Capítulo 20 - Chegadas Indesejáveis
Pela manhã, Falco foi acordado aos gritos e agarrões em seu ombro para que se levantasse. Ele despertou na mesma hora processando a situação e sabendo que isso não deveria ser uma surpresa. Soldados da Duo Corvus, que ótimo, pensou Falco consigo mesmo que se deixou ser levado como bem-quiseram até o corredor do Hotel que ele estava com sua equipe. Este foi um luxo que ele se deu já que Ravena tinha liberado um bom cachê para ele. E falando em cachê, o soldado notou que as armas e equipamentos estavam bem melhores, fazia tempo que ele não via uniformes mais trabalhados.
Falco foi colocado de joelhos e de cabeça baixa, assim que viu os três pares de pés e ergueu o rosto com um semblante sério de ódio porque isso era humilhante, ele logo tratou de sorrir descaradamente ao ver Cosmo, Leonis e Lucius. Entre os três, Leonis parecia estar com o pior semblante.
— Que legal, isso soa como uma reunião de família pra mim. — Disse Falco respirando fundo no final e voltando a ficar sério.
— Não me diga. — Falou Lucius respirando fundo logo após.
O General está sentindo uma enorme vergonha. Já não bastava o caso de Falco que repercutiu pela mídia e agora o desaparecimento de Ravena que deixou Leonis irado.
— Por que fez isso? — Perguntou o General.
— Já sentiu que você precisava bem mais do que já tem? Qual é o problema? Muita gente me apoiou por aqui.
— Com promessas e boa lábia qualquer um cai na armadilha. — Lucius fez um sinal para que alguns soldados pegassem Falco do chão.
— Leonis, você sabe bem dessa situação? Não? — Perguntou Falco olhando diretamente para o loiro.
— É, mas não desse jeito. — A resposta de Leonis teve um tom depreciativo pelo outro. — Não manchando a imagem da Duo Corvus.
— E ela já não está manchada por aceitar dinheiro de traficantes? — Falco insistia em suas falas provocativas. — De onde veio coisas tão boas que vocês estão usando? De vícios e sexo?
— Basta. — Com esses argumentos, Lucius não tinha como revidar. — Levem Falco para dentro da van e deixem ele bem preso com seus colegas conspiradores.
Poucos segundos depois que Falco foi levado pelos soldados, Leonis checou o dispositivo em seu pulso para se certificar se Ravena estava online, mas nada dela desde manhã.
— Merda. — Murmurou Leonis. — Ravena não deu sinal de vida até agora.
— Hm... — Cosmo também uma olhada no dispositivo. — Parece também que ela não foi ao prédio Espiral até agora.
— Vou dar mais duas horas, não, uma hora. — Se corrigiu Lucius. — Para que ela apareça e os soldados que foram solicitados por ela também. Até mesmo o carro da Duo Corvus sumiu. Se em uma hora não tivermos notícias, teremos que tomar medidas extremas em busca da Líder e Conselheira. Até lá...Temos mais uma visita pra fazer. Temos que resolver o caso do Notus, e conheço alguém perfeito pra isso.
A próxima parada do trio foi em frente da mansão dos Thanatou. Dentro de casa. Boreas estava lendo um livro, Angina ajudava Soren a desmontar um computador, Sage lia os documentos da funerária e Tiberius como de costume, lidava com as câmeras, e por conta disso, ele já havia notado a presença dos demais lá fora..
— Sage? — Chamou o irmão mais novo pelo mais velho que estava lendo os documentos.
— Sim Senhor? — Perguntou o albino sem deixar de ler aquela fonte miúda, ele está até mesmo usando óculos.
— Temos visitas, e pelas roupas, parece que é da Duo Corvus.
Todos ali pararam de fazer seus afazeres imediatamente para olhar para Tiberius.
— O que? — Sage se levantou na mesma hora e foi até ao lado de Tiberius para olhar a camêra. — Essas visitas...Já não me basta a Armada, agora a porra da Duo Corvus, pior, junto com a ilustre presença do General Albicilla.
— O General? — Perguntou Soren já indo ver a câmera. — Mas por que isso? Não fizemos nada de errado, quero dizer...Se fizemos, a gente apagou traços, disso eu tenho certeza.
— Espera.... — Angina havia notado alguém na tela, ela ainda tinha suas dúvidas, mas ao ter completa certeza de que aquele rapaz ali era Cosmo, a garota prendeu a respiração de forma inconsciente, e ao soltar o ar, seus olhos se encheram de lágrimas.
