardava pelo seu retorno definitivo, a esperança que eles pudessem construir algo, finalmente seguir em frente.

O Uchiha não conseguia pensar em nada disso, porque toda vez que olhava para ela, lembrava-se que em um momento de loucura, tinha tentado matá-la sem sequer hesitar. Por que ela agia como se nada disso tivesse acontecido? Como se o seu mísero pedido de desculpas fosse o suficiente para apagar todo mal que ele tinha feito a ela? Era possível que o amor fizesse esse tipo de coisa com alguém?

Não entendia.

Não tinha como saber.

Em um suspiro profundo, ele terminou de se vestir e saiu para fazer suas compras. Pensaria melhor sobre Sakura em outro momento.

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Lutando para manter a calma

Apegando-se a apenas mais um dia

O amor se transforma em cinzas

Com tudo o que eu desejo poder dizer

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Horas depois, quando já estava de barriga cheia e tinha conseguido dormir um pouco, Sasuke percebeu que era hora de ir encontrar a velha. Pouco empolgado, ele seguiu pelos telhados até o hospital de Konoha, onde assim que chegou na recepção, já tinha sido avisado que Tsunade o esperava.

Ele andou em direção aos consultórios e entrou sem bater, ela ainda não estava ali. Aguardou de pé, os braços cruzados no peito. Até que sentiu o chakra dela se aproximar, junto com sua voz bastante audível; ela parecia conversar com alguém, talvez fosse Shizune. Já estava sozinha quando abriu a porta e deu de cara com ele.

— Ah, moleque, você chegou, bem-vindo — cumprimentou-o com um sorriso suspeito, pelo menos para Sasuke. — Vamos dar uma olhada nesse braço.

O rapaz estreitou os olhos. A velha amava encher o seu saco, ficava o tratando como se fosse criança, chamando-o de moleque, garoto, sem contar as provocações com aquele sorrisinho debochado. Quis revirar os olhos, mas se segurou. Apenas estendeu o braço, ainda em silêncio, para que ela o examinasse.

— Está conseguindo conjurar seus jutsus normalmente? — ela perguntou quando desenrolou a faixa que cobria o braço dele e começou a apertar em alguns pontos. — Sente alguma dor?

— Meus jutsus estão ok e eu não sinto nenhuma dor — respondeu, impaciente. Queria perguntar o que diabos era a missão rank S de uma vez por todas.

Tsunade ergueu os olhos claros para ele, analisando-o sem nenhuma discrição. Até que endireitou a postura, e com as duas mãos na cintura, começou a dizer:

— Kakashi já deve ter te falado algo sobre a missão. É algo importante, então preciso do seu comprometimento.

— Por que você só não fala o que é logo de uma vez por todas? — reclamou, uma carranca prestes a se formar em seu rosto.

— A missão é treinar Hyuuga Hinata.

Sasuke olhou para ela como se estivesse completamente louca da cabeça. Vendo que não havia nenhum indício que Tsunade estava apenas tirando uma com sua cara, ele franziu o cenho.

— O que?

— É isso mesmo que você ouviu, a missão é treinar Hinata. — Antes que ele pudesse protestar, ela continuou: — Eu sei que você está longe de ser um sensei e que tem suas, hã, coisas pra fazer, mas ela precisa de um mestre experiente e compatível com as habilidades dela e é por isso que não há ninguém melhor do que você para fazer isso. Kakashi já te falou da recompensa se você completar isso com êxito.

Ele realmente não se via como um mestre, ainda estava ocupado tentando colocar sua própria vida nos eixos para tomar conta de outra pessoa.

— Eu não posso fazer isso, pra começo de conversa, eu nem fico em Konoha e não pretendo ficar, pelo menos por enquanto — rebateu, ainda achando tudo uma loucura. — Peça para outra pessoa e me dê uma missão decente.

— Está é a missão, Sasuke. É pegar ou largar — decretou, séria. Dessa vez não havia rastro de humor em seu rosto ou em suas palavras.

