Capítulo 25 - Dentro do Caixão

O plano foi traçado por Soren para transportar Notus, Angina e Boreas em segurança. Me perdoa pai, mas preciso do Tibe dessa vez, era o que o irmão mais velho mais pensava. A esse ponto Soren não sabia mais o que era menos perigoso para o irmão mais novo, ficar em casa ou não. O Mestre da família Thanatou precisou falar sério com Tiberius para ele entender o que deveria fazer ou não e como agir. Se algo acontecer com o Tibe eu nunca vou me perdoar, era o constante pensamento do Soren.

      Três caixões foram preparados, um para Angina, um para Boreas e outro para Notus que ainda estava para chegar com uma pequena equipe da Duo Corvus. Sage ficou encarregado de preparar as armas na mesma sala que Soren. Os dois irmãos estavam em silêncio enquanto faziam suas tarefas ali, e esse silêncio estava incomodando o atual Mestre da família. Desde a morte de Felix a relação entre Soren e Sage nunca mais foi a mesma. Soren havia aceitado a morte com passividade, além disso, havia também aceitado a responsabilidade do fardo de ser o patriarca da família. Sage, por outro lado, que já tinha sentimentos inflamados com a mãe, sentiu-se mais sozinho no mundo com a ida do pai.Um Thanatou que odeia a morte era irônico, e não fazia sentido tal pensamento naquela família.

     Antes de iniciar uma conversa de irmão para irmão, Soren respirou fundo desejando boa sorte para si mesmo, afinal conhece o temperamento do Sage.

— Sage, não quero que exagere com o uso de armas.

— São para defesa. — Disse Sage arrumando algumas balas.

— Sim, mas não quero que as use como forma de descontar algo.

     O irmão do meio parou de fazer imediatamente e respirou fundo e já cansado desse assunto que mal começou.

— Vai querer me dar lição de moral agora, Mestre?

— Não como Mestre, como seu irmão. — Agora Soren também parou de arrumar o caixão. — Sage, acha que não entendo? Que esses piercings e tatuagens foram feitas para que você sentisse dor? Você utiliza de várias maneiras para descontar essa raiva que você seja com você mesmo ou com os outros. Somos os guardiões da morte, não os causadores dela.

— Fala sério..... — Sage rolou os olhos. — Não adianta dizer muita coisa da maneira que eu acabo agindo. Olha, o que você fez além de assumir o papel de Mestre? Ou você é um Mestre, ou você é um irmão, mas nunca um pai. — O irmão mais novo disse com uma firmeza ácida.

— E por que acha que eu gostaria de ser seu pai? Não tem como fazer isso. Eu não quero ser o nosso pai. Está tão bravo com a vida que você entende as coisas tudo errado. Sage, qual foi a última vez que você saiu ou teve algum momento com o seu irmão mais novo? — Sage virou o rosto, realmente não tinha resposta para isso. — Você esquenta a cabeça demais também pensando naquela mulher, a nossa mãe. Ela não se importa com a gente, se realmente se importante ela teria nos visitado. Não precisamos dela.

     O irmão do meio bateu as mãos na mesa com força uma única vez e rangeu os dentes, estava tentando controlar as lágrimas.

— Já chega, controle-se. Não quero você exagerando quando a situação apertar hoje. — Foi o aviso final do Sage, agora esperava que o irmão pudesse entender aquelas palavras.

No andar de cima da mansão, Tiberius, Boreas e Angina estavam vendo TV e com certeza viram a transmissão de Leander.

— Que loucura tudo isso. — Disse Tiberius. — É muita coisa acontecendo ao mesmo tempo, me pergunto se Soren acha mesmo uma boa ideia.

— Provavelmente sim. — Comentou Boreas. — Fiquei pouco tempo conversando Soren, mas pude observá-lo. Parece que ele entrou de cabeça no fato de ser o Mestre.

— Ele é um ótimo irmão. — Tiberius respirou fundo. — Só que às vezes acho que ele se esforça mais do que deveria. Isso deve ser cansativo.