Boreas que viu o estado de sua amiga, logo foi ao seu lado e olhou para a mesma tela. Angina tampou a boca para não chamar a atenção dos irmãos Thanatou. A saudade apertou seu coração, ou melhor dizendo, o asfixiou. Ela não tinha certeza ainda se Cosmo estava ali para procurá-la, mas só de ver ele ali toda suas ideias, planos e determinação fraquejaram. E se Angina fosse para sempre a irmã mais nova? Como seria a vida? Seria possível esquecer de tudo que ela precisa fazer em nome da família? Sim, era em nome da família que ela não mais tinha e tudo que havia sobrado eram memórias que precisavam ser honradas.
— O que foi, Angie? — Boreas perguntou.
— É ele, Boreas, o Cosmo. Será que ele está aqui por mim?
— Está falando daquele Cosmo?
— Porque esse choro por um corvo? — Agora quem perguntou se virando para Angina foi Sage.
— Conheço um deles pessoalmente.
— Conhecer um corvo nunca é algo bom.
— Quando eu andava com Cosmo ele não estava com essas pessoas. Eu não sei de nada.
— Espero que não. — Disse Sage por fim se virando para o irmão mais velho e respirando fundo. — Antes a Armada e agora a Duo Corvus. E eles querem algo.
— Com certeza querem. — Confirmou Soren que estava um pouco pensativo. — Você disse que não andava com o tal Cosmo antes dele estar com os corvos, mas você é uma menina esperta, Angina, consegue imaginar o que eles podem estar fazendo aqui com o seu amigo?
— Para falar a verdade não. Cosmo não sabe que estou aqui.
— E a história é longa, mas — Boreas detesta voltar nestes acontecimentos. — Angina foi raptada pela minha mãe. Ela ficou um tempo em Solaris por conta disso e nunca mais viu o Cosmo.
— Então é algo com a gente, os Thanatou. — Por fim pensou Sage. — Enfim, eles estão entrando. Tibe, fique aqui com os dois.
O irmão mais novo concordou com a cabeça para que assim Soren e Sage fossem para a sala de entrada da funerária. Não demorou nem três segundos para que o General entrasse acompanhado por Leonis e Cosmo.
— Bom dia, que visita inesperada. — Soren foi o primeiro a dizer.
— Bom dia Mestre Thanatou. — Disse Lucius. — Está ocupado?
— Não estou, no que esta casa poderia ajudar o ilustre General?
— Tenho um pedido especial da Duo Corvus. Como você bem sabe, estamos ligados diretamente à Monarquia na qual vocês serviram muito bem fazendo um lindo funeral para a Rainha.
— Claro, é nosso dever. — Comentou Sage dando de ombros.
Isso já fez surgir um leve atrito entre o Thanatou e o General. Tudo que Lucius pode fazer foi sorrir de lado encarando Sage, ele sabe que os Thanatou tem um status alto mesmo que não sejam famílias Empíreas, e é cultural respeitá-los porque pela crença, todos estarão nas mãos deles cedo ou mais tarde.
— É assim que vocês tratam as pessoas só porque vocês podem? — Perguntou Leonis que logo foi encarada por Sage.
— Nesta casa as regras são nossas.
— Entendi. — O loiro sorriu de lado. Neste momento, Cosmo rolous os olhos.
— Ora essa.... — O albino se aproximou do soldado nada feliz. — Bem que você tem essa aura de que não respeita nada mesmo. Fica evidente pela atitude e poucas palavras.
— Não gostou? O que você vai fazer? Esperar que eu morra e se negue a me enterrar? Sinceramente, depois que eu morrer, eu pouco me importo com o meu corpo.
— Vamos parar com isso, os dois. — Pediu Soren bufando de pura preguiça de dois rapazes adultos que querem criar rixa. — Podemos conversar aqui mesmo. No que podemos ajudar?
— Estamos com uma pessoa da Armada, uma das ovelhas negras. — Começou a explicar Lucius. Boreas e Angina que conseguiam ouvir tudo olharam um para o outro. — Ele se chama Notus Liuz.
— O mesmo de Nuncii? — Perguntou Soren.
— Exatamente esse. — O General confirmou com a cabeça. — Por ter nos dados boas informações, ele será levado para Katharsi onde não há influência da Armada. Estamos pedindo esse meio ilegal porque há muito tempo sabemos que vocês usam uma rota para levar seus caixões até Katharsi, como isso não é incômodo, deixamos passar. E também, certamente vocês terão nossa proteção.
— E porque estão pedindo algo do tipo para nós? — Agora a pergunta foi feita por Sage em tom suspeito.
