Capítulo 34 - Fim de Noite
As portas duplas da sala de Ravena se abriram e Lucius entrou. A sala estava com poucas luzes acesas e a Conselheira olhando para cidade,ou talvez para o céu fechado, não tem certeza. Outra coisa que Lucius não tinha certeza era de que ele viu o reflexo dos olhos da Ravena no vidro da janela brilhando, mas quando ela se virou, os mesmos estavam normais.
— Vamos conversar, Lucius. — Disse a loira indo até à mesa e puxando uma cadeira para si. O General fez o mesmo.
— Você está bem? — Perguntou o ruivo.
— Como assim?
— Depois dessa noite...Muita coisa aconteceu.
— Mas isso é trabalho. — Disse Ravena friamente. — Aliás, a noite não acabou, faltam algumas hora para amanhecer, mas duvido que amanheça de forma tão clara com essas nuvens. Bem, indo direto pro assunto, o Senhor se lembra que anos atrás, além da Armada, existia um outro grupo que foi considerado rebelde? Foi em meados do roubo do ponteiro das horas em Tempus.
— Lembro sim, a que tinha o símbolo da fênix dourada, a Emberica.
— Isso mesmo. — Ravena confirmou com a cabeça. — Faz um tempo que eu tenho pesquisado sobre o grupo que tinha grande fascinação pela ética e moral dos Phoenice, não só isso, mas eles também admiravam a minha família. — Apesar de Ravena conhecer o nome da Emberica, o maior conhecimento era por parte do Mestre do Tempo, e aquela conversa era uma armadilha. — Antigamente havia mais documentos sobre este pessoal na Ecclesia, eu sei disso porque passei muitos anos dentro dela.
Os dois se encararam em silêncio. Novamente Lucius não sabia dizer mais nada com certeza, mas a sensação que ele tinha era de que estava sendo observado pelas costas. O General respirou fundo e olhou para trás brevemente antes de voltar o olhar para a Conselheira. Lucius não é bobo, é um homem que é consciente de seus pecados, e sabe que o passado nunca fica enterrado para sempre, mesmo que cave fundo.
— Onde você quer chegar, Ravena?
A mulher nada respondeu, apenas tocou em um local específico de sua mesa e o holograma do painel apareceu uma foto de Lucius por volta de seus 35 anos com um grupo de pessoas mais velhas. Quem estava na foto eram os pais de Jinx, Yulia e Lorimer.
Nigellus Nona e Laomedon Valera, os quatros eram os fundadores da Emberica. Lucius estreitou o olhar, sabia bem o contexto daquela foto. Ele parecia feliz naquela foto, e de repente, veio uma memória cálida e agradável daquele tempo, em que mesmo que os dias da Capital fossem de céus nublados, conversar com aquelas quatro pessoas parecia lhe trazer alguma luz. Daquilo tudo só restou uma pergunta que Lucius fez a si mesmo com pesar...Onde eu me perdi, onde eu errei tanto?
— Aqui vocês parecem ser bem amigos. — Começou Ravena. — Você apesar de vir de uma linhagem de bastardos do Rei Blaiza, você não teve como garantia a longevidade Empírea. Ligando alguns pontos de investigação, você como Líder antigamente se aproximou da Emberica com interesse de resolver a Praga do Tempo porque assim como qualquer homem, você teme a morte e sabe que nesses tempos já é um privilégio e sorte muito grande chegar perto dos 40 anos de idade. Você tem contato com alguém da Emberica?
— Não mais. — Lucius foi sincero ao falar, já que mentir parecia não adiantar. — Lao e Nigellus já morreram.
— Mas sabe onde Yulia e Lorimer moram, certo?
— ..... — O General respirou fundo e abaixou o olhar, era evidente sua frustração e incômodo. — Sei.
— Então se o Senhor preza a reputação que você tem, e eu sei que sim, resolva esse assunto. Não será um grupo qualquer que vai terminar com a praga do Tempo.
— Está me pedindo para matar os dois?
— Matar velhos companheiros pro Senhor não é nada novo, todos nós sabemos disso. Essa é sua última missão dessa noite. Faça isso, ou então toda sua reputação que ama e preza será manchada.
— Agora?
— Agora.