— Eu não tive um irmão mais velho ou mais novo, mas sei que o dever de um irmão mais velho é maior. — Disse Boreas novamente. — É quase como se eles tivessem que amadurecer mais cedo.

— É isso. — O irmão mais novo concordou com a cabeça. — Mas o Soren....Ele amadureceu o dobro quando nosso pai morreu, até porque não tivemos apoio de nossa mãe.

     Naquela conversa, Angina que estava de canto olhando pela janela pensava em como que Cosmo a via. Ela era filha única, não tinha ninguém para cuidar e também não havia um irmão ou irmã mais velha para se segurar, mas parece que Cosmo cumpriu aquele papel. Mesmo tão frio era possível sentir o cuidado dele em cada gesto, em cada palavra. De repente, Angina sentiu uma vontade enorme de chorar, mas ela procurou se controlar. Preciso deixar dele pra trás, disse diversas vezes em sua mente, tenho um objetivo. A conversa entre Tiberius e Boreas continuava...

— Desculpa perguntar, se não quiser responder tudo bem, mas o que aconteceu com a mãe de vocês. — O tom de voz de Boreas era de dúvida.

— Não aconteceu nada demais com ela. — Tiberius negou com a cabeça. — Meu pai amou muito a minha mãe, acho que no final das contas ela só gostava dele mesmo. Os dois tinham meios de vidas diferentes. Meu pai nasceu aqui em Requila, e minha era de Civita Lumina. Por um momento eles se deram bem, minha mãe veio para cá, tiveram o Soren e se casaram. O nome da minha mãe era Livier, e ela trabalhava em Civita Lumina como dançarina em vários clubes. Vocês devem saber que Civita é uma cidade dedicada às festas e muito mais que nunca se encerra. A jornada de trabalho dela era longa. Digamos que eu era a última tentativa de reunir o casal de vez. Meu pai não aguentava ver minha mãe indo trabalhar e bem...Ela se drogava às vezes, não voltava pra casa, passava dias em Civita Lumina fazendo sabe-se lá o que, tenho nem vontade de saber. Minha mãe escolheu a vida dela e nos deixou. É isso. — De repente, Tiberius pareceu ficar enfurecido.

— Não....Não precisa me contar mais nada. — Disse Boreas constrangido.

     O albino piscou algumas vezes, estava tentando esquecer do rosto da mãe, mas aquele rosto era como uma cicatriz em sua mente. Não há como se esquecer de sua progenitora, não há como tirar das veias o sangue que também é dela. Soren, Sage e Tiberius estariam presos a ela para sempre de alguma forma.

— Está tudo bem, só deixei escapar minha....Minha cara, eu acho. Vamos mudar de assunto. Acho que bem...Nenhum de vocês entraram em um caixão né, dentro é bem frio. Vamos emprestar roupas para vocês. Geralmente eles só abrem por fora, mas a de vocês vai ter permissão de abrir de dentro pra fora caso se sentirem ameaçados. Talvez isso não fosse tão necessário se não tivesse todo esse lance da Armada e a Duo Corvus. Vocês estarão armados, inclusive eu também.

— Eu só espero que não seja necessário causar nenhuma morte. — Falou Angina finalmente entrando na conversa.

— Todos nós esperamos isso, mas com a Armada e Duo Corvus por lá chega até me dar um medo. — Admitiu Tiberius.

— Mas Angie....Se a situação apertar, lembra do que Malvina uma vez disse? Ela disse que poderia te assumir para lidar melhor com as coisas.

— Acho que terá de ser assim se for necessário. Temos quantas horas, Tiberius?

— Na verdade, agora, temos menos de uma hora. — Ele foi deixado armas de choque no caixão de vocês.

     De repente, Soren apareceu e todos pararam de conversar, não porque queriam esconder algo, mas, porque tinham certeza que o Mestre Thanatou queria dizer algo.

— Como vocês estão? — Perguntou Soren.

— Nervosos...Ansiosos.... — Respondeu Boreas.