Os dois ficaram se encarando por um longo minuto, a insatisfação era muito visível no rosto dele, o modo que o maxilar estava travado de tensão e os olhos faltavam faiscar.

— Ela vai ter que vir pra fora de Konoha junto comigo, você acha que o pai dela vai aceitar isso? — Sasuke perguntou. Embora pouco soubesse da vida de Hinata, era de conhecimento quase geral que Hiashi era o tipo de pai super conservador e rígido. Era difícil imaginá-lo autorizando sua herdeira ir passear por aí com um ex-nunekin. Mesmo que... — Não tem a menor chance de isso acontecer.

— Bom, isso é um assunto da Hinata e você não tem a ver com isso, moleque. Só precisa aceitar a missão e fazer o seu trabalho. Inclusive, ela já está vindo aqui — disse ao sentir o chakra da Hyuuga se aproximando.

A porta foi aberta devagar e o olhar dele se encontrou com o dela. Admitia que os orbes perolados dos Hyuuga eram realmente incríveis, só que isso não ficou muito tempo na sua cabeça, porque ainda estava ocupado com ódio da velha por estar fazendo isso consigo. Quis grunhir — e talvez o fez.

— Hinata, Sasuke vai cuidar do seu treinamento. Mas, ele tem algumas condições. — O olhar âmbar se alternou entre Sasuke e Hinata. — Fale logo, pirralho, eu não tenho o dia todo!

Estalando a língua, ainda insatisfeito e olhando para ela — que parecia um coelhinho assustado —, disse:

— São apenas duas coisas bem simples, Hyuuga. Um: eu não vou ficar em Konoha, se você quiser treinamento, terá que vir comigo. Dois: não seja a porcaria de um fardo. Eu odeio gente fraca, se você me atrapalhar, eu não vou hesitar em te deixar pra trás.

O Uchiha esperava que com essas palavras, Hinata desistisse imediatamente. Como herdeira de um clã como os Hyuuga, duvidava que ela deixaria sua vida perfeita para segui-lo por aí em terras desconhecidas. E Sasuke não pensava em pegar leve, muito pelo contrário. Ele preferia ficar sozinho, se afogando na própria solidão e arrependimentos, do que ter uma companhia. Sakura já tinha tentado mais de um par de vezes sair por aí com ele.

— Hinata? — Tsunade quebrou o silêncio no recinto.

Só que, em vez de hesitar e recusar, como estava esperando, o olhar perolado se endureceu e ele percebeu como o sangue se espalhou pelo rosto dela, os lábios se separaram e ela franziu o cenho. Havia algo na expressão dela que fez com que Sasuke tivesse dúvidas se ainda era realmente a mesma pessoa que tinha entrado, que mais lembrava uma presa diante de um predador.

— Quando partimos? — O tom da voz dela era suave e duro ao mesmo tempo.

— É, Sasuke, quando vocês partem? — A ex-Hokage estava claramente debochando dele. Talvez tivesse sido óbvio demais em suas intenções.

— Daqui três dias — ele determinou, sério. — No portão de Konoha, antes do amanhecer.

Antes que Hinata ou Tsunade pudessem falar algo, ele se teletransportou para outro lugar, próximo do seu apartamento. Não poderia dizer que estava satisfeito com o andamento dos acontecimentos; não conseguia montar um cenário em que treinar Hinata traria algum benefício para si. Só conseguia imaginar ela sendo uma grande chorona que desistiria perante a primeira dificuldade e assim que isso acontecesse essa seria a oportunidade para se livrar dela.

Quando chegou na porta do apartamento, encontrou Sakura parada ali, as mãos entrelaçadas nas costas; ainda não parecia ter notado a sua presença. O cabelo dela tinha começado a crescer, ele notou.

— Sakura — chamou-a. Ela se virou para ele com um ar surpreso, em seguida, a felicidade tomando conta do seu rosto.

