Capítulo 16 - Um Adeus Passageiro

Eliseo acordou com o som de surpresa de Liberti, Adela e Jinx e com os confetes em sua cara que Hipnos e sua irmã Siderea soltaram. O rapaz piscou várias vezes e depois foi abraçado por Adela.

— Bom dia dorminhoco. — Disse a morena.

— Gente? Mas que... — Falou Eliseo piscando várias vezes novamente. Não iria xingar, facilmente porque acha entendeu a intenção.

— Surpresa... — Disse Jinx com um sorriso de lado. — E bom dia.

— O que é isso final? — Perguntou Eliseo.

— Uma despedida, e estamos só começando. — Respondeu Jinx.

— E foi bem difícil de esconder isso de você. — Comentou Liberti. — A gente vai sair.

— E isso é uma boa ideia? — Questionou Eliseo.

— Nós vamos sair disfarçados para o parque de Pompilia, nós três.

    Apesar da expressão de surpresa, Eliseo não disse nada, e mesmo assim todos ali entenderam. Jinx sabia que fazia muito tempo desde que os três saíram de casa desde que aceitaram entrar na Emberica. Algumas vezes os três falavam até que estavam de quarentena de tão longe que estavam da vida social. Porém, isso teve fatores positivos.

    O trio foi praticamente forçado a conviver um com o outro. Nas palavras de Jinx, os três eram gatos estressados, não se olhavam na cara e nem ao menos tinham educação de dar bom dia, boa tarde ou boa noite um para o outro. A primeira a ceder foi Adela que conversou inicialmente com Liberti. As conversas eram breves e constrangedoras, mas pouco a pouco eles conseguiram se sincronizar. Já Eliseo estava em um lugar sombrio dentro de sua mente.

   Seus pais o forçaram a entrar na Armada em busca de dinheiro. Era uma escolha entre passar fome ou ficar por aí catando lixos torcendo que houvesse algo ali que fosse comestível. A palavra maldita inútil  gritava em sua mente diversas vezes. Isso resultou em uma vontade enorme de ser alguém a custo alto. Foi por isso que aceitar ser um espião dentro da Armada foi uma decisão fácil mesmo com o perigo iminente.

— Levanta logo e se arruma, aliás, todos vocês. Esperamos vocês em casa para tomar um bom café da manhã. — Disse Jinx dando as costas para ir embora.

— Sim Sennhor. — Confirmou Liberti com a cabeça.

    Os três foram deixados sozinhos e cada um seguiu com sua rotina de ir para o banheiro ou trocar de roupa. Desta vez eles escolheram as roupas mais elegantes possíveis. Jinx emprestou suas roupas para Eliseo. Adela ficou com as roupas de Adastrea e Liberti ficou com as roupas de Romanus. Se tinha algo que a Armada detestava eram os ricos, e eles sempre os julgavam pela forma de se vestir.

    Adela fez um coque alto com duas mechas soltas e usou maquiagem leve, Liberti arrumou o cabelo para trás com gel e Eliseo amarrou o cabelo em um rabo de cavalo baixo. Antes de saírem, o mais velho se olhou no espelho para ajeitar a gravata, e olhando para si mesmo no reflexo não teve como Eliseo deixar de pensar que ele nunca se imaginou assim, com roupas tão bonitas e com....Boa companhia.

   Quem apareceu no reflexo atrás de si era Adela que estava linda com o vestido branco com detalhes em vermelho, uma combinação típica dos Patronis. Eliseo se virou para a morena e limpou a garganta quando percebeu que a admirava demais.

— Você está muito bonita. — Para Eliseo, na situação que ele se encontra, era melhor dizer de uma vez por todas o que ele achava.

Adela reagiu positivamente ao sorrir um pouco tímida ao mesmo tempo que levou as duas mãos para trás.

— Você também, está parecendo um Príncipe, mas para ser sincera, gosto de você de qualquer jeito.

Agora quem sorriu foi Eliseo que deu alguns passos para frente até ficar em frente à Adela e pegou uma de suas mãos.

— Vamos, temos que fazer deste dia algo memorável. — Disse Eliseo.

— Certo. — Ela concordou com a cabeça. — Vamos.

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   Os três foram à casa de Jinx para tomarem um ótimo café da manhã. A família toda estava reunida, por isso a sala de jantar estava muito mais barulhenta. Ninguém disse nada, mas todos ali notaram que Eliseo estava com um pequeno sorriso nos lábios, estava falando até com as duas crianças da casa. Será que é isso que é ter um café da manhã com a família toda é? Algo tão simples, disse Eliseo para si mesmo sentindo uma faísca de felicidade em seu coração e uma leveza muito boa. Era justamente isso que ele queria e procurava por um bom tempo, a sensação de poder pertencer a um lugar e a uma família que fosse boa e gentil.

     Depois do café da manhã, junto com Siderea e Hipnos, o trio foi até o parque. O clima naturalmente não era dos melhores, as nuvens estavam acinzentadas e parecia existir uma leve névoa, o que deixava tudo mais frio, mas isso não foi o fator nenhum para amedrontar aqueles que queriam tanto novamente saber o que era estar fora de casa.