— Eu já esperava isso. Vou preparar o café para nós deixar mais preparados.

      Soren demonstrava ser um irmão mais velho atencioso não só com Tiberius mas também para com Angina e Boreas também. Sage, que via a preparação da mesa do café um pouco distante, chegou a pensar se um dia a relação entre ele e seu irmão mais velho um dia chegou a ser assim, amena, atenciosa e com as típicas preocupações. Abaixando o olhar, ele admitiu para si mesmo que sim, ele e Soren já tiveram essa relação que pareceu ser guardada dentro de uma caixa escura por Sage. O irmão mais velho deixou de ser sua referência desde a morte do pai, e ele nunca se sentiu culpado por isso. Me perdoa Soren, não deixei de amar você, mas aquele tipo de relação ficou no passado, disse para si mesmo.

      O momento do café foi quente como um abraço para Angina e Boreas que sentiam falta daquele tipo de atenção e carinho. Sage por aquele momento resolveu cooperar, logo todos ali estavam felizes e rindo de qualquer coisa. Apesar da grande felicidade de ver a mesa cheia,Soren procurou uma brecha para tomar um tom mais sério.

— Fico feliz que todos vocês tenham se divertido. Todos vocês. — O Mestre direcionou o olhar para Sage quando disse todos. — Mas precisamos falar sério também. Escutem, nosso plano inicial é colocar vocês dois dentro do caixão e deixamos vocês na ilha de Nebula. Era para ser algo tranquilo até o General Nox nos pedir um favorzinho. Eu sei que queremos fazer tudo de maneira pacífica e tranquila, mas reconheço que algumas coisas estarão fora do nosso controle, eu não queria mas.....Escutem isso todos vocês. — Soren respirou fundo. — Vocês vão armados, se acontecer algo quero, ou melhor, preciso que se defendam. Quero deixar claro que eu não defendo o assassinato, mas nessa situação, antes eles do que vocês. E por isso, Tiberius, você vai ficar em casa.

— O que? Não! Você disse que ia me levar para conhecer o caminho até Katharsi!

— Isso foi antes do General me pedir um favor. Não posso arriscar sua vida. É difícil pra eu decidir se é melhor você por perto ou não.

— Mas arriscar sua vida tudo bem?

— Não arrisco porque eu quero, Tiberius. Já chega, você não vai.

      Imediatamente o rosto do menino ficou vermelho de raiva e seus olhos se encheram de lágrimas. Discutir com Soren era impossível, além disso, ele não queria fazer isso na frente de Angina e Boreas. Por fim, Tiberius se levantou emburrado com os punhos cerrados para se retirar segurando o choro. Ele se foi, e tudo que Soren fez foi respirar fundo.

— Não se preocupe com o Tibe. — Disse apenas o Mestre. — Daqui 15 minutos algumas pessoas da Corvus vão chegar. Hora de encarar o caixão.

       Angina e Boreas se entreolharam,e então ambos se levantaram e seguiram Sage que os levou para a sala dos caixões. O lugar era gelado e havia muitos caixões de diversos tipos e tamanhos ali, dois estavam abertos e cada um tinha uma arma.

— Vocês vão ficar aí dentro por um bom tempo se nada de ruim acontecer. Tem um meio de comunicação entre vocês para não ficarem no tédio. Para abrir o caixão a senha é 10350602. Se lembrem bem desse número, 10350602.

— Certo. — Boreas confirmou com a cabeça. — Parece que eu não vou ter um momento em paz.

— O que quer dizer com isso? — Perguntou Angina com uma sobrancelha arqueada.

— Eu pensei que eu teria silêncio, mas poderemos nos comunicar. Angina você fala demais. — Disse Boreas com um sorriso travesso.

— Ah é ? Pode deixar que eu vou te dar o tratamento do silêncio.

— Duvido muito que você consiga passar 10 minutos calada.

— Quer apostar?

— Quero. — Boreas entrou no caixão e tratou de ficar em uma posição confortável.

— Não há nada de valor para apostarmos seu bobo.

— Droga, é verdade.

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