Apesar do olhar fixo e com um semblante determinado, Lucius sentiu um estranho peso ao se levantar, tanto que ele precisou apoiar as duas mãos na mesa. O General pediu licença e desceu para o estacionamento. Tudo pareceu difícil. Ele entende que situações assim ele precisa fazer sozinho. Lucius pensou no caminho todo como esse ano tudo se tornou miserável. Se livrar de amigos...Como não pensar em Temple e Sirius nesse momento. A reputação militar valia tanto à pena manter? Bem, era a única coisa que ele sabia fazer bem.
Chegar em Pompilia não foi tão complicado e lá estava Lucius sem vontade nenhuma. O que ele deveria fazer? Entrar de uma vez e fazer o trabalho sujo? Chegar como um ladrão sem aviso. Isso era golpe baixo, nem com inimigos ele fez isso.
A casa estava de luzes acessas, ele chegou a sair do carro e parou na porta e sem controle de suas ações ele simplesmente bateu na porta. Ele arregalou os olhos como se dissesse para si mesmo, que merda acabei de fazer? Pois, nem deu tempo dele se afastar da porta, rapidamente Yulia abriu a porta esperando que fosse seu filho e os outros, mas era um velho conhecido.
— Lucius? Você aqui?
— Yulia....
— É o Lucius? — Perguntou Lorimer de longe, então se aproximou. — O que está acontecendo?
— Preciso falar com vocês, é importante, posso entrar?
— Parece que não temos muitas opções.... — Disse Lorimer olhando para a esposa e fazendo um sinal positivo com a cabeça para o General entrar.
Aquela casa é a mesma de como Lucius se lembra. De repente, ele até se lembrou de Jinx andando pela casa. O garoto era comunicativo e um tremendo cabeça dura às vezes. Era corajoso e determinado, e não tinha medo de ter em mãos grandes responsabilidades.
— Onde está o Jinx? — Perguntou o General.
— Sabe como é....Noite agitada. — Disse Lorimer sem querer dar tantos detalhes. Fossem anos atrás ela pediria para Adastrea se esconder, pois não poderia colocar em risco a proteção da loira, principalmente porque ela é uma Patronis.
— Para todos nós. Ele ainda namora aquela mulher?
— Terra? Melhor, ambos casaram — Respondeu Yulia. — e tem dois filhos. Estão lá em cima dormindo. Tive que dar um bom chá para Terra dormir tranquila, já eu e Lorimer...Sabe como pais são, os filhos podem ter trinta ou quarenta anos, ainda ficamos preocupados. Vamos pra sala de jantar conversar.
Assim que todos se sentaram, Lucius não perdeu tempo.
— Eu não sei como, mas a Ravena Patronis conseguiu uma foto minha com vocês. Ela foi direta no assunto e estranhamente fria. Ela pediu que eu matasse vocês. — Lorimer e Yulia se olharam preocupados. — Assim eu não teria minha reputação manchada. Tem mais do que isso porque eu não sou nenhum burro. Não é apenas sobre a minha reputação, eu poderei ser considerado um traidor.
— O que você decidiu fazer, Lucius? — Perguntou Lorimer segurando a mão da esposa.
O ruivo respirou fundo e desviou o olhar para baixo. Lucius ficou pensativo por alguns segundos e isso fez com que Yulia e Lorimer ficassem mais aflitos.
— Fosse o Lucius de poucos anos atrás, obcecado pelo topo, pelo status....Sim, mas eu não vou. Não quero. — O General negou com a cabeça. — Ultimamente, eu tenho me questionado mais, eu estou onde eu quero mas....Ainda é tudo vazio. Yulia, Lorimer....Me escutem, acho que podemos contornar essa situação. Arrumem suas coisas, deixem essa casa, preciso de corpos....Sei que essa ainda não é a melhor maneira e que vocês não gostam disso, mas....Ter contato com o submundo de diversas cidades e bairros facilita as coisas.
— Certo, podemos ir para mais perto de Solaris, talvez a cidade de Romana. — Disse Lorimer.
— Devemos então arrumar tudo agora mesmo! — Yulia se levantou.