— Sasuke-kun! — A Haruno se aproximou dele, dessa vez trazendo as mãos para frente. — Kakashi-sensei me disse que você tinha voltado.

Dava para ver a animação nos olhos esmeraldinos, a forma que os lábios dela se repuxavam para cima em um sorriso tímido. As bochechas já estavam coradas, mesmo que ele não soubesse dizer o porquê.

— É, hoje de manhã — respondeu sem muita emoção.

— Você vai ficar na vila dessa vez? — Havia esperança na voz dela. Sasuke se encostou na porta ainda fechada, observando como ela parecia ansiosa por uma resposta... Positiva.

— Não. Tenho uma missão.

— Ah... Entendi. — Era impossível não notar a decepção nela. A forma que ela apertava os próprios dedos e mordia o lábio inferior. — Eu vim... Te convidar para jantar no Ichiraku. Naruto está incluído. Seria legal se você viesse, sabe, eu... Nós sentimos a sua falta.

— Tudo bem, eu vou — concordou. Não era tão ruim passar um tempo com seus dois únicos amigos. — Nos vemos mais tarde.

Sakura sorriu um pouco mais e assentiu com a cabeça. Depois disso, Sasuke entrou no apartamento, enquanto ela, bem, ela ficou ali por um tempo encarando a porta já fechada, desejando que aquilo não fosse a única coisa fechada para si.

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Eu morreria para estar onde você está

Eu tentei estar no lugar que você está

Toda noite, eu sonho que você ainda está aqui

O fantasma do meu lado, perfeitamente claro

Quando eu acordo, você desaparece de volta

Para as sombras

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Hinata parou em frente ao memorial de Neji e ficou ali, olhando-o por longos minutos. Já fazia três anos desde que ele tinha morrido e ainda assim, não havia um dia em que ela não sentisse a falta dele. Depois do exame chunnin, os dois tinham voltado a construir um forte vínculo.

Em vida, Neji escolheu ser devoto a ela sem pedir nada em troca; mesmo assim, Hinata sentia que estava em grande dívida com ele. Ele tinha sido paciente em ajudá-la a treinar, deu um ombro para que ela pudesse chorar e a ergueu mais de uma vez quando fraquejara. Tanto que não foi surpresa para quase ninguém quando ficou meses afundada no poço da depressão, presa as memórias dolorosas da guerra quando o perdeu.

Kiba e Shino tiveram um papel essencial em sua recuperação; eles não tinham nenhuma responsabilidade sobre ela, eles não eram mais o time oito. E ainda assim, os dois não desistiram dela. Visitaram-na praticamente todos os dias — só não o faziam quando tinham alguma missão muito importante —, fizeram com que ela saísse da cama, tomasse um banho, comesse. Nos dias de sorte, conseguiam fazer com que saísse de casa também. Eles foram pacientes e amorosos até que Hinata fosse capaz de se erguer com as próprias forças.

Desejava ficar mais forte, não só por si mesma, mas para não precisar mais preocupar seus melhores amigos e, principalmente, para pagar por tudo que Neji tinha feito, o mínimo que poderia fazer era assumir o seu clã e mudar a forma que as coisas eram feitas. Acabar com distinções preconceituosas entre a casa principal e secundária. Ela abominava o selo amaldiçoado e desejava acabar com esse tipo de costume dentro do clã quando tomasse o seu posto de líder, com a morte de Neji, esse desejo estava ainda mais forte.

Passando os dedos pela pedra entalhada de modo perfeito com o nome "Hyuuga Neji", ela prometeu em voz alta:

— Eu vou ficar mais forte, nii-san. Vou honrar sua morte.

Havia outra coisa que fazia com que a Hyuuga ficasse ali: não queria voltar para casa. Toda vez que ela pisava na mansão, as lembranças a assombravam: desde as relacionadas a Neji até o dia em que Hanabi foi sequestrada. Sua irmã sempre dizia que ela não era culpada do que aconteceu para tentar lhe tirar o peso da consciência, só que suas palavras carregadas de piedade não ajudavam em nada. Ainda se lembrava que naquele dia saiu para entregar o cachecol para Naruto e deixou Hanabi sozinha.