      Os filhos de Jinx incentivaram os mais velhos a brincarem no parque e nenhum deles se recusaram. Era bom sentir-se criança novamente, mas a falta de costume de uma brincadeira agitada facilmente cansou Liberti e Eliseo que agora estavam sentados no balanço observando Adela brincar de pega-pega com as crianças.

     Tudo que Eliseo conseguia pensar naquele momento era ela, e como vai sentir falta da aura de Adela e das broncas, e também, do sorriso dela que o fazia sorrir automaticamente mesmo que pouco ou muito breve. Breve....Era como ele sentia que era esse dia, mas tão inesquecível. De repente, o pequeno sorriso nos lábios do rapaz se desfez, agora ele parecia preocupado com um misto de determinação.

— Liberti. — Chamou Eliseo o nome do amigo que estava ao lado no balanço ainda balançando um pouco.

— Hm? — Respondeu o outro sem olhar para o rapaz.

— Cuide da Adela.

    Bastou três palavras para que Liberti parasse de se balançar e olhasse diretamente para seu amigo.

— Até quando você voltar, certo? — Ele não teve resposta. — Ah não, Eliseo, porra, não.

— Não sabemos se isso vai dar certo.

— E você já está desistindo?

— Não, droga, não! — Eliseo tentou controlar o tom de voz. — Só não sabemos se vai dar certo. Muita coisa pode acontecer nesse tempo.

— Está dizendo isso porque, como você mesmo disse, tem o costume de apelar para o sucesso não importa o que aconteça. Sinceramente, Eliseo...Você apelava demais por não ter algo que te segurasse aqui, mas agora você tem.

     Eliseo sente que acaba de ser colocado contra a parede por aquelas palavras, ele fechou os olhos pensativo. Pensa que o que vai fazer é necessário não só pelas pessoas que conhece estima agora, mas também para pessoas que não tem nada a ver com a situação. Ele aprendeu com Adastrea que a verdadeira guerra é contra o Tempo.

— Quer saber de uma coisa? — O rapaz ergueu a cabeça e viu o céu cinza. — Esse é o dia mais bonito que eu vivi.

     Não era quente e florido, não era como os pouquíssimos poemas que ele leu sobre Ataraxia, uma terra linda com a árvore Elpidia que tinha folhas douradas, mas era o que aqueles três tinham para hoje. Mas algo ainda faltava, e Eliseo não vinha oportunidades e brechas para se achegar em Adela quando ela estivesse sozinha.

    Perto do fim do dia, todos voltaram para a casa e o café da tarde estava quase pronto. Naturalmente, Eliseo subiu para a sacada, mas dessa vez, sem o seu gibi favorito, simplesmente o rapaz apenas queria apreciar a vista mesmo naquele frio. Lá em baixo, notando a ausência de Eliseo, Adela respirou fundo e olhou para as escadas.

— Querida. — Disse Adastrea tocando o ombro de Adela e a mesma se virou para a loira. — Por que não sobe lá em cima? Eu sei que parece que Eliseo não teve coragem para te chamar, mas não deixe que isso te impeça.

— Adastrea.... — A mais nova respirou fundo.

— Não se sabe o que vai acontecer com ele daqui pra frente, se tem algo para ser dito e feito, é preciso fazer isso agora.

— Certo, entendi. — Adela confirmou com a cabeça. — Vou subir.

    Mesmo dito com confiança, a cada degrau subido, a morena se arrepiava. Antes de abrir a porta, ela olhou pensativa para a maçaneta, mas então, contou até dez a abriu. Rapidamente os olhares se encontraram e se sustentaram por alguns segundos, até que Adela decidisse entrar de vez na sacada e fechar a porta atrás de si.

— Sem os seus amigos de gibi hoje? — Perguntou Adela ficando ao lado do rapaz.

— Sem amigos do gibi hoje pra você jogar lá em baixo e me julgar. — O comentário ácido e debochado do rapaz a fez sorrir de lado. — Espero que leia os gibis na minha ausência.

— Até parece que vou fazer isso. Talvez eu pense nisso.

    A corrente fria que pegou os dois fizeram com que eles encolhessem os ombros, era o vento de chuva.

— Parece que aquela tal chuva está chegando. — Comentou Eliseo. — Amanhã vai estar bem frio, vai ser um saco partir.

— Eliseo. — A outra o chamou tomando coragem para segurar a mão dele. O rapaz sentiu que prendeu a respiração por alguns segundos até que olhasse para Adela. A morena olhou para a mão dele e lá estavam as marcas avermelhadas e quase em carne viva das algemas que ele usou por um bom tempo. — Por favor, volta pra casa quando isso acabar.

— Adela, eu.....Não posso te prometer nada. — Ele negou com a cabeça, sua expressão era triste. — Se eu prometesse e não desse certo? — Adela respirou fundo e abaixou o olhar. Nem ao menos tem forças ou vontade de brigar com ele.

    O som da chuva chegou repentinamente, junto com os raios e trovões. Eliseo sussurrou para a outra assim que ergueu um pouco do queixo dela. Espere por mim, sussurradas e seladas por lábios que finalmente se juntaram.

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