— Mestre Caligula não quer um homem de ficha tão suja na amada terra dele. Apesar de temos o Príncipe Nero por aqui, a relação com Katharsi ainda não é das melhores. Não somos amigos daquela terra, e ao mesmo tempo não somos inimigos. Por ser uma relação instável....Digamos que a monarquia não sente nenhuma vontade de avisar nada.
— Entendo.... — Soren ficou pensativo. Negar esse pedido poderia causar uma suspeita sobre os Thanatou, e o Mestre da Morte atual não quer tantos problemas. E ainda mais, ele também tinha Angina e Boreas abaixo de suas asas. Parecia arriscado mas, sabendo já que a Armada estava de olho na mansão, porém saber que eles teriam a proteção da Duo Corvus lhe soava interessante. Bem, espero que isso não seja tão ruim, pensou Soren consigo mesmo. — Aceito sim. — Confirmou o albino com a cabeça.
Os três jovens que estavam lá atrás olharam chocados um para o outro. Tiberius até sentiu certo constrangimento porque era o irmão mais velho falando que estava aceitando algo arriscado.
— Que maravilha. Então logo vou te mandar algumas mensagens de preparação e mais informações. Claro que além disso, vocês receberam uma quantia generosa.
— Não que Thanatou se importem com dinheiro. — Disse Cosmo.
— Faço as palavras deste rapaz as minhas. — Comentou Soren com um leve sorriso. — Posso ajudar vocês em mais alguma coisa? Tenho meus afazeres como Mestre que vão tomar uma boa parte do meu tempo hoje.
— Não. Estamos indo. — Disse Lucius fazendo um sinal para Leonis. — Obrigado pela atenção Mestre. Vamos embora, temos também assuntos importantes para lidar.
Angina olhou para a tela novamente. Cosmo se foi e dessa vez ela respirou fundo com lágrimas descendo pelos olhos. Estava realmente tão perto, como seria a reação dele? Para aonde iriam depois já que o plano inicial entre eles era conhecer mais de Dinastai.
Ai, Malvina, disse a garota para aquela consciência a mais dentro de si. Me ajude a manter a cabeça no lugar porque eu queria ir embora com o Cosmo. De repente, a cor dos olhos de Angina se tornaram prata e a expressão de lamúria da menina se tornou neutra.
— Não se preocupe, minha menina. — Até mesmo o tom de Angina parecia mais maduro. — Descanse um pouco.
— Malvina? — Perguntou Boreas ainda com dúvida.
— Olá Boreas, faz um tempo que não apareço.
— Eu hein.... — Tiberius que observou a mudança súbita fez uma cara confusa. — Ah! Calma aí! — O jovem saiu para a entrada. — Ei, que ideia é essa de aceitar essa proposta louca? — O irmão mais novo estava bravo.
— Você não entendeu? — Sage respirou fundo. — É loucura, mas é uma loucura muito bem pensada, devo admitir...Soren.
— Já temos a Armada com o olhar sob nós, a Duo Corvus vai ser uma boa distração e também proteção.
— É verdade. — Apareceu Malvina com Boreas. — Foi uma ótima ideia.
— Pessoal....Essa é, Malvina Astra. — Boreas limpou a garganta, sabe que explicar isso é estranho. — Acho que não precisamos esconder isso. A Armada não está apenas atrás de mim, mas também por conta da Angina. Ela conseguiu implantar as memórias da Malvina Astra na consciência dela.
— Bem, em palavras mais simples, pensem em uma velha senhora dentro do corpo dessa menina.
— Estranho, estranho pra caralho. — Comentou Sage.
— Sage! — O Mestre da Morte o reprimiu apenas o chamando pelo nome. — Me perdoe por isso, Senhora Astra.
— Malvina será o suficiente. — Disse ela fazendo um sinal de que tudo estava bem. — Parece que temos um problema para resolver, apesar de eu vir de outra era e de outro lugar, creio que posso ajudar.
— Não seja modesta, você conseguiu virar a guerra contra os Draconica, pelo que eu saiba.
— Custou muita coisa para virar a guerra. Sabe....Os Astra têm uma dívida com um dragão rejeitado dos Draconica.
— Dragões realmente existiram?! — Perguntou Tiberius encantando.
— Existiram. O maior deles, o Trindade Draconica ainda está vivo com toda certeza.
— Malvina, você com certeza pode confirmar algumas histórias, os dragões....A relação da magia com a tecnologia, pode nos contar isso? — Perguntou Soren.
— Posso contar. — Confirmou Malvina com a cabeça. — Se assim você deseja. Falar do passado é abrir feridas por vontade própria, mas essa dor pode fortalecer minha vontade.
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