Às vezes se perguntava se caso estivesse ali, teria feito alguma diferença. Porque quase tinha sido raptada junto com a mais nova, se não fosse por Naruto, não sabia que rumos aquele fatídico dia teria tomado. Ficava se torturando com esses pensamentos inúteis, como se pudesse voltar no tempo e fazer tudo diferente.

Quando descobriu que o sangue de Hamura corria em suas veias, em vez de ficar feliz por carregar uma descendência tão poderosa, ficou ainda mais decepcionada consigo mesma por perceber que estava muito longe do seu real potencial. As pessoas ao seu redor costumavam dizer que ela era forte, como se isso fosse o suficiente e ela simplesmente devesse aceitar essa condição.

Forte.

Mas não tão forte quanto Naruto.

Ou Sasuke.

Por muito tempo, Hinata teve Naruto como sua maior inspiração. Ele tinha feito com que tivesse a força de vontade para batalhar mais por suas vontades e parasse de desistir sem ao menos tentar. Ainda o admirava — como não? —, embora o Uzumaki tivesse agido como se sua declaração de amor nunca tivesse existido. Agora ela mal conseguia olhá-lo nos olhos, a admiração ainda estava lá, mas a tristeza e a mágoa de não ter sido nem rejeitada de uma forma decente, também estava.

Hinata olhou para cima, observando as nuvens claras irem sumindo e darem lugar ao céu noturno. Era hora de ir para casa e enfrentar os fantasmas. Ainda precisava arrumar suas coisas, conversar com Hiashi sobre sua saída para o treinamento e se despedir de Kiba e Shino. Três dias poderia passar em um piscar de olhos e ela detestava deixar as coisas pra cima da hora.

Inspirou o ar noturno à medida que caminhava na direção do conglomerado Hyuuga. As ruas ainda estavam cheias e ela sorriu ao ver as famílias se reunirem nos restaurantes abertos e os casais andarem de mãos dadas enquanto conversavam e riam baixinho, flertando entre si. Por um momento, Hinata sentiu inveja, porque tudo isso parecia tão simples — simples e ela não tinha nada disso. Perguntou-se se algum dia seria ela ali, de mãos dadas com alguém que a amaria do mesmo tanto que ela; se conseguiria reunir seu pai, irmã, marido e filhos em uma mesa de jantar em um restaurante qualquer em um dia de semana.

Esperava que esse dia chegasse, e quem sabe, tudo isso ajudasse a preencher o seu coração, que parecia tão vazio.

.

Eu sonho que você ainda está aqui

Mas já está um pouco fora do alcance

Eu sonho que você ainda está aqui

Mas se quebra tão facilmente

Eu tento te proteger

Eu não posso te deixar desaparecer

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Sasuke chegou ao Ichiraku sete horas em ponto. Já sabia que esse era o horário padrão que Naruto costumava ser liberado dos seus estudos para ser Hokage. E como tinha imaginado, encontrou o amigo sentado ali no banco, sozinho. Estranhou, não era pra Sakura também já estar ali? Ela não era do tipo que se atrasava.

Aproximou-se silenciosamente e sentou ao lado do amigo. Naruto se virou para ele com um sorriso gigantesco e pousou a mão no alto das costas de Sasuke.

— Bom te ver, Sasuke — disse com sinceridade.

— Dobe — o Uchiha cumprimentou, sereno.

— Eu já pedi o ramen de tomate, já que você é o maníaco dos tomates — zombou e beliscou um dos gyozas que o tio tinha acabado de colocar em cima do balcão.