— Certo. — Lucius confirmou com a cabeça e se levantou também. — Vou atrás da minha parte. Desejo boa sorte para vocês e tomem cuidado. Eu vou indo.
Sem mais, Lucius foi em direção à porta de saída da casa e já não estava mais no campo de visão de Lorimer e Yulia. Não era apenas de corpos que Lucius precisava, mas de um bom hacker também para invadir o sistema da Ravena e pegar mais dados que possam o comprometer. Quando Lucius estava prestes a segurar a maçaneta da porta, ele sentiu aquela estranha presença de quando estava com a Conselheira. O General prendeu a respiração por alguns segundos e se virou para trás rapidamente para encarar o Mestre do Tempo de frente a frente. Não havia rosto, apenas uma sombra que parecia se mover por debaixo do capuz.
''Aonde pensa que vai, soldado? Seu trabalho aqui não acabou.''
Lágrimas começaram a descer pelo rosto de Lucius. As duas mãos do Mestre tocaram a têmpora do ruivo que não conseguia se mexer ou gritar.
''Mens vincula.''
Bastaram aquelas duas palavras malditas para que o Mestre sumisse como se fosse uma fumaça negra. Os olhos verdes de Lucius ganharam brilho e a expressão de terror dele mudou para um semblante frio. Lucius estava sendo manipulado pelo Mens Vincula por completo, diferente da Ravena que tem mais resistência mental por ser de família Empírea, mas o caso do General não era este, por isso o rápido efeito.
— Lucius? — Era a voz de Lorimer.
O ''General'' começou a andar em passos silenciosos, tão silenciosos que não parecia estar de fato andando no chão. Por fim, a espada foi sacada.
Eliseo foi enterrado nos subúrbios de Dinastai, pois ali ainda tinha terra. Jinx chorou muito em silêncio, achava a vida injusta, e mesmo que fosse do desejo de Eliseo que ele não se sentisse culpado, largar a culpa naquele momento era impossível. A volta da viagem para Pompilia foi silenciosa. No banco de trás, Adela dormia com a cabeça encostada no ombro de Liberti, já o rapaz olhava toda a paisagem e em alguns momentos esfregava os olhos. Adastrea tinha a expressão neutra, mas isso não significava que ela não estava arrasada pela perda de Eliseo. Ele era tão jovem.....Era tudo que ela conseguia pensar. Por fim Romanus também estava dormindo.
Finalmente chegando em casa, Jinx respirou fundo antes de sair do carro. Ele foi o primeiro a entrar em casa, e estava tão cansado que ele mal conseguiu ouvir os passos de sua esposa Terra. Quando ela apareceu, Jinx correu para a mesma, pois ela tinha a roupa manchada de sangue.
— Terra? O que foi? O que é isso? Você está bem? E as crianças? — Jinx perguntou segurando os ombros da Terra.
— Jinx.... Meu amor.... — A mulher tinha os olhos carregados de lágrimas. — As crianças estão bem, mas.....Eu estava dormindo, e seus pais... — Ela perdeu a voz. — Eu não sei, eu não sei o que aconteceu. — Disse Terra negando com a cabeça.
— Meus pais?
— É horrível Jinx....
O homem olhou abismado para Terra e soltou os ombros da mesma para andar em direção à sala. Assim que se deparou com os corpos de seus pais ele gritou. Foi aquele grito que fez com que todos saíssem do carro de vez. Na frente foi Adastrea que quando viu Lorimer e Yulia sentiu uma pressão enorme que a fez encostar na parede. Foi estranho, ela ouviu a própria respiração e apenas isso, a visão ficou turva e lágrimas desceram pelo rosto. Romanus congelou em seu lugar e Adela junto com Liberti foram consolar Jinx.
A jovem Patronis sentiu o corpo tremer, de alguma forma ela ainda estava controlando tudo o que queria chorar. Com dificuldade e lentamente, ela caminhou para fora. Era a hora do amanhecer, mas não havia nenhuma luz do sol. Ainda era tudo muito escuro. O que veio a seguir foi uma estranha visão qual ela sabia dizer se era fruto de alguma loucura ou se era real....Mas parecia haver uma harpia em um dos telhados da casa.
— Nós temos que ir embora daqui.... — Disse baixo. — Ir embora para Ataraxia.
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