O ex-nunekin limitou-se a revirar os olhos e também pegar um dos gyozas e enfiar na boca. Apesar de ele passar pouquíssimo tempo em Konoha, apreciava de coração esses pequenos momentos em que poderia sentar e conversar com Naruto sobre bobagens. Fazia com que se sentisse... Normal. Pelo menos por um tempo. Sensação que desaparecia quando Sakura estava por perto, não por não gostar dela — pelo contrário —, mas porque além dos sentimentos óbvios que ela ainda nutria por ele, olhar para ela sempre fazia com que se lembrasse do seu pior momento. Quando estava completamente cego pelo ódio.

— Sakura-chan não vai vim mais. Ela disse que foi chamada para um plantão de emergência no hospital — Naruto informou assim que terminou de mastigar por completo. Alguns segundos de silêncio, até que ele voltou a dizer: — Você pretende ficar dessa vez?

— Não — respondeu, o olhar se perdendo em um ponto na parede do outro lado.

— Mais tempo?

— Mais tempo — Sasuke confirmou. Devido a impaciência natural de Naruto, ele se pegava impressionado pelo amigo entender tão bem o fato de ele não estar pronto para voltar para Konoha. Não para sempre, pelo menos.

Naruto balançou a cabeça em um entendimento sem julgamentos.

— Pra onde você vai dessa vez? Já sabe?

Sasuke pensou se seria um problema contar para ele sobre a missão de treinar Hinata. Já tinha ouvido falar que na luta contra Pain, ela tinha quase se sacrificado para salvar Naruto; anos depois, o amigo ajudou-a a resgatar a irmã quando esta foi sequestrada por Toneri. Imaginava que Naruto deveria ter algum apreço por ela.

— Kakashi me deu uma missão — disse quando terminou de pensar rapidamente sobre o assunto. Naruto estava com a boca cheia outra vez, mas fez um som para que continuasse. — Treinar a Hyuuga.

— Treinar a Hanabi? Mas isso é estranho, por que ele faria isso? — Naruto quis saber, até se dar conta que o Uchiha o encarava como se ele fosse um ser patético. — Espera, a Hyuuga que você está falando é a Hinata?

— É. — Deu de ombros.

Quase no mesmo instante, Teuchi depositou as duas tigelas de ramen na frente dos dois ninjas junto com alguns acompanhamentos. Sasuke pegou os hashis do recipiente na parte de embaixo e começou a comer, sem esperar por Naruto. Achou esquisita a falta de reação do amigo, mas não comentou nada. Demorou somente mais um minuto para que o loiro repetisse suas últimas ações e enfiasse ramen na boca de forma silenciosa.

O Uchiha era observador, então não foi um problema perceber a tensão em volta de Naruto. Ele parecia mergulhado nos próprios pensamentos, mas também havia algo a mais. Algo que Sasuke conhecia bem: dor. Entretanto, foi paciente em esperar que o Uzumaki tomasse o próprio tempo para colocar para fora. E aconteceu quando já tinham chegado ao fim daquela refeição.

— Você me pegou meio desprevenido. — Naruto coçou a parte de trás da cabeça, parecendo meio sem jeito.

— Qual é o problema?

Apoiando os cotovelos na bancada e desviando os olhos azuis de Sasuke, o loiro suspirou pesadamente antes de falar:

— Culpa. Eu não consigo ficar perto da Hinata sem me sentir culpado — admitiu, pela primeira vez, em voz alta. — Neji era muito querido para ela, e ele morreu se sacrificando por minha causa. Depois que a guerra acabou, eu achei que isso passaria, mas... — Engoliu a saliva com dificuldade, sentindo a garganta queimar. — Não passa. Já são três anos e não há nada que faça esse sentimento ir embora. Eu sei que ela é forte, Hinata já mostrou isso mais de uma vez. Eu me preocupo e quero que ela fique bem. Então, eu espero que você cumpra essa missão sem machucá-la, teme. Hinata já sofreu demais.

Sasuke franziu o cenho.

— Você está me pedindo pra pegar leve com ela?

— Não! Não é isso! — Naruto se apressou em esclarecer, porque em nenhum momento queria parecer que duvidava das capacidades de Hinata. — Eu estou te pedindo pra ser legal. É isso.

O Uchiha continuou o analisando por um instante antes de finalmente desviar o olhar. Ele não sabia se podia prometer isso ao seu melhor amigo, seus interesses iam para o lado contrário. Queria manter Hinata longe e duvidava que ser legal com ela iria afastá-la.

Naruto não cobrou nenhuma resposta e Sasuke não se incomodou com o silêncio calmo entre eles. Mais do que ninguém, ele conhecia bem o que era sentir culpa e quase ser consumido por isso.

Era impossível não se lembrar de Itachi e de vez em quando se torturava, perguntando-se se as coisas seriam muito diferentes se soubesse de toda a verdade desde o início. Toda vez que as memórias vinham, Sasuke se esforçava para mantê-las longe, porque por mais que amasse o irmão e admirasse todo o seu esforço para se livrar da maldição de ódio do clã Uchiha; no fundo, ainda temia que fosse incapaz de enfrentar os pesadelos, conter a raiva, o ódio e a mágoa.

Naruto tinha lhe dito que confiava que ele jamais se voltaria contra ele e Konoha outra vez.

Sasuke não tinha tanta certeza assim.

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Eu sonho que você ainda está aqui

Toda noite eu sonho que você ainda está aqui

Sempre longe do meu alcance

(Still Here — Digital Daggers)

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Eita, caralho. Eu preciso dizer uma coisa que eu digo sempre: gente, eu amo o time 8, me julguem, HAHAHAHA. Esse capítulo foi bem legal de escrever, porque eu pude mostrar pra vocês um pouco de como o Sasuke se sente sobre as coisas, até sobre a Sakura. Como eu pretendo seguir muito do canon, vocês não vão ver o típico Sasuke-acha-a-Sakura-super-irritante-e-quer-ela-longe. Pelo contrário, na verdade. Quem me conhece sabe que eu odeio SasuSaku com toda a minha força, meu maior problema com o casal é justamente o Sasuke ter tentado matar a coitada e um "desculpa ai kkkkj" ter sido o suficiente pra apagar tudo. Vou pegar minha liberdade de escrita e consertar isso do meu jeito KKKKKKKKKKKKKKKK. Claro que isso não significa que teremos algo romântico envolvendo os dois, eu só quero que isso seja resolvido de uma forma melhor.

Preciso dizer: depois de anos, eu finalmente assisti o filme do The Last completo. Amei, principalmente a parte que acaba. ksjakjsakjsajksakjaksj Eu não gostei muito do filme, eu acho que (como sempre) eles enfiaram o potencial da Hinata no cu e eu me senti mal assistindo eles fazerem uma kunoichi experiente mal conseguir pular sem cair pra criar cenas românticas. Não me entendam mal, eu gosto de NaruHina, mas não gostei da forma que eles fizeram para criar uma aura de romance entre eles no filme. 

Eu disse no Sumário que os acontecimentos principais de The Last aconteceram (a Hanabi ser sequestrada, a Lua vindo pra Terra, Toneri doido, Hinata quase casando), menos a parte do romance NaruHina. E acho importante ressaltar isso mais uma vez, porque isso é muito importante pra história. Uma leitora me perguntou se eu pretendo abordar sobre o Hamura e etc., e acho pertinente dizer que eu pretendo trabalhar da melhor forma TODO o potencial da Hinata. Eu nunca vou perdoar o Kishimoto por desenvolver as personagens femininas com o cu, então (mais uma vez!) eu vou tomar minha liberdade de escritora e fazer tudo isso da melhor maneira possível. 

Enfim. Eu espero que vocês tenham gostado. Feedback é sempre muito bem-vindo, ficarei muito feliz se puderem comentar e votar no capítulo. Até o próximo, beijosss! ^